sábado, 23 de julho de 2016

Graus de Áries, por Dane Rudhyar



ÁRIES    I. O MOMENTO DE REALIZAÇÃO

1° UMA MULHER SURGIU DO OCEANO; UMA FOCA A ABRAÇA Potencialidade de individualidade: o individuo está emergindo do coletivo e compreende o self pela primeira vez.

2° UM COMEDIANTE ESTÁ DIVERTINDO UM GRUPO DE AMIGOS
Compreensão objetiva através da retirada de elementos salientes de ser. Alegria de descobrir a vida; ou escape através de humor.

3° 0 PERFIL DE UM HOMEM SUGERE OS CONTORNOS DE SEU PAÍS
O self individual como um avatar da realidade coletiva maior; como participante do esquema maior da sociedade ou da vida.

4° UM CASAL DE NAMORADOS PASSEIA POR UMA ALAMEDA ESCONDIDA DO PARQUE
Plenitude de participação consciente na vida sem responsabilidade. Fechamento de um ciclo de atividade, implicando saciedade.

5° UM TRIÂNGULO BRANCO, COM ASAS DOURADAS EM SEUS LADOS SUPERIORES
Evolução de valores na esfera do eu interior, mas num estágio ainda não substanciado. Avidez por uma meta espiritual.

6° UM QUADRADO PRETO; UM DE SEUS LADOS ESTÁ ILUMINADO DE VERMELHO
Esforço primal em direção à identidade individual. Primeiro e descontrolado interesse por qualquer coisa dada. Grande inquietude interior.

7° UM HOMEM SE EXPRESSA AO MESMO TEMPO EM DOIS DOMÍNIOS
Dualidade consciente pela qual o homem, pela primeira vez realmente, se diferencia dos animais. Versatilidade no trabalho. Autoexpansão.

8° 0 CHAPÉU DE UMA MULHER, COM IDEIAS SOPRADAS PELO VENTO LESTE
Primeira tentativa real de autoexteriorização e incorporação na consciência. São sugeridas forças individualizantes do Oriente.

9° UM VIDENTE CONTEMPLA COM CONCENTRAÇÃO UMA ESFERA DE CRISTAL
Direção a partir de dentro. Tirar vantagem de todos os fatores numa dada situação, e saber quando tomar decisões. Segurança.

10° UM PROFESSOR CRIA NOVAS FORMAS PARA SÍMBOLOS ANCESTRAIS
Profundo entendimento, além dos meios normais. Vidência abstrata integrando o interior e o exterior. Dom interpretativo.

11° O GOVERNANTE DE UM PAÍS ESTÁ SENDO OFICIALMENTE APRESENTADO
Boa intendência de ideais raciais coletivos. Conformidade a padrões, boa e necessária, mas não-imaginativa. Idealização.

12° UM BANDO DE GANSOS SELVAGENS VOA NO ALTO ATRAVÉS DE CÉUS CLAROS
Uma alma ainda socialmente imatura e desajustada; sem ter descido para uma expressão concreta plena e perene. Autodescoberta.

13° UMA BOMBA QUE NÃO EXPLODIU, AGORA ESTÁ ESCONDIDA EM SEGURANÇA
Medos intangíveis da individualidade nascente: a agitação criativa de uma nova perspectiva e uma nova identidade repentinamente revelada.

14° UMA SERPENTE ENROSCA UM HOMEM E UMA MULHER NUM ABRAÇO APERTADO
Poder de sabedoria superior manifesto na natureza bipolar. Proteção pelo gênio superior do self. Realização na verdade.

15° ÍNDIO TRANÇANDO UMA CESTA NA LUZ DOURADA DO POENTE
Realização da individualidade, plena e consciente, através da memória de todos os poderes adquiridos no passado. Retentividade.

ÁRIES    II. O MOMENTO DE EXAME

16° DUENDES EM ROUPAS BRILHANTES DANÇANDO NA LUZ MORNA DO ENTARDECER
Relacionamento entre os lados consciente e inconsciente da vida. Assistência invisível muitas vezes acarretando obrigações para com forças exteriores.

17° DUAS SOLTEIRONAS EMPERTIGADAS SENTADAS JUNTAS EM SILÊNCIO
Visão equilibrada e desapaixonada envolvendo ou grande dignidade e integridade do eu, ou inabilidade para viver plenamente.

18' UMA REDE VAZIA PENDURADA ENTRE DUAS BELAS ÁRVORES
Descanso após alguma conquista notável. Capacidade de consciência depois do ato, para colher os frutos da atividade. Desapego.

19° UM TAPETE MÁGICO PAIRANDO SOBRE UM SUBÚRBIO INDUSTRIAL FEIO
Capacidade de transformar a vida diária pelo poder do significado criativo; ou escape em fantasia vã.

20° UMA MENINA ALIMENTANDO CISNES, NUM PARQUE, NUM DIA DE INVERNO
Participação do eu numa vida maior que qualquer concepção da individualidade. Proteção, ou necessidade dela.

21° UM PUGILISTA, VIGOROSO DE FORÇA, ENTRA NO RINGUE Completa imolação do eu em coisas puramente físicas. Intensa autoafirmação física e psicológica.

22° PORTÃO ABRINDO PARA O JARDIM DE TODAS AS COISAS DESEJADAS
Alegria e profunda ausência de ambições na vida objetiva. Autoexaltação ou escravidão ao desejo de felicidade.

23° MULHER EM VESTIDO DE VERÃO CARREGA UMA CARGA PRECIOSA ESCONDIDA
Primeira maturidade da vida consciente em qualquer fase de experiência. Senso de valor e delicadeza — ou desperdício. Inocência.

24° A CORTINA DE UMA JANELA SOPRADA PARA DENTRO, EM FORMA DE UMA CORNUCÓPIA
Boa sorte servindo a continuidade de esforço. Fluxo de forças espirituais para o ego consciente. Proteção.

25° UMA DUPLA PROMESSA REVELA SEUS SIGNIFICADOS INTERIOR E EXTERIOR
Cooperação fortuita entre elementos internos e externos de ser. Um senso de responsabilidade consigo mesmo ou com a sociedade.

26° UM HOMEM, EXPLODINDO COM A RIQUEZA DO QUE ELE TEM PARA DAR
Talento supremo, e inexaustão de recursos em todos os campos possíveis da vida. As vezes obsessão por potencialidade.

27° POR MEIO DA IMAGINAÇÃO, UMA OPORTUNIDADE PERDIDA É RECUPERADA
Início da maturidade mental e lento crescimento da faculdade criativa. Revisão de atitude. Limpeza mental.

28° UMA MULTIDÃO APLAUDE UM HOMEM QUE DESFEZ UMA ACALENTADA ILUSÃO
Luz nova recai sobre ideias afagadas. Enfrentamento destemido, construtivo e público dos fatos da existência. Ajustamento.

29° UM CORO CELESTE SURGIU PARA CANTAR HARMONIAS CÓSMICAS
Sintonia da consciência com poderes cósmicos. Entendimento harmonioso e fé na ordem e no significado da vida.

30° JOVENS PATINHOS SE DIVERTEM ALEGREMENTE NUMA LAGOA
Cooperatividade social essencial e avaliação da individualidade. Também um senso de restrição interna. Contentamento.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Graus do Zodíaco e os Símbolos Sabeus, por Dane Rudhyar



O grau não é meramente uma subdivisão do signo zodiacal, ou do zodíaco todo. Como elemento astrológico, está isolado e numa posição de significado supremo (apesar de pouco entendido). O grau é o elemento mais misterioso na astrologia, e na verdade é a chave para toda interpretação astrológica mais profunda. No grau, os dois movimentos da Terra chegam a um ponto de síntese — e, simbolicamente, os dois grandes princípios de toda a vida: coletiva e individual, universal e particular. No grau testemunhamos a operação do criativo em uma personalidade individual ou em uma situação particular. Aqui o "significado" está revelado — para quem saiba ler símbolos.

Ignorando por enquanto a discrepância numérica entre os 365 dias e os 360 graus, vemos que o grau é o espaço percorrido pela Terra em sua revolução orbital enquanto efetua um giro completo em torno de seu eixo, Assim, o grau é uma projeção espacial da unidade de tempo, o dia. No grau, o valor tempo e o valor espaço se integram, e os dois movimentos da Terra se combinam. Cada rotação axial completa distribui por toda a Terra alguma fase da função de Vida relativa ao signo zodiacal (ou segmento da órbita terrestre) em que esta determinada rotação ocorre. Porque a Terra se move em sua órbita enquanto gira em torno de seu eixo, só pode haver um número limitado de rotações durante a revolução anual em torno do Sol. Assim, orbitalmente, cada rotação gera um grau. Estes graus não são meras subdivisões do zodíaco, pois sua existência não depende de qualquer diferenciação intrínseca causada pela natureza do zodíaco em si ou da força de Vida universal. Depende apenas da rotação axial da Terra. Portanto o grau participa de duas naturezas. É um elemento orbital condicionado pela rotação axial. Logo, deverá representar aquele fator na vida que "reconcilia os opostos".

O que seja esta função de reconciliação de opostos pode ser determinado a partir de nosso estudo anterior da psicologia analítica de Jung, bem como do conteúdo de nosso capítulo "O individual, o coletivo, o criativo" etc. No "dia", vemos sucessivamente todas as fases de consciência em operação — do estado de vigília ao sono mais profundo. Todos os estágios, desde a clara consciência à mais profunda inconsciência, estão presentes teoricamente. Mas se um "dia" é um ciclo básico de existência, deve existir algo que integre todos esses estágios, uma função de relação entre consciente e inconsciente. Esta função se manifesta de vários modos, por um lado nos sonhos, por outro na fantasia criativa. Nos primeiros, predomina o inconsciente; na segunda, o consciente. Mas em ambos os casos encontramos um processo de ligação ou de integração em atividade, e este processo se manifesta através da projeção de imagens, que são símbolos. Sonhos, ou as maiores inspirações do gênio, são igualmente produtos de um processo integrador que liga consciente e inconsciente. Num certo sentido, eles são mais frequentemente condicionados quanto à forma pelo estado do consciente — tal como o grau é condicionado pela rotação axial da Terra —, mas a energia de que são dotados vem do inconsciente — o grau 65 uma parte do zodíaco.

Poder-se-ia dizer que o planeta Urano (e, de um outro modo, também Júpiter) simboliza esta atividade do inconsciente em relação ao consciente, mas o que um planeta representa é pura atividade. Se o indivíduo extrai ou não a "joia do significado" dessa atividade, o planeta não revela por si, nem indica a qualidade particular do significado que o indivíduo melhor poderia extrair da completação dessa atividade, isto é, a natureza da "joia do significado".

