A desigualdade das Casas do horóscopo é um dos principais fatores que dão a um tema astrológico toda a sua individualidade, sendo lamentável que a maioria dos astrólogos se contentem em marcar essas Casas de maneira aproximada, com a diferença de alguns graus. A desigualdade das Casas é a chave mestra da interpretação das Revoluções Solares, já que uma Casa anual pode englobar duas e até mesmo três (sob certas latitudes) Casas natais e vice-versa, e já que cada uma dessas sobreposições tem uma significação específica.
No capítulo anterior, examinamos os índices fornecidos pela orientação do Ascendente anual em relação ao tema natal. Mas a presença do Ascendente anual na X Casa natal, por exemplo, não significa que a II anual se colocará sempre na XI natal: ela pode cair na X ou na XII e, em cada caso, sua significação será diferente.
Convém refutar aqui as afirmações de certos manuais astrológicos que afirmam que, todos os anos, o Meio-do-Céu avança 90°, com 5 ou 6o de aproximação. A diferença entre o Meio-do-Céu de duas Revoluções Solares sucessivas para uma pessoa que permanece no mesmo lugar pode ser, em alguns casos, de 72°, fato que contradiz aquela afirmação. Por último, para uma pessoa que se desloca para muito longe (como, por exemplo, da Europa para a América, ocorrência comum em nossos dias), o Meio-do-Céu pode "recuar" e não "avançar", em relação à Revolução Solar do ano precedente.
Como a importância do Meio-do-Céu está muito próxima da do Ascendente (a tal ponto que a história da astrologia nos mostra vários, astrólogos da Antiguidade hesitando, sem saber qual desses dois ângulos preferir), convém estudar a sobreposição do Meio-do-Céu imediatamente depois da sobreposição do Ascendente. Estes dois ângulos dão, por assim dizer, "o tom" do ano. Sua orientação pode ser comparada ao "bombo" de uma orquestra, que, com o seu som, cobre o de todos os demais instrumentos. As indicações fornecidas pela presença do Meio-do-Céu nas doze Casas natais podem ser resumidas da seguinte maneira:
O Meio-do-Céu situado na I Casa natal aponta geralmente uma indicação muito boa, que permite ao sujeito agir por si mesmo, à vontade, sobre o destino, bem como orientá-lo no sentido desejado. Tal sobreposição pressagia sempre uma ação pessoal que, de uma maneira ou de outra, será útil no futuro; com ela, as oportunidades são grandes. Essa posição é frequentemente encontrada nos anos em que o sujeito decide a sua carreira ou começa um empreendimento que orienta a sua existência para uma nova direção. Observemos que a diferença entre essa sobreposição e a do Ascendente anual na X Casa natal consiste no seguinte: no segundo caso, o sujeito deverá agir pessoalmente, buscar os meios e as ocasiões, gerar as circunstâncias, ao passo que, se o Meio-do-Céu se encontra na I Casa natal, a sorte o favorecerá mais, ele encontrará ajuda, fundos, proteções etc; em uma palavra, as coisas virão a ele de uma maneira ou de outra. Em suma, trata-se geralmente de um ótimo índice, melhor que o do Ascendente anual na X Casa natal.
É bom lembrar que a Revolução Solar de H. P. Blavatsky correspondente à fundação da Sociedade Teosófica tem esta orientação do Meio-do-Céu.
O Meio-do-Céu anual na II Casa natal prenuncia um ano bem ou mal retribuído, seguindo as boas ou más disposições dessas duas Casas. É o índice de que as finanças desempenham um papel muito importante e devem ser analisadas de modo atento, ainda que a II Casa não contenha nenhum planeta.
O Meio-do-Céu anual na III Casa natal prenuncia uma posição que exige muitos deslocamentos ou que está ligada aos escritos. Se a Revolução Solar é benéfica, essa sobreposição pode conduzir à melhoria da posição social como consequência de uma pequena viagem de negócios ou do recebimento, através de carta, de uma proposta importante. Nos temas femininos e nos temas das pessoas sem profissão, essa orientação marca geralmente a situação de dependência em relação ao meio ambiente.
O Meio-do-Céu na IV Casa natal implica sempre as questões relativas às terras, aos pais ou ainda ao lar. Com frequência, trata-se do índice da concretização de um empreendimento de longa duração. Como a IV é a Casa do final das coisas, essa orientação marca muitas vezes o ano da aposentadoria. Afligida, essa orientação ameaça com a perda da situação, sobretudo se os dois Meio-do-Céu, natal e anual, se encontram em oposição (a 8 ou 9o de aproximação).
O Meio-do-Céu na V Casa natal é geralmente um bom presságio, que pode significar uma posição relacionada com as artes ou com os esportes, um êxito por parte das, ou para as, crianças, ou ainda noivados úteis para a situação (sobretudo nos temas femininos). Da mesma forma, entre as mulheres, essa posição marca frequentemente o ano em que a atividade incessante e principal é dedicada à criança. Algumas vezes, é indício de uma vida muito mundana. Nos temas dos estudantes, essa orientação relaciona-se com os exames. Mas, se a Revolução Solar está afligida, existe o perigo da destruição de todas as esperanças do nativo (por causa da oposição do Meio-do-Céu à XI Casa natal).
O Meio-do-Céu na VI Casa natal é um indício de posição subordinada aos outros ou dependente dos outros. Se a Revolução Solar pressagia uma doença, trata-se de indício da repercussão da má saúde sobre a posição do sujeito. Se essa orientação é reforçada pela presença de Saturno no Meio-do-Céu, mostra o sujeito mais ou menos escravo de seus negócios, já que estes últimos restringem seu livre-arbítrio e sua liberdade de ação, opondo-se à realização da maioria de seus desejos.
O Meio-do-Céu na VII Casa natal, bem-disposta, esta sobreposição pode significar uma mudança de situação através do casamento, de uma associação ou de um contrato de negócios. Maldisposta, pode provocar as mudanças advindas de divórcio, de uma ruptura de associação ou ainda de um processo. Nos temas femininos, marca frequentemente a dependência da mulher diante das mudanças que se produzirão nos negócios do marido.
O Meio-do-Céu na VIII Casa natal, bem-disposta, esta sobreposição permite anunciar uma entrada de dinheiro, algumas vezes uma herança ou um ajuste de contas favorável. Maldisposta, leva a temer um falecimento que terá repercussão sobre os negócios, ou aborrecimentos em função de dívidas ou de obrigações financeiras. A questão "das dívidas" desempenha quase sempre um papel bastante importante no decorrer do ano marcado por essa sobreposição.
O Meio-do-Céu na IX Casa natal indica que a posição do sujeito exigirá uma viagem ou que ele influenciará a sua situação. Algumas vezes, essa configuração prenuncia a importância dos negócios do nativo referentes ao estrangeiro ou um êxito proveniente do exterior. Encontrei essa posição do Meio-do-Céu no momento da nomeação de uma pessoa como cônsul, nos temas de escritores no momento da tradução de suas obras para línguas estrangeiras, assim como nos numerosos detidos, em 1940-1944, pelas autoridades de ocupação (neste último caso, essa posição do Meio-do-Céu era geralmente "reforçada" pela presença do Ascendente na XII Casa natal e por fortes dissonâncias planetárias).
Se o Meio-do-Céu da Revolução Solar coincide com a sua posição natal, trata-se, em geral, de uma boa indicação no que diz respeito a profissão, ocupação, fama ou fortuna. Como dissemos acima, a conjunção dos ângulos marca um ano mais ou menos importante.
O Meio-do-Céu na XI Casa natal indica uma situação dependente, pelo menos em parte, dos amigos e das relações. Em geral, trata-se de um indício muito bom da realização de seus projetos e aspirações no decorrer do ano. Algumas vezes, essa configuração leva a viver e a trabalhar mais no futuro que no presente, bem como a sacrificar o imediato por uma causa longínqua.
Por último, o Meio-do-Céu na XII Casa natal prenuncia geralmente um ano de grandes provações na, ou pela, situação social, o perigo de difamação, de escândalo ou de dificuldades para encontrar ou manter um emprego. Os maléficos ou os maus aspectos recebidos pela cúspide desta Casa agravam essas significações. Se o número das boas e das más configurações é quase igual, só é possível interpretar esta sobreposição como indício de que o sujeito está descontente com a sua sorte.
A Revolução Solar de Eduardo VIII que corresponde à sua abdicação tinha essa orientação do Meio-do-Céu.
Essa configuração só é favorável para médicos, enfermeiras e para todas as pessoas cuja profissão corresponda ao domínio da XII Casa e, mesmo assim, é indispensável ter um bom planeta no Meio-do-Céu ou toda uma série de bons aspectos.
Observemos, para concluir, que é necessário atribuir ao Ascendente e ao Meio-do-Céu da Revolução Solar uma órbita de 5o, de maneira que, caso um desses ângulos se situe no fim de uma Casa natal, devem ser tomadas, em geral, as significações das duas Casas. É o caso da Revolução Solar de H. P. Blavatsky do dia 11 de agosto de 1847, que se encontra acima. O Meio-do-Céu anual desse mapa situa-se a 5o da cúspide da IX Casa natal e, tanto quanto é possível julgar pelas biografias (que estão, .evidentemente, sujeitas a lacunas), a mudança de posição pela viagem deve ser colocada acima de todas as outras interpretações possíveis.
Essa Revolução Solar corresponde ao ano do casamento, que teve lugar no dia 7 de julho de 1848, e são abundantes as configurações características. Observemos que Júpiter, regente da VII Casa anual, se encontra em conjunção com o Ascendente natal, em trígono no Meio-do-Céu natal e com Saturno anual (que regia a Casa do matrimônio no tema natal), e em quadratura com Urano, regente do Meio-do-Céu dessa Revolução Solar. Esta última configuração corresponde à ruptura do casamento imediatamente após a cerimônia, já que H. P. Blavatsky só o concretizou com a finalidade de romper os laços de família. Essa ruptura é marcada não somente pelo trígono de Urano com o Sol na IV Casa, mas também pela oposição da Lua a Netuno; esta última configuração torna-se mais clara se se recorda que a Lua é regente do Ascendente de natividade e que Netuno ocupava, no momento do nascimento, a VII Casa, a do casamento. Na Revolução Solar, a Lua está situada na IV Casa, que é a parte do céu que denota o lar e a família, enquanto Netuno se coloca na X Casa - a da ação pessoal e da posição social.
Como o Ascendente anual se situa na XII Casa natal, tratava-se certamente de um "ano de provações" para H. P. Blavatsky e Netuno, no Meio-do-Céu — assim como o Ascendente em Gêmeos e a retrogradação de Mercúrio —, predispunha-a a muitas hesitações e dúvidas antes de tomar uma decisão tão grave para uma jovem de dezessete anos.
Ao interpretar as Revoluções Solares, é necessário atribuir também uma grande importância ao planeta que ocupa o Meio-do-Céu, pois esse planeta encarna frequentemente o acontecimento em curso. Ele deveria ser julgado principalmente de acordo com a Casa natal. Um astro no Ascendente pode indicar uma tendência psicológica e até mesmo uma veleidade, mas esse mesmo astro no Meio-do-Céu denota a plena ação e, portanto, o acontecimento. Assim, por exemplo, Urano estava na V Casa no momento do nascimento e se encontra culminante numa Revolução Solar - gravidez inesperada ou aborrecimentos advindos das crianças; Marte, da VII Casa natal, passa ao Meio-do-Céu anual — ruptura de uma associação; Vênus da VIII Casa natal em conjunção com a cúspide da X Casa anual - ganhos na loteria etc. É inútil dizer que todos esses significados são constatados muitas vezes, e não uma única, mas, evidentemente, em cada caso particular é preciso buscar as configurações que os reforçam e os confirmam. Assim, num dos temas que tinham Urano culminante, citado por nós, Vênus anual, regente da V Casa natal, se sobrepunha, na Revolução Solar, ao Ascendente natal; em um outro, o regente da V Casa anual estava na I Casa da Revolução Solar, em conjunção com o regente da mesma Casa natal, e assim por diante.
Tal como na interpretação do tema natal, devemos sempre chegar a uma síntese de todos os fatores, mas o ponto de partida e a linha geral dessa síntese são fornecidos pela orientação dos ângulos anuais em relação às Casas natais.
sábado, 21 de maio de 2016
A QUINTA CASA, por Howard Sasportas
Na verdade vos digo, a menos que se portem e se tornem como crianças,
jamais entrarão no reino dos céus.
Mateus 18.3
Na 4ª Casa, descobrimos nossa própria e discreta identidade, mas na 5ª nos revelamos. O fogo da 1ª Casa arde sem mesmo saber que arde; o fogo da 5ª Casa grassa de uma forma consciente e é alegremente abanado pelo self. A natureza da vida é crescer, e esta casa (naturalmente associada a Leão e ao Sol) reflete nossa pressa em nos expandir, em nos transformar mais e mais e de iluminar a vida como um sol. No momento em que atingimos a 5ª Casa, sabemos que não somos todas as coisas; mas também não ficamos contentes por sermos apenas "alguém" — temos que ser alguém especial. Nós não somos tudo, mas podemos tentar ser a coisa mais importante que há.
A função do Sol em nosso sistema solar é dupla: ele brilha aquecendo, dando calor e vida à Terra, mas serve também como princípio organizador central, ao redor do qual orbitam os planetas. Neste sentido, o Sol é como o ego pessoal ou o Eu, o centro da consciência ao redor do qual os diversos aspectos do self circulam.
Indivíduos com fortes posicionamentos na 5ª Casa participam das qualidades do Sol. Eles têm necessidade de brilhar e criar de dentro de si mesmos; têm de se sentir influentes; e precisam sentir que os outros estão circulando ao seu redor. Para alguns, isso significa literalmente ser sempre o centro das atenções - eles ambicionam ser idolatrados como o Sol. Conheci uma mulher com Sol e Marte na 5ª Casa; ela não tolerava ficar na mesma sala com uma televisão ligada, pois isso significava que os presentes poderiam olhar mais para o aparelho do que para ela.
Precisamos nos lembrar de que o Sol, embora centro vital e importante, não é o único Sol na galáxia - é apenas um entre muitos. As palavras de uma canção popular nos lembram que "todo mundo é uma estrela".
Profundamente adormecido em nossa psique e reverberando através da 5ª Casa existe um desejo inato de sermos reconhecidos por sermos especiais. Quando crianças acreditávamos que quanto mais "espertos", desembaraçados e cativantes fôssemos, com mais certeza mamãe ia querer nos amar e proteger. Cativar e encantar os outros é nosso único valor e meio de assegurar que nos alimentem, nos protejam, e que cuidem de nós; por isso mesmo trata-se de uma maneira de
permanecermos vivos.
Outra palavra-chave para a 5ª Casa seria "geratividade" - que, definida simplesmente, significa: "a habilidade de produzir". Esses dois princípios, a necessidade de recebermos amor por sermos especiais e o desejo de criar de dentro de nós, sublinham as mais tradicionais associações com a 5ª Casa.
A 5ª Casa é a região do mapa atribuída à expressão criativa, mais obviamente as criações artísticas, embora a criatividade da 5ª Casa não precise ser só a pintura de um quadro ou a execução de uma dança. Cientistas ou matemáticos podem se aplicar ao seu trabalho com tanto talento e paixão quanto um Picasso ou uma Pavlova. Os planetas e os signos da 5ª Casa nos esclarecem a respeito das possíveis saídas da expressão criativa. Mercúrio ou Gêmeos na 5ª Casa podem mostrar talentos para escrever ou falar em público; Netuno ou Peixes podem ser absorvidos por música, poesia, fotografia ou dança. Câncer e Touro tendem a exibir algum dom culinário enquanto Virgem nesta posição pode propiciar boas qualidades para a costura e os trabalhos manuais. No entanto, mais do que descrever qual saída criativa combina melhor conosco, os posicionamentos aqui sugerem o modo e o estilo como serão conseguidos. Uma peça musical pode ser um tour de force intelectual (Mercúrio ou Urano) ou sair direto do coração (Lua ou Netuno). Algumas pessoas produzem alegre e espontaneamente, enquanto outras sofrem horríveis dores de parto. Acima e além da pura expressão criativa, esta é a casa do ator e descreve a maneira como enfrentamos a arte de viver. Uma cliente com uma 5ª Casa bastante evidente, caluniosamente se descreveu como uma "pessoa profissional", e não teve a intenção de falar apenas em termos de carreira.
As saídas criativas associadas à 5ª Casa incluem esportes e recreação. Para uns é o desafio atlético, o jogo e a competição, as alegrias de ganhar e chegar em primeiro lugar. Para outros, o puro êxtase do empenho e o embate do self contra os elementos ou a desigualdade. De modo semelhante, o jogo e a especulação também são atribuídos à 5ª Casa, onde testamos nosso talento e nossa imaginação contra o destino e a sorte.
Com frequência a 5ª Casa é associada a hobbies, divertimentos e aos prazeres do tempo livre. Tudo isso parece muito mesquinho para uma casa regida pelo Sol e por Leão. No entanto, se examinarmos melhor, eles são mais importantes do que parecem à primeira vista. A 5ª Casa descreve atividades que fazem com que nos sintamos bem conosco mesmos e nos deixam contentes por estarmos vivos.
Hobbies e divertimentos do tempo de folga dão a oportunidade para podermos participar daquilo que queremos e gostamos de fazer. Através destas conquistas sentimos a alegria de estarmos completamente envolvidos em alguma coisa.
Infelizmente, muitos de nós têm carreiras ou empregos que não permitem esse tipo de compromisso. Existe um grande perigo de que nosso entusiasmo e nossa vitalidade se acabem, a não ser que tenhamos interesses fora do trabalho que nos recarreguem e revigorem. Sob este ângulo, hobbies e divertimentos têm um efeito quase terapêutico. A palavra "recreação" quer dizer literalmente fazer de novo, revitalizar, encher de vida e energia. Os planetas e os signos da 5ª Casa sugerem os tipos de divertimentos que devemos explorar e a maneira como isso deve acontecer.
O romance também se acha no cabeçalho da 5ª Casa. Além de ser estimulante, apaixonante, quebrar corações e etc., encontros românticos aumentam nosso sentido de sermos especiais. Tornamo-nos o foco principal da atenção de alguém, dos sentimentos de alguém e podemos conceder nosso amor todo especial a alguém. Os posicionamentos da 5ª Casa revelam a maneira pela qual "criamos o romance" — o(s) princípio(s) arquetipal(ais) mais provavelmente ativados nestas situações — e também algo sobre o tipo de pessoa que nos faz sentir o fogo interno.
