Os conceitos-chave aqui mencionados (de A a G) podem também aplicar-se à compreensão dos trânsitos de Saturno através das casas do horóscopo de nascimento, com a seguinte distinção: o trânsito de Saturno em aspecto exato com um planeta natal simboliza o processo de definição de uma dimensão específica da personalidade e mostra aquilo que uma pessoa sente como a faceta mais autenticamente essencial do ego, enquanto o trânsito de Saturno pela casa natal representa um período de definição da perspectiva pessoal de toda essa área de experiência e de atividade. Muitas vezes, as mudanças representadas pelos trânsitos de Saturno nas casas natais são mais visíveis do que os trânsitos de Saturno pelos planetas natais, embora existam muitas excepções à regra. Se uma pessoa nasceu com qualquer planeta «acidentalmente dignificado», isto é, localizado na casa a que está associado, o período em que Saturno transita por essa casa será especialmente importante e poderoso porque Saturno estará em conjunção com este planeta durante o mesmo período em que ocupa a casa com ele relacionada. Por outras palavras, se uma pessoa nasceu com Vénus na VII casa, quando Saturno estiver em conjunção com Vénus estará também na VII casa, dando-nos, assim, dois símbolos separados de um processo similar de definição e estruturação da consciência pessoal de camaradagem e das necessidades de amor. Isto é aquilo a que chamo um «tema» no horóscopo, visto que a pessoa experimentaria esta pressão para enfrentar sentimentos e atividades no âmbito das relações com os outros mais realisticamente, como um tema principal na sua vida, por muitos meses e talvez mesmo por mais de dois anos. Mas, em qualquer caso, a posição de Saturno mostra invariavelmente qual o campo de experiência pessoal que o indivíduo tenta (ou deve tentar) estruturar e definir com maior clareza e em que área de atividade da vida deve procurar construir uma perspectiva sólida e duradoura.
Para perspectivar o significado de Saturno numa dada casa é necessário considerar o seu ciclo através das doze casas como um ciclo completo de experiência de vida e de maturação. Mas é também importante conhecer o motivo pelo qual uma pessoa acentua determinado ponto de partida ou foco durante esse ciclo. A posição natal de Saturno é, naturalmente, um ponto focal em todo o ciclo e no processo de desenvolvimento que simboliza. Embora o primeiro trabalho de Grant Lewi acerca do ciclo de Saturno constitua um notável progresso ao aplicar na prática o conhecimento astrológico e contenha valiosos exercícios de penetração, creio que sobrevaloriza apenas um dos modos de encarar o ciclo de Saturno o seu significado em relação ao êxito temporal e aos objetivos de carreira. Se, tal como Lewi, uma pessoa empregar os trânsitos de Saturno através das casas como um indicador apenas desta área da experiência de vida, então — tal como ele acentuará a IV casa como o foco de novos avanços que podem conduzir ao êxito, quando Saturno cruzar a X casa. Nesta perspectiva, o trânsito de Saturno pela I, II e III casas — considerado por Lewi um «período de obscuridade» — não é tido como importante, salvo na medida em que é um período de preparação para as ambições que, mais tarde, aparecerão recortadas com maior clareza. Se usarmos a astrologia somente como instrumento de orientação vocacional ou talvez de direção de pessoal numa grande companhia ou num departamento de Governo, a perspectiva e os conceitos de Lewi serão suficientes e, regra geral, bastante corretos; mas para quem aconselha seres humanos a um nível mais íntimo e subtil, quando os seus sentimentos e necessidades mais próprios devem ser tomados em consideração, de pouco valerá dizer a alguém que está a entrar num período de «obscuridade» que durará sete anos e que, durante esse período, apenas terá de esperar com paciência pela descoberta de um trabalho ou de uma vocação mal definida (mas, claro, absolutamente maravilhosos!) que eventualmente darão à sua vida excitação e significado profundos.
O tipo de conselheiro astrológico que insiste nas promessas, por ser aquele terreno em que se pode dizer algo de positivo e esperançoso, é o tipo de astrologia que geralmente se demonstra como sem sentido e destinada, no fim de contas, a encobrir as deficiências de compreensão ou a absoluta ignorância do conselheiro. Incutir tão ilusórias esperanças num cliente não, é de facto, aconselhar; é apenas encorajar a pessoa a concentrar-se na fantasia, mais do que nos factos e sentimentos imediatos, um gênero de prática astrológica que se parece muito com os métodos dos adivinhos, aos quais a maior parte dos astrólogos não quer, nem por sombras, ser associada. De todos os símbolos planetários usados em astrologia não há nenhum que chame mais fortemente a nossa atenção para enfrentar a realidade, aqui e agora, do que Saturno. Por isso, creio que podemos tentar um processo mais construtivo de explicar o ciclo de Saturno aos clientes, aos amigos ou a nós próprios, quando tentamos compreender as nossas experiências.