O que é visto no grau é a "qualidade" arquetípica de tudo o que ocorre dentro de seus limites, a qualidade de ser self potencial de cada manifestação vital ali focalizada. O zodíaco, considerado como uma série cíclica completa de graus, passa a ser muito mais do que uma representação de energias coletivas. Passa a ser o útero universal de significados. Toma-se Tempo em seu sentido mais elevado: uma série cíclica de momentos criativos que são "úteros de almas", cada um dos quais libera uma "qualidade", que se toma a "mônada" de qualquer entidade que atinja existência independente dentro daquele momento. Assim compreendido, tempo é idêntico ao grande conceito chinês de Tao. Os graus são unidades de Tempo criativo. Revelam os limites dos grandes "momentos" criativos para os seres humanos na Terra.

O fato de existirem 360 de tais graus significa que existe, de um ponto de vista planetário, um número igual de tipos ou modalidades básicas de existência individual na Terra; que um número igual de "significados" encarnam como "grupos de seres humanos". É um número planetário. Há um número diferente para cada planeta, e ele é determinado (mais de maneira arquetípica do que fenomênica, como veremos) pela relação entre as durações da revolução do planeta e de sua rotação axial. Este relacionamento entre as duas durações é o significado místico e criativo do Tempo, do modo como entendemos o termo. É o número operacional do Tao na Terra, poderiamos dizer — muito parecido com, por exemplo, o número Pi (3,14159), que é o número operacional da vida, considerado universalmente.

Do que foi dito acima pode ter ficado claro que a realidade do grau, sendo de uma natureza tão transcendental, só pode ser considerada e estudada em termos de uma determinada representação simbólica a ela associada, Cada grau do zodíaco portanto precisa carregar uni símbolo, e este símbolo revelará o significado — o potencial do estado de ser self — de tudo o que se encontrar neste grau, seja um planeta ou uma cúspide ou qualquer. outro ponto abstrato.

Como se pode perceber ou visualizar estes símbolos? A resposta não é tão fácil de dar. Para perceber símbolos que são "úteros de significados", é preciso ter uma faculdade de percepção espiritual, mais que isso, o poder de tornar as imagens visualizadas explícitas e auto-reveladoras. O termo clarividência não elucida muito, mas precisamos usá-lo neste contexto. O espaço nos proíbe explicar a que tipo de "clarividência" nos referimos. Certamente ela tem mais que ver com intuição real do que com meios dons "psíquicos". Pode-se dizer que é um tipo especial de "percepção holística" — mas uma que é de escopo planetário. Também é preciso acrescentar que a revelação dos símbolos só pode atingir o público através de vários estágios de transmissão. Aqueles que realmente têm uma "percepção holística" planetária como esta podem transmitir os símbolos a discípulos, que por sua vez os registram para uso geral.

Seja como for, vemos que na série de manuais astrológicos de Alan Leo, o livreto intitulado The Degrees of the Zodiac Simbolized dá dois conjuntos de interpretações dos graus. O primeiro, de Charubel, bastante valioso; o segundo, de uma fonte medieval, parece ser completamente inútil. Marc Edmund Jones publicou um outro conjunto, que de longe é o melhor; de fato, como a prática comprovou, é de valor absolutamente inestimável para aqueles que sabem como usar símbolos. Os símbolos são apresentados como figuras bastante modernas, portanto numa roupagem mais significativa para o estudante médio de hoje, mas diz-se que eles derivam de fontes egípcias muito antigas. Acrescentamos a este capítulo, com autorização especial do autor das interpretações, nossa própria formulação condensada destes símbolos. Acreditamos que constituam uma revelação astrológica enorme, cujo significado e importância poderão se mostrar cada vez maiores com o passar dos anos.

Neste ciclo "sabeu" de símbolos, temos algo semelhante ao ciclo do I Ching como interpretado pelo rei Wen há cerca de 3.000 anos. O vidente chinês usou imagens e cenas tomadas da natureza e da vida agrícola simples de sua época para transmitir, por meio da instrumentalidade de imagens, significados de outro modo inexpressáveis. Ele precisou usar estas imagens e cenas porque, a não ser que fossem familiares aos homens do, seu tempo e facilmente experimentáveis por eles, esses homens não teriam sido capazes de extrair o significado vital que continham. A mesma coisa é verdade hoje. Portanto, os símbolos "sabeus", registrados por Marc Jones, apresentam, para nós modernos, quadros e cenas relativamente familiares ou ao menos dentro do âmbito de nossas experiências conhecidas indiretamente. É possível que a formulação destes 360 símbolos ainda não seja perfeita; que em alguns casos as cenas escolhidas para símbolo ainda não estejam suficientemente enraizadas na experiência comum da humanidade, e não sejam universal ou vitalmente catalisadoras. Mas, em grande parte, acreditamos que uma série de símbolos como esta chega à verdadeira raie do significado planetário para nossa era atual e que, após ser refinada aqui e ali e depois que seu ritmo estrutural se esclarecer através de estudos interpretativos em vários níveis, terá um significado comparável aos dos 64 símbolos da série do I Ching. De qualquer modo seu valor funcional na prática astrológica está acima de qualquer dúvida. Comprovou-se em centenas de casos; na verdade, praticamente sempre que foi testada, tanto em cartas de nascimento quanto em cartas horárias importantes.

Para um entendimento mais completo do assunto, poderíamos acrescentar que há razões muito plausíveis para que vários símbolos válidos, registrados mais ou menos do mesmo modo por pessoas de "qualidades" espirituais diferentes, possam ser associados a cada grau. Precisamos compreender que, no domínio do significado puro, os valores são muito diferentes daqueles encontrados na análise intelectual ou científica. Primeiro, o elemento individual é supremo; segundo, está relacionado com o fator tempo. Um símbolo pode ser válido agora e provar não ter validade daqui a cinco séculos. A questão não é de veracidade ou exatidão, mas de valor. E valores mudam ciclicamente. Um conjunto de valores pode ser "verdadeiro" ou mais vitalmente significativo agora; também pode ter sido significativo 5.000 anos atrás. Mas pode ter tido pouca ou nenhuma validade há 1.000 anos. Pelas mesmas razões, as culturas e expressões artísticas mudam periodicamente. Há ciclos de significado dentro de ciclos. Cada raça, cada ciclo, é a imagem simbólica de algum vasto significado planetário ou cósmico. Alguns homens que buscam valores espirituais reais refinam sua consciência interior a ponto de poder tornar-se recipientes, os "graais", para dentro dos quais flui, e só para eles pode fluir, o "vinho do significado". Eles são os "videntes", os gênios criativos da raça — os avatares do Tempo, e, eles próprios, sementes de significado para o grupo monádico a que pertencem por direito espiritual.

Estes grupos monádicos podem ser descobertos por meio de análise astrológica. Num certo sentido, estão escondidos no zodíaco. Mas não no zodíaco de signos comumente entendido, mas no ciclo mais misterioso de 360 graus. O número-chave deste ciclo não é doze, e sim seis. É um ciclo de consciência, sendo consciência o veículo do significado. Como tal, sua primeira divisão é a que corresponde ao conceito de horizonte, e também à divisão teórica entre dia e noite, que se refere à divisão entre consciente e inconsciente, externo e interno, homem e mulher, pensamento-sensação e sentimento-intuição. O conceito de meridiano, por outro lado, refere-se ao elemento de "poder". A carta de nascimento do • indivíduo usa ambos os eixos, porque nascimento significa crucificação no espaço, e o número quatro é o número da formação. O zodíaco comum, também simbolizando como um todo o "poder de formação" universal, portanto, precisava ser dividido em quatro seções, que, divididas em três, resultavam na divisão em doze, e, por dois, na divisão em oito.

O significado baseia-se no tipo de atividade espiritual que constantemente "reconcilia os opostos". Num sentido absoluto, é a fonte dessa atividade; num sentido relativo e concreto, é o resultado dessa atividade. Portanto, sua nota fundamental é dois multiplicado por três; o número 3 referindo-se ao princípio de manifestação essencial, ou individuação. Em outras palavras, em termos de significado, vemos o ciclo dividido em seis fases. Cada fase é a realidade espiritual daquilo que o teósofo-ocultista chama "raio". Cada raio, quando se manifesta concretamente, precisa subdividir-se em quatro partes: a crucificação do Raio.

Temos assim os 24 Mais Velhos da Bíblia, em tomo do trono de Deus. Em tempos antigos, como a manifestação era mais potencial e enérgica do que concreta e verdadeiramente incorporada, cada Raio era tripartido, resultando no número 18 — os 18 capítulos do Bhagavad Gita. Krishna era o décimo nono, tal como, na primeira fase do movimento bahai, o Bab (o Arauto do Avatar-por-vir) e seus companheiros mais próximos formavam as 19 "Letras do Viver" porque constituíam o grupo antes da manifestação concreta da "Glória de Deus" — Baha'u'llah.

Os 24 Mais Velhos representam as 24 horas do dia, pois o dia é a unidade de Tempo e a realidade do grau, que por sua vez, é a unidade de significado. Portanto, cada "hora" representa 15 graus do zodíaco de significado completo, assim como cada raio representa um período de dois meses — ou dois signos sucessivos do zodíaco (que tradicionalmente são reportados ao masculino-feminino, por exemplo o par Aries-Touro).

Em sua interpretação do ciclo "sabeu" de símbolos, Marc Jones refere-se a estas "horas" como momentos, e divide cada uma em três seções de cinco graus: "em cada hora os primeiros cinco graus expressam o fator de hábito no homem; os segundos cinco, o domínio emocional; os terceiros cinco, o domínio mental — a ordem de toda tripartição na ... evolução da matéria em direção ao espírito" (Symbolical Astrology, Lição II).

Neste ponto, no entanto, parece ser necessário responder a duas questões que provavelmente se apresentaram várias vezes à mente do leitor enquanto lia estes últimos parágrafos. A primeira: Se existem mais de 365 dias no ano, porque só 360 graus? A segunda: Não são sete os raios, em vez de seis?

Estas duas perguntas podem ser respondidas simultaneamente, ambas derivando do mesmo princípio. Podemos formular este princípio resumidamente, dizendo que sempre há na Natureza um valor de indeterminância em que duas polaridades fundamentais devem ser interpretadas, uma nos termos da outra. A rotação da Terra é um fator tempo cosmicamente subjetivo e individualizador. A revolução orbital é um fator-espaço objetivo e universalizador. E o primeiro não pode servir de unidade de medida exata para o segundo. Não podemos medir um conjunto de valor por uma unidade que pertença a outro domínio de valor. A coletividade não é uma soma total exata dos indivíduos. Pode haver 360 indivíduos num grupo, mas o valor do grupo não é a soma do valor de cada um. Em qualquer coletividade existe um incremento de crescimento, um mais, uma quantidade misteriosa, que, num certo sentido, não é uma quantidade — e de qualquer maneira nunca é um número racional.