A expressão sexual também está vinculada à 5ª Casa. Uma boa relação sexual contribui para o nosso sentido de poder e valor, aumentando tanto nossa habilidade em dar prazer quanto a capacidade de atrair os outros para nós. Este poder de encantar e prender a atenção dos outros é muito tranquilizante e satisfaz enormemente nossos mais profundos instintos de sobrevivência. (Compare isso com a 8ª Casa — na qual tentamos transcender nossos limites pessoais através da intimidade.) Tudo isso leva a uma das importantes representações da 5ª Casa — filhos, criações do corpo e a extensão física do self. A maioria das pessoas expressa primeiro seus impulsos criativos (e simbolicamente assegura sua sobrevivência) gerando uma prole.
Enquanto a 4ª e a 10ª casas indicam como vemos nossos pais, os posicionamentos da 5ª Casa descrevem os arquétipos constelados entre nós e nossos filhos. Os signos e os planetas, aqui, refletem o que nossa descendência significa para nós. Alinhados com os exemplos de outras casas, os posicionamentos nesta casa podem ser interpretados de várias maneiras. Por exemplo, Júpiter na 5ã pode literalmente produzir crianças jupiterianas - aquelas nascidas sob o signo de Sagitário ou com Sagitário Ascendente ou Júpiter junto a um ângulo ou com o Sol, etc. Ou também podemos entender Júpiter na 5ª como nossa predisposição para encontrar Júpiter nesta área da vida: projetamos Júpiter em nossos filhos ou nos orgulhamos de registrar seu lado jupiteriano mais do que seus outros traços. Planetas na 5ã também descrevem nossa experiência no papel de pais. Saturno nesta posição pode atemorizar pela responsabilidade da paternidade e amedrontar aqueles que acham que não vão ser bons pais. A ideia de Urano de como educar crianças pode encabular as mais novas e avançadas teorias sobre o assunto.
Mais do que só descrever os filhos externamente, a 5ª Casa pode com muita propriedade ser chamada de "a casa da nossa Criança Interior", a parte de nós que gosta de brincar e que permanece eternamente jovem. Dentro de nós, tudo é espontâneo, a criança natural que solicita ser amada por ser especial e única. No entanto, como crianças, esta parte de nós muitas vezes é machucada.
Frequentemente somos amados por estarmos de acordo e iguais aos nossos pais em expectativas e critérios, em vez de o sermos pelo que somos. Desta maneira, perdemos a confiança em nossa florescente individualidade e nos tornamos aquilo que a Análise Transacional chama de "uma criança adaptada".
Invariavelmente vamos projetar o estado de nossa própria criança interior em nossa descendência. Podemos curar "nossa criança machucada" dentro de nós mesmos dando o amor e a aceitação que nos foram negados quando crianças aos nossos progenitores ou a outros jovens que encontramos. Não importa quando façamos isso, nunca será tarde para termos uma infância feliz.
Aumentamos e realçamos nossa única identidade e exercitamos nosso próprio poder através da emanação criativa da 5ª Casa. Como subproduto podemos até gerar notáveis obras de arte, novos livros e ideias maravilhosas, ou filhos interessantes que, de alguma maneira, vão contribuir com a sociedade.
Beneficiar a sociedade não é, no entanto, a principal preocupação desta casa. Constate a relutância que muitas pessoas têm em soltar tanto suas obras de arte quanto os filhos no mundo. Na 5ª Casa, criamos principalmente para nós mesmos, pois o self se alegra e se orgulha em fazê-lo, e porque é da natureza do self criar.
jamais entrarão no reino dos céus.
Mateus 18.3
Na 4ª Casa, descobrimos nossa própria e discreta identidade, mas na 5ª nos revelamos. O fogo da 1ª Casa arde sem mesmo saber que arde; o fogo da 5ª Casa grassa de uma forma consciente e é alegremente abanado pelo self. A natureza da vida é crescer, e esta casa (naturalmente associada a Leão e ao Sol) reflete nossa pressa em nos expandir, em nos transformar mais e mais e de iluminar a vida como um sol. No momento em que atingimos a 5ª Casa, sabemos que não somos todas as coisas; mas também não ficamos contentes por sermos apenas "alguém" — temos que ser alguém especial. Nós não somos tudo, mas podemos tentar ser a coisa mais importante que há.
A função do Sol em nosso sistema solar é dupla: ele brilha aquecendo, dando calor e vida à Terra, mas serve também como princípio organizador central, ao redor do qual orbitam os planetas. Neste sentido, o Sol é como o ego pessoal ou o Eu, o centro da consciência ao redor do qual os diversos aspectos do self circulam.
Indivíduos com fortes posicionamentos na 5ª Casa participam das qualidades do Sol. Eles têm necessidade de brilhar e criar de dentro de si mesmos; têm de se sentir influentes; e precisam sentir que os outros estão circulando ao seu redor. Para alguns, isso significa literalmente ser sempre o centro das atenções - eles ambicionam ser idolatrados como o Sol. Conheci uma mulher com Sol e Marte na 5ª Casa; ela não tolerava ficar na mesma sala com uma televisão ligada, pois isso significava que os presentes poderiam olhar mais para o aparelho do que para ela.
Precisamos nos lembrar de que o Sol, embora centro vital e importante, não é o único Sol na galáxia - é apenas um entre muitos. As palavras de uma canção popular nos lembram que "todo mundo é uma estrela".
Profundamente adormecido em nossa psique e reverberando através da 5ª Casa existe um desejo inato de sermos reconhecidos por sermos especiais. Quando crianças acreditávamos que quanto mais "espertos", desembaraçados e cativantes fôssemos, com mais certeza mamãe ia querer nos amar e proteger. Cativar e encantar os outros é nosso único valor e meio de assegurar que nos alimentem, nos protejam, e que cuidem de nós; por isso mesmo trata-se de uma maneira de
permanecermos vivos.
Outra palavra-chave para a 5ª Casa seria "geratividade" - que, definida simplesmente, significa: "a habilidade de produzir". Esses dois princípios, a necessidade de recebermos amor por sermos especiais e o desejo de criar de dentro de nós, sublinham as mais tradicionais associações com a 5ª Casa.
A 5ª Casa é a região do mapa atribuída à expressão criativa, mais obviamente as criações artísticas, embora a criatividade da 5ª Casa não precise ser só a pintura de um quadro ou a execução de uma dança. Cientistas ou matemáticos podem se aplicar ao seu trabalho com tanto talento e paixão quanto um Picasso ou uma Pavlova. Os planetas e os signos da 5ª Casa nos esclarecem a respeito das possíveis saídas da expressão criativa. Mercúrio ou Gêmeos na 5ª Casa podem mostrar talentos para escrever ou falar em público; Netuno ou Peixes podem ser absorvidos por música, poesia, fotografia ou dança. Câncer e Touro tendem a exibir algum dom culinário enquanto Virgem nesta posição pode propiciar boas qualidades para a costura e os trabalhos manuais. No entanto, mais do que descrever qual saída criativa combina melhor conosco, os posicionamentos aqui sugerem o modo e o estilo como serão conseguidos. Uma peça musical pode ser um tour de force intelectual (Mercúrio ou Urano) ou sair direto do coração (Lua ou Netuno). Algumas pessoas produzem alegre e espontaneamente, enquanto outras sofrem horríveis dores de parto. Acima e além da pura expressão criativa, esta é a casa do ator e descreve a maneira como enfrentamos a arte de viver. Uma cliente com uma 5ª Casa bastante evidente, caluniosamente se descreveu como uma "pessoa profissional", e não teve a intenção de falar apenas em termos de carreira.
As saídas criativas associadas à 5ª Casa incluem esportes e recreação. Para uns é o desafio atlético, o jogo e a competição, as alegrias de ganhar e chegar em primeiro lugar. Para outros, o puro êxtase do empenho e o embate do self contra os elementos ou a desigualdade. De modo semelhante, o jogo e a especulação também são atribuídos à 5ª Casa, onde testamos nosso talento e nossa imaginação contra o destino e a sorte.
Com frequência a 5ª Casa é associada a hobbies, divertimentos e aos prazeres do tempo livre. Tudo isso parece muito mesquinho para uma casa regida pelo Sol e por Leão. No entanto, se examinarmos melhor, eles são mais importantes do que parecem à primeira vista. A 5ª Casa descreve atividades que fazem com que nos sintamos bem conosco mesmos e nos deixam contentes por estarmos vivos.
Hobbies e divertimentos do tempo de folga dão a oportunidade para podermos participar daquilo que queremos e gostamos de fazer. Através destas conquistas sentimos a alegria de estarmos completamente envolvidos em alguma coisa.
Infelizmente, muitos de nós têm carreiras ou empregos que não permitem esse tipo de compromisso. Existe um grande perigo de que nosso entusiasmo e nossa vitalidade se acabem, a não ser que tenhamos interesses fora do trabalho que nos recarreguem e revigorem. Sob este ângulo, hobbies e divertimentos têm um efeito quase terapêutico. A palavra "recreação" quer dizer literalmente fazer de novo, revitalizar, encher de vida e energia. Os planetas e os signos da 5ª Casa sugerem os tipos de divertimentos que devemos explorar e a maneira como isso deve acontecer.
O romance também se acha no cabeçalho da 5ª Casa. Além de ser estimulante, apaixonante, quebrar corações e etc., encontros românticos aumentam nosso sentido de sermos especiais. Tornamo-nos o foco principal da atenção de alguém, dos sentimentos de alguém e podemos conceder nosso amor todo especial a alguém. Os posicionamentos da 5ª Casa revelam a maneira pela qual "criamos o romance" — o(s) princípio(s) arquetipal(ais) mais provavelmente ativados nestas situações — e também algo sobre o tipo de pessoa que nos faz sentir o fogo interno.
A expressão sexual também está vinculada à 5ª Casa. Uma boa relação sexual contribui para o nosso sentido de poder e valor, aumentando tanto nossa habilidade em dar prazer quanto a capacidade de atrair os outros para nós. Este poder de encantar e prender a atenção dos outros é muito tranquilizante e satisfaz enormemente nossos mais profundos instintos de sobrevivência. (Compare isso com a 8ª Casa — na qual tentamos transcender nossos limites pessoais através da intimidade.) Tudo isso leva a uma das importantes representações da 5ª Casa — filhos, criações do corpo e a extensão física do self. A maioria das pessoas expressa primeiro seus impulsos criativos (e simbolicamente assegura sua sobrevivência) gerando uma prole.
Enquanto a 4ª e a 10ª casas indicam como vemos nossos pais, os posicionamentos da 5ª Casa descrevem os arquétipos constelados entre nós e nossos filhos. Os signos e os planetas, aqui, refletem o que nossa descendência significa para nós. Alinhados com os exemplos de outras casas, os posicionamentos nesta casa podem ser interpretados de várias maneiras. Por exemplo, Júpiter na 5ã pode literalmente produzir crianças jupiterianas - aquelas nascidas sob o signo de Sagitário ou com Sagitário Ascendente ou Júpiter junto a um ângulo ou com o Sol, etc. Ou também podemos entender Júpiter na 5ª como nossa predisposição para encontrar Júpiter nesta área da vida: projetamos Júpiter em nossos filhos ou nos orgulhamos de registrar seu lado jupiteriano mais do que seus outros traços. Planetas na 5ã também descrevem nossa experiência no papel de pais. Saturno nesta posição pode atemorizar pela responsabilidade da paternidade e amedrontar aqueles que acham que não vão ser bons pais. A ideia de Urano de como educar crianças pode encabular as mais novas e avançadas teorias sobre o assunto.
Mais do que só descrever os filhos externamente, a 5ª Casa pode com muita propriedade ser chamada de "a casa da nossa Criança Interior", a parte de nós que gosta de brincar e que permanece eternamente jovem. Dentro de nós, tudo é espontâneo, a criança natural que solicita ser amada por ser especial e única. No entanto, como crianças, esta parte de nós muitas vezes é machucada.
Frequentemente somos amados por estarmos de acordo e iguais aos nossos pais em expectativas e critérios, em vez de o sermos pelo que somos. Desta maneira, perdemos a confiança em nossa florescente individualidade e nos tornamos aquilo que a Análise Transacional chama de "uma criança adaptada".
Invariavelmente vamos projetar o estado de nossa própria criança interior em nossa descendência. Podemos curar "nossa criança machucada" dentro de nós mesmos dando o amor e a aceitação que nos foram negados quando crianças aos nossos progenitores ou a outros jovens que encontramos. Não importa quando façamos isso, nunca será tarde para termos uma infância feliz.
Aumentamos e realçamos nossa única identidade e exercitamos nosso próprio poder através da emanação criativa da 5ª Casa. Como subproduto podemos até gerar notáveis obras de arte, novos livros e ideias maravilhosas, ou filhos interessantes que, de alguma maneira, vão contribuir com a sociedade.
Beneficiar a sociedade não é, no entanto, a principal preocupação desta casa. Constate a relutância que muitas pessoas têm em soltar tanto suas obras de arte quanto os filhos no mundo. Na 5ª Casa, criamos principalmente para nós mesmos, pois o self se alegra e se orgulha em fazê-lo, e porque é da natureza do self criar.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
O Destino e Plutão, por Liz Greene
Hades, o deus da morte, preside o julgamento
sobre as ações de um homem depois que este morre.
O deus da morte, Hades, não se esquecerá
das matanças e das dívidas de sangue.
Ésquilo
Se desejamos abordar os símbolos astrológicos por meio da ampliação de outras imagens e de símbolos, e não por meio de uma definição concreta, então é hora de darmos uma olhada nas contribuições do mito a respeito de Hades-Plutão e sobre o tema dos regentes do inferno em geral. O senhor grego do inferno era, originalmente, conhecido como Hades; o epíteto "Plutão", que significa "riquezas", é uma denominação posterior que os romanos usavam então para descrevê-lo. James Hillman é esclarecedor sobre essa mudança de nomes: É especialmente importante reconhecer Plutão, em nossas eufêmicas referências ao inconsciente, como o doador do todo, um depósito de riquezas abril). dantes, um lugar não de fixação no tormento, mas sim um lugar, desde que corretamente propiciado, que oferece imensa abundância. O eufemismo é uma maneira de esconder a ansiedade. Na antiguidade, Plutão ("riquezas") era usado como um nome eufemístico para ocultar as profundezas assustadoras do Hades.
Com praticamente a mesma disposição, as Erínias, as terríveis vingadoras da Mãe, eram chamadas Eumênides, "as amáveis damas".
Nós astrólogos também usamos eufemismos. "Transformação" é uma palavra sonora, com fragrância de numinosidade e profunda intenção psíquica, e mais encorajadora para o cliente que possui um trânsito ou progressão envolvendo Plutão. Entretanto é, infelizmente, o tipo de palavra a que gostamos de recorrer quando o significado de um planeta é vago ou meramente intelectual, ou quando a experiência prognosticada no horóscopo augura crise e sofrimento para o cliente. Não é nada fácil observar uma outra pessoa passando por um sofrimento necessário. Primeiro, porque nossa compaixão protesta que esse sofrimento não deve ser necessário, pois nossos valores sentimentais muitas vezes não estão de acordo com a lei implacável de Plutão. Segundo, porque nos vemos espelhados na incipiente desintegração ou perda do outro. É particularmente difícil lidar com Plutão a menos que se tenha alguma confiança no destino; mas, como se pode confiar nele, a não ser que se tenha passado algum tempo pelo desespero, pela escuridão, a raiva e a impotência, descobrindo o que mantém a vida quando o ego já não tem mais condições de fazer suas escolhas habituais? Jamais encontrei qualquer coisa agradável ou divertida nos trânsitos e progressões de Plutão, por mais psicologicamente esclarecido que seja o cliente. O discernimento não pode poupar o sofrimento, embora possa evitar o sofrimento irracional. É óbvio que muito depende da perspicácia da pessoa, e também da condição de Plutão no horóscopo de nascimento. Se não houver nenhum discernimento, é de se esperar que o trânsito ou progressão passe sem que uma excessiva perturbação fique registrada na consciência, se a pessoa for bastante embotada. Algumas vezes, ocorre uma enorme liberação de energia que acompanha os movimentos de Plutão: coisas que estavam há muito tempo adormecidas ou que morreram prematuramente na vida são ressuscitadas e irrompem de repente. Outras vezes, são as paixões que criam essa irrupção, e essa liberação de energia pode ser imensamente criativa. Contudo, esse tipo de experiência, apesar de tardiamente se perceber o seu valor, é frequentemente doloroso, frustrante, desconcertante, desorientador e assustador, e raramente acontece sem alguma espécie de sacrifício ou perda, voluntária ou involuntária, ou sem alguma espécie de confrontação com aquilo que é mais brutal e "injusto" na vida. Até mesmo os corajosos escorpianos, que são regidos por Plutão e, por isso, possuem um pressentimento inato da deusa Necessidade e da inevitabilidade das origens e términos erigidos sobre os cadáveres de desmembrados pretéritos, não estão imunes ao receio natural do ego com relação àquilo que é excessivamente poderoso e não pode ser aplacado nem pela vontade nem pela razão. Morte e paixão deixam mudanças irrevogáveis atrás de si, seja num nível físico ou psíquico, e o que findou não pode ser reposto de novo.
Às vezes pode-se ter a impressão de que a lei do destino concede algum bem positivo aos homens; no entanto, do conjunto de suas funções, não pode haver dúvida de que seu caráter não é positivo, senão negativo. Ela estabelece uma fronteira para limitar a duração, uma catástrofe para limitar a prosperidade, a morte para limitar a vida. Catástrofe, cessação, limitação, todas as formas de "até aqui, e não mais além", são formas de morte. E a morte é ela própria o sentido primordial do destino. Sempre que o nome de Moira é pronunciado, o primeiro pensamento que surge é o da morte, e é na inevitabilidade da morte que a ideia de Moira está enraizada.