O melhor meio de considerar o ciclo de Saturno é tomar em conta a totalidade do ciclo, o processo completo e interminável de desenvolvimento simbolizado com particular ênfase na posição de Saturno em trânsito na I casa, visto que a I casa representa a área mais pessoal e individual do horóscopo de nascimento. Considerando a I casa como a mais importante fase de todo o ciclo e não apenas o princípio de um «período de obscuridade», poder-se-á avaliar a importância do ciclo de Saturno como indicador não só de alterações vocacionais e de carreira, mas também de um desenvolvimento interior ao nível psicológico e espiritual. Será nesta perspectiva que abordaremos os trânsitos de Saturno pelas várias casas natais, mas, antes de entrarmos nos pormenores de cada uma delas, vamos delinear um processo alternativo de considerar o trânsito de Saturno pelos quadrantes do horóscopo, mais amplo e mais psicologicamente orientado do que os significados dados por Lewi. Explicações semelhantes foram fornecidas por Marc Robertson no seu livro The Transit of Saturno, e baseiam-se em conceitos inicialmente desenvolvidos por Dane Rudhyar. Estas ideias são as seguintes:
No QUADRANTE I (CASAS I, II E III): Saturno revela a nossa capacidade de desenvolvimento de ser essencial e da autoconsciência.
No QUADRANTE II (CASAS IV, V E VI): Saturno revela as nossas condições para o desenvolvimento da capacidade de compreensão e do modo de auto-expressão.
No QUADRANTE III (CASAS VII, VIII E IX): Saturno revela a nossa capacidade de desenvolvimento do método de relacionação com os outros e da nossa consciência dos outros como indivíduos.
No QUADRANTE IV (CASAS X, XI E XII): Saturno revela a nossa capacidade de desenvolvimento do poder da nossa influência sobre os outros ou sobre a sociedade em geral, e da sua expressão.
Deve notar-se que estes conceitos são gerais no essencial e servem para dar ao astrólogo uma ideia genérica do significado do ciclo de Saturno; na maior parte dos casos, o melhor é ter presente este quadro geral como base para a compreensão das experiências específicas mostradas pela exata posição nas casas de Saturno em trânsito.
Outro ponto que vale a pena mencionar é que o significado de um trânsito de Saturno através de determinada casa pode mudar visivelmente, à medida que o trânsito se processa. Quando Saturno começa a entrar numa casa (o que o indivíduo sente muitas vezes quando Saturno fica a uns 6° da cúspide dessa casa, embora o planeta possa estar ainda tecnicamente na casa anterior), uma pessoa experimenta uma ânsia mais intensa de fazer qualquer coisa na área de vida indicada do que sentirá mais tarde. A faceta problemática da posição de Saturno em determinada casa parece ser, regra geral, mais aparente no primeiro ano em que Saturno a ocupa. Depois, em muitos casos, parece que a pessoa foi impelida a aprender o suficiente sobre o modo de se adequar com mais realismo a esta área de vida, o que lhe permitirá assimilar novos ensinamentos. Claro que a rapidez com que se aprendem as lições saturninas depende do indivíduo e este princípio não pode ser transformado num dogma; muitas vezes, porém, uma pessoa sentirá mais o peso do trânsito de Saturno quando o planeta estiver na primeira metade de determinada casa. A frustração e a pressão para agir de certa maneira pode ser, então, mais forte. Depois, quando a pessoa atinge mais estabilidade e tem outra compreensão neste campo de experiência, a pressão continua mas já não é sentida com tanta intensidade. Este princípio é especialmente verdadeiro no que respeita a casas onde não estão situados os planetas natais porque — quando uma pessoa tem efetivamente planetas numa determinada casa a conjunção exata de Saturno com esses planetas assinala, com frequência, o período de máxima intensidade. Se uma pessoa encontrar o modo exato de enfrentar as pressões interiores e exteriores sentidas durante a primeira fase do trânsito, então a segunda fase pode ser vista como um período de assimilação mais profunda dos importantes progressos obtidos.
Quando Saturno em trânsito se encaminha para o fim de uma casa e está prestes a entrar na seguinte (por outras palavras, quando está a uns 6º da cúspide da próxima casa) verifica-se, muitas vezes, um acontecimento, uma experiência ou uma compreensão claramente relacionados com o período a acabar e com o significado básico da casa que Saturno abandona. Muitas vezes acontecerá qualquer coisa que simboliza nitidamente uma consolidação dos esforços dos dois ou três anos anteriores e, em muitos casos, o que acontece — embora seja, com frequência, importantíssimo — não coincidirá com quaisquer outros trânsitos ou progressões fundamentais. Por outras palavras, em muitíssimos casos não se descobrirá nenhum fator astrológico primacial, além do facto de Saturno abandonar determinada casa, para simbolizar o que se passa. O que acontece, seja o que for, é, muitas vezes, acompanhado por uma sensação de alívio, ou de catarse ou satisfação, uma espécie de desimpedimento da pista que antecede a partida de Saturno para a casa seguinte. Menciono este fenômeno com algum pormenor porque o tenho visto repetidas vezes acontecer com grande regularidade — e um astrólogo procurando freneticamente um trânsito específico, uma progressão, uma direção que possa ser «responsabilizada» por tal experiência. Na verdade, o mesmo fenômeno acontece também com a Lua em progressão, quando este planeta se prepara para abandonar determinada casa e entrar na seguinte. Poderia encher todo um livro com um dos meus casos sobre estas ocorrências comuns, mas agora devemos abordar os significados específicos de Saturno em trânsito nas várias casas.
(continua numa próxima postagem)
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