O processo pode ser revertido, e pode-se dizer que o indivíduo não é uma fração exata do valor grupal. A vida não é tão matemática como poderíamos pensar, e a física moderna vem descobrindo isto à medida que investiga o comportamento de elétrons; o resultado foi o princípio de indeterminância de Heisenberg: não se pode saber precisamente e ao mesmo tempo a posição e a velocidade de um elétron. De modo semelhante, não há dois movimentos planetários, de ordens diferentes, que possam ser correlacionados quantitativamente por números racionais. Talvez o símbolo mais universal desta lei de relacionamento cósmico possa ser encontrado no valor do Pi, que mede a relação entre circunferência e diâmetro: 3,14159. Pareceria lógico que a circunferência devesse conter 3 diâmetros ou 6 raios. Mas contém mais de 6 raios, tal como o ano contém mais que 6 x 60 dias.

O "mais" representa o coeficiente de indeterminância em todos os processos integradores. Representa a liberdade da Alma, o Sétimo Dia da Criação, o Atman da filosofia hindu: o Imprevisível. Ocultistas falam de Sete Raios. Mas o sétimo na verdade não é um raio; é uma ponte entre duas escalas sêxtuplas de existência. Em termos musicais, é a "nota principal" da escala maior. E o valor irracional pelo qual o comprimento da circunferência é mais que a soma dos comprimentos de seus raios, isto é, 0,14159 ... Representa a liberdade de todos os raios, pela qual podem ser mais do que são. De modo semelhante, se dividirmos 365 1/4 por 360, obteremos um valor decimal que representa simbolicamente aquilo através de que, a cada ano, o indivíduo pode crescer para um estado superior de self. Este valor, bem curiosamente, novamente dá o número 14 — sendo 0,014+.

Num outro sentido, os dias extras também significam que a órbita da Terra não é perfeita e nem seu deslocamento constante. Isto poderia ser atribuído à inclinação do eixo polar sobre o plano da eclíptica. Seja como for que se encare este assunto, 360 precisa ser tomado como o número arquetípico medindo a relação entre individual e coletivo na Terra, o número criativo da Terra como um arquétipo de significado. O domínio dos significados é o domínio arquetípico, e nenhuma manifestação concreta jamais é uma réplica perfeita de seu arquétipo.

De modo semelhante, nenhum ciclo astronômico pode ser calculado em números inteiros, e, poderíamos acrescentar, nenhuma vida real jamais é absoluta e rigidamente fiel ao padrão oferecido pela carta natal, nenhum grupo de prognósticos jamais pode ser absolutamente preciso. Em algum lugar, em algum momento, sempre ocorrerá alguma discrepância. De outro modo o universo já teria atingido um ponto de perfeição estática. O fato de que a vida é, indica seguramente que espírito e matéria, significado e forma, jamais podem ser perfeitamente ajustados e de que suas ênfases opostas nunca podem ser perfeitamente reconciliadas.

Portanto, sempre precisa existir destruição e regeneração. A partir do "indeterminado" surge o poder criativo de Shiva — o símbolo de todas as transições, o deus do "Primeiro Raio". Toda criação absolutamente significativa é imprevisível porque surge de uma imperfeição relativa, da perpétua necessidade de encontrar uma nova forma de integrar o inintegrável.

Há uma grande verdade simbólica na tradição de que, em anos bissextos, a 29 de fevereiro, as mulheres podem fazer propostas aos homens. Pois aquele dia extra simboliza a parte incompleta de qualquer ciclo, e naquela parte o chamado da substância não casada com o espírito ascende ao espírito. E precisa ser ouvido. E a resposta é o Avatar, o ser-Cristo, o Sétimo Dia, que é o Primeiro.

Damos agora a série "sabéia",dos símbolos dos graus em nossa versão condensada. Devemos apenas acrescentar essas poucas observações, que são extratos do curso de Marc Jones:

A astrologia simbólica é uma arte viva e precisa ser estudada como tal. Os símbolos associados aos graus do zodíaco raramente deverão ser tomados de modo literal. São mais como catalisadores do entendimento superior do astrólogo, cujo desenvolvimento lhe permitirá acrescentar conteúdo e dedução a todo fator de vida.

Marc Jones dá para cada símbolo uma interpretação positiva e unia negativa. Na presente versão, geralmente só é dado o significado positivo, mesmo que ocasionalmente ambos os significados sejam mencionados. Este dualismo de significados é a expressão do fato de todo ser orientar-se em direção ao espírito ou em direção à matéria, e todo condicionamento ser susceptível a dois tipos básicos de interpretação — que, por sua vez, pode ser relacionada com um ou mais (no mínimo três) níveis de consciência. Por isso a aplicação dos símbolos a casos individuais requer uma técnica, baseada em compreensão superior.

Qualquer fração de um grau deve ser considerada um grau inteiro. 15° de Aries deve ser lido como 15° de Aries, mas 15°1' de Aries, bem como 15°59' de Aries, representa 16° de Aries. Os símbolos são a expressão de um momento de atividade, um ciclo, cujo significado é liberado imediatamente, no instante em que começa.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Teoria Geral das "Partes" Astrológicas, por Dane Rudhyar



Os "Ascendentes" dos planetas são determinados calculando-se os "arcos" (ou diferenças de longitude) entre o Sol e os planetas, e acrescentando-se ao valor desses arcos a longitude do Ascendente real. Este procedimento pode ser adotado no caso de dois planetas quaisquer — ou mesmo de quaisquer dois pontos astrológicos previamente determinados. Como resultado de um procedimento assim, se, levado a seus extremos, podemos localizar no zodíaco um número quase infinito de pontos simbólicos. Estes são as "partes", tão extensamente utilizadas por astrólogos árabes.

O procedimento envolve os seguintes fatores: a distância entre dois planetas, medida em termos de longitude zodiacal. Esta distância é considerada como a que estabelece um relacionamento significativo entre dois planetas ou quaisquer dois pontos astrológicos de referência válidos. Este é o fator em que se fundamentam todos os "aspectos" astrológicos. No entanto, "aspectos" são constituídos por apenas alguns poucos valores significativos de distância, determinados pela divisão da circunferência total pelo uso de denominadores simples (2, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, na maioria dos casos) — tais como 180°, 120°, 90°, 72°, 60° etc. Mas, teoricamente qualquer distância é significativa e o fator distância se torna ainda mais significativo se estiver ligado ao Ascendente.

É justamente isso que constitui a realidade das Partes. Uma parte é a distância entre dois planetas, relacionada com o Ascendente para seu significado. O Ascendente é o ponto de consciência individual. Portanto, uma Parte dá significado ao relacionamento entre dois modos específicos de atividade vital (planetas), em termos da percepção intuitiva que o indivíduo tem da vida .e do Destino. Assim a Parte da Fortuna mostra como a relação entre as energias solar e lunar opera na determinação da atitude do indivíduo diante de si mesmo e de seu destino. A Parte da Imaginação indica a maneira através da qual os fatores integrador (Sol) e regenerador e transformador (Urano) de seu ser cooperam para ampliar a individualidade criativa, a qualidade úínica;do nativo.

Coloque qualquer outro planeta no lugar do Sol, e o mesmo princípio estaria em funcionamento. Significados especiais surgem quando os dois planetas considerados formam um par positivo-negativo: Saturno-Lua, Júpiter-Mercúrio, Marte-Venus. Outros quando se consideram atividades vitais antagônicas, sendo o caso mais significativo o de Júpiter e Saturno. Não só planetas, como também pontos astrológicos, como "a Lua Nova anterior ao nascimento", podem constituir pares, e sua distância relacionada com o Ascendente, portanto, constituem Partes. Partes revelam significados, primeira e principalmente, termos de suas casas, e também de seu signo e grau de posição, termos de suas conjunções com outros planetas. São "pontos sensíveis" num mapa. Só que tantos deles são possíveis, que seu número lhes tira o significado.

Este número aumenta tremendamente pelo fato de a distância entre dois planetas poder ser relacionada (adicionada) não apenas ao Ascendente, mas também ao Meio-do-Céu, Descendente e Nadir (Imam Coeli). Cada um destes quatro pontos representa uma função do self, e portanto tem direito de ser um centro de referência para combinações de atividades planetárias. E isto não é tudo! Ao considerar a distância entre dois pontos da circunferência zodiacal, obviamente, poderemos ter duas medidas de arcos. Supondo que a distância seja medida na direção que os signos do zodíaco andam (anti-horário), podemos então medir a distância do Sol à Lua, bem como da Lua ao Sol. Na ilustração abaixo, contamos 25 graus do Sol à Lua e portanto 335 graus da Lua ao Sol. Se acrescentarmos estes 335 graus à longitude do Ascendente (ou, o que é o mesmo, subtrairmos 25 graus de sua longitude), obteremos uma nova Parte da Fortuna, tão acima do horizonte quanto a Parte original está abaixo do horizonte E se operarmos do mesmo modo com relação aos quatro ângulos, encontraremos oito pontos simbólicos criados pelo relacionamento Sol-Lua:


A astrologia de Partes é na verdade um tipo de "álgebra grupai" elaborando correlações e permutações quase infinitas entre os elementos originais da fórmula de nascimento. E claro que sua complexidade a torna muito difícil de manejar, mas não há dúvida de que representa o tipo último e mais abstrato de pensamento astrológico — aquele por meio do qual nos aproximamos mais da vida em si e de sua rede múltipla de relacionamentos. Pense por um instante nas miríades de conexões nervosas num corpo humano, cada uma estabelecendo um caminho de ligação entre células de vários tipos. Sensações, reações, volições, sentimentos, instintos, pensamentos, todos caminham ao longo dessa rede inconcebivelmente complexa de linhas vitais. O resultado é a personalidade. E se formos nos aproximar da infinita variedade de conexões a serem analisadas com nossas ferramentas de análise, é óbvio que nada melhor que a multiplicidade de Partes para fazer o trabalho. A visão que se abre é vasta, quase além da compreensão, pois a personalidade é dotada de ubiquidade. A astrologia estuda a personalidade de cada minuto da vida, de cada situação, de nações, bem como de indivíduos. É de fato a álgebra da Vida múltipla e proteica.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Os "Ascendentes" de Planetas, por Dane Rudhyar



Este assunto muitas vezes confuso, que nos introduz ao conceito ainda mais geral de Partes, pode ser facilmente compreendido se recolocarmos, de um modo ligeiramente diferente, ideias várias vezes repetidas neste livro. Sabemos que o Sol representa o poder individuador, integrador, vitalizador, que torna o homem inteiro em qualquer plano de existência. Quanto à cruz espacial formada pela linha do horizonte e pela linha zênite-nadir no nascimento, vimos que constitui uma moldura simbólica para todas as operações de nosso ser individual, no qual e através do qual a natureza humana opera de um modo particular, que nos caracteriza como ser individual. Essa cruz representa, em outras palavras, a exteriorização — num padrão estrutural, funcional — daquela "qualidade" espiritual que é a essência suprema da existência humana individual. Define o modo particular através do qual a força vital do Sol age.