Embora se possa saber que a vida retornará revigorada em uma nova forma, mais rica e mais vital, não obstante, a coisa que atingiu seu término designado sofre na morte, e ela mesma jamais há de voltar à vida. Angústia, medo e profunda aflição quase sempre acompanham essas mortes e, seja qual for a "parte" de nós que passa por essa transição, nós a vivenciamos no íntimo como se fosse a totalidade de nós se estivermos inteiramente conscientes dela, identificando-nos com ela e com seu sofrimento: eis o inevitável efeito secundário de qualquer alteração profunda na psique. A mente discorre animadamente sobre transformação e renovação, mas alguma coisa no fundo ainda questiona: O que acontecerá se não houver renovação? Como poderei confiar em algo que não posso ver nem compreendo? O que fiz para merecer um destino desses: onde foi que falhei? E se o vazio absoluto simplesmente durar para sempre? Qualquer experiência de depressão profunda traz consigo a forte sensação de que nada irá mudar jamais. Por conseguinte, talvez nos fosse apropriado, juntamente com afirmações animadoras sobre a potencialidade futura inerente aos movimentos de Plutão, reconhecer também a marca de uma iniciação no irrevogável e de uma necessidade de reverenciar legitimamente a depressão e o desespero. Empatia e respeito pelo processo de morte de outrem, literal ou metafórico, é uma necessidade presente com Plutão, ainda que este geralmente não seja o dom do conselheiro astrológico mais uraniano. A morte deixa todo mundo constrangido; mesmo na profissão médica, a questão de contar a uma pessoa, ou à família dela, que ela está morrendo é um assunto desagradável, e não é de surpreender que muitos médicos estejam mal preparados para esse confronto. E o caso não é diferente num nível interno, pois o cheiro da morte íntima desenha os próprios temores de uma pessoa.
O mito nos informa que Hades é o senhor das profundezas, o deus das coisas invisíveis. Ele é irmão de Zeus, tendo portanto a mesma posição que o regente do céu. Ele é tenebroso, mas um parceiro tão poderoso quanto o todo-misericordioso pai do céu. De fato, ele ocupa a posição mais elevada, visto que sua lei é imutável ao passo que a de Zeus pode ser contradita. A Hades não foram, realmente, ofertados altares ou templos onde pudesse ser cultuado; simplesmente se reconhecia que a morte está em toda a parte da vida, e que cada coisa viva contém dentro de seu corpo mortal seu próprio altar, sua particular e inevitável semente de morte que nasce simultaneamente com vida física. Hades não pode ser visto pelos homens no mundo de cima, pois usa um elmo que o toma invisível. Esta é a conexão oculta, o destino secreto, o "mundo interior daquilo que é dado". Não podemos perceber Hades, mas ele está presente em todas as ocasiões, sendo inerente à formação de cada pensamento, sentimento, inspiração, relacionamento ou ato criativo, conforme seu predeterminado e inevitável fim.
A figura masculina de Hades como senhor do inferno é uma formulação relativamente tardia. O caos primordial do qual a vida emerge e ao qual retorna pertencia, no princípio, à Grande Mãe ou á deusa Nyx. Todos os habitantes das profundezas — Sorte, Velhice, Morte, Assassinato, Incontinência, Sono, Sonhos, Discórdia, Nêmesis, as Erínias e as Moiras, as Górgonas e as Lâmias - originam-se do ventre dela. Uma outra de suas faces, a antiga Hécate de três cabeças, deusa da sorte, magia, parto, bruxaria e da rotação eterna da Lua flutuante, é subjuga. da por uma cultura mais patriarcal e permanece apenas na figura de Cérbero, o cio tricéfalo que guarda a margem mais distante do Estige. As imagens mais primitivas da deusa são as de uma Mãe fálica, uma divindade autofecundante que dá à luz as Moiras sem o esperma masculino.
No fim, essa deusa desaparece nas suas próprias profundezas, e o poder fálico é representado por uma divindade masculina: Hades. Apesar de ser um deus, ele é o filho das trevas, criado e executor da Mãe invisível. No mito sumeriano, que antecede o mito grego clássico de muitos séculos, é a grande deusa Eresquigal quem rege o reino dos mortos. Seu nome significa "Senhora da Grande Região Inferior", e é sobretudo sua imagem que, acho, poderá nos ajudar a ampliar o planeta Plutão a fim de o entendermos melhor. Eresquigal controla guardiães e lacaios, como também um vizir chamado Namtar, que quer dizer "destino"; estes, porém, são os servos dela, que cumprem as suas ordens.
Pelo material a seguir sobre Eresquigal sou grata a Sylvia Brinton Perera que, em seu livro, Declínio da deusa, nos oferece uma ampla e fascinante interpretação dessa deusa arcaica do inferno. A relevância desse material é suficiente para confirmar minha intuição de que no Plutão astrológico estamos frente a frente com algo feminino, primordial e matriarcal. Quando a deusa Inanna, a rainha sumeriana do céu (a primitiva forma de Istar, Afrodite e Vênus), desce ao reino de sua irmã Eresquigal, a Senhora da Grande Região Inferior trata sua brilhante e bela irmã de acordo com as leis e ritos válidos para qualquer um que entre no reino: Inanna é levada "nua e de joelhos", enquanto suas roupas e insígnias reais são ritualmente rasgadas em cada um dos sete portais do inferno. Esse rito de entrada é um processo que tenho constatado, em muitas ocasiões, ser concomitante aos trânsitos e progressões de Plutão - a perda gradual de tudo o que se usou previamente para definir a identidade da pessoa, e o "pôr-se de joelhos" em sinal de humilhação, humilde e eventual aceitação de algo maior e mais poderoso do que a própria pessoa. A Sra. Perera escreve a partir de sua experiência como analista junguiana, enfocando a jornada iniciatória de mulheres que sofreram uma dissociação de seu próprio centro feminino. O que estou escrevendo aqui também parte da minha experiência como analista e igualmente da minha experiência como astróloga; e tenho notado que este declínio, com sua perda de características, adereços e afetos, parece ocorrer tanto em homens como em mulheres sob os trânsitos e progressões de Plutão.
Existe muito das Górgonas e da negra Deméter nela: no seu poder e terror, nas sanguessugas de sua cabeça, nos seus olhos glaciais, na sua íntima relação com o não-ser e com o destino... O domínio de Eresquigal, quando estamos sob ele, parece ilimitado, irracional, primordial e totalmente indiferente, até mesmo destrutivo, à pessoa. Ele contém uma energia que começamos a entender através do estudo dos buracos negros e da desintegração dos elementos, assim como através dos processos de fermentação, câncer, decomposição e das atividades inferiores do cérebro que regulam os movimentos peristálticos, a menstruação, a gravidez e outras formas da vida corporal a que temos que nos submeter. o lado destrutivo-transformador da vontade cósmica. Eresquigal é semelhante a Kali, que através do tempo e do sofrimento "implaca¬velmente reduz a cinzas todas as distinções no seu fogo indiscriminado" — e, no entanto, propaga vida nova... Irreverenciadas, as forças de Eresquigal são sentidas como depressão e como uma agonia insondável de impotência e de inutilidade — desejo inaceitável e energia transformadora-destrutiva; autonomia inaceitável (a necessidade de separação e de autoafirmação) dividida, voltada para dentro, devorando o sentimento individual de potência e valor da vontade individual.
Não consigo me lembrar de nenhuma descrição melhor que esta a respeito da qualidade emocional de Plutão.
Gostaria agora de retornar ao Hades, o desmedido falo da Mãe. Sempre que o mito retrata a entrada dele no mundo da superfície, ele é persistentemente mostrado representando um tema: o estupro. Isso sugere algo mais sobre a nossa experiência do planeta Plutão. Sua intrusão na consciência dá a impressão de ser uma violação, e nós, a exemplo de Perséfone, a virgem do mito, somos impotentes para resistir. Onde Plutão é encontrado, há amiúde um sentimento de penetração violenta, indesejado porém inevitável, de algum modo, necessário ao equilíbrio e desenvolvimento da pessoa — embora seja possível não vê-lo assim na ocasião. Eresquigal, também, representa uma espécie de estuprador para os que voltam seus rostos contra ela:
Para a consciência matriarcal ela representa o continuum em que estados diferentes são simplesmente experimentados como transformações de energia. Para o patriarcado a morte torna-se uma violação da vida, uma violência a ser temida e controlada, tanto quanto possível, com a distância e a ordem moral.
O mito do estupro de Perséfone é importante também para a compreensão de Plutão, pois a inocência virginal dela é que atrai o desejo do tenebroso senhor do inferno. Perséfone é uma deusa da primavera, a face ainda não violada de sua mãe Deméter, senhora da colheita. Ela é a virgem arquetípica, o solo fértil ainda não semeado; seu símbolo é a Lua crescente, que promete realização futura, mas que se encontra eternamente num estado de potencialidade. Ela está estreitamente ligada à sua mãe deusa da terra, aos cinco sentidos e ao mundo da forma. Também reflete a superfície brilhante da vida que promete alegrias futuras através dos olhos da juventude pura. Dessa forma, ela constitui uma imagem de um tipo particular de percepção e perspectiva humanas, cheias de possibilidades mas ainda informes.
O incontestável vínculo entre esse par de deusas, mãe e filha, sugere algo da divina unidade entre a mãe e o bebê, no admiravelmente inocente e protegido mundo da primeira infância onde até então não existe separação, solidão, conflito ou medo. Esse é o mundo antes da Queda, antes que o cordão umbilical seja cortado, e nele a morte não existe pois ainda não existe vida individual. Partes de nós podem permanecer nesse urobórico amplexo até um período posterior da vida, pois Perséfone não é apenas uma imagem da juventude cronológica, nem da virgindade, no sentido literal. A medida que nosso conhecimento e habilidades exteriores vão se tornando cada vez mais sofisticados, também vamos esquecendo esses ritos e rituais que facilitam a separação entre o jovem e a sua mãe na puberdade. A cultura da tribo primitiva com suas elaboradas cerimônias para anunciar o advento da vida adulta e da responsabilidade, se perdeu para nós no Ocidente há muito tempo. Assim sendo, ficamos como senis Perséfones colhendo flores esperançosamente, até que algum crítico trânsito ou progressão de Plutão apareça. Perséfone, apesar de seu nome — estranhamente — significar "portadora de destruição", é insensível à vida. Seu rapto é cruel, mas governado pela necessidade; e ela própria o invoca secretamente, colhendo a estranha flor da morte que Hades plantou na campina para o deslumbramento dela. E o roubo da flor que prenuncia a abertura da terra debaixo dela e a chegada do senhor das trevas no seu coche puxado por negros cavalos.
A questão da flor parece uma coisa tão pequena, mas creio que o processo de Plutão funciona dessa maneira. Fazendo-se um retrospecto, é possível perceber que é uma pequena coisa o que faz com que os portões sejam abertos. Perséfone é conivente com o seu destino, mesmo ao comer voluntariamente a romã, o fruto do inferno, que é um símbolo de fertilidade devido à sua profusão de sementes. Ela é uma imagem daquele aspecto da pessoa que, por mais aterrorizada, ainda assim busca a união que é um estupro e uma aniquilação. Nos mistérios órficos, Perséfone dá ao seu senhor um filho no inferno, assim como Eresquigal, no mito sumeriano, dá à luz uma criança depois de ter destruído sua irmã Inanna e pendurá-la nua numa estaca até apodrecer. O filho de Perséfone é Dioniso, a contraparte infernal do brilhante redentor do céu, a quem o cristianismo deu forma na figura de Jesus Cristo. Ambos são nascidos de virgens, através de pais divinos. Mas Dioniso, que redime através do êxtase erótico, é um rilho muito mais ambíguo. Parece que o mito expressa algo sobre a fertilidade de qualquer encontro com Plutão; ele é cheio de fruto. Uma sensação enriquecida da vitalidade e da sensualidade do corpo é, certamente, uma faceta frequente do fruto de Plutão. Talvez haja outros filhos originários dessa experiência de arrebatamento: uma perspectiva nova, mais profunda e mais ampla, uma descoberta nova dos recursos íntimos, uma compreensão mais aguçada da própria finalidade e da autonomia pessoal. Todas essas coisas devem ser pagas, por meio da ruptura do hímen psíquico que nos protege do começo ao fim de nossa inocência.
Essas profundezas são realmente assustadoras. Não é de surpreender que usemos eufemismos, nem tampouco que Escorpião, o signo de Plutão, sempre tenha tido uma reputação tão duvidosa. Pode ser um tanto complicado encontrar as palavras certas para o cliente, isso sem falar de si mesmo, já que Plutão se move lentamente para uma prolongada conjunção como Sol, a Lua, o ascendente e Vênus, indicando que os salões de Hades irão abrir suas portas para receber o relutante convidado a seu próprio e inconsciente pedido.
Em seguida, existe a questão de saber o que há lá embaixo. O mito oferece uma descrição geográfica notavelmente precisa da Grande Região Inferior. O reino de Eresquigal possui sete portões e uma estaca que serve para dependurar o visitante. Paisagens desse tipo são paisagens subjetivas. Fazem parte de um "lugar" aonde "vamos" através de humores, sentimentos, sonhos e fantasias. Primeiro, poderíamos examinar as entradas. Geralmente são grutas, fissuras, fendas na terra e crateras de vulcões. Através dos buracos e frestas da consciência, através das angústias e da erupções emocionais e incontroláveis de uma pessoa e de suas fobias e fantasias compulsivas em que o ego é inundado por alguma coisa "diferente", vai-se caindo, cada vez mais despido de pretensões em cada uma das entradas. Isso é conhecido no mundo analítico como abaissement du niveau mental, o rebaixamento do limiar de consciência que ocorre através dos sonhos, das fantasias, do delírio, da paixão, até mesmo de deslizes verbais e de inexplicáveis omissões e amnésia. As entradas prediletas de Plutão são, creio, os vulcões onde algum evento aparentemente insignificante desencadeia uma grande torrente de estranha e, muitas vezes, terrível ira, ciúme, ódio, medo ou fúria homicida, que revela que não somos tão civilizados quanto parecemos. A criatura indomada que irrompe é, assim como Eresquigal, cheia de rancor vingativo por mágoas que nem sequer sabíamos que tínhamos. O vulcão tem quase sempre uma posição determinada onde quer que Plutão se encontre no horóscopo.
Os gregos, a exemplo dos sumerianos, visionaram um rito elaborado de ingresso ao inferno; no entanto, o relato mítico deles é diferente. As almas dos mortos devem atravessar o rio Estige, transportadas pelo antigo barqueiro Caronte que exige uma moeda em troca. Aqui, da mesma forma como nos portões de Eresquigal, algo deve ser dado, algo de valor que a própria pessoa possui. O dinheiro é uma das imagens de valor, de riqueza, de identidade e propriedade do ego. O que acumulamos, ao que parece, deve ser distribuído durante a descida - as insígnias reais e as roupas com as quais nos identificamos, e o nosso habitual senso de valor, nossa inatacável autoestima, nosso grande apreço. O sentimento de inutilidade, de falsidade e de repulsa à própria nulidade, de decepção com a vacuidade das pompas que tanto significado tinham, é algo que tenho repetidas vezes ouvido expressar aqueles que estão passando pelos trânsitos e progressões de Plutão. Isso não se limita apenas aos assim chamados "maus" aspectos, senão que também se aplica aos trígonos e sextis. Dá a impressão de que a aceitação desse sentimento de ser despido, humilhado e vazio é uma precondição necessária para o acólito nos portões de acesso.
A seguir, citamos o sonho de um homem que veio em busca de uma leitura do horóscopo quando o transitório Plutão estava fazendo uma longa conjunção com sua casa do Sol, em Libra, situada na décima casa. Ele era um bem-sucedido editor de manuais científicos, dono de uma companhia internacional que lhe fornecia uma considerável renda e um lugar respeitado na sociedade. Com essa persona ele sempre se identificara, pois ela lhe dava uma sensação de realização e de importância. Que isso também lhe fornecia um meio de realizar o sonho de sua mãe de ter um filho brilhante e bem-sucedido ainda não se dela conta, como um motivo primário na escolha de sua carreira, embora muitos astrólogos pudessem encarar com reserva a unidade de identidade entre mãe e filho que o sol na décima casa sugere. Ele me contou seu sonho no decorrer da interpretação do mapa astral, porque me referia algumas das imagens e sentimentos relacionados com Plutão e que mencionei acima: morte, apatia, depressão, isolamento e sepultamento.
Sonho que morri e que agora estou esperando algum tipo de renascimento ou de ressurreição. Em lugar da cabeça, tenho um crânio descarnado entre os ombros. É horrível sentir esse crânio. Estou morto, apodrecido, inaceitável. Num quarto à direita, todos os livros e as revistas que publiquei são exibidos como troféus em caixas com tampo de vidro. Alguns amigos vêm me convidar para jantar, mas ficam assustados diante da visão de meu crânio. Tento explicar que estou morto, mas que uma outra vida me aguarda. Todavia, eles apenas mostram repugnância e me deixam sozinho. Num outro quarto, meus funerais estão em andamento. Minha mãe chora convulsivamente sobre meu caixão. Ela não pode me ver, ou à parte de mim que subsiste. Para ela, eu estou completamente morto.
Esse sonho, na verdade, dispensa interpretação. Ele se descreve bastante adequadamente como uma imagem subjetiva da experiência de Plutão e como um comentário profundo sobre o significado desse período na vida de meu cliente. Apesar de ter achado o sonho incômodo e perturbador, ainda assim ele disse que tinha ficado com uma sensação de confiança durante um período de grande depressão e desespero. Em resumo, o sonho lhe trouxe — e ele não estava se submetendo a nenhuma forma de psicoterapia, mas chegou sozinho e aos poucos à compreensão disso — o pressentimento de que sua depressão era necessária de algum modo que ele não conseguia entender profundamente. A imagem do crânio não é meramente uma imagem da morte; ela aparece com grande frequência no simbolismo alquímico e é aquela parte do ser humano que não se desintegra como acontece com o corpo. É o caput mortuum, a caveira que sobra depois que o fogo purificador consumiu toda a matéria inútil. Na vida exterior do cliente, a situação que parecia estar desencadeando a sua depressão fora a decisão por ele tomada de vender sua empresa e aplicar sua energia no cultivo de uma larga extensão de terra que comprara na Austrália. Ele esperara ficar alegre e entusiasmado com esse empreendimento, mas, em vez disso, ficou deprimido e aflito. Essa indisposição mal recebida, que caiu sobre ele como uma violação, só passou a fazer sentido quando começou a entender que essa decisão representava a morte do poder materno em sua vida, com todas as implicações íntimas que essa separação acarreta.
