O método usado na astrologia moderna para determinar as cúspides das doze Casas é particularmente caótico. Literalmente, o termo cúspide se refere ao começo de uma área do espaço ou de um período de tempo. Entretanto, alguns astrólogos contemporâneos pensam que o termo se deva aplicar ao meio de uma Casa. Cyril Fagan também chegou a essa conclusão, mas ele teve suficiente lucidez de espírito para sugerir, na sistematização que defendeu, que o termo devia ser substituído por "mediana". O que costuma levar um astrólogo a pensar na cúspide como a seção média de uma Casa astrológica é a crença de que as características de uma Casa são reveladas mais explícita e eficientemente depois que um planeta alcançou o meio dessa Casa.
Estão aqui envolvidos dois conceitos. O primeiro, que é de importância fundamental, se refere à própria natureza da astrologia. Marc Edmund Jones há muito tempo definiu a astrologia como "a ciência de todos os começos". Num sentido metafísico, isso significa que um mapa astrológico pode ser considerado a fórmula arquetípica ou "germinal" que estabelece o conjunto de potencialidades liberado no primeiro ato de manifestação - no criativo Fiat, o Verbo do princípio - que é a origem de todo o ciclo existencial. O que a astrologia estuda é, portanto, o ponto de origem e, nele revelada, a forma arquetípica de um começo particular da vida ou, em geral, de todo acontecimento significativo e originador do qual procede uma determinada série de desenvolvimentos. Se assim for, todo fator astrológico deve, igualmente, relacionar-se ao começo de alguma série de acontecimentos ou de uma determinada fase de desenvolvimento. Isto se aplica ao primeiro grau de um signo do zodíaco e de uma Casa, tanto quanto à conjunção de dois planetas assinalando o início de sua relação cíclica. É no primeiro momento de qualquer ciclo que o caráter arquetípico desse ciclo se revela ao astrólogo.
O outro conceito, relacionado com o primeiro, é o de que, se o momento mais característico de uma Casa está no seu ponto médio, isso quer dizer que as Casas são concebidas em termos de tempo, e não de espaço. O astrólogo pode achar que leva algum tempo para uma pessoa que inicia um processo compreender plenamente e se identificar com as características desse processo. Mas, ainda assim, isto só seria válido em termos dos resultados existenciais e não das causas formativas arquetípicas. A meu ver, a astrologia trata essencialmente de causas formativas, ou melhor ainda, de conjuntos de potencialidades que estão sendo liberadas, e só secundariamente de acontecimentos externos. Isto é certo, seja como for, a respeito do que chamo de astrologia humanista, centrada na pessoa. Nesse caso, as Casas podem ser encaradas como representantes de áreas de espaço centrados na pessoa através das quais os corpos celestes se movimentam. Esses movimentos celestes, claro está, representam um fator temporal; mas o que é arquetípico e formativo é o campo espacial através do qual o movimento ocorre. Da mesma forma, enquanto os planetas estão em movimento constante a longo dos dias e dos anos, o que de mais importante os mapas astrológicos revelam não é o movimento de cada planeta, mas a configuração que esses planetas compõem por ocasião do início de uma vida individual, ou seja, o momento de sua primeira respiração. Os movimentos são "existenciais"; a ordem planetária total é "arquetípica". Ela estabelece a forma estrutural de individualidade e do destino.
As cúspides mais importantes das Casas são os quatro ângulos - Ascendente, Descendente, zênite e nadir. Esses ângulos iniciam os quatro setores do moderno mapa bidimensional. Os fatores formativos essenciais operam nesses quatro pontos. O horizonte define claramente a separação entre o lado de cima e o lado de baixo, entre o visível e o invisível; ele não pode ser o ponto médio de alguma coisa. Só quando o astrólogo o concebe antes de tudo como um movimento ascensional do Sol é que ele pode ampliar o conceito de horizonte para fazê-lo incluir o período da alvorada. O conceito espacial de horizonte é o de uma linha nítida de demarcação; o Sol a está cruzando, do mesmo modo como um corredor cruza a linha de partida e a de chegada.
A ambigüidade relacionada com a mistura de conceitos de tempo e espaço pode ser testemunhada por todo o campo da astrologia. Ela fica particularmente evidente quando se enfoca o problema de determinar a longitude das cúspides. Vários sistemas têm sido ideados e empregados, mas os de uso mais freqüente dão os mesmos graus do zodíaco para o horizonte e o meridiano. O ponto em que diferem é nos cálculos das cúspides intermediárias - isto é, a cúspide da segunda, terceira, quinta e sexta Casas e seus opostos polares. O sistema mais amplamente usado hoje em dia é o de Plácido, que encontra as cúspides das Casas intermediárias dividindo em três segmentos iguais os semi-arcos do Sol e todos os fatores zodiacalmente expressos - ou seja, o tempo que o Sol leva para ir do ponto do nascente para o ponto do meio-dia. O sistema de Campano e o de Regiomontano dividem de dois modos diferentes o espaço entre o horizonte e o meridiano. O sistema de Porfírio divide em três o número de graus que separa o horizonte e o meridiano.
Existem outros sistemas, particularmente o das "Casas iguais", que só leva em consideração o horizonte e divide os dois hemisférios criados por esse horizonte em seis Casas, cada uma das quais contendo o mesmo número de graus zodiacais. Esse sistema, a meu ver, é totalmente indefensável, porque não leva em conta o fato de que tanto o eixo vertical como o horizontal são absolutamente necessários à interpretação da existência humana. Usar só o horizonte como base de referência eqüivale hoje a considerar a posição deitada como sendo a única significativa para o indivíduo.
A dificuldade suscitada por praticamente todos esses sistemas é que no círculo ártico e acima dele - bem como no antártico - os mapas astrológicos assumem uma forma muito peculiar, e em muitos casos nem podem ser feitos, porque durante vários meses o Sol não se levanta nem se põe. Visto que o zodíaco na astrologia tradicional do Ocidente é o caminho do Sol, como se poderia graduar o zodíaco nas cúspides das Casas acima do horizonte quando o Sol e os planetas não se erguem acima do horizonte? Se as Casas forem seções iguais de espaço - não do zodíaco - em torno do indivíduo, sempre haverá leste, oeste, zênite e nadir, e o horizonte sempre separa o lado de cima do céu de seu lado de baixo; mas em algumas ocasiões só há estrelas e não planetas no hemisfério acima ou abaixo do horizonte.
O astrólogo de antigamente, centrado em sua localidade, que vivia em regiões semitropicais ou mesmo em zonas temperadas, não tinha de enfrentar esses problemas. Para ele, o Sol se elevava todos os dias, e sua astrologia se baseava nesse fato da experiência, fato primordial e tido como favas contadas. Mas hoje a situação é diferente. Temos de edificar nossa astrologia em novas bases, e precisamos levar em consideração que cada hemisfério da Terra e as regiões polares precisam ter seu próprio tipo de astrologia. Quando nada, temos de reinterpretar alguns dos fatores astrológicos básicos na relação das situações astronômicas em cada uma dessas regiões.
A astrologia que tem como centro a pessoa, entretanto, baseia-se em conceitos fundamentais que são válidos em qualquer parte; pois em qualquer lugar de nosso globo o homem tem consciência do horizonte e do zênite. Toda criança nasce no centro de sua própria estrutura espacial, que ela levará consigo para onde for. O único problema, do ponto de vista astrológico, é verificar tudo o que ela possa observar e experimentar, à medida que os planetas e as estrelas percorrem os doze setores dessa estrutura espacial.
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