Isto é facilmente entendido uma vez que compreendamos que a posição zodiacal do Sol no momento da primeira respiração representa o ponto exato da órbita da Terra ao redor do Sol em que o nativo nasceu, enquanto a cruz da carta natal determina o momento exato do dia em que ocorreu o nascimento, assim o estágio exato da rotação diária da Terra ao redor do seu eixo.

O Sol num mapa representa a emanação dinâmica da qualidade essencial da existência humana individual, porque o movimento da Terra ao redor do Sol, envolvendo um deslocamento real no espaço, gera essas "qualidades essenciais". Cada uma dessas "qualidades" representa um aspecto particular da vida, um certo relacionamento entre a natureza humana e a fonte de toda vida no sistema solar. A órbita terrestre (o zodíaco) é a soma total de todas essas relações possíveis, portanto de todos os diferentes tipos (ou raios) de individualidades humanas.

Mas enquanto a Terra se desloca cerca de um grau em sua órbita, ela gira em torno de seu eixo, expondo sucessivamente todas as partes do globo à luz do Sol — em outras palavras, vitalizando todas as partes de si mesma, levando-as a serem fecundadas pelo significado daquele determinado relacionamento Sol—Terra. Veremos que qualquer ponto do globo (exceto muito perto dos polos) recebe esse impacto fecundador do Sol cerca de 365 vezes em um ano. Isto constitui (com uma ligeira discrepância, que discutiremos mais tarde) a realidade espiritual do grau como divisão do zodíaco.

O ponto a que queremos chegar é que existem apenas 365 (ou 360) tipos básicos de existência individual na Terra, sendo cada uma o resultado de um relacionamento particular e pleno entre a Terra e o Sol, simbolizado pelo grau zodiacal do Sol natal. Este relacionamento completo não é instantâneo, porque requer, para ser total, uma rotação completa da Terra em torno de seu eixo. Esta rotação leva todas as partes da Terra sucessivamente a um contato direto com as emanações do Sol (ao meio-dia). A cruz axial numa carta natal define uma fase específica deste movimento que distribui o poder do Sol por todo o ser (psique e corpo) do nativo. Em outras palavras, mostra a hora e o minuto do dia em que o nascimento ocorreu. Além disso, determina a estrutura desse ser inteiro, pois aquilo que constitui o ser individual particular é o modo particular de esta força vital solar ser distribuída por todo o organismo. Este "modo particular" se manifesta como a estrutura do organismo.

Os dois eixos da carta — e especialmente o Ascendente, que simboliza mais precisamente a "qualidade única" do indivíduo — determinam assim a estrutura essencial do corpo, bem como da psique. Além disso a relação Sol-para-Ascendente representa a relação entre a força vital individuadora no ser humano com o tipo estrutural de atividade que caracteriza seu ser individual. Esta relação pode ser estimada não apenas pela posição do Sol nas casas, mas também mais precisamente pela distância, medida em longitude zodiacal, entre o Ascendente e o Sol. Quando a medida dessa distância representa valores especialmente significativos (como por exemplo metade, um terço, um quinto, um sexto, um oitavo da circunferência total de 360 graus), a astrologia diz que se formam certos "aspectos" entre os dois fatores considerados — um assunto que discutiremos brevemente, num outro capítulo.

Podemos estender este princípio da relação Ascendente-para-Sol a outros planetas, porque planetas simbolizam modos diferenciados de atividade vital. O poder planetário é distribuído pela rotação axial da Terra a toda sua superfície, tal como a força vital solar. A posição de casa dos planetas refere-se à maneira como esta distribuição se efetua. Mas se desejarmos saber mais precisa e significativamente o caráter único desta distribuição como um fator de existência como self individual do nativo, teremos de determinar pontos que mantenham com o planeta considerado a mesma relação que o Ascendente mantém com o Sol, Em outras palavras, teremos de determinar, por inferência análoga ou por um tipo de simbolização de "segundo grau", os "Ascendentes dos planetas".

Veremos aqui ao que esse procedimento leva quando generalizado, mas por enquanto deveremos torná-lo por dado e ver como opera em seu caso mais importante: o da Lua. Nossa meta será definir o modo através do qual o poder da Lua é distribuído através do organismo. Para fazer isso, precisaremos erigir uma "cruz" simbólica, que estará para o ponto zodiacal da Lua como a cruz formada por horizonte e meridiano está para o Sol. Deveremos especialmente calcular o ponto do zodíaco que está em relação com a Lua, tal como o Ascendente com o Sol. Podemos nos referir a tal ponto abstrato como o "Ascendente da Lua". Este ponto foi usado em astrologia por muito tempo sob o nome Pars Fortuna: a Parte da Fortuna. Ele é encontrado pela adição das longitudes do ascendente e da Lua, subtraindo-se dessa soma a longitude do Sol.

Se o Ascendente representa a atividade característica do self individual, a Parte da Fortuna simbolizará então a atividade usual característica da personalidade egocêntrica, condicionada em grande parte por reações dos sentimentos e humores "lunares". No sistema sabiano, "a parte da fortuna em qualquer mapa indica aquele departamento da vida no qual ou através do qual o nativo ou expressa a si mesmo do modo mais vantajoso ou é forçado pela vida como um todo a expressar-se". Ao termo nativo deveríamos apenas acrescentar "como um ego consciente". A Parte da Fortuna representa a atividade congênita de um homem como um mero ego consciente — e descontando todas as suas intuições mais profundas e motivos inconscientes ou supraconscientes. Trata-se de sua reação estritamente pessoal à vida, das reações espontâneas da personalidade consciente que construiu, ou que a vida impingiu sobre ele.

Na astrologia medieval, dizia-se que a Parte da Fortuna representava a "riqueza" do nativo. De acordo com E. Parker, ali onde se encontra a Parte é o departamento da vida em que o nativo encontrará sua felicidade, isto especialmente em termos de posição de casa. As três interpretações têm uma relação bem definida. Pois o homem é feliz ao funcionar de acordo com suas reações pessoais espontâneas, e tanto felicidade quanto espontaneidade de reações pessoais em geral têm muito que ver com dinheiro, ou ao menos com cooperação social e crédito (de que o dinheiro é símbolo).

O valor da Parte da Fortuna, por exemplo, tornar-se-á bem claro para qualquer um que tenha observado indivíduos que a tenham em conjunção com Júpiter ou com Saturno. Aqui você tem dois tipos básicos de reações conscientes à vida: otimismo e pessimismo — com as modificações que possam ter em virtude de outros fatores. Você tem também, por um: lado, uma tendência a obter crédito e cooperação social para qualquer empreendimento pessoal; por outro, urna tendência de ser constantemente levado de voltara si mesmo, como um estrangeiro num país estranho, cujas reações naturais conscientes à vida talvez não sejam familiares e sejam assustadoras para- a coletividade na qual vive.

O mesmo procedimento descrito com referencia à Lua pode ser adotado com referência a todos os planetas. Os "Ascendentes". te todos os planetas são significativos e merecem ser estudados num tipo refinada de analise astrológica. Em termos práticos, um "ascendente" de grande valor:é o de Ura- no, ao qual demos o nome de Parte da Imaginação. Ela indica como o poder de projeção de imagens do inconsciente opera no ser individual e seu destino. Simboliza o gênio criativo do indivíduo, o modo de; contato com as fon tes mais profundas de seu ser, e suas reações a esse contato. O "Ascendente' da Lua revela reações conscientes a situações externas condicionadas por herança e meio ambiente. O "Ascendente" de Urano caracteriza reações inconscientes, criativas, a situações que afetam todo o campo da consciência.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Os Nodos Lunares, por Dane Rudhyar



Ainda que os nodos lunares também sejam produzidos pela interseção da órbita lunar e da eclíptica, e ainda que, por causa desse fato básico, o significado da linha de nodos e dos dois nodos siga o princípio geral já colocado, eles ainda assim diferem dos nodos planetários de várias maneiras. Primeiramente, eles são puramente geocêntricos e não heliocêntricos — sendo os nodos de um satélite e não de um planeta colega da Terra. Os nodos lunares realmente são os pontos em que a Lua, como corpo celeste, é vista, da Terra, passando de uma latitude norte para uma ao sul, e vice-versa. Em outras palavras, são pontos críticos na relação de planeta com satélite — tão críticos, digamos, quanto os pontos equinociais na Terra, que, por analogia, poderiam ser chamados de "nodos do Sol" (em relação ao equador celeste e não à eclíptica) e que são momentos definidos de mudança na relação Sol—Terra.

Outros momentos críticos na relação Lua—Terra são aqueles que marcam a entrada e saída da Lua da porção de espaço figurativamente delimitada pela órbita da Terra, momentos que correspondem aproximadamente ao último e primeiro quartos de Lua. Mas estes se referem mais particularmente à questão "aspectos" entre corpos celestes — um assunto que só poderemos abordar superficialmente no presente trabalho —, ou ainda às "funções de ligação" integrando as atividades de fatores astrológicos internos e externos à órbita terrestre — como mencionado no capitulo precedente.

Quando estudamos os nodos lunares, estamos considerando uma relação estabelecida entre o plano da órbita da Lua e o da órbita terrestre. Este está centrado ao redor do Sol, como todas as órbitas planetárias. Mas aquele está centrado na Terra. Assim, a relação órbita da Lua com órbita da Terra, traduzida em termos da relação entre os centros destas duas órbitas, torna-se a relação Terra—Sol! Mas este é um novo tipo de relacionamento Terra—Sol, que se refere ao significado mais interno da possibilidade de ajuste entre, por um lado, o ego centralizado na Terra e sua vontade e, por outro, o self solar e Sua vontade.

Portanto, o que é visto através dos nodos lunares é a relação. entre a vontade "humana" e a vontade "divina", entre os esforços conscientes para integrar uma personalidade egocentrada e a orientação ou impulso motivador supraconsciente, que está trabalhando em direção à realização do total "cósmico" ou Personalidade divina. 0 primeiro é em grande parte o resultado do condicionamento do indivíduo por hereditariedade e meio ambiente; o último é o verdadeiro fator de Destino. Com Destino, queremos aqui dizer, o plano ordenado cujo atendimento perfeito pode tornar uma personalidade um fato da vida como estava potencialmente contido no momento-semente do nascimento do indivíduo — ou seja, na "mónada".