Quando os espíritos descem ao Tártaro, cuja principal entrada fica num bosque de álamos pretos junto à corrente oceânica, cada qual é suprido por devotos parentes com uma moeda posta debaixo da língua do cadáver. Dessa forma, eles têm condições de pagar Caronte, o usurário que os transporta num barco decrépito até a outra margem do Estige. Esse detestável rio faz limite com o Tártaro no lado ocidental, e tem como afluentes os rios Aqueron, Flegethon, Cocytus, Aornis e Letes... Um cão de três cabeças ou, como dizem alguns, de cinquenta cabeças, chamado Cérbero, guarda a margem oposta do Estige, pronto para devorar os vivos intrusos ou almas fugitivas.
Álamos pretos, conforme assinala Robert Graves numa passagem adiante, são consagrados à deusa da morte. Os nomes desses rios infernais são evocadores e também explícitos: Estige, que significa "ódio", contém águas que são veneno mortal, mas que também podem conferir imortalidade; Aqueron quer dizer "fluxo de angústia"; Cocytus, "lamentação"; Aornis, "desprovido de pássaros"; Letes, "esquecimento" e Flegethon, "combustão". Todas essas imagens têm a fragrância do sentimento do Plutão astrológico.
O veneno do Estige é como o ácido do ressentimento profundamente enterrado, o que representa uma típica manifestação plutônica Essa irreconciliável amargura nos cria uma associação com as figuras das rancorosas Erínias, as servas da Justiça. Existe, sem dúvida, um veneno de vingança em Plutão, o encolerizado fantasma de Clitemnestra que força as Erínias, a perseguirem seu filho Orestes. Aqui não há compaixão, nem cura; apenas ódio cego e interminável. Sabemos através dos nossos tradicionais textos de astrologia que os nativos de Escorpião são bastante rancorosos, e não esquecem desprezo e injúrias. Plutão tampouco. A experiência do planeta frequentemente lança uma pessoa em sua própria potencialidade, antes não percebida, de ódio profundo, duradouro e inflexível. Moira, enquanto natureza, não esquece um insulto, nem deixa passar impune uma violação. O espírito do mito cristão, com sua figura piedosa e compassiva, é a antítese direta de Eresquigal, que representa o coração perverso da natureza que não consegue esquecer o próprio sofrimento. Tolkien personifica esse venenoso coração da natureza na figura do Velho Salgueiro no Senhor dos Anéis:
As palavras de Tom desnudam os corações e os pensamentos das árvores, os quais eram no mais das vezes escuros e estranhos, e repletos de ódio pelas coisas que andam livres sobre a terra, roendo, mordendo, despedaçando, queimando, cortando: destruidores e usurpadores... Mas nenhuma era mais perigosa do que o Grande Salgueiro: seu coração estava carunchado, mas sua , força era nova: ele era esperto e um mestre dos ventos; seu canto e seu pensamento percorriam os bosques de ambos os lados do rio. Seu velho e sedento espírito tirava força da terra e espalhava-se como finas raízes pelo chão e invisíveis galhos delicados no ar, até que ele tinha sob seu domínio quase todas as árvores da Floresta da Divisa até as Colinas.
O rio de ódio e de veneno que rodeia o inferno é igual ao Velho Salgueiro no coração da floresta, e ele nem sempre está consciente na pessoa. Na maioria das vezes, não nos damos conta de sua existência e pensamos em nós mesmos como pessoas decentes que conseguem perdoar uma ofensa alheia; em vez disso, porém, sofremos de doenças misteriosas e de distúrbios emocionais e, sutilmente, sabotamos nossos companheiros, pais, amigos, filhos e nós mesmos sem reconhecer por completo que em alguma parte possamos vê-los como "destruidores e usurpadores" que devem ser, forçosamente, punidos.
Aqui também talvez seja apropriado um ritual, e o mito com certeza nos oferece um. O ódio de Eresquigal é abrandado pelas carpideiras de Enqui, duas pequenas criaturas que o deus do fogo Enqui modela da sujeira por baixo de suas unhas. Essas pequenas carpideiras descem ao inferno e pranteiam ao lado de Eresquigal enquanto ela sofre e dá vazão ao seu ódio. Elas reconhecem a sua aflição, dão-lhe ouvidos, mostram empatia; não a julgam, nem a chamam de feia, perversa ou rancorosa, nem procuram induzi-la a "fazer" qualquer coisa a respeito disso. Elas representam uma qualidade que eu reputo ser essencial na abordagem de Plutão e que muitos psicoterapeutas chamam de capacidade de "estar com" alguém. E a capacidade de fornecer um recipiente para as águas envene¬nadas sem a necessidade de "modificar" as coisas. As Erínias também são aplacadas, no mito de Orestes, pelo mesmo suave reconhecimento. Atena escuta-as, não discute ou condena, mas, ao contrário, lhes oferece um altar e um respeitoso culto em troca da vida de Orestes.
A descoberta da própria venenosidade é um dos aspectos menos atraentes de um confronto com Plutão. As carpideiras de Enqui e Atena nos fornecem um modelo mítico de um tipo de autopercepção que se move entre severo autojulgamento e estúpida autocompaixão. Isso impõe um reconhecimento da necessidade ou inevitabilidade do ódio, através da empada com a coisa ofendida. Do ponto de vista de Eresquigal, a vida está completamente corrompida. Ela foi estuprada e exilada no inferno, e todos, particularmente sua livre e alegre irmã Inanna, devem sofrer por isto. As pequenas carpideiras não concordam nem discordam, não acusam nem racionalizam. Simplesmente ouvem e aceitam a aflição e a amargura dela. A fúria de Plutão, quando irrompe de dentro ou vem de fora, é terrível, talvez mais ainda quando e encontrada no lado de dentro, pois a gente fica com medo de destruir essas coisas que ama. Por isso, a fúria e reprimida e fica corroendo no inferno da psique.
No mito sumeriano, as carpideiras oferecem uma alternativa tanto para a repressão quanto para a expressão da raiva em comportamentos externamente destrutivos que, no final das contas, não curam a chaga. Pôr-se no lugar das carpideiras é mais difícil do que parece, todavia, pois mesmo que se consiga enfrentar este instinto vingativo e destruidor dentro de si mesmo, a tentação de "transformá-lo" e irresistível. O ego gosta muito de querer mudar tudo que ele encontra na psique de acordo com seus próprios valores e padrões, e o veneno de Plutão provoca uma resposta previsível: agora que vi minha feiura, acho-a desprezível e preciso curá-la. No entanto, as carpideiras de Enqui não estão preocupadas em curar Eresquigal. Elas conseguem enxergar os dois lados da questão: a necessidade de salvar Inanna e a legitimidade da fúria de Eresquigal.
Enqui, o deus do fogo, que moldou essas criaturas, é o correspondente sumeriano de Loge, no mito teutônico, e de Hermes, no grego. Ele não toma o partido de ninguém, mas seu objetivo é visualizar todo o esquema, e pode amar todos os protagonistas já que eles fazem parte do grande teatro. Acho, aliás, duvidoso que Eresquigal seja, na verdade, "curável". Seguramente ela não se mostra apta a responder às solicitações do ego, a não ser quando ela própria o deseja, se é que de fato alguma vez o deseja.
Letes é o rio do abençoado esquecimento, no qual as almas dos mortos submergem antes de voltarem ao mundo para uma outra encarnação. Os que creem na reencarnação como uma filosofia real podem considerar o fato de que misericordiosamente não recordamos dos nossos destinos quando nascemos como uma bênção de Plutão. Ou podem tomá-lo num sentido mais simbólico: não só esquecemos misericordiosamente o que está escrito para nós no nascimento, como também não nos lembramos muito bem como era a Grande Região Inferior depois que passamos por uma experiência platônica. Tendo conseguido emergir do inferno, assim como Orfeu somos ordenados por alguma voz Intima a não olhar para trás e, depois que o trânsito ou progressão termina, alegremente anunciamos quão produtivo, enriquecedor e inspirador de crescimento tudo isso foi. Não nos recordamos desse lugar, pois se o fizéssemos, perderíamos a coragem para enfrentar a futura e próxima volta do Grande Círculo. Letes e uma dádiva de Plutão; é uma imagem de maleabilidade psíquica, e a capacidade de esquecer o sofrimento. Não que Plutão não ofereça riquezas. Acho que necessariamente temos de esquecer depois o preço que pagamos por elas, a fim de que não sejamos envenenados pelo Estige e jamais perdoemos a existência.
Ademais, acho que as experiências de Plutão muitas vezes coincidem com uma lembrança do que estava esquecido, com uma redescoberta da aflição, fúria e do ódio que foram paralisados e empurrados para o subconsciente pelo ego para sua própria sobrevivência.
O psicoterapeuta está familiarizado com o miasma de ódio e de raiva inflamados, tanto dos paia quanto da própria pessoa, que irrompem quando as ofensas, as rejeições e as humilhações inconscientes da infância vêm à luz. Onde Plutão é encontrado no horóscopo, há quase sempre um esquecimento, uma repressão necessária e uma tendência à recordação inesperada e à erupção vulcânica de veneno sobre um objeto que talvez não passe apenas de um catalisador. Parece haver uma relação entre Plutão e aquilo que Freud entende por repressão (que não é realizada intencionalmente por um determinado ato de consciência, mas ocorre como um instinto de sobrevivência, através de uma espécie de censura inconsciente). São essas as coisas que devemos esquecer por algum tempo, a fim de podermos viver.
Existem desejos "reprimidos" na mente... Quando digo que existem esses desejos, não estou fazendo uma declaração histórica no sentido de que eles outrora existiam e foram depois abolidos. A teoria da repressão, que é essencial para o estudo das psiconeuroses, afirma que esses desejos reprimidos ainda existem — embora haja uma inibição simultânea que os reprime.
Podem-se fazer algumas eruditas conjeturas a respeito da natureza dos "desejos" reprimidos de Plutão, como também a respeito das excelentes razões para a "inibição simultânea" que bloqueia a entrada deles na vida consciente. Freud, que tinha Escorpião no ascendente, formulou-as muito bem no seu conceito do id. Elas são demasiado violentas, vingativas, sanguinárias, primitivas e perigosas para que a pessoa comum se sinta muito à vontade ou segura com a sua intrusão. A par dos "desejos", pode-se incluir lembranças, experiências de grande intensidade emocional que são esquecidas juntamente com seus objetos. Assim, largas fatias de infância caem debaixo da faca do censor — fatias estas que revelam o rosto selvagem do jovem animal lutando por autossatisfação e pela sobrevivência.
Juntamente com o veneno, potencialidades também podem ser reprimidas, para não dizer que uma coisa poderia desencadear a outra. A criança que está sujeita à fúria possessiva da mãe ou ao gélido desinteresse do pai, cada vez que se senta para brincar com a massa de argila ou com tintas e comete a afronta de recolher-se à sua própria psique individual, irá crescer e tornar-se o adulto "sem criatividade" que por alguma insondável razão não consegue sequer tentar levar o lápis ao papel, preferindo, ao contrário, viver no crepúsculo cinzento de uma vida sem brilho e sem expressão, com inveja de todos os que sabem se expressar melhor, em vez de arriscar-se a recordar o preço pago por aqueles esforços criativos iniciais. A criança que atrai para si o ciúme dos pais por ser inteligente, bonita e independente demais, se transformará no adulto que sabota a si mesmo toda vez que está na iminência de ter sucesso na vida, em vez de arriscar-se à terrível competição com os pais, sem o apoio dos quais ela não pode viver. Não se quer interromper a monotonia, o esquecimento, mesmo que isso signifique que o surgimento ou o desenvolvimento de um talento nascente será sacrificado. Essa atitude é melhor e mais fácil do que enfrentar os sentimentos violentos dos pais, dos irmãos e de si mesmo. Mais tarde, frequentemente sob trânsitos e progressões relacionados com Plutão, nos lembraremos do que havíamos esquecido, do medo, do sofrimento, do desejo e da raiva. Então, é preciso fazer um retorno ao mesmo lugar, passando pela mesma depressão, angústia e desgosto por si mesmo. No entanto, a Jornada posterior é mais uma espiral do que um círculo, pois é a criança dentro do adulto quem recorda, e o adulto poderá, talvez, ajudar a criança a suportar e a controlar o sofrimento.
Tártaro é, por vezes, o nome dado no mito a todo o reino de Hades. Bastante amiúde ele se refere a um tipo de sub-reino, a uma cidadela, por assim dizer, que está próxima por natureza ao conceito medieval de Inferno. É do Tártaro que a prole da Mãe Noite sai para atormentar os vivos e punir as blasfêmias e os pecados da família contra a linhagem matriarcal. No Tártaro, as almas dos maus ficam aprisionadas em imutável tormento durante toda a eternidade. Contudo, é um mundo radicalmente diferente do Inferno cristão. O tormento no Tártaro e descrito por meio de imagens de desejo frustrado, e não de indiscriminada tortura sádica. Os pecados também são diferentes. Quando viajamos com Dente pelos círculos do Inferno, encontramos um catálogo previsível de pecadores medievais: o adúltero, o usurário, o sodomita, o blasfemador. Encontramos, além disso, alguns rostos pagãos familiares, pois o cristianismo de Dante não era assim tão cristão: a Fortuna ou o Destino com a sua Roda, Cérbero e Dis (Hades) de três cabeças. Todavia, o inferno de Dente e um reflexo da Obsessão da Idade Média com a execração do mundanismo e da sexualidade.
No Tártaro, as coisas são diferentes. Os pecados de homens contra homens, em particular os pecados carnais, não são dignos do nome. Hubris, por outro lado, recebe a punição justa. As figuras míticas aprisionadas no Tártaro são homens e mulheres que ultrapassaram seus limites, transgrediram a lei natural, Insultaram Moira e desafiaram os deuses. Eles cobiçaram uma deusa, zombaram de uma divindade ou vangloriaram-se de serem maiores do que os habitantes do Olimpo. A lei de Plutão não é aquela feita de elaborações sociais e jurídicas, nem de preocupação com o comportamento civilizado do grupo. Sendo ele próprio um estuprador, Plutão não julga os desejos sexuais alheios. Ele não é Saturno, e se mostra desinteressado com o que os homens fazem uns aos outros no mundo da forma. Ele não é um patriarca, mas, ao contrário, um matriarca. Assim, Sísifo rola eternamente sua rocha montanha acima e terá sempre de vê-la rolar montanha abaixo até o fundo outra vez, para todo o sempre, visto que ele revelou os divinos segredos de Zeus. Tântalo arrasta-se eternamente em direção à água e ao fruto que estão sempre fora de seu alcance, visto que ele insultou e ridicularizou os deuses. Íxion gira eternamente na sua roda de fogo, porque tentou estuprar Hera, a rainha dos deuses. Todas essas imagens são formulações de frustração, de interminável desespero, de combustão interior (tal como o rio Flegethon), de humilhação e de nemesis como castigo por arrogância e orgulho.
Ser posto sobre a roda como punição (a exemplo de Íxion é ser posto num lugar arquetípico, atado às voltas da fortuna, ás voltas da Lua e da sorte e às infindáveis repetições de voltar eternamente à mesma experiência sem descanso... Rodas são círculos fechados e o círculo fecha-se em torno de nós quer no anel de casamento, na coma de louros, ou na coroa funerária.
A irrevogável rotação do destino, seja para o ganho seja para a perda, é característica de Plutão. Assim também é a experiência do desejo frustrado. O que desejamos mais do que qualquer outra coisa antes e que, no entanto, é a única coisa que não podemos ter, ou que só podemos ter mediante grande sacrifício ou mediante a morte de alguma parte estimada de nós mesmos — tudo isso é típico de Plutão. Naturalmente, a arena sexual é um dos lugares mais evidentes em que esse tipo de experiência ocorre. Assim também é a arena do poder e da posição. Poder e sexualidade, poder ou perda de poder pela sexualidade, são temas intrínsecos a Plutão. Ao que parece, os escandinavos sabiam disso' quando duplicaram o sentido dessa palavra para designar o destino e os órgãos genitais. Acho que nem sempre fica claro saber se o poder está nas mãos de quem é poderoso ou se está nas mãos do que se submete a ele, pois ambos são aspectos da mesma figura, assim como Perséfone pertence ao Hades. A necessidade, a ganância e o desejo provêm de ambos e, onde quer que Plutão esteja presente numa situação em que uma das partes tenha que se submeter à outra que é mais poderosa, talvez seja importante lembrar que quando esse planeta está envolvido, ninguém jamais está isento de culpa.
Confrontados com Plutão, deparamo-nos com nossas detestáveis compulsões, insaciáveis paixões: o impossível e o repetitivo esquema de luta com algo apenas para que o encontremos outra e outra vez. Tártaro descreve, em linguagem mítica, a escuridão, a ganância e a patologia humanas. Ele abrange a doença, a crueldade, a combustão, a obsessão, a frieza gélida e o desejo perpétuo. Essas atormentadas figuras nos informam algo mais a respeito de Plutão: ele nos faz lembrar repetidas vezes da coisa incurável, do lugar da ferida intratável, do lado psicopata da personalidade, do rosto ultrajado e contorcido das Górgonas. Ele é a coisa que nunca melhora.
Uma das imagens da alquimia para esse ganancioso, desejoso, violento e irreparável aspecto da natureza é o lobo, que deve ser posto no alambique com o rei. O lobo destrói o rei e é, depois, ele mesmo queimado em fogo lento até que só fiquem as cinzas. Se essas coisas realmente se transformam, só o fazem através do fogo; e o rei, que personifica o domínio e o sistema de crenças do ego, deve morrer primeiro. Plutão é, por conseguinte, um grande e divino estabilizador da hubris. Sem ele o homem se julgaria Deus, e acabaria se destruindo: uma situação que se toma cada vez mais provável com o decorrer do tempo. Defrontado com Plutão, assim como a criancinha se defronta com a mãe, a pessoa vivencia o círculo intransponível das limitações da alma, das limitações do destino, que não são os limites mundanos de Saturno, mas sim a característica mais profunda de sua vulnerabilidade e mortalidade.
Os estados circulares de repetitividade, as voltas e mais voltas no círculo de nossas próprias condições, forçam-nos a reconhecer que essas condições constituem a nossa própria essência e que o movimento circular da alma não pode ser diferenciado do destino irracional.