No Nodo Norte da Lua vemos o Destino trabalhando; no Nodo Sul, a vontade humana. As linhas dos nodos nos mostram as orientações do Destino, o propósito do Destino — e o que está por trás deste propósito, no passado. Mais que qualquer coisa, mostra-nos o "porquê" da vida individual. Por que o ego particular foi projetado para fora do oceano universal da Vida — por que nascemos e para quê. A linha dos nodos é um tipo de "linha de cisão", que representa a primeira polarização do ser. Numa ponta dessa linha vemos o passado (Nodo Sul), na outra, o futuro, de onde a personalidade emergiu, o que deverá realizar; essas coisas não serão determináveis em termos de eventos concretos, mas uma direção geral será esclarecida, já que a linha de nodos aponta para duas casas de um mapa e, assim, para duas fases definidas de existência. Será determinado um polo de Destino positivo e um negativo.

O modo através do qual o indivíduo se orientará ao longo de suas linhas de Destino determinará em grande parte se sua vida será um sucesso ou um fracasso, ou, mais corretamente, se suas realizações podem ser tabuladas como positivas ou negativas. Realizações negativas aqui significam aquelas que já pertencem ao passado da alma, que são ou uma repetição de coisas tão aprendidas que já se tornaram quase automáticas, ou a quebra de cristalizações psicomentais. Realizações positivas, ao contrário, são coisas que constituem um passo construtivo adiante, o nascimento de uma nova faculdade.

Este problema de orientação ao longo de linhas de cisão toca as próprias raízes do simbolismo astrológico. Jamais podemos entender uma carta astrológica se não com base nesses relacionamentos diametrais que ligam casas opostas e, numa medida menor, signos. O enquadramento essencial de uma carta, as linhas verticais e horizontais formadas por horizonte e meridiano, é a chave para todos os tipos mais profundos de interpretação astrológica, pois aqui lidamos com o processo mais primordial de segmentação celular e sua multiplicação. Cada crescimento, cada manifestação de vida acontece ao longo de certos eixos, e enquanto os eixos convencionais de espaço (norte, sul, leste, oeste, zênite, nadir) formam a estrutura do desenvolvimento do self individual, os eixos nodais (ou linhas dos nodos) nos dão as forças direcionais do Destino.

Isto é verdadeiro acima de tudo para o eixo dos nodos lunares, mas também, de um modo menos óbvio, para todos os nodos planetários. Cada planeta representa uma qualidade particular do processo vital todo e, assim, uma função psicológica. O eixo nodal do planeta representa a principal linha de ênfase no desenvolvimento daquela qualidade. Em termos mais triviais, as coisas acontecerão ao longo daquela linha — no que se refere a essa qualidade. As características das duas casas afetadas por essa "linha de enfase" indicarão que departamentos da vida, quais fases de self individual experimentarão essa tensão.

O eixo constituído pelos nodos da Lua lida bem diretamente com o próprio processo de individuação. Aqui vemos o trabalho das forças que procuram integrar o "eu" particular e o self maior; a faculdade de assimilar nova substância vital e de rejeitar os valores inúteis por terem sido despojados de tudo o que era necessidade vital para a personalidade individual. Podemos chegar até o ponto de dizer que aqui temos uma linha de ação metabólica, não muito diferente daquele canal tubular que se estende da boca ao ânus. No Nodo Norte, está sendo absorvida vida, a substância da experiência está sendo ingerida e reduzida a material assimilável; no Nodo Sul, assimilamos os conteúdos da vida, automaticamente, sem esforço, e eliminamos o refugo.

Nesta ilustração psicológica, a Terra representa o diafragma. Acima do diafragma está a região do Nodo Norte, abaixo dele, a região do Nodo Sul. O primeiro representa os novos alimentos e o processo ativo de digestão; o segundo, a comida antiga agora digerida e sendo assimilada, transformada em atividade instintiva automática — mais a rejeição de resíduos inassimiláveis. Marc Jones chama o eixo dos Nodos Lunares de "eixo do destino". Mas o eixo digestivo, incluindo estômago, intestinos etc., é o "eixo do destino" de nosso corpo — uma realidade fatal para a maioria de nós!

No entanto, essa ilustração não é totalmente perfeita. Num sentido mais geral, o Nodo Norte representa o ponto em que uma entidade particular absorve ou recebe a substância da vida. E o canal por onde o poder de integração (que é Vida) entra na Terra e em seus habitantes, pois ali a Lua se transforma num vaso em que esse poder é derramado e do qual flui para todos os planetas. O Nodo Sul é, ao contrário, o ponto em que a Lua se transforma no distribuidor automático (e ejetor) da força assimilada pela Terra, que uma vez foi solar. No Nodo Sul, o Sol e a Lua estão absolutamente sem relação. A Lua fragmenta no Nodo Sul e focaliza no Nodo Norte. Temos assim integração (no polo norte do eixo) e desintegração (no polo sul), ou ingestão e distribuição. Progresso se faz no Nodo Norte através de empenho. Hábitos se estabelecem no Nodo Sul através de automatismo, baseado em repetição.

Se nos deitássemos ao longo do eixo nodal, olharíamos para o futuro voltando-nos para o norte e aceitaríamos o passado voltando-nos para o sul, Portanto o Nodo Norte trata do trabalho a ser feito, a nova realização, a nova faculdade a ser desenvolvida, e se nos empenhamos naquela direção, dela receberemos poder em abundância, O nodo sul representa o trabalho que já foi feito, a realização já bem conhecida, o desempenho rotineiro já repassado várias vezes, talvez — a saída fácil. Assim a oposição entre, por um lado, autointegração, individuação, esforço, a linha de maior conexão através de empenho, e, por outro, desintegração de self, automatismo, inércia, a linha de menor resistência.

O Nodo Sul sempre é, em qualquer mapa, uma maravilhosa indicação da linha de menor resistência, especialmente por sua posição de casa. Pois o que queremos dizer com linha de menor resistência se não a do desempenho fácil? Facilidade, por sua vez, depende de repetição prévia de desempenhos similares, repetição que se instalou como hábito, ou instinto. O que é fácil de fazer é aquilo que nós, como almas individuais reencarnadas, ou como ponto final de uma longa cadeia de transmissão hereditária, já fizemos antes. Portanto representa uma conquista passada. Indica que no passado foi construído um instrumental adequado e eficiente, que no nascimento foi herdada uma faculdade ou tendência, para cuja aquisição não tivemos de nos esforçar conscientemente.

Precisa ficar claro que um dom hereditário ou instinto como esse não é ruim e que, portanto, o Nodo Sul num mapa não tem em si um significado mau ou destrutivo. Se tem sido chamado ponto de autodesintegração, é porque com muita freqüência temos um modo de seguir a linha de menor resistência, que é aferrar-se à coisa já conhecida, à atuação na qual podemos nos expressar com maior vantagem. Ao fazer isso recusamo-nos a progredir, a passar para novas conquistas. Tornamo-nos escravos de nosso grande dom natural. Em vez de usar essa habilidade natural em termos de um novo tipo de desenvolvimento, ela "nos arrasta" — e nos leva à própria desintegração. Se somos controlados por nossas habilidades inatas em vez de as controlarmos, perdemos o principal propósito de nossa vida.

Se o Nodo Norte é um ponto de recepção de poder espiritual, o Nodo Sul de modo algum é um símbolo de impotência. No entanto é um símbolo de desajuste a condições novas. Significa faculdade inata, mas geralmente descobrimos que a vida até certo ponto nos proíbe o uso daquela faculdade. De algum modo ela pertence ao passado, e, a não ser que a tornemos subserviente a um novo propósito e a controlemos com bastante rigidez, impedirá o crescimento correto de uma nova faculdade vital, aquela que representa nosso próximo passo.

Por outro lado, quando consideramos o tipo de faculdade caracterizada pela posição do Nodo Norte, descobrimos que a vida nos força de várias maneiras a desenvolvê-la constantemente. A vida pede aquele poder — e está disposta a derramá-lo sobre nós se nos empenharmos naquela direção, se abrirmos um canal. Todo esforço feito naquela direção geralmente será bem recompensado — a não ser que nos aferremos teimosamente o tempo todo à atitude representada pelo Nodo Sul. Podemos fazê-lo inconscientemente, se tomamos cuidado de não fazê-lo conscientemente. Se este for o caso, fatalmente se desenvolverá um complexo psicológico. O presente estará desesperadamente dividido entre passado e futuro. Então o resultado será impotência. E poderemos experimentar a tragédia do "destino". O passado terá de morrer antes que o futuro possa viver. E poderemos nos ver despojados de nosso dom inato por algum golpe do Destino porque nos identificamos com ele, nos perdemos nele e fomos por ele "desfeitos". Assim, uma verdadeira "autodesintegração" .

Um dos exemplos mais simples que poderíamos dar é o dos nodos na quarta e na décima casas. Temos aqui urna oposição entre lar e profissão, vida privada e pública. Se o Nodo Norte está na décima casa, a vida pública e a profissão serão o canal para a autointegração, O Nodo Sul na quarta casa indicará que o nativo tem uma tendência congênita para a constituição de um lar, e isto poderá levá-lo a fugir da vida pública. Se se afasta demais, sua vida familiar se tornará destrutiva. Ela se desintegrará em suas mãos, apesar de ele retornar para ela desejoso, desesperado. Se, ao contrário, ele trabalhar intencionalmente em seu ideal profissional, pode ser capaz de fazer de seu lar (no sentido mais amplo do termo) e de sua própria base concreta de ser, o verdadeiro fundamento para sua vida pública.

No entanto, existe uma outra interpretação possível, de acordo com a qual a atividade pública e os esforços profissionais são vistos como geradores da energia que então será liberada na esfera do lar ou da alma (quarta casa) no Nodo Sul. Esta segunda interpretação é a mais positiva ou espiritual. Ela explica, por exemplo, por que um grande gênio como Wagner tinha o Nodo Sul em sua décima casa. Ele liberava publicamente, através de sua criação, a energia gerada por seus sentimentos e sua vida familiar ou interior (quarta casa).

A operação dos nodos nem sempre é fácil de detectar apenas por se conhecer o nativo. A maioria de nós esconde cuidadosamente o fato de estar seguindo a linha de menor resistência. Escondemos isto principalmente de nós mesmos. E a evidente facilidade com que desempenhamos certos tipos de ação pode nos levar a acreditar que deveríamos continuar a desempenhá-los. Em alguns casos deveríamos, mas então o significado que lhes atribuímos precisaria ser diferente. Aqui, como em todo caso que trate de uma apreciação espiritual de comportamento, o que conta não é o ato em si, mas o motivo ou a vontade que está por detrás do ato ou nele contida.