Plutão, ao que parece, governa o que não pode ou não quer mudar. Esse é um problema, particularmente espinhoso numa época de autoterapias e do aumento da crença na ideia de que uma pessoa pode se transformar no que quiser, desde que conheça as técnicas, os livros ou os guias espirituais certos. Humildade perante os deuses é uma virtude antiga, promovida não só pela Bíblia, como também pelos gregos. "Nada em excesso" — nem mesmo a autoperfeição — estava gravado na porta do templo dedicado a Apoio em Delfos, ao lado de "Conhece-te a ti mesmo". Eram essas as principais exigências que os deuses faziam aos homens. Mas é justamente essa questão que Plutão nos obriga a confrontar.É uma ironia e também um paradoxo que a aceitação legítima do imutável seja, com frequência, uma das chaves para a verdadeira e profunda mudança no interior da psique. No entanto, esse pequeno exemplo de ironia, que teria caído sob medida ao contraditório Apoio, não parece passível de ser aprendido em nenhuma escola e sim nas provações da vida. Portanto, ele permanece um segredo, não porque ninguém o irá revelar, mas porque ninguém irá acreditar nele, a menos que tenha sobrevivido à provação.
Dessa forma, Plutão, como um símbolo do destino punitivo, rege o lugar onde a vontade não tem mais eficácia. Terapias, meditações, dietas e encontros não chegam até lá, e a decisão não mais reside em saber se devo agir certo ou errado, mas se devo sacrificar meu braço esquerdo ou direito. Esse deus é uma imagem de nossa servidão, humilhação e violação. Penso que a questão da hubris, a ofensa contra os limites circunscritos e contra o destino, jaz no âmago do significado do planeta. Repetições desse tema também hão de ser encontradas no mito relativo ao signo de Escorpião, pois o escorpião nos mais antigos mitos sumerianos, babilônicos e egípcios, e também no grego clássico, é invariavelmente a criatura enviada por uma divindade zangada para punir a hubris de alguém.
Desde a sua primeira expressão em grego e latim, o mito de Escorpião tem sido relacionado com o desastre que atingiu Orion, o grande caçador cuja hubris o levou a ofender os deuses. O Escorpião atacou e matou-o, emergindo repentinamente das entranhas da terra — de um mundo além do qual Orion, o agredido, pertence. Pelo que sei, não existe nenhum texto astrológico no qual esse elemento de súbita e destrutiva agressividade não apareça como uma característica essencial de Escorpião. O simbolismo astrológico expressa esse fato atribuindo Escorpião a Ares (Marte), o deus ígneo e agressivo, senhor das catástrofes violentas e dramáticas; desse modo, confere imediatamente a Escorpião o significado central de um colapso no equilíbrio pela irrupção, das sombras, de um assaltante desconhecido... Escorpião, o signo da criatura que surge de umidades ctônicas, é de fato caracterizado cada vez mais claramente como o signo da impureza, da natureza primitiva, caótica, discordante, abominável, e que se revela por súbitas e perigosas irrupções.
Essa atraente descrição parece coincidir com o que temos visto de Plutão. É quase desnecessário acrescentar que, no mito de Orion, o escorpião gigante que destrói o grande caçador devido à hubris deste é mandado por Ártemis-Hécate, "senhora dos caminhos noturnos, da sorte e do mundo dos mortos".
sobre as ações de um homem depois que este morre.
O deus da morte, Hades, não se esquecerá
das matanças e das dívidas de sangue.
Ésquilo
Se desejamos abordar os símbolos astrológicos por meio da ampliação de outras imagens e de símbolos, e não por meio de uma definição concreta, então é hora de darmos uma olhada nas contribuições do mito a respeito de Hades-Plutão e sobre o tema dos regentes do inferno em geral. O senhor grego do inferno era, originalmente, conhecido como Hades; o epíteto "Plutão", que significa "riquezas", é uma denominação posterior que os romanos usavam então para descrevê-lo. James Hillman é esclarecedor sobre essa mudança de nomes: É especialmente importante reconhecer Plutão, em nossas eufêmicas referências ao inconsciente, como o doador do todo, um depósito de riquezas abril). dantes, um lugar não de fixação no tormento, mas sim um lugar, desde que corretamente propiciado, que oferece imensa abundância. O eufemismo é uma maneira de esconder a ansiedade. Na antiguidade, Plutão ("riquezas") era usado como um nome eufemístico para ocultar as profundezas assustadoras do Hades.
Com praticamente a mesma disposição, as Erínias, as terríveis vingadoras da Mãe, eram chamadas Eumênides, "as amáveis damas".
Nós astrólogos também usamos eufemismos. "Transformação" é uma palavra sonora, com fragrância de numinosidade e profunda intenção psíquica, e mais encorajadora para o cliente que possui um trânsito ou progressão envolvendo Plutão. Entretanto é, infelizmente, o tipo de palavra a que gostamos de recorrer quando o significado de um planeta é vago ou meramente intelectual, ou quando a experiência prognosticada no horóscopo augura crise e sofrimento para o cliente. Não é nada fácil observar uma outra pessoa passando por um sofrimento necessário. Primeiro, porque nossa compaixão protesta que esse sofrimento não deve ser necessário, pois nossos valores sentimentais muitas vezes não estão de acordo com a lei implacável de Plutão. Segundo, porque nos vemos espelhados na incipiente desintegração ou perda do outro. É particularmente difícil lidar com Plutão a menos que se tenha alguma confiança no destino; mas, como se pode confiar nele, a não ser que se tenha passado algum tempo pelo desespero, pela escuridão, a raiva e a impotência, descobrindo o que mantém a vida quando o ego já não tem mais condições de fazer suas escolhas habituais? Jamais encontrei qualquer coisa agradável ou divertida nos trânsitos e progressões de Plutão, por mais psicologicamente esclarecido que seja o cliente. O discernimento não pode poupar o sofrimento, embora possa evitar o sofrimento irracional. É óbvio que muito depende da perspicácia da pessoa, e também da condição de Plutão no horóscopo de nascimento. Se não houver nenhum discernimento, é de se esperar que o trânsito ou progressão passe sem que uma excessiva perturbação fique registrada na consciência, se a pessoa for bastante embotada. Algumas vezes, ocorre uma enorme liberação de energia que acompanha os movimentos de Plutão: coisas que estavam há muito tempo adormecidas ou que morreram prematuramente na vida são ressuscitadas e irrompem de repente. Outras vezes, são as paixões que criam essa irrupção, e essa liberação de energia pode ser imensamente criativa. Contudo, esse tipo de experiência, apesar de tardiamente se perceber o seu valor, é frequentemente doloroso, frustrante, desconcertante, desorientador e assustador, e raramente acontece sem alguma espécie de sacrifício ou perda, voluntária ou involuntária, ou sem alguma espécie de confrontação com aquilo que é mais brutal e "injusto" na vida. Até mesmo os corajosos escorpianos, que são regidos por Plutão e, por isso, possuem um pressentimento inato da deusa Necessidade e da inevitabilidade das origens e términos erigidos sobre os cadáveres de desmembrados pretéritos, não estão imunes ao receio natural do ego com relação àquilo que é excessivamente poderoso e não pode ser aplacado nem pela vontade nem pela razão. Morte e paixão deixam mudanças irrevogáveis atrás de si, seja num nível físico ou psíquico, e o que findou não pode ser reposto de novo.
Às vezes pode-se ter a impressão de que a lei do destino concede algum bem positivo aos homens; no entanto, do conjunto de suas funções, não pode haver dúvida de que seu caráter não é positivo, senão negativo. Ela estabelece uma fronteira para limitar a duração, uma catástrofe para limitar a prosperidade, a morte para limitar a vida. Catástrofe, cessação, limitação, todas as formas de "até aqui, e não mais além", são formas de morte. E a morte é ela própria o sentido primordial do destino. Sempre que o nome de Moira é pronunciado, o primeiro pensamento que surge é o da morte, e é na inevitabilidade da morte que a ideia de Moira está enraizada.
Embora se possa saber que a vida retornará revigorada em uma nova forma, mais rica e mais vital, não obstante, a coisa que atingiu seu término designado sofre na morte, e ela mesma jamais há de voltar à vida. Angústia, medo e profunda aflição quase sempre acompanham essas mortes e, seja qual for a "parte" de nós que passa por essa transição, nós a vivenciamos no íntimo como se fosse a totalidade de nós se estivermos inteiramente conscientes dela, identificando-nos com ela e com seu sofrimento: eis o inevitável efeito secundário de qualquer alteração profunda na psique. A mente discorre animadamente sobre transformação e renovação, mas alguma coisa no fundo ainda questiona: O que acontecerá se não houver renovação? Como poderei confiar em algo que não posso ver nem compreendo? O que fiz para merecer um destino desses: onde foi que falhei? E se o vazio absoluto simplesmente durar para sempre? Qualquer experiência de depressão profunda traz consigo a forte sensação de que nada irá mudar jamais. Por conseguinte, talvez nos fosse apropriado, juntamente com afirmações animadoras sobre a potencialidade futura inerente aos movimentos de Plutão, reconhecer também a marca de uma iniciação no irrevogável e de uma necessidade de reverenciar legitimamente a depressão e o desespero. Empatia e respeito pelo processo de morte de outrem, literal ou metafórico, é uma necessidade presente com Plutão, ainda que este geralmente não seja o dom do conselheiro astrológico mais uraniano. A morte deixa todo mundo constrangido; mesmo na profissão médica, a questão de contar a uma pessoa, ou à família dela, que ela está morrendo é um assunto desagradável, e não é de surpreender que muitos médicos estejam mal preparados para esse confronto. E o caso não é diferente num nível interno, pois o cheiro da morte íntima desenha os próprios temores de uma pessoa.
O mito nos informa que Hades é o senhor das profundezas, o deus das coisas invisíveis. Ele é irmão de Zeus, tendo portanto a mesma posição que o regente do céu. Ele é tenebroso, mas um parceiro tão poderoso quanto o todo-misericordioso pai do céu. De fato, ele ocupa a posição mais elevada, visto que sua lei é imutável ao passo que a de Zeus pode ser contradita. A Hades não foram, realmente, ofertados altares ou templos onde pudesse ser cultuado; simplesmente se reconhecia que a morte está em toda a parte da vida, e que cada coisa viva contém dentro de seu corpo mortal seu próprio altar, sua particular e inevitável semente de morte que nasce simultaneamente com vida física. Hades não pode ser visto pelos homens no mundo de cima, pois usa um elmo que o toma invisível. Esta é a conexão oculta, o destino secreto, o "mundo interior daquilo que é dado". Não podemos perceber Hades, mas ele está presente em todas as ocasiões, sendo inerente à formação de cada pensamento, sentimento, inspiração, relacionamento ou ato criativo, conforme seu predeterminado e inevitável fim.
A figura masculina de Hades como senhor do inferno é uma formulação relativamente tardia. O caos primordial do qual a vida emerge e ao qual retorna pertencia, no princípio, à Grande Mãe ou á deusa Nyx. Todos os habitantes das profundezas — Sorte, Velhice, Morte, Assassinato, Incontinência, Sono, Sonhos, Discórdia, Nêmesis, as Erínias e as Moiras, as Górgonas e as Lâmias - originam-se do ventre dela. Uma outra de suas faces, a antiga Hécate de três cabeças, deusa da sorte, magia, parto, bruxaria e da rotação eterna da Lua flutuante, é subjuga. da por uma cultura mais patriarcal e permanece apenas na figura de Cérbero, o cio tricéfalo que guarda a margem mais distante do Estige. As imagens mais primitivas da deusa são as de uma Mãe fálica, uma divindade autofecundante que dá à luz as Moiras sem o esperma masculino.
No fim, essa deusa desaparece nas suas próprias profundezas, e o poder fálico é representado por uma divindade masculina: Hades. Apesar de ser um deus, ele é o filho das trevas, criado e executor da Mãe invisível. No mito sumeriano, que antecede o mito grego clássico de muitos séculos, é a grande deusa Eresquigal quem rege o reino dos mortos. Seu nome significa "Senhora da Grande Região Inferior", e é sobretudo sua imagem que, acho, poderá nos ajudar a ampliar o planeta Plutão a fim de o entendermos melhor. Eresquigal controla guardiães e lacaios, como também um vizir chamado Namtar, que quer dizer "destino"; estes, porém, são os servos dela, que cumprem as suas ordens.
Pelo material a seguir sobre Eresquigal sou grata a Sylvia Brinton Perera que, em seu livro, Declínio da deusa, nos oferece uma ampla e fascinante interpretação dessa deusa arcaica do inferno. A relevância desse material é suficiente para confirmar minha intuição de que no Plutão astrológico estamos frente a frente com algo feminino, primordial e matriarcal. Quando a deusa Inanna, a rainha sumeriana do céu (a primitiva forma de Istar, Afrodite e Vênus), desce ao reino de sua irmã Eresquigal, a Senhora da Grande Região Inferior trata sua brilhante e bela irmã de acordo com as leis e ritos válidos para qualquer um que entre no reino: Inanna é levada "nua e de joelhos", enquanto suas roupas e insígnias reais são ritualmente rasgadas em cada um dos sete portais do inferno. Esse rito de entrada é um processo que tenho constatado, em muitas ocasiões, ser concomitante aos trânsitos e progressões de Plutão - a perda gradual de tudo o que se usou previamente para definir a identidade da pessoa, e o "pôr-se de joelhos" em sinal de humilhação, humilde e eventual aceitação de algo maior e mais poderoso do que a própria pessoa. A Sra. Perera escreve a partir de sua experiência como analista junguiana, enfocando a jornada iniciatória de mulheres que sofreram uma dissociação de seu próprio centro feminino. O que estou escrevendo aqui também parte da minha experiência como analista e igualmente da minha experiência como astróloga; e tenho notado que este declínio, com sua perda de características, adereços e afetos, parece ocorrer tanto em homens como em mulheres sob os trânsitos e progressões de Plutão.
Existe muito das Górgonas e da negra Deméter nela: no seu poder e terror, nas sanguessugas de sua cabeça, nos seus olhos glaciais, na sua íntima relação com o não-ser e com o destino... O domínio de Eresquigal, quando estamos sob ele, parece ilimitado, irracional, primordial e totalmente indiferente, até mesmo destrutivo, à pessoa. Ele contém uma energia que começamos a entender através do estudo dos buracos negros e da desintegração dos elementos, assim como através dos processos de fermentação, câncer, decomposição e das atividades inferiores do cérebro que regulam os movimentos peristálticos, a menstruação, a gravidez e outras formas da vida corporal a que temos que nos submeter. o lado destrutivo-transformador da vontade cósmica. Eresquigal é semelhante a Kali, que através do tempo e do sofrimento "implaca¬velmente reduz a cinzas todas as distinções no seu fogo indiscriminado" — e, no entanto, propaga vida nova... Irreverenciadas, as forças de Eresquigal são sentidas como depressão e como uma agonia insondável de impotência e de inutilidade — desejo inaceitável e energia transformadora-destrutiva; autonomia inaceitável (a necessidade de separação e de autoafirmação) dividida, voltada para dentro, devorando o sentimento individual de potência e valor da vontade individual.
Não consigo me lembrar de nenhuma descrição melhor que esta a respeito da qualidade emocional de Plutão.
Gostaria agora de retornar ao Hades, o desmedido falo da Mãe. Sempre que o mito retrata a entrada dele no mundo da superfície, ele é persistentemente mostrado representando um tema: o estupro. Isso sugere algo mais sobre a nossa experiência do planeta Plutão. Sua intrusão na consciência dá a impressão de ser uma violação, e nós, a exemplo de Perséfone, a virgem do mito, somos impotentes para resistir. Onde Plutão é encontrado, há amiúde um sentimento de penetração violenta, indesejado porém inevitável, de algum modo, necessário ao equilíbrio e desenvolvimento da pessoa — embora seja possível não vê-lo assim na ocasião. Eresquigal, também, representa uma espécie de estuprador para os que voltam seus rostos contra ela:
Para a consciência matriarcal ela representa o continuum em que estados diferentes são simplesmente experimentados como transformações de energia. Para o patriarcado a morte torna-se uma violação da vida, uma violência a ser temida e controlada, tanto quanto possível, com a distância e a ordem moral.
O mito do estupro de Perséfone é importante também para a compreensão de Plutão, pois a inocência virginal dela é que atrai o desejo do tenebroso senhor do inferno. Perséfone é uma deusa da primavera, a face ainda não violada de sua mãe Deméter, senhora da colheita. Ela é a virgem arquetípica, o solo fértil ainda não semeado; seu símbolo é a Lua crescente, que promete realização futura, mas que se encontra eternamente num estado de potencialidade. Ela está estreitamente ligada à sua mãe deusa da terra, aos cinco sentidos e ao mundo da forma. Também reflete a superfície brilhante da vida que promete alegrias futuras através dos olhos da juventude pura. Dessa forma, ela constitui uma imagem de um tipo particular de percepção e perspectiva humanas, cheias de possibilidades mas ainda informes.
O incontestável vínculo entre esse par de deusas, mãe e filha, sugere algo da divina unidade entre a mãe e o bebê, no admiravelmente inocente e protegido mundo da primeira infância onde até então não existe separação, solidão, conflito ou medo. Esse é o mundo antes da Queda, antes que o cordão umbilical seja cortado, e nele a morte não existe pois ainda não existe vida individual. Partes de nós podem permanecer nesse urobórico amplexo até um período posterior da vida, pois Perséfone não é apenas uma imagem da juventude cronológica, nem da virgindade, no sentido literal. A medida que nosso conhecimento e habilidades exteriores vão se tornando cada vez mais sofisticados, também vamos esquecendo esses ritos e rituais que facilitam a separação entre o jovem e a sua mãe na puberdade. A cultura da tribo primitiva com suas elaboradas cerimônias para anunciar o advento da vida adulta e da responsabilidade, se perdeu para nós no Ocidente há muito tempo. Assim sendo, ficamos como senis Perséfones colhendo flores esperançosamente, até que algum crítico trânsito ou progressão de Plutão apareça. Perséfone, apesar de seu nome — estranhamente — significar "portadora de destruição", é insensível à vida. Seu rapto é cruel, mas governado pela necessidade; e ela própria o invoca secretamente, colhendo a estranha flor da morte que Hades plantou na campina para o deslumbramento dela. E o roubo da flor que prenuncia a abertura da terra debaixo dela e a chegada do senhor das trevas no seu coche puxado por negros cavalos.
A questão da flor parece uma coisa tão pequena, mas creio que o processo de Plutão funciona dessa maneira. Fazendo-se um retrospecto, é possível perceber que é uma pequena coisa o que faz com que os portões sejam abertos. Perséfone é conivente com o seu destino, mesmo ao comer voluntariamente a romã, o fruto do inferno, que é um símbolo de fertilidade devido à sua profusão de sementes. Ela é uma imagem daquele aspecto da pessoa que, por mais aterrorizada, ainda assim busca a união que é um estupro e uma aniquilação. Nos mistérios órficos, Perséfone dá ao seu senhor um filho no inferno, assim como Eresquigal, no mito sumeriano, dá à luz uma criança depois de ter destruído sua irmã Inanna e pendurá-la nua numa estaca até apodrecer. O filho de Perséfone é Dioniso, a contraparte infernal do brilhante redentor do céu, a quem o cristianismo deu forma na figura de Jesus Cristo. Ambos são nascidos de virgens, através de pais divinos. Mas Dioniso, que redime através do êxtase erótico, é um rilho muito mais ambíguo. Parece que o mito expressa algo sobre a fertilidade de qualquer encontro com Plutão; ele é cheio de fruto. Uma sensação enriquecida da vitalidade e da sensualidade do corpo é, certamente, uma faceta frequente do fruto de Plutão. Talvez haja outros filhos originários dessa experiência de arrebatamento: uma perspectiva nova, mais profunda e mais ampla, uma descoberta nova dos recursos íntimos, uma compreensão mais aguçada da própria finalidade e da autonomia pessoal. Todas essas coisas devem ser pagas, por meio da ruptura do hímen psíquico que nos protege do começo ao fim de nossa inocência.
Essas profundezas são realmente assustadoras. Não é de surpreender que usemos eufemismos, nem tampouco que Escorpião, o signo de Plutão, sempre tenha tido uma reputação tão duvidosa. Pode ser um tanto complicado encontrar as palavras certas para o cliente, isso sem falar de si mesmo, já que Plutão se move lentamente para uma prolongada conjunção como Sol, a Lua, o ascendente e Vênus, indicando que os salões de Hades irão abrir suas portas para receber o relutante convidado a seu próprio e inconsciente pedido.
Em seguida, existe a questão de saber o que há lá embaixo. O mito oferece uma descrição geográfica notavelmente precisa da Grande Região Inferior. O reino de Eresquigal possui sete portões e uma estaca que serve para dependurar o visitante. Paisagens desse tipo são paisagens subjetivas. Fazem parte de um "lugar" aonde "vamos" através de humores, sentimentos, sonhos e fantasias. Primeiro, poderíamos examinar as entradas. Geralmente são grutas, fissuras, fendas na terra e crateras de vulcões. Através dos buracos e frestas da consciência, através das angústias e da erupções emocionais e incontroláveis de uma pessoa e de suas fobias e fantasias compulsivas em que o ego é inundado por alguma coisa "diferente", vai-se caindo, cada vez mais despido de pretensões em cada uma das entradas. Isso é conhecido no mundo analítico como abaissement du niveau mental, o rebaixamento do limiar de consciência que ocorre através dos sonhos, das fantasias, do delírio, da paixão, até mesmo de deslizes verbais e de inexplicáveis omissões e amnésia. As entradas prediletas de Plutão são, creio, os vulcões onde algum evento aparentemente insignificante desencadeia uma grande torrente de estranha e, muitas vezes, terrível ira, ciúme, ódio, medo ou fúria homicida, que revela que não somos tão civilizados quanto parecemos. A criatura indomada que irrompe é, assim como Eresquigal, cheia de rancor vingativo por mágoas que nem sequer sabíamos que tínhamos. O vulcão tem quase sempre uma posição determinada onde quer que Plutão se encontre no horóscopo.
Os gregos, a exemplo dos sumerianos, visionaram um rito elaborado de ingresso ao inferno; no entanto, o relato mítico deles é diferente. As almas dos mortos devem atravessar o rio Estige, transportadas pelo antigo barqueiro Caronte que exige uma moeda em troca. Aqui, da mesma forma como nos portões de Eresquigal, algo deve ser dado, algo de valor que a própria pessoa possui. O dinheiro é uma das imagens de valor, de riqueza, de identidade e propriedade do ego. O que acumulamos, ao que parece, deve ser distribuído durante a descida - as insígnias reais e as roupas com as quais nos identificamos, e o nosso habitual senso de valor, nossa inatacável autoestima, nosso grande apreço. O sentimento de inutilidade, de falsidade e de repulsa à própria nulidade, de decepção com a vacuidade das pompas que tanto significado tinham, é algo que tenho repetidas vezes ouvido expressar aqueles que estão passando pelos trânsitos e progressões de Plutão. Isso não se limita apenas aos assim chamados "maus" aspectos, senão que também se aplica aos trígonos e sextis. Dá a impressão de que a aceitação desse sentimento de ser despido, humilhado e vazio é uma precondição necessária para o acólito nos portões de acesso.
A seguir, citamos o sonho de um homem que veio em busca de uma leitura do horóscopo quando o transitório Plutão estava fazendo uma longa conjunção com sua casa do Sol, em Libra, situada na décima casa. Ele era um bem-sucedido editor de manuais científicos, dono de uma companhia internacional que lhe fornecia uma considerável renda e um lugar respeitado na sociedade. Com essa persona ele sempre se identificara, pois ela lhe dava uma sensação de realização e de importância. Que isso também lhe fornecia um meio de realizar o sonho de sua mãe de ter um filho brilhante e bem-sucedido ainda não se dela conta, como um motivo primário na escolha de sua carreira, embora muitos astrólogos pudessem encarar com reserva a unidade de identidade entre mãe e filho que o sol na décima casa sugere. Ele me contou seu sonho no decorrer da interpretação do mapa astral, porque me referia algumas das imagens e sentimentos relacionados com Plutão e que mencionei acima: morte, apatia, depressão, isolamento e sepultamento.
Sonho que morri e que agora estou esperando algum tipo de renascimento ou de ressurreição. Em lugar da cabeça, tenho um crânio descarnado entre os ombros. É horrível sentir esse crânio. Estou morto, apodrecido, inaceitável. Num quarto à direita, todos os livros e as revistas que publiquei são exibidos como troféus em caixas com tampo de vidro. Alguns amigos vêm me convidar para jantar, mas ficam assustados diante da visão de meu crânio. Tento explicar que estou morto, mas que uma outra vida me aguarda. Todavia, eles apenas mostram repugnância e me deixam sozinho. Num outro quarto, meus funerais estão em andamento. Minha mãe chora convulsivamente sobre meu caixão. Ela não pode me ver, ou à parte de mim que subsiste. Para ela, eu estou completamente morto.
Esse sonho, na verdade, dispensa interpretação. Ele se descreve bastante adequadamente como uma imagem subjetiva da experiência de Plutão e como um comentário profundo sobre o significado desse período na vida de meu cliente. Apesar de ter achado o sonho incômodo e perturbador, ainda assim ele disse que tinha ficado com uma sensação de confiança durante um período de grande depressão e desespero. Em resumo, o sonho lhe trouxe — e ele não estava se submetendo a nenhuma forma de psicoterapia, mas chegou sozinho e aos poucos à compreensão disso — o pressentimento de que sua depressão era necessária de algum modo que ele não conseguia entender profundamente. A imagem do crânio não é meramente uma imagem da morte; ela aparece com grande frequência no simbolismo alquímico e é aquela parte do ser humano que não se desintegra como acontece com o corpo. É o caput mortuum, a caveira que sobra depois que o fogo purificador consumiu toda a matéria inútil. Na vida exterior do cliente, a situação que parecia estar desencadeando a sua depressão fora a decisão por ele tomada de vender sua empresa e aplicar sua energia no cultivo de uma larga extensão de terra que comprara na Austrália. Ele esperara ficar alegre e entusiasmado com esse empreendimento, mas, em vez disso, ficou deprimido e aflito. Essa indisposição mal recebida, que caiu sobre ele como uma violação, só passou a fazer sentido quando começou a entender que essa decisão representava a morte do poder materno em sua vida, com todas as implicações íntimas que essa separação acarreta.
Quando os espíritos descem ao Tártaro, cuja principal entrada fica num bosque de álamos pretos junto à corrente oceânica, cada qual é suprido por devotos parentes com uma moeda posta debaixo da língua do cadáver. Dessa forma, eles têm condições de pagar Caronte, o usurário que os transporta num barco decrépito até a outra margem do Estige. Esse detestável rio faz limite com o Tártaro no lado ocidental, e tem como afluentes os rios Aqueron, Flegethon, Cocytus, Aornis e Letes... Um cão de três cabeças ou, como dizem alguns, de cinquenta cabeças, chamado Cérbero, guarda a margem oposta do Estige, pronto para devorar os vivos intrusos ou almas fugitivas.
Álamos pretos, conforme assinala Robert Graves numa passagem adiante, são consagrados à deusa da morte. Os nomes desses rios infernais são evocadores e também explícitos: Estige, que significa "ódio", contém águas que são veneno mortal, mas que também podem conferir imortalidade; Aqueron quer dizer "fluxo de angústia"; Cocytus, "lamentação"; Aornis, "desprovido de pássaros"; Letes, "esquecimento" e Flegethon, "combustão". Todas essas imagens têm a fragrância do sentimento do Plutão astrológico.
O veneno do Estige é como o ácido do ressentimento profundamente enterrado, o que representa uma típica manifestação plutônica Essa irreconciliável amargura nos cria uma associação com as figuras das rancorosas Erínias, as servas da Justiça. Existe, sem dúvida, um veneno de vingança em Plutão, o encolerizado fantasma de Clitemnestra que força as Erínias, a perseguirem seu filho Orestes. Aqui não há compaixão, nem cura; apenas ódio cego e interminável. Sabemos através dos nossos tradicionais textos de astrologia que os nativos de Escorpião são bastante rancorosos, e não esquecem desprezo e injúrias. Plutão tampouco. A experiência do planeta frequentemente lança uma pessoa em sua própria potencialidade, antes não percebida, de ódio profundo, duradouro e inflexível. Moira, enquanto natureza, não esquece um insulto, nem deixa passar impune uma violação. O espírito do mito cristão, com sua figura piedosa e compassiva, é a antítese direta de Eresquigal, que representa o coração perverso da natureza que não consegue esquecer o próprio sofrimento. Tolkien personifica esse venenoso coração da natureza na figura do Velho Salgueiro no Senhor dos Anéis:
As palavras de Tom desnudam os corações e os pensamentos das árvores, os quais eram no mais das vezes escuros e estranhos, e repletos de ódio pelas coisas que andam livres sobre a terra, roendo, mordendo, despedaçando, queimando, cortando: destruidores e usurpadores... Mas nenhuma era mais perigosa do que o Grande Salgueiro: seu coração estava carunchado, mas sua , força era nova: ele era esperto e um mestre dos ventos; seu canto e seu pensamento percorriam os bosques de ambos os lados do rio. Seu velho e sedento espírito tirava força da terra e espalhava-se como finas raízes pelo chão e invisíveis galhos delicados no ar, até que ele tinha sob seu domínio quase todas as árvores da Floresta da Divisa até as Colinas.
O rio de ódio e de veneno que rodeia o inferno é igual ao Velho Salgueiro no coração da floresta, e ele nem sempre está consciente na pessoa. Na maioria das vezes, não nos damos conta de sua existência e pensamos em nós mesmos como pessoas decentes que conseguem perdoar uma ofensa alheia; em vez disso, porém, sofremos de doenças misteriosas e de distúrbios emocionais e, sutilmente, sabotamos nossos companheiros, pais, amigos, filhos e nós mesmos sem reconhecer por completo que em alguma parte possamos vê-los como "destruidores e usurpadores" que devem ser, forçosamente, punidos.
Aqui também talvez seja apropriado um ritual, e o mito com certeza nos oferece um. O ódio de Eresquigal é abrandado pelas carpideiras de Enqui, duas pequenas criaturas que o deus do fogo Enqui modela da sujeira por baixo de suas unhas. Essas pequenas carpideiras descem ao inferno e pranteiam ao lado de Eresquigal enquanto ela sofre e dá vazão ao seu ódio. Elas reconhecem a sua aflição, dão-lhe ouvidos, mostram empatia; não a julgam, nem a chamam de feia, perversa ou rancorosa, nem procuram induzi-la a "fazer" qualquer coisa a respeito disso. Elas representam uma qualidade que eu reputo ser essencial na abordagem de Plutão e que muitos psicoterapeutas chamam de capacidade de "estar com" alguém. E a capacidade de fornecer um recipiente para as águas envene¬nadas sem a necessidade de "modificar" as coisas. As Erínias também são aplacadas, no mito de Orestes, pelo mesmo suave reconhecimento. Atena escuta-as, não discute ou condena, mas, ao contrário, lhes oferece um altar e um respeitoso culto em troca da vida de Orestes.
A descoberta da própria venenosidade é um dos aspectos menos atraentes de um confronto com Plutão. As carpideiras de Enqui e Atena nos fornecem um modelo mítico de um tipo de autopercepção que se move entre severo autojulgamento e estúpida autocompaixão. Isso impõe um reconhecimento da necessidade ou inevitabilidade do ódio, através da empada com a coisa ofendida. Do ponto de vista de Eresquigal, a vida está completamente corrompida. Ela foi estuprada e exilada no inferno, e todos, particularmente sua livre e alegre irmã Inanna, devem sofrer por isto. As pequenas carpideiras não concordam nem discordam, não acusam nem racionalizam. Simplesmente ouvem e aceitam a aflição e a amargura dela. A fúria de Plutão, quando irrompe de dentro ou vem de fora, é terrível, talvez mais ainda quando e encontrada no lado de dentro, pois a gente fica com medo de destruir essas coisas que ama. Por isso, a fúria e reprimida e fica corroendo no inferno da psique.
No mito sumeriano, as carpideiras oferecem uma alternativa tanto para a repressão quanto para a expressão da raiva em comportamentos externamente destrutivos que, no final das contas, não curam a chaga. Pôr-se no lugar das carpideiras é mais difícil do que parece, todavia, pois mesmo que se consiga enfrentar este instinto vingativo e destruidor dentro de si mesmo, a tentação de "transformá-lo" e irresistível. O ego gosta muito de querer mudar tudo que ele encontra na psique de acordo com seus próprios valores e padrões, e o veneno de Plutão provoca uma resposta previsível: agora que vi minha feiura, acho-a desprezível e preciso curá-la. No entanto, as carpideiras de Enqui não estão preocupadas em curar Eresquigal. Elas conseguem enxergar os dois lados da questão: a necessidade de salvar Inanna e a legitimidade da fúria de Eresquigal.
Enqui, o deus do fogo, que moldou essas criaturas, é o correspondente sumeriano de Loge, no mito teutônico, e de Hermes, no grego. Ele não toma o partido de ninguém, mas seu objetivo é visualizar todo o esquema, e pode amar todos os protagonistas já que eles fazem parte do grande teatro. Acho, aliás, duvidoso que Eresquigal seja, na verdade, "curável". Seguramente ela não se mostra apta a responder às solicitações do ego, a não ser quando ela própria o deseja, se é que de fato alguma vez o deseja.
Letes é o rio do abençoado esquecimento, no qual as almas dos mortos submergem antes de voltarem ao mundo para uma outra encarnação. Os que creem na reencarnação como uma filosofia real podem considerar o fato de que misericordiosamente não recordamos dos nossos destinos quando nascemos como uma bênção de Plutão. Ou podem tomá-lo num sentido mais simbólico: não só esquecemos misericordiosamente o que está escrito para nós no nascimento, como também não nos lembramos muito bem como era a Grande Região Inferior depois que passamos por uma experiência platônica. Tendo conseguido emergir do inferno, assim como Orfeu somos ordenados por alguma voz Intima a não olhar para trás e, depois que o trânsito ou progressão termina, alegremente anunciamos quão produtivo, enriquecedor e inspirador de crescimento tudo isso foi. Não nos recordamos desse lugar, pois se o fizéssemos, perderíamos a coragem para enfrentar a futura e próxima volta do Grande Círculo. Letes e uma dádiva de Plutão; é uma imagem de maleabilidade psíquica, e a capacidade de esquecer o sofrimento. Não que Plutão não ofereça riquezas. Acho que necessariamente temos de esquecer depois o preço que pagamos por elas, a fim de que não sejamos envenenados pelo Estige e jamais perdoemos a existência.
Ademais, acho que as experiências de Plutão muitas vezes coincidem com uma lembrança do que estava esquecido, com uma redescoberta da aflição, fúria e do ódio que foram paralisados e empurrados para o subconsciente pelo ego para sua própria sobrevivência.
O psicoterapeuta está familiarizado com o miasma de ódio e de raiva inflamados, tanto dos paia quanto da própria pessoa, que irrompem quando as ofensas, as rejeições e as humilhações inconscientes da infância vêm à luz. Onde Plutão é encontrado no horóscopo, há quase sempre um esquecimento, uma repressão necessária e uma tendência à recordação inesperada e à erupção vulcânica de veneno sobre um objeto que talvez não passe apenas de um catalisador. Parece haver uma relação entre Plutão e aquilo que Freud entende por repressão (que não é realizada intencionalmente por um determinado ato de consciência, mas ocorre como um instinto de sobrevivência, através de uma espécie de censura inconsciente). São essas as coisas que devemos esquecer por algum tempo, a fim de podermos viver.
Existem desejos "reprimidos" na mente... Quando digo que existem esses desejos, não estou fazendo uma declaração histórica no sentido de que eles outrora existiam e foram depois abolidos. A teoria da repressão, que é essencial para o estudo das psiconeuroses, afirma que esses desejos reprimidos ainda existem — embora haja uma inibição simultânea que os reprime.
Podem-se fazer algumas eruditas conjeturas a respeito da natureza dos "desejos" reprimidos de Plutão, como também a respeito das excelentes razões para a "inibição simultânea" que bloqueia a entrada deles na vida consciente. Freud, que tinha Escorpião no ascendente, formulou-as muito bem no seu conceito do id. Elas são demasiado violentas, vingativas, sanguinárias, primitivas e perigosas para que a pessoa comum se sinta muito à vontade ou segura com a sua intrusão. A par dos "desejos", pode-se incluir lembranças, experiências de grande intensidade emocional que são esquecidas juntamente com seus objetos. Assim, largas fatias de infância caem debaixo da faca do censor — fatias estas que revelam o rosto selvagem do jovem animal lutando por autossatisfação e pela sobrevivência.