Um estudo dos nodos lunares poderá nos ajudar muito a testar nossos próprios motivos, bem como os de outros. Pois, quando confrontados com muitas situações, podemos colocar nossas ações e reações no teste ácido das polaridades nodais. Nesta situação, seguimos a linha de menor resistência ou a de maior integração? Os nodos nos dirão quando temos as maiores chances de "enganarmos a nós mesmos". Possivelmente até em cartas horárias poderemos ser capazes de encontrar com bastante precisão qual é nossa verdadeira motivação num caso particular. Mas a leitura de cartas horárias de um modo assim psicológico é realmente uma arte muito rara, que apenas poucos virão a ser capazes de dominar.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Entrelaçamentos Planetários, por Dane Rudhyar


O estudo das "Luas" superiores e das "funções de ligação' que elas simbolizam nos preparou para outras considerações da mesma linha de pensamento. Neste capítulo deveremos reinterpretar elementos astrológicos tradicionais, que são conhecidos como nodos e partes. Os primeiros foram usados durante épocas na Índia, especialmente em relação à Lua. As últimas parecem ter sido a característica especial da astrologia árabe. Os dois fatores servem para estabelecer pontos de relacionamento entre os planetas e a Terra. Referem-se à operação da personalidade como um todo unificado e como uma unidade nos entrelaçamentos infinitamente complexos do relacionamento social.

Nodos Planetários

Os nodos planetários são dois pontos opostos em que o plano da órbita do planeta faz interseção na eclíptica. Como a eclíptica não é somente o percurso visível descrito pelo Sol na esfera celeste (ou seja, entre as constelações), mas um "plano através do centro do Sol pelo qual passa a órbita média da Terra", segue-se que os nodos planetários representam os pontos em que a linha de interseção do plano de uma órbita planetária e do plano da órbita terrestre se encontram na esfera celeste (ou seja, a "cúpula dos céus"). Naturalmente o Sol se encontra no ponto central dessa linha de interseção.

Portanto, a ideia de nodos envolve um tipo de relacionamento entre os planos das órbitas planetárias e o plano da órbita da Terra. As medidas dos vários ângulos de inclinação das órbitas planetárias com relação à eclíptica podem ser tomadas por representações desses relacionamentos orbitais, mas isto nos forneceria apenas valores numéricos como símbolos — o que nos confinaria a um sistema de simbolismo astronumérico, mas não astrologia, pois todas as medidas de relacionamentos astrológicos precisam ser sempre referidas ao fator posição zodiacal. A linha de nodos planetários termina em dois pontos na esfera celeste que têm longitude zodiacal, portanto esses pontos são tomados por símbolos do relacionamento entre as órbitas do planeta e da Terra.

A razão pela qual as órbitas de planetas são consideradas importantes é que, com a órbita, estamos lidando com valores de movimento. O plano de uma órbita é o plano de movimento periódico. E, como já vimos, todos os fatores verdadeiramente astrológicos podem ser abstraídos como fatores de movimento. A astrologia é uma álgebra que usa movimentos cíclicos como seus símbolos. Assim, os planos dos movimentos orbitais são considerados significativos, sendo o seu significado revelado pela posição zodiacal de sua linha de interseção.

A órbita de um planeta representa o ciclo total de atividade dinâmica deste planeta em relação ao Sol. O Sol aqui representa o integrador de todo o sistema, aquilo que o mantém unido e representa seu significado total último. O planeta em si simboliza um modo de atividade vital particular e até certo ponto independente. Mas sua órbita é uma representação dessa atividade característica, não como uma coisa em si, mas sim em relação ao Sol. Portanto a órbita significa o aspecto integrador da atividade planetária, ou seja, esta atividade à medida que opera definidamente dentro do todo orgânico e para a realização da meta central de integração da personalidade.

Aquilo que o relacionamento da órbita do planeta com a órbita terrestre indicará é o papel que a atividade vital representada pelo planeta desempenha, a qualquer momento, no esquema do desenvolvimento da humanidade nascida na Terra. Se Urano simboliza a força regeneradora que tende a trazer para toda a humanidade imagens universais que virão a superar a fórmula saturnina estereotipada de egoísmo separativo, então os nodos de Urano nos dirão como esta força regeneradora está operando agora. A indicação dada será ampla e cobre um grande espaço de tempo em anos ou séculos, pois os nodos planetários se movem muito lentamente ao longo do zodíaco, aparentemente com movimento direto ou retrógrado alternados. Atualmente a linha dos nodos de Urano se estende de 13°40' de Gêmeos a 13°40' de Sagitário, e portanto isto enfatiza o fato de a força regeneradora de Urano estar operando, e tem operado por séculos, através da mente humana.

Uma análise mais precisa do significado dos nodos atribuirá significados opostos e complementares aos dois terminais da linha de nodos, o Nodo Norte e o Nodo Sul. Este dualismo nodal é lógico, pois todo tipo de atividade vital em relação ao centro de integração do sistema orgânico pode assumir um valor positivo ou negativo. Integração e desintegração andam sempre de mãos dadas. Cada elemento da vida pode operar como um agente destrutivo ou construtivo, sendo esta a lei universal da vida.

O Nodo Norte é o polo positivo de integração, o Nodo Sul é o polo negativo, em que ocorre algum tipo de desintegração (que no entanto pode não ser "má"). O primeiro é um ponto de ingestão e assimilação; o segundo, um ponto de liberação e evacuação. Estudaremos esta polarização de atividades vitais com maior detalhe quando considerarmos os nodos lunares. Por enquanto, estas ideias sucintas serão suficientes para indicar a oposição genérica de significados manifestada nos dois nodos.

Portanto, se tornarmos a nos referir à posição atual dos nodos de Urano, veremos que seu Nodo Norte, estando no décimo quarto grau de Gêmeos, significa que a regeneração positiva chega até a humanidade atualmente através do uso do intelecto concreto e do estabelecimento de conexões espaciais — que são duas das características essenciais de Gêmeos; existe também uma ênfase uraniana de integração no desenvolvimento do sistema nervoso, das comunicações postais etc.

Por outro lado, as qualidades sagitarianas de idealismo religioso, de obediência à autoridade etc. — e até mesmo de abstração metafísica — são vistas como negativas à luz da atuação planetária de Urano. Elas constituem a "linha de menor resistência"; resultam em grande parte de hábitos de integração do passado, e assim, do ponto de vista psicológico, constituem "mecanismos de escape" na maioria dos casos. Mesmo assim, liberações de energia poderosamente criativas e uranianas podem vir ao longo das linhas sagitarianas por meio de indivíduos que atuam como a culminação de impulsos tradicionais à atividade, como a "última palavra" no campo da execução, que, tendo sido cuidadosamente desenvolvida por milênios, pode não ter nada compulsivamente vital para oferecer — mas é capaz de produzir perfeição formal absoluta.

O símbolo do grau de posição atual do Nodo Norte de Urano é: "Duas pessoas, a grande distância, comunicam-se telepaticamente". Isto é muito significativo se acreditarmos na afuniação, tantas vezes repetida por Alice Bailey em seus livros, de que o desenvolvimento da faculdade telepática é a tarefa mais importante que agora desafia os pioneiros espirituais da raça. Por outro lado, o Nodo Sul de Urano está num grau simbolizado por: "A Esfinge e as Pirâmides são vestígios gloriosos do passado", que enfatiza o fato de agora todo o passado glorioso da humanidade estar sendo sintetizado, registrado, levado à culminação por meio de muitos tipos de atividade humana — da arqueologia à metafísica oculta. Mas também sugere que a dependência dessas glórias passadas, nacionais ou religiosas, na maioria dos casos é o resultado de uma evasão da tarefa do futuro, e é uma forma de escape baseada em medo.

A tabela que se segue dá as posições zodiacais dos nodos planetários para 1935. A variação anual é de menos de um minuto em todos os casos.


O modo como os nodos estão atualmente distribuídos no zodíaco é muito interessante, pois cobrem uma área de menos de 90° norte ou sul — na verdade, 84°, o que faz lembrar o ciclo de Urano e o de "construção do Templo". Especialmente interessante é ver que atualmente o solstício de verão está quase exatamente no centro da configuração. O solstício é o tempo de manifestação solar mais intensa (na filosofia chinesa, dominação do princípio ativo yang), enquanto o solstício de inverno é o ponto de mais baixa vitalidade (dominação do princípio passivo yin). Portanto as posições dos nodos planetários combinados estão correspondendo a pontos de dinamismo solar exatamente análogos. Isto tenderia a demonstrar que o poder de integração do sistema solar como um todo sobre a Terra está agora em seu ápice (ou perto dele), pois o máximo de atividade integradora dos planetas está, por assim dizer, sincronizado com o máximo de atividade do Sol, o integrador. Um estudo dos símbolos dos graus de localização dos nodos planetários, como delineado em nosso exemplo precedente (Urano), será de profundo interesse para o estudante das tendências planetárias contemporâneas.

Ao que foi dito acima precisamos acrescentar que, à medida que planetas, em seu curso mensal ou diário, atingem os graus do zodíaco em que seus nodos se encontram, torna-se evidente uma ênfase definida de suas características positivas ou negativas. Quando os planetas passam por seu Nodo Norte, operam positivamente, ativamente; enquanto no seu Nodo Sul eles são receptivos e passivos — isto é, a qualidade ou função que significam opera de um modo passivo (forte, no entanto). Num mapa individual, um planeta situado sobre seu Nodo Norte é psicologicamente muito dominante; seu efeito é agitar a consciência, no sentido de que toda energia-vital integradora recebida pelo nativo tem uma tendência a relacionar-se com a qualidade particular expressada pelo planeta. Por outro lado, um planeta situado sobre seu Nodo Sul pode referir-se a um tipo definido de escape psicológico. O nativo pode tender a evadir-se do assunto representado pelo planeta, ou ainda a ser passivo e "deixar as coisas acontecerem" na esfera de atividade que o planeta indica.

Geralmente também se nota um resultado bem definido (provavelmente mais definido no tipo mais desenvolvido de personalidade) quando planetas importantes de um mapa se localizam nos graus dos pontos nodais de outros planetas. As características destes últimos, por assim dizer, dão um subtom às atividades dos primeiros. O rei George V da Inglaterra, por exemplo, tinha o Sol sobre o Nodo Norte de Urano. Seu reino sem dúvida foi repleto de acontecimentos uranianos. O mapa de Franklin D. Roosevelt também é característico quanto a isto: seu Júpiter sobre o Nodo Norte de Mercúrio, e o Nodo Norte de Urano correspondendo ao seu Meio-do-Céu. Além disso, o Sol está sobre o Nodo Sul de Netuno. Se Netuno representa o poder de coletividades, o Nodo Sul de Netuno simbolizaria este poder desintegrado e solto para seguir a linha de menor resistência. O Sol de Roosevelt brilharia então no meio de uma condição deste tipo e acrescentaria poder solar ao elemento netuniano. Seu próprio Netuno, colocado entre Saturno e Júpiter (mais perto deste), simbolicamente se encontra entre, por um lado, escuridão e "individualismo rude" saturnino (a ser regenerado, pois está em sua oitava casa) e, por outro, Júpiter e o poder de expansão e circulação de energia.

Um efeito ainda mais forte pode ser esperado quando a linha dos nodos de um planeta coincide com o horizonte ou o meridiano de um mapa natal, ou mesmo com a linha das cúspides de duas casas opostas. Nestes casos a qualidade do planeta influencia de maneira forte, mas sutil, todos os assuntos relativos às duas casas opostas (e complementares).


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

domingo, 17 de julho de 2016

O Sistema Solar como Personalidade, por Dane Rudhyar


Até agora nossa abordagem tem lidado com fatores puramente psicológicos e consideramos planetas como símbolos que nos permitiriam esquematizar os três tipos principais de atividades características de qualquer organismo vivo: atividades determinantes do que o organismo é, como se mantém, como se reproduz. Então estudamos os problemas que surgem da repressão das atividades orgânicas naturais como estão simbolizadas nos planetas retrógrados. Por fim, analisamos os três modos de atividade através dos quais o ego particular é capaz de transcender a si mesmo e tomar parte do caráter da universalidade. A imagem de Saturno, que é o fundamento do estado de ego particular, se desfaz então num tipo de representação de caráter plutoniano; o modo jupiteriano de atividade compensatória dá lugar a um processo netuniano de sublimação, O tipo marciano de autorreprodução é suplantado pela criatividade uraniana.

Se, no entanto, nos aproximarmos desse assunto de uma direção reversa, isto é, partindo de uma análise do sistema solar como um todo e projetando o resultado disso em nossa experiência fisiopsicológica, obteremos um quadro mais lógico e mais ordenado. Nosso conceito de personalidade se amplia e assume perspectivas cósmicas. O sistema solar inteiro, visto como um organismo vivo complexo, transforma-se numa personalidade cósmica. É preciso entretanto evitar cuidadosamente o erro de perdermos nossa base de operações: a Terra. Por mais "cósmicos" que possamos ser, estamos sempre e para sempre enraizados na Terra. O único sistema solar que conhecemos é aquele que é visto através da atmosfera terrestre e por meio de sentidos e instrumentos terrestres. Na verdade, nada conhecemos além da Terra e das reações que a Terra experimenta a partir do exterior. Precisamos permanecer sempre centrados na Terra, porque, enquanto operarmos por meio de veículos de consciência nascidos na Terra, por mais aprimorados que estes sejam, todas as nossas experiências serão condicionadas pela qualidade de nosso planeta, e todos os símbolos vitais que possamos conceber, sendo necessariamente interpretações e extensões dessas experiências, precisarão estar baseados no ponto de vista da Terra e do Homem como ser planetário.

Portanto, se falamos do sistema solar, falamos de como ele aparece ao pesquisador científico, espalhando-se em cada lado do caminho percorrido anualmente pela Terra. Há corpos celestes dentro dos confins da órbita da Terra e há outros fora. E verdade que o Sol é um dos focos dessa órbita terrestre elíptica, e também de outras órbitas planetárias. Mas o que isto significa é que nós, observadores humanos, não estamos no centro do sistema ao qual — sabemos o suficiente para percebê-lo — pertencemos como mero planeta. Este fato de nosso conhecimento, de que o Sol é o centro do sistema e não a Terra, não torna legítimo um ponto de vista verdadeiramente heliocêntrico. Sabemos desse fato intelectualmente, mas todas as nossas experiências são necessariamente centradas na Terra. Em outras palavras, eu, o ego, sei agora que o campo de minha consciência (minha própria Terra) não é o centro de meu ser total. Presumo que exista um self que, como o Sol, é o centro desse ser total. Embora eu não o experimente como um self, mas apenas como um ego. Postulo a possibilidade de uma identificação desse ego com o self. Mas se eu tivesse experimentado tal identificação, não mais seria uma personalidade egocentrada, Seria um Personagem divino — com um veículo solar de consciência - seja o que for que isto signifique. Pode ser que haja Personagens divinos operando por meio de um corpo nascido na Terra, mas, se isso for assim, a personalidade enraizada naquele corpo e percebida pelo homem comum não é sua verdadeira Personalidade. E assim não poderemos discutir com proveito uma "Personalidade Solar" que nós, como seres terrestres, jamais experimentaremos plenamente, nem há qualquer validade em presumir um enfoque centrado no Sol como base de um sistema de interpretação simbólica de vida. Nossos voos cósmicos precisam partir da Terra e a ela retornar — caso contrário precisarão continuar sendo sonhos e especulações sem significado vital.

Portanto, consideremos o sistema solar, do ponto de vista da Terra e do Homem, como um todo planetário. Dividiremos o sistema solar naquela parte que está contida no interior da órbita da Terra e naquela parte exterior a essa órbita. Dentro da órbita terrestre, encontramos os planetas internos Vênus, Mercúrio e o Sol; fora dela, os planetas exteriores Marte, Júpiter, Saturno e Urano, Netuno, Plutão. As posições correspondentes desses planetas nesses dois domínios celestes darão a cada planeta seu significado simbólico essencial, pois, permitam-nos repetir mais uma vez, os significados básicos dos planetas lhes pertencem pela lógica de suas posições com relação d Terra e em virtude de suas características astronômicas, tais como velocidade de revolução e rotação, massa, cor , número de satélites etc. Em outras palavras, Vênus tem um certo significado básico simplesmente por ser o primeiro planeta entre a Terra e o Sol. Do mesmo modo, não pode haver dúvida quanto ao significado básico de Plutão, porque este significado deriva de sua posição, de suas características orbitais etc. É claro que um significado como esse é ao mesmo tempo muito básico e muito abstrato ou geral — quase tão abstrato ou geral quanto os significados dos números dois e três. Portanto, na aplicação deste significado à interpretação de determinados nascimentos, as estatísticas e a experiência acumulada têm um valor inestimável. No entanto, não dão origem ao significado básico.

Isto é particularmente importante quando consideramos a Lua como um fator astrológico. Para os antigos, a Lua era a auxiliar do Sol, a "luz" secundária que brilhava à noite. Todo o simbolismo de Sol e Lua foi construído sobre esses dados de experiência relativos à luz do Sol e da Lua, e as correlações fisiopsicológicas estabelecidas entre luz solar (dia, calor etc.) e luz lunar (noite, mistério, medo etc.).

Essas correlações não são mais os principais geradores de significado em termos de conhecimento e comportamento científico moderno. Por um lado, a luz artificial transformou noite em dia, e a vida da cidade moderna fez dos dias de trabalho em escritórios uma espécie de noite. Contudo, mais profundo do que isso, a atribuição de significados a planetas (e a todos os fatores astrológicos) precisa agora ser estabelecida sobre aquilo que, para nós, homens modernos, é nosso conhecimento básico: o conhecimento científico e intelectual.

Desse ponto de vista astronômico, a Lua ocupa um lugar especial de fato como o satélite da Terra. Girando mensalmente ao redor da Terra, encontra-se metade do tempo dentro da órbita terrestre e metade do tempo fora dela. Como resultado disso, a Lua é o elo entre os domínios interior e exterior do sistema solar, entre os planetas interiores e exteriores. Por causa de sua função de ligação, ela aparece sempre mutante em seu aspecto. Ela tem fases, ondas crescentes e decrescentes, um ritmo dualista definido. Quando nova, a Lua está no ponto mais interior da órbita terrestre. Quando cheia, no ponto mais exterior. Subjetividade e objetividade.

Antes, quando estudamos os planetas aos pares, dissemos que a Lua era a contrapartida feminina de Saturno. Mas essa afirmação, ainda que verdadeira num certo sentido, não deve ser tomada por definitiva. Há um "mistério" ligado à Lua, e ele tem a ver com a mudança que (ao menos potencialmente) ocorreu no final das eras arcaicas (por volta de 600 a.C.). Se agora estudamos o sistema solar do ponto de vista da órbita terrestre e se continuamos a ver os planetas aos pares, deveremos obter o seguinte resultado:

Marte e Vênus colocados a cada lado da Terra se tornam opostos polares, assim como Júpiter e Mercúrio; então Saturno e o Sol. Antes de discutirmos o que o Sol significa aqui, permitam-nos repetir que os planetas exteriores são positivos no sentido de se referirem às causas das atividades representadas pelos pares, enquanto os planetas internos se referem a resultados e são assim chamados negativos. Marte simboliza o poder de iniciar e de impulso que começa todas as atividades vitais; Vênus, a energia consumadora, concludente, frutífera, que fecha todos os ciclos de atividade. Júpiter simboliza o poder de circulação dentro de cada todo orgânico, que os expande a partir de dentro e os torna inteiros. Mercúrio é o sistema nervoso e mais tarde o poder de pensamento que consolida e se torna o veiculo do poder jupiteriano. Saturno é o poder original que inicia qualquer manifestação vital isolando do oceano indiferenciado da vida um fragmento particular e que, construindo uma parede ao redor desse fragmento, lhe dá a possibilidade de ser uma entidade separada, independente.

E quanto ao oposto polar de Saturno? Logicamente deveria ser o Sol. Mas também se falou muito e até se fez uma efeméride de um planeta intramercurial, Vulcano. Não sabemos se Vulcano existe ou não. Mas não se pode basear significados astrológicos em fatos astronômicos meramente possíveis. Vulcano pode existir. Mas exista ou não, aquilo que ele representa, como significado, pode ser atribuído muito mais satisfatoriamente à fotosfera do Sol. Ocultistas disseram que não conhecemos o Sol real, que o que vemos é apenas, por assim dizer, a luz que passa por uma janela aberta. Essa luz constitui o que pode ser chamado de superfície do Sol, a parte ativamente radiante do Sol. Na verdade isto é tudo que sabemos sobre o Sol, sensorial e fisicamente. E a fonte das "vibrações solares", e estas para nós significam luz e vida. Saturno coloca os limites de qualquer organismo vivo particular e assim ajuda a focalizar, dentro desses limites, como se através de uma lente, a luz difusa do espaço interestelar ou galáctico. O Sol, num certo sentido, é a própria lente. A fotosfera é a totalidade de raios de luz e calor focalizados e que preenchem os limites do organismo vivo. Saturno diferencia. A fotosfera torna viva a entidade diferenciada.

Temos assim uma dupla trindade de planetas internos-externos. Cada um desses planetas representa uma polaridade da vida trina: três positivos e três negativos. Qual é o "sétimo"? — pois todas as filosofias nos dizem que o grande número de todas as manifestações da vida é sete. O sétimo é aquilo que correlaciona as polaridades opostas. É aquilo que, além do mais, coleta essas energias polares e as distribui, através de um processo de ondas cíclicas, para o organismo vivo. E a Lua.

Sem a Lua, não existiria nenhum intercâmbio, nenhum relacionamento entre planetas interiores e exteriores. Não haveria fluxo de energias dentro e através da Terra. A cada lado da Terra estão os planetas. Mas é a Lua que coleta suas energias à medida que se desloca entre o mais interior e o mais exterior. Tendo coletado e misturado as energias, ela as distribui para a Terra. Ela alimenta a Terra com essas energias.