Juntamente com o veneno, potencialidades também podem ser reprimidas, para não dizer que uma coisa poderia desencadear a outra. A criança que está sujeita à fúria possessiva da mãe ou ao gélido desinteresse do pai, cada vez que se senta para brincar com a massa de argila ou com tintas e comete a afronta de recolher-se à sua própria psique individual, irá crescer e tornar-se o adulto "sem criatividade" que por alguma insondável razão não consegue sequer tentar levar o lápis ao papel, preferindo, ao contrário, viver no crepúsculo cinzento de uma vida sem brilho e sem expressão, com inveja de todos os que sabem se expressar melhor, em vez de arriscar-se a recordar o preço pago por aqueles esforços criativos iniciais. A criança que atrai para si o ciúme dos pais por ser inteligente, bonita e independente demais, se transformará no adulto que sabota a si mesmo toda vez que está na iminência de ter sucesso na vida, em vez de arriscar-se à terrível competição com os pais, sem o apoio dos quais ela não pode viver. Não se quer interromper a monotonia, o esquecimento, mesmo que isso signifique que o surgimento ou o desenvolvimento de um talento nascente será sacrificado. Essa atitude é melhor e mais fácil do que enfrentar os sentimentos violentos dos pais, dos irmãos e de si mesmo. Mais tarde, frequentemente sob trânsitos e progressões relacionados com Plutão, nos lembraremos do que havíamos esquecido, do medo, do sofrimento, do desejo e da raiva. Então, é preciso fazer um retorno ao mesmo lugar, passando pela mesma depressão, angústia e desgosto por si mesmo. No entanto, a Jornada posterior é mais uma espiral do que um círculo, pois é a criança dentro do adulto quem recorda, e o adulto poderá, talvez, ajudar a criança a suportar e a controlar o sofrimento.
Tártaro é, por vezes, o nome dado no mito a todo o reino de Hades. Bastante amiúde ele se refere a um tipo de sub-reino, a uma cidadela, por assim dizer, que está próxima por natureza ao conceito medieval de Inferno. É do Tártaro que a prole da Mãe Noite sai para atormentar os vivos e punir as blasfêmias e os pecados da família contra a linhagem matriarcal. No Tártaro, as almas dos maus ficam aprisionadas em imutável tormento durante toda a eternidade. Contudo, é um mundo radicalmente diferente do Inferno cristão. O tormento no Tártaro e descrito por meio de imagens de desejo frustrado, e não de indiscriminada tortura sádica. Os pecados também são diferentes. Quando viajamos com Dente pelos círculos do Inferno, encontramos um catálogo previsível de pecadores medievais: o adúltero, o usurário, o sodomita, o blasfemador. Encontramos, além disso, alguns rostos pagãos familiares, pois o cristianismo de Dante não era assim tão cristão: a Fortuna ou o Destino com a sua Roda, Cérbero e Dis (Hades) de três cabeças. Todavia, o inferno de Dente e um reflexo da Obsessão da Idade Média com a execração do mundanismo e da sexualidade.
No Tártaro, as coisas são diferentes. Os pecados de homens contra homens, em particular os pecados carnais, não são dignos do nome. Hubris, por outro lado, recebe a punição justa. As figuras míticas aprisionadas no Tártaro são homens e mulheres que ultrapassaram seus limites, transgrediram a lei natural, Insultaram Moira e desafiaram os deuses. Eles cobiçaram uma deusa, zombaram de uma divindade ou vangloriaram-se de serem maiores do que os habitantes do Olimpo. A lei de Plutão não é aquela feita de elaborações sociais e jurídicas, nem de preocupação com o comportamento civilizado do grupo. Sendo ele próprio um estuprador, Plutão não julga os desejos sexuais alheios. Ele não é Saturno, e se mostra desinteressado com o que os homens fazem uns aos outros no mundo da forma. Ele não é um patriarca, mas, ao contrário, um matriarca. Assim, Sísifo rola eternamente sua rocha montanha acima e terá sempre de vê-la rolar montanha abaixo até o fundo outra vez, para todo o sempre, visto que ele revelou os divinos segredos de Zeus. Tântalo arrasta-se eternamente em direção à água e ao fruto que estão sempre fora de seu alcance, visto que ele insultou e ridicularizou os deuses. Íxion gira eternamente na sua roda de fogo, porque tentou estuprar Hera, a rainha dos deuses. Todas essas imagens são formulações de frustração, de interminável desespero, de combustão interior (tal como o rio Flegethon), de humilhação e de nemesis como castigo por arrogância e orgulho.
Ser posto sobre a roda como punição (a exemplo de Íxion é ser posto num lugar arquetípico, atado às voltas da fortuna, ás voltas da Lua e da sorte e às infindáveis repetições de voltar eternamente à mesma experiência sem descanso... Rodas são círculos fechados e o círculo fecha-se em torno de nós quer no anel de casamento, na coma de louros, ou na coroa funerária.
A irrevogável rotação do destino, seja para o ganho seja para a perda, é característica de Plutão. Assim também é a experiência do desejo frustrado. O que desejamos mais do que qualquer outra coisa antes e que, no entanto, é a única coisa que não podemos ter, ou que só podemos ter mediante grande sacrifício ou mediante a morte de alguma parte estimada de nós mesmos — tudo isso é típico de Plutão. Naturalmente, a arena sexual é um dos lugares mais evidentes em que esse tipo de experiência ocorre. Assim também é a arena do poder e da posição. Poder e sexualidade, poder ou perda de poder pela sexualidade, são temas intrínsecos a Plutão. Ao que parece, os escandinavos sabiam disso' quando duplicaram o sentido dessa palavra para designar o destino e os órgãos genitais. Acho que nem sempre fica claro saber se o poder está nas mãos de quem é poderoso ou se está nas mãos do que se submete a ele, pois ambos são aspectos da mesma figura, assim como Perséfone pertence ao Hades. A necessidade, a ganância e o desejo provêm de ambos e, onde quer que Plutão esteja presente numa situação em que uma das partes tenha que se submeter à outra que é mais poderosa, talvez seja importante lembrar que quando esse planeta está envolvido, ninguém jamais está isento de culpa.
Confrontados com Plutão, deparamo-nos com nossas detestáveis compulsões, insaciáveis paixões: o impossível e o repetitivo esquema de luta com algo apenas para que o encontremos outra e outra vez. Tártaro descreve, em linguagem mítica, a escuridão, a ganância e a patologia humanas. Ele abrange a doença, a crueldade, a combustão, a obsessão, a frieza gélida e o desejo perpétuo. Essas atormentadas figuras nos informam algo mais a respeito de Plutão: ele nos faz lembrar repetidas vezes da coisa incurável, do lugar da ferida intratável, do lado psicopata da personalidade, do rosto ultrajado e contorcido das Górgonas. Ele é a coisa que nunca melhora.
Uma das imagens da alquimia para esse ganancioso, desejoso, violento e irreparável aspecto da natureza é o lobo, que deve ser posto no alambique com o rei. O lobo destrói o rei e é, depois, ele mesmo queimado em fogo lento até que só fiquem as cinzas. Se essas coisas realmente se transformam, só o fazem através do fogo; e o rei, que personifica o domínio e o sistema de crenças do ego, deve morrer primeiro. Plutão é, por conseguinte, um grande e divino estabilizador da hubris. Sem ele o homem se julgaria Deus, e acabaria se destruindo: uma situação que se toma cada vez mais provável com o decorrer do tempo. Defrontado com Plutão, assim como a criancinha se defronta com a mãe, a pessoa vivencia o círculo intransponível das limitações da alma, das limitações do destino, que não são os limites mundanos de Saturno, mas sim a característica mais profunda de sua vulnerabilidade e mortalidade.
Os estados circulares de repetitividade, as voltas e mais voltas no círculo de nossas próprias condições, forçam-nos a reconhecer que essas condições constituem a nossa própria essência e que o movimento circular da alma não pode ser diferenciado do destino irracional.
Plutão, ao que parece, governa o que não pode ou não quer mudar. Esse é um problema, particularmente espinhoso numa época de autoterapias e do aumento da crença na ideia de que uma pessoa pode se transformar no que quiser, desde que conheça as técnicas, os livros ou os guias espirituais certos. Humildade perante os deuses é uma virtude antiga, promovida não só pela Bíblia, como também pelos gregos. "Nada em excesso" — nem mesmo a autoperfeição — estava gravado na porta do templo dedicado a Apoio em Delfos, ao lado de "Conhece-te a ti mesmo". Eram essas as principais exigências que os deuses faziam aos homens. Mas é justamente essa questão que Plutão nos obriga a confrontar.É uma ironia e também um paradoxo que a aceitação legítima do imutável seja, com frequência, uma das chaves para a verdadeira e profunda mudança no interior da psique. No entanto, esse pequeno exemplo de ironia, que teria caído sob medida ao contraditório Apoio, não parece passível de ser aprendido em nenhuma escola e sim nas provações da vida. Portanto, ele permanece um segredo, não porque ninguém o irá revelar, mas porque ninguém irá acreditar nele, a menos que tenha sobrevivido à provação.
Dessa forma, Plutão, como um símbolo do destino punitivo, rege o lugar onde a vontade não tem mais eficácia. Terapias, meditações, dietas e encontros não chegam até lá, e a decisão não mais reside em saber se devo agir certo ou errado, mas se devo sacrificar meu braço esquerdo ou direito. Esse deus é uma imagem de nossa servidão, humilhação e violação. Penso que a questão da hubris, a ofensa contra os limites circunscritos e contra o destino, jaz no âmago do significado do planeta. Repetições desse tema também hão de ser encontradas no mito relativo ao signo de Escorpião, pois o escorpião nos mais antigos mitos sumerianos, babilônicos e egípcios, e também no grego clássico, é invariavelmente a criatura enviada por uma divindade zangada para punir a hubris de alguém.
Desde a sua primeira expressão em grego e latim, o mito de Escorpião tem sido relacionado com o desastre que atingiu Orion, o grande caçador cuja hubris o levou a ofender os deuses. O Escorpião atacou e matou-o, emergindo repentinamente das entranhas da terra — de um mundo além do qual Orion, o agredido, pertence. Pelo que sei, não existe nenhum texto astrológico no qual esse elemento de súbita e destrutiva agressividade não apareça como uma característica essencial de Escorpião. O simbolismo astrológico expressa esse fato atribuindo Escorpião a Ares (Marte), o deus ígneo e agressivo, senhor das catástrofes violentas e dramáticas; desse modo, confere imediatamente a Escorpião o significado central de um colapso no equilíbrio pela irrupção, das sombras, de um assaltante desconhecido... Escorpião, o signo da criatura que surge de umidades ctônicas, é de fato caracterizado cada vez mais claramente como o signo da impureza, da natureza primitiva, caótica, discordante, abominável, e que se revela por súbitas e perigosas irrupções.
Essa atraente descrição parece coincidir com o que temos visto de Plutão. É quase desnecessário acrescentar que, no mito de Orion, o escorpião gigante que destrói o grande caçador devido à hubris deste é mandado por Ártemis-Hécate, "senhora dos caminhos noturnos, da sorte e do mundo dos mortos".
O IMUM COELI (FUNDO-DO-CÉU) E A QUARTA CASA, por Howard Sasportas
Quem olha para dentro sonha; quem olha para fora acorda.
Jung
Na 1ª Casa, não temos virtualmente consciência de nós mesmos no sentido objetivo. Apenas somos. Na 2ª Casa, descobrimos que temos nossa própria configuração e nossos limites que nos distinguem de tudo o mais. Na 3ª Casa, voltamos nossa atenção para o que nos rodeia, interagindo com as outras configurações e limitações de nosso ambiente próximo para saber quais são.
Comparando o que somos com aquilo com que nos chocamos, formulamos ainda mais opiniões a respeito de nós mesmos. Neste processo, perdemos o sentido de sermos tudo, mas em compensação ganhamos o sentimento de que somos alguém, alguém dentro de um corpo próprio, que pensa de maneira própria e que vem de um plano familiar próprio. Quando nos aproximamos do nadir do mapa, o Fundo-do-Céu e a 4ª Casa, é tempo de parar e assimilar aquilo que aprendemos. A tarefa que se apresenta é juntar nossos pedaços e peças e integrá-los em volta de um ponto central, ou eu que, daqui por diante formará a base de nossa identidade. Algumas pessoas continuam juntando novos pedaços de informação pela vida toda e nunca param para formar raízes e se consolidar (excesso na 3ª Casa e não bastante na 4ª).
Outras se assentam cedo demais, antes que bastante vida tenha sido explorada (excesso na 4ª Casa e não bastante na 3ª).
Não é incomum que pessoas preocupadas com a carreira e com outros empreendimentos sejam tão ativas e estejam tão ocupadas com compromissos e encontros a ponto de quase não passarem muito tempo em seus lares. Do mesmo modo, todos nós temos uma tendência para ficar tão "ocupados" e identificados com atividades e acontecimentos exteriores que negligenciamos e perdemos o contato com o eu que está por baixo de tudo isso.
Estamos tão comprometidos com tudo o que vemos, com tudo o que sentimos ou fazemos que esquecemos do eu que vem fazendo a visão, que está manifestando os sentimentos ou executando as ações. O que encontramos quando desviamos nossa atenção dos objetos transitórios de experiência e reatamos com o eu subjacente, que é o sujeito de toda experiência, é designado pelo signo que se encontra no Fundo-do-Céu (cúspide da 4ª Casa no sistema de quadrantes) e pelos planetas da 4ª Casa.
O sentido do eu aqui dentro que o Fundo-do-Céu e a 4ª Casa nos proporcionam dá uma unidade interior aos nossos pensamentos, sentimentos, percepções e ações. Do mesmo modo que somos biologicamente mantidos e regulados automaticamente, o Fundo-do-Céu e a 4ª Casa servem para manter as características individuais do self (eu) de maneira estável.
A 4ª Casa representa o lugar para onde vamos quando nos voltamos para dentro de nós mesmos — o centro interior para onde o nosso eu retorna a fim de descansar antes de dar início a novas atividades. Ela é a base de operações a partir da qual encontramos a vida. Por esta razão, a 4ª Casa tem sido tradicionalmente associada ao lar, à alma e às raízes do ser. Os índios americanos acreditavam que você abre sua alma a uma pessoa quando a convida para entrar em seu lar. Em oposição à nossa face pública, a 4ª Casa descreve como somos bem no fundo. O analista junguiano James Hillman descreve a alma como "aquele componente desconhecido que possibilita um sentido". A alma aprofunda os acontecimentos em experiências e faz a mediação entre o autor e a ação. "Entre nós e os acontecimentos... existe um momento de reflexão — e usar a alma significa diferenciar este campo médio." A maneira sutil pela qual uma pessoa transforma acontecimentos em experiências é mostrada pelo Fundo-do-Céu e pela 4ª Casa.
O Fundo-do-Céu e a 4ª Casa significam a influência em nós de nossa família de origem, a família na qual nascemos. Planetas e signos na 4ª Casa revelam a atmosfera que sentíamos neste lar e o tipo de condicionamento ou instrução que recebíamos nele, a herança psicológica da família. Sondando mais fundo, a 4ª Casa mostra as qualidades genealógicas de nossa origem racial ou étnica: estes aspectos da história e da evolução de nossa raça que residem dentro de nós. Um Saturno na 4ª Casa ou Capricórnio, por exemplo, no Fundo-do-Céu às vezes descrevem a atmosfera de um lar como sendo fria, estrita e sem amor ou um passado de uma linha de resolutos conservadores, enquanto Vênus na 4ª Casa ou Libra no Fundo-do-Céu estaria mais sintonizado com o amor e a harmonia no lar de infância e pode sentir uma afinidade e apreciar a tradição na qual se viu crescer.
A Lua ou Câncer nesta posição combinam muito bem com o ambiente do lar enquanto Urano ou Aquário muitas vezes se sentem como um estrangeiro em terra estranha, revelando surpresa por vir a encontrar-se numa família assim. Marcel Proust, que em seu livro A procura do tempo perdido explorou nos mínimos detalhes sua primeira infância e seus mais íntimos sentimentos, além do próprio trabalho de memória, nasceu com o Sol, Mercúrio, Júpiter e Urano, todos em
Câncer na 4ª Casa.
A influência das figuras paternas sobre nós em geral é atribuída ao eixo da 4ª e 10ª casas. Tradicionalmente, sempre fez sentido associar a 4ª Casa (naturalmente regida pela Lua e por Câncer) com a mãe, e a 10ª Casa (naturalmente regida por Saturno e Capricórnio) com o Pai. A maioria dos astrólogos estava satisfeita com esta classificação, mas a obra de Liz Greene lançou algumas sombras de dúvida nesta área. Através de sua considerável experiência e perícia como astróloga consultante ela acha que a descrição de seus clientes do relacionamento com suas mães parece corresponder mais à 10ª Casa, enquanto a imagem do pai caberia melhor na 4ª Casa.
Existem casos concludentes, tanto a favor como contra essas duas escolas de pensamento. Uma vez que a 4ª Casa está ligada a Câncer e à Lua pareceria razoável destiná-la à mãe. Seu útero foi nosso lar original e na infância éramos mais receptivos aos humores e aos sentimentos da mãe que aos do pai. O pai corresponde assim à 10ª Casa, Saturno e Capricórnio: afinal, ele é geralmente o ganha-pão e o importante diante do público, e era comum também o filho seguir a profissão do pai. No entanto, os argumentos opostos são igualmente convincentes.
A Lua não é só a mãe, é também a nossa "origem" e nós herdamos nosso nome do pai. Desta maneira, podemos ser associados à 4ª Casa. A 10ª Casa é muito mais óbvia do que a 4ª, e a mãe muito mais óbvia para a criança que o pai. O nascimento de uma criança é um fato claro - certo e publicamente reconhecido como a 10ª Casa. A paternidade é mais especulativa, às vezes escondida e talvez mesmo um mistério e por este motivo talvez seja melhor relacioná-la com o oculto e misterioso ponto do Fundo-do-Céu e com a 4ª Casa. Na sociedade ocidental, pelo menos, a mãe é geralmente a influência socializante da criança. Ela é quem mais diz não na infância, aquela com quem passamos a maior parte do tempo e cujo papel é cuidar de nós e nos ensinar a diferença entre o que é bom e aceitável e o que é mau e proibido. Normalmente é a mãe que faz a limpeza da criança - o primeiro maior ajustamento que temos que fazer para entrar nos padrões sociais estabelecidos (Saturno, Capricórnio e a 10ª Casa).
Não acredito que seja possível fixar uma opinião de que a 4ª Casa seja sempre a do pai e a 10ª sempre a da mãe ou vice-versa. E mais seguro e talvez mais exato dizer que o "pai/mãe-modelo", aquele com o qual a criança passa a maior parte do tempo e que tem mais influência para adaptar a criança à sociedade, deveria ser associado com a 10ª Casa e o "pai/mãe-oculto", aquele que é menos visível e que não é tão conhecido quantitativamente, deveria ser associado à 4ª Casa. Na prática, após uma conversa com um cliente, o astrólogo pode formular uma idéia boa de qual dos pais pertence a que casa. Por exemplo, se eu verifico que o pai do cliente é de Gêmeos com Lua em Aquário e eu encontro Gêmeos no Fundo-do-Céu do cliente e Urano na 4ª Casa parece razoável que a 4ª Casa, neste caso, é uma boa descrição do pai. No entanto, nem todos os mapas mostram isso tão facilmente.
É importante lembrar que os posicionamentos da 4ª Casa (sejam mãe ou pai) não descrevem a maneira como era esse pai como pessoa, mas, antes, a maneira pela qual essa criança vivenciou esse pai - o que é conhecido como a imagem do Pai, a imagem inata, a priori, que a criança faz dos pais. A psicologia tradicional normalmente sustenta a opinião de que, se há algo errado entre os pais e a criança, a culpa é dos pais. Contrastando com este parecer, a astrologia psicológica coloca pelo menos a metade da responsabilidade na criança por vivenciar os pais de maneira peculiar. Por exemplo (digamos que a 4ª Casa seja o pai), uma garotinha com Saturno na 4ª Casa vai agir mais pelo lado saturnino da natureza do pai. Ele provavelmente vai mostrar muitas outras qualidades, além das associadas com este princípio arquetípico, mas a criança em questão vai reconhecer seletivamente mais os traços de Saturno. O pai pode ser caloroso e amável durante setenta e cinco por cento do tempo, mas os vinte e cinco por cento nos quais for frio e crítico serão os que a filha irá registrar.
Na maioria das vezes, existe um conluio entre a imagem dos pais no mapa da criança e os posicionamentos-chave no mapa dos pais. Por exemplo, o mapa do pai da menina com Saturno na 4ª Casa pode mostrar o Sol em Capricórnio, Capricórnio Ascendente ou conjunção So1ªSaturno. No entanto, mesmo que o mapa do pai não mostre uma descrição tão próxima da 4ª Casa dela, a predileção de ver o pai de determinada maneira muitas vezes tem o efeito de transformar a pessoa naquilo que está sendo projetado nela. Se ela continuar reagindo ao pai como se ele fosse uma pessoa indelicada, mesmo quando está esbanjando amor e generosidade, ele pode eventualmente ficar tão frustrado que se torna amargo para com ela, a ponto de desistir e de evitá-la totalmente. Então a garotinha diz para si mesma: "Que canalha, eu sempre soube que ele era assim." Mas, será que era mesmo?
Nascemos completamente desprovidos de certas predisposições e expectativas inatas, mas as experiências que temos quando crianças amontoam-se em camadas sobre nós. Interpretamos o ambiente de um determinado modo, e então formamos opiniões e tomamos atitudes concretas a nosso respeito e a respeito da vida lá fora, em geral baseadas nestas percepções. A garotinha da qual vimos falando com Saturno na 4ª Casa já tem algumas proposições de vida existencial vindo à tona: "Papai não me ama" e "Papai é um canalha", para mencionar apenas duas. Ela vai levá-las dentro de si mesmo depois de deixar a casa dos pais e vai ter atitudes ainda mais chocantes como: "Os homens me acham uma indigna e fria" e "Todos os homens são uns canalhas". Quando ela se tornar consciente das origens destas atitudes ela se permitirá a possibilidade de mudá-las ou de procurar outras maneiras de organizar a experiência. Examinar a 4ª Casa que mostra os arquétipos ativados na vida do lar dos primeiros anos entre nós mesmos e um dos pais em questão, pode ajudar enormemente neste processo.
A 4ª Casa, além de descrever nossas origens herdadas e tudo aquilo que se encontra no fundo de nós, associa-se com a base do lar em geral. Que tipo de atmosfera criamos neste lar? O que atraímos para nós neste ambiente? Quais as qualidades do ambiente deste lar que mais naturalmente ressoam conosco? Tais perguntas podem ser respondidas examinando-se os planetas e os signos da 4ª Casa.
T. S. Eliot escreve que "no meu começo está o meu fim". A 4ª Casa representa nossas origens mas está também associada a como terminamos as coisas. A maneira pela qual finalizamos ou efetuamos um encerramento estará relacionada com os posicionamentos da 4ª Casa. Vênus aí termina as coisas limpa e honradamente, tudo amarrado num bonito embrulho. Saturno pode prolongar ou invejar um final. A Lua e Netuno muitas vezes saem quietos e em paz, enquanto Marte e Urano "partem para a briga".
A 4ª Casa também sugere as condições ambientais da segunda metade da vida. Tudo que há de mais profundo em nós aflora no fim. Muitos de nós, depois dos quarenta e talvez emocionados com a morte de um parente, vamos nos tornar muito mais conscientes de nossa mortalidade e de que há menos tempo a perder.
Nesta base poderemos de bom grado dar mais abertura para nos manifestarmos e desabafar nossos mais íntimos desejos e sentimentos. Além disso, consumar as experiências da vida é um pré-requisito para a autodescoberta. Assim, não é de surpreender que nossas mais profundas e íntimas motivações só emerjam quando já vivemos bastante. Uma ilustração disto é a última confissão, feita no leito de morte, em que as pessoas dramaticamente revelam verdades a seu respeito que guardaram como segredo durante décadas.
Psicoterapia, auto-reflexão, várias formas de meditação — qualquer coisa que nos leve para dentro de nós mesmos — traz as energias da 4ª Casa à tona e pode torná-las disponíveis conscientemente para nós mais cedo na vida. Em vez de negligenciar tudo que está lá dentro, é aconselhável lidar com difíceis posicionamentos nesta casa o mais cedo e não deixar para mais tarde. A 4ª Casa, assim como nosso passado, está sempre conosco.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
A TERCEIRA CASA, por Howard Sasportas
Lemos mal o mundo e dizemos que ele nos decepciona.
Tagore
Dentro do útero e mesmo alguns meses depois do nascimento, nada percebemos como separado de nós mesmos — tudo é visto como uma extensão de quem somos. Eventualmente, podemos nos dar conta de nosso corpo distinto. Descobrimos suas necessidades biológicas, o que ele quer e a espécie de equipamento que nos tem sido dado para desempenhá-las neste mundo. Um sentido de separação física da mãe é desenvolvido e depois disso vem o sentido de separação do resto do meio ambiente. Somente ao nos distinguirmos da totalidade da vida é que começamos realmente a ver e entender o que há ao nosso redor e a entrar em relação com o que encontramos. Tendo estabelecido algum conhecimento a respeito de nossas próprias limitações e de nossa forma podemos partir para explorar as limitações e as formas de outras coisas. Neste meio tempo, chegamos à 3ª Casa — a região do mapa associada a Mercúrio e Gêmeos - e já estamos suficientemente evoluídos para examinar o ambiente mais de perto, para interagir com ele e formar ideias e opiniões a respeito do que encontramos.
No desenvolvimento mental, a 3ª Casa corresponde ao estágio da vida em que começamos a engatinhar e aprendemos a andar. Contanto que nos sintamos razoavelmente seguros (o sentimento de que "mamãe está em casa") e com a condição de que o ambiente não seja repressivo demais, nós naturalmente gostamos de ter nossa maior independência e autonomia. Nós queremos crescer e explorar.
Análogo é o desenvolvimento da linguagem e a habilidade para se comunicar e identificar coisas. Tudo isso parece brincadeira, porém, ironicamente nossa autonomia em crescer e o aumento de nossas facilidades para funcionar neste mundo nos confronta com o sentimento frustrante de nossa própria inadequação e insignificância. Existem coisas à nossa volta, maiores do que nós, assustadoras e ameaçadoras; há certas regras e limites - algumas coisas que temos permissão de fazer ou dizer e somos até aplaudidos por isso, enquanto outras que fazemos ou dizemos são repreendidas com uma cara feia ou uma firme palmada. Sejamos bem-vindos ao mundo da relatividade. Que jogo de quebra-cabeça! Encontrar todas as peças e conseguir encaixá-las sozinho é uma tarefa complicada.
A maioria dos psicólogos afirma que o verdadeiro sentido de individualidade não se desenvolve até que a linguagem seja aprendida: a típica estrutura das linguagens sem conjugação de verbos ajuda a criança no estágio de crescimento a distinguir o sujeito do objeto, e desta maneira, o ator vira algo separado da ação. (Joãozinho não é a bola, mas ele pode atirar a bola.) Do mesmo modo, a criança se torna mais consciente de seu eu como entidade distinta - como "doador" ou aquele a quem se dá. Nada mais é aquela bolha amorfa.
Através da linguagem, a criança entra no mundo dos símbolos, das ideias e dos conceitos, e, pela primeira vez, é capaz de imaginar sequências de acontecimentos além do que está à disposição dos sentidos ou do corpo. A atenção pode agora ser focalizada não só naquilo que está presente, mas também nas qualidades hipotéticas e abstratas da existência. Enfim, com o advento da linguagem, a mente (ou o eu mental) se liberta e se diferencia do corpo.
Tradicionalmente, os astrólogos associaram a 3ª Casa com aquilo que é conhecido como "a mente concreta" e a 9ª Casa (oposta à 3ª) com "a mente abstrata". Recentes pesquisas científicas confirmam o que os astrólogos sempre souberam - que a mente pode ser dividida em duas partes. Estudos iniciados nos anos 60 demonstraram que os lados direito e esquerdo do cérebro correspondem a tipos diferentes de atividades mentais.3 A "mente concreta" da 3ª Casa (unida ao Mercúrio regente da 6ª Casa) é análoga às atividades do lado esquerdo do cérebro. Esta é a parte do cérebro que se encarrega dos pensamentos sequenciais e racionais, o aspecto acumulativo de fatos da mente. O lado esquerdo do cérebro controla a nossa parte que fala, analisa, esconde, memoriza e classifica nossa experiência. Os posicionamentos da 3ª Casa descrevem nossa maneira mental — como pensamos — mas com uma referência bem particular das funções de nossa parte esquerda do cérebro. Nossa mente é rápida, lenta, lógica ou vazia? Nossos pensamentos são originais ou em geral refletem o pensamento daqueles que nos rodeiam? Examine a 3ª Casa e verifique.
Da mesma forma, planetas e signos na 3ª Casa revelam nosso relacionamento ou nossa atitude diante do próprio conhecimento. Por exemplo, uma pessoa com Marte na 3ª Casa pode acreditar que conhecimento é poder, mas os que têm a Lua nesta casa podem procurar conhecimento pela segurança que lhes dá, pelo sentido de proteção e de bem-estar que adquirem ensinando como alguma coisa funciona.
Quando crianças, o que pensamos relaciona-se, na maioria das vezes, com o que encontramos em nosso ambiente próximo. Os signos e os planetas na 3ª Casa indicam "o que está lá fora" para nós. No entanto, como no caso do Ascendente e da 1ª Casa, os posicionamentos na 3ª Casa revelam nossa predisposição para perceber certos aspectos daquilo que nos rodeia, negligenciando ou omitindo outros. Por exemplo, os que têm Vênus na 3ª, "bebem" Vênus do ambiente. Eles naturalmente absorvem os aspectos mais harmoniosos e agradáveis ao seu redor — aqueles que os convidam a ser agradáveis e harmoniosos em retribuição. Mas os que têm Saturno nesta posição tendem a receber os aspectos mais restritivos e frios do ambiente, e por isso, a seus olhos este não é um local bastante seguro para se largar livremente. Neste sentido, os posicionamentos na 3ª descrevem tanto o que atribuímos ao ambiente perto de nós quanto o que tiramos dele. "Aquilo que você vê é aquilo que recebe." Tanto a galinha quanto o ovo estão vivos, bem e ciscando na 3ª Casa.
Uma das primeiras coisas com que podemos nos chocar em nosso ambiente próximo são os irmãos ou as irmãs. A 3ª Casa mostra o nosso relacionamento com eles e também com tios, tias, vizinhos, primos e parentes. (Obviamente, o pai e a mãe também estão presentes mas são tão importantes que cada um ganhou uma casa só para si.) Signos e planetas na 3ª Casa significam a natureza do vínculo entre nós e nossos parentes consanguíneos, ou então tais posicionamentos podem ser uma boa descrição dos consanguíneos ou, pelo menos, das qualidades que projetamos neles.
Por exemplo, Saturno na 3ª Casa poderia significar que encontramos dificuldades e nos conflitamos ao nos relacionar com um irmão ou o vemos como frio e sem amor, ou que vivemos a "parte de nós" que é fria e sem amor como partindo dele. É um preceito psicológico muito comum que, de uma maneira ou de outra nós tentamos coagir os outros a "agir" ou a "assumir" os aspectos de nossa própria psique dos quais estamos separados. O impulso de vida é em
direção à totalidade, e se não estamos vivendo nossa totalidade a parte exterior trará até nós os elementos que nos faltam. As energias que se encontram na 3ª Casa e que não reconhecemos como nossas não desaparecem simplesmente; em vez disso, encontram outra pessoa ou outra coisa no ambiente próximo através da qual se manifestam.
Astrólogos que dão consultas acharão proveitoso perguntar a seus clientes sobre seus relacionamentos com consanguíneos no começo da vida, à luz dos posicionamentos na 3ª Casa. Qual era sua posição em termos de importância, mais velhos, da mesma idade ou mais jovens? Havia alguma dúvida de que um consanguíneo mais jovem pudesse usurpar sua posição de centro da família? Algum consanguíneo mais idoso demonstrou sua frustração por ser destronado por ele? Os consanguíneos eram muito competitivos? Os meninos eram tratados de maneira diferente das meninas? Finalmente, informações a respeito de consanguíneos mortos, tanto antes quanto depois de nosso próprio nascimento são extremamente oportunas e na maioria das vezes costumam ser reveladas no mapa.
Normas estabelecidas com irmãos e irmãs no começo da vida podem se repetir com maridos, esposas, colegas de serviço, patrões e amigos num estágio posterior de desenvolvimento.
A 3ª Casa também dá indicações a respeito das primeiras experiências na escola. A escola nos propicia uma oportunidade de ver como somos com outras pessoas além de nossa própria família, e de compararmos o que nossos pais nos contaram com o que os outros têm a dizer. Aprendemos tanto de nossos colegas quanto de nossos professores. Durante a infância e o começo da adolescência (período de tempo tradicionalmente associado a esta casa), assimilamos um
mundo de informações que formarão definitivamente um código de regras práticas e de "verdades" pelas quais organizamos e damos sentido à vida. A 3ª Casa mostra como passamos nestes anos cheios de enganos e de formação.
Na mitologia, Mercúrio (o regente natural da 3ª Casa) era encarregado de distribuir informações dos e para todos os deuses. Do mesmo modo, todas as formas de comunicação — escrever, falar, mídias etc. — entram nesta casa. A mente da 3ª Casa traça conexões entre um campo de estudos ou ramo de conhecimento e outro, e tem prazer em explorar todas as formas de vida.
Pedacinhos de informações são recolhidos aqui e ali, e normalmente faz-se um esforço para conseguir arrumar estas partes num todo maior. O tom e o colorido de nossas experiências em pequenas viagens (normalmente dentro do país de residência) são atribuídos a esta casa. Geralmente um planeta numa casa nos predispõe a procurar o princípio que ele simboliza nos diversos planos representados pela casa; Saturno na 3ª Casa poderia provocar problemas nos estudos e/ou com parentes consanguíneos, e/ou em viagens curtas.
Seja qual for a manifestação exterior, ela é, em última análise, "um sintoma" de uma casa oculta muito mais profunda — o desejo de explorar, descobrir ou se relacionar com a vida (3ª Casa) está rodeado de temores e apreensões (Saturno) que vêm se exteriorizando para serem examinados e compreendidos.
Às vezes, há uma correlação entre ter muitos planetas na 3ª Casa e vivenciar frequentes mudanças de ambiente na idade de crescimento. Os efeitos de tais modificações numa pessoa variam de acordo com o resto do mapa. Algumas pessoas desenvolverão uma excepcional flexibilidade e uma facilidade para se adaptar a diferentes situações, enquanto outras podem se defender contra a dor de serem arrancadas das amizades que fizeram evitando relacionar-se mais profundamente com quem quer que seja. Esta última atitude, se não for enfrentada e se não se lidar bem com ela, tende a permanecer com a pessoa durante toda sua vida. É possível que outras ainda compensem uma infância desregrada tentando mais tarde construir um lar seguro a qualquer preço.
Os posicionamentos na 3ª Casa muitas vezes se relacionam com profissões, tais como ensino, escritos, jornalismo, impressão, mídia de publicidade, conferências, vendas, transportes, secretárias etc. Johnny Carson conhecido como um dos mais bem pagos anfitriões da televisão americana nasceu com a amiga conjunção de Lua com Júpiter na 3ª. Hans Christian Andersen, o escritor dinamarquês que escreveu aqueles contos de fadas que continuam a encantar todas as idades, nasceu com a imaginativa Vênus em Peixes na 3ª Casa, junto com Sol e Mercúrio. Lenny Bruce, o comediante satírico que deixa muita gente furiosa com suas piadas a respeito do que os outros consideram tabu, nasceu com o chocante Urano nesta casa.
Para concluir, a 3ª Casa descreve o contexto no qual vemos o ambiente que nos é próximo. É aconselhável lembrar que satisfação é uma função de contexto: a maneira pela qual conhecemos algo determina como vamos nos relacionar com ele.
Uma história indiana ilustra bem este ponto. Um grupo de pessoas andando por uma cidade logo depois do pôr-do-sol se depara com algo que parece ser uma cobra, no chão bem à frente delas. Aterrorizadas, ativam os alarmes, convocam ambulâncias e hospitais ficam de plantão para o caso de algum acidente. Todo mundo se apressa em voltar para a segurança de seus lares a fim de se proteger. Na manhã seguinte, ao clarear do dia com os primeiros raios de sol, verifica-