Portanto, a Lua é o útero e a mãe da Terra. É o fluido linfático. É o fluxo aquoso, a seiva dentro da planta. Coleta todas as forças cósmicas e as distribui ao embrião em seu ventre. Coleta todos os sais minerais do solo e os distribui à planta inteira. É a placenta envolvendo orbitalmente a Terra, como a placenta envolve o embrião. Na verdade, a Lua pode ser chamada de "ela", a mãe. Ela é a força-mãe, as águas da vida. Mas ela também é o amor de mãe possessivo, que sufoca e envolve a criança, arrastando-a psicologicamente de volta ao berço — o complexo materno, a escravidão de emoções e sentimentalidade.

Mas tocamos apenas a borda da vestimenta. Existe apenas um planeta interno e um externo? Aqui o "mistério da Lua" começa a desvendar-se. Pois é claro que deve existir uma "lua", um agente de ligação para cada dualidade polar. Vimos que há três pares de planetas, três capacidades básicas de vida (ser um self, manter-se, reproduzir-se) em cada organismo vivo. Então deve haver três "luas", e nossa Lua física é apenas o agente que liga o par planetário mais próximo, o de Marte e Vênus. Por ser o mais próximo é o    mais visível, o mais óbvio e o que mais compele para o exterior e de modo consciente, a fonte de nossos desejos e sentimentos mais claros. Mas também deve existir uma Lua para correlacionar o casal Júpiter-Mercúrio e distribuir suas energias harmonizadas para a Terra, e ainda uma "Lua" para distribuir para nós as energias correlacionadas de Saturno e da fotosfera.

Mas, onde estão essas "Luas"? — o leitor poderá perguntar. Talvez não existam massas físicas celestes reais de substância que preencham a função das duas "Luas superiores" acima mencionadas. Talvez elas existam num estado invisível, refletindo luz muito próxima do infravermelho ou ultravioleta para ser visível. Talvez sejam essas "Luas superiores" que os "clarividentes" têm visto e tomado por planetas girando em tomo do Sol. Talvez o "planeta-misterioso" por detrás da Lua seja a próxima "Lua superior". Há muitas dúvidas. Mas, o que fazer disso?

Aquilo de que estamos falando são ciclos de movimentação e distribuição de energia. Um deles está operando com ou através de nossa Lua visível e é um ciclo de aproximadamente 28 dias. Um outro destes ciclos está começando a ser conhecido como um ciclo de 40 meses, afetando mudanças financeiras e o calor do Sol. Um outro bem conhecido é o "ciclo das manchas solares", de pouco mais de 11 anos. Todos esses ciclos são de fato percursos cíclicos de circulação de energia (ou correlações abstratas de movimento — se preferirmos ser mais abstratos). Operem pela intermediação de um corpo físico como nossa Lua ou através de algum fluxo de partículas magnéticas que tenha efeitos de onda — não há nenhuma diferença no que se refere ao simbolismo astrológico. O que conta na atividade cíclica é o fluxo de "algo" que o astrólogo pode relacionar simbolicamente com uma função vital (coletiva e social, bem como individual). O que esse "algo" é, seja um planeta sólido ou uma onda de partículas elétricas, ou mesmo uma abstração pura e simples, isto deveria ter apenas uma pequena importância para o astrólogo. Cabe ao astrônomo descobrir todos os fatos científicos a respeito.

O esboço que se segue poderá ajudar a esclarecer como e onde — é claro que esquematicamente — operam as "Luas". A primeira (nossa Lua física) liga as órbitas de Marte e Vênus, e tem um período de aproximadamente 28 dias. Refere-se ao domínio da ação física e da procriação fisiológica. Representa todos os "sentimentos" ligados àquele domínio. Vitaliza todas as coisas, mesmo aquelas remotamente ligadas ao sexo, e toda atividade criativa à medida que a atividade tenha uma base material concreta de manifestação através de movimentos corpóreos (todas as artes, pois envolvem atividade muscular de um ou outro tipo). Vitaliza, portanto, quase que exclusivamente, o homem e a mulher funcionando num estágio instintivo e fisiológico. Além disso, opera no (e através do) ciclo de crescimento e decomposição de todos os organismos biológicos.

A segunda "Lua" conecta as órbitas de Júpiter e Mercúrio, coleta suas energias e as distribui à Terra. O período dessa atividade é de provavelmente 40 meses. O número é significativo e liga o ciclo com o ciclo de gestação de 40 semanas. Este número, 40, é encontrado com muita freqüência no simbolismo bíblico e refere-se a um período de atribulações e formação interior  (como o é o período de gestação, é claro). Mesmo mais recentemente, diz-se que Abdul Baha, líder da causa Bahai, ficou aprisionado em Akka (que significa "útero") durante 40 anos: um símbolo da formação da nova era espiritual iniciada após sua morte, ou ao seu nascimento.
Precisamos agora considerar os planetas exteriores, Urano, Netuno e Plutão. Se ainda mantivermos a órbita terrestre como eixo, veremos que estes planetas universalísticos são equilibrados somente dentro do próprio "coração do Sol".

Em nossa discussão anterior, "O Sol como elemento de Integração", escrevemos que o Sol representa o poder do self — não o próprio self. Este poder integrador do self opera primeiramente durante o desenvolvimento da psique humana, dentro dos limites do consciente definidos por Saturno. Saturno mais o poder do Sol (fotosfera) constituem o "eu sou" — Saturno é "eu" e poder do Sol é "sou" —, sempre considerando nosso sistema solar centralizado na Terra como uma "personalidade cósmica".
Então o "eu" saturnino é transcendido através do processo trino de vida simbolizado por Urano, Netuno, Plutão. Estes três planetas representam o que Jung chama não-eu, aquilo que precisa ser assimilado pelo "eu". Quando essa assimilação acontece, a "personalidade cósmica" expande, melhor ainda, experimenta uma repolarização ou "conversão". Dentro do "coração do Sol" surge um "eu" transfigurado e este "eu" encontra seu "sou" no poder da trindade Urano-Netuno-Plutão. Esta trindade planetária constitui o processo do qual a "personalidade cósmica" se vê ligada ao todo astronômico mais vasto, digamos, à galáxia.

Poderíamos perguntar: mas o que de fato se quer dizer com "coração do Sol"? Ele é o self. E o self é a totalidade da personalidade realizada e integrada — uma abstração. Mas até mesmo esta abstração é suscetível de ser simbolizada concretamente em termos do todo imediatamente maior. Assim poderíamos dizer que o "coração do Sol" em termos do todo (centralizado na Terra) galáctico é a estrela que (em nossa galáxia) se localiza exatamente atrás do Sol. No entanto isto dificilmente terá algum significado prático para nós, homens comuns!

No entanto o que tem significado é a idéia de que existe um ciclo de ligação entre a órbita de Urano e o "coração do Sol", uma quarta "Lua"'. Este é o ciclo de 28 anos do estado de ser individual, que, repetido três vezes (uma vez para cada um dos planetas mais exteriores) dá o tempo da "construção" simbólica "do Templo de Sol-o-Mon" (o Sol do Homem): 84 anos — o período do movimento de Urano em torno do Sol. Dois ciclos de 28 anos (56 anos) constituem de acordo com o Sr. McGrath, o ciclo maior de negócios. Este período corresponde a três ciclos nodais de 18 anos e meio cada e a cinco ciclos de manchas solares de 11 anos e 2 meses cada. Estas correspondências ajudam a esclarecer o significado de Netuno, quando plenamente entendido, já que o período sideral de Netuno é igual a três períodos de 56 anos.

Todos esses ciclos, que podem ser considerados "Lias" superiores, são extremamente importantes no estudo da "personalidade cósmica", pois simbolizam "funções de ligação" entre energias da alma que, quando plenamente integradas, são a substância dessa "personalidade cósmica" tão convenientemente simbolizada pelo padrão complexo do sistema solar como entendido a partir da Terra. Tais "funções de ligação" foram mantidas esotérica e misteriosamente sagradas na cosmopsicologia arcaica. Daí o "mistério da Lua".

Para os antigos, esse mistério residia na qualificação da Lua como oposto polar de Saturno. Quando a humanidade funcionava puramente no nível fisiológico e a mente dificilmente era um fator independente ou uma base para a focalização das energias vitais, então era de fato a Lua que, como força materna, animava os egos (os limites saturninos) dos seres humanos. Estes ainda se encontram, psicologicamente, no útero da Mãe — e isto no nível fisiológico-instintivo (Marte-Vênus) de atividade. Mas à medida que os homens se tornam mentalmente polarizados e se elevam do útero materno psicológico para o domínio da energia pura e do pensamento independente, eles são progressivamente preenchidos pelo poder da fotosfera solar. Seus egos saturninos se iluminam e a "Lua superior", Lúcifer (ou seja, o Portador da Luz), "leva luz" a eles, a luz de Júpiter e Mercúrio correlacionados. Um passo seguinte no desenvolvimento espiritual os iluminará pelo poder da Lua Kundalini (Ísis?) ligando Saturno e a fostofera; mais um passo os verá vitalizados pela correlação Urano e Sol (Osíris?).

Acreditamos que o "planeta-mistério por detrás da Lua" não seja um planeta, mas esta segunda "Lua" que chamamos de Lúcifer — o elo Júpiter-Mercúrio. Os asteroides são os remanescentes — ou não serão eles a condição pré-natal?.-- desse Lúcifer. Não poderão as miríades de asteroides ser um símbolo do estado fragmentado das energias psicomentais ou forças-da-alma dos seres humanos? O Grande Trabalho do espírito é a integração dessas forças da alma espalhadas num organismo espiritual, um "templo do Deus vivo". Assim, cada homem precisa integrar em si mesmo esses "asteroides" e transformá-los numa "Lua" através da qual o poder da alma (Júpiter) e o poder da mente (Mercúrio) serão correlacionados e tornados ciclicamente operativos.

Após este trabalho preliminar de integração psicomental, concentração, ou yoga, virá mais um estágio — simbolizado por Kundalini—Ísis. Então o véu de Ísis deve ser levantado pelo candidato à iniciação. O homem se vê circundado pelo halo do Deus vivo, pela radiância de múltiplas chamas da Coroa. Finalmente, o próprio homem se torna um Sol. Seu coração bate em uníssono com o "coração do Sol".

A Lua física representa a humanidade comum de hoje. As três "Luas superiores" representam os três estágios da iniciação maçônica: Aprendiz — Companheiro — Mestre. Estes estágios simbolizam ritualisticamente as três fases básicas do processo de integração da personalidade — da gestação do "Deus Vivo" à criança crística, dentro da psique.



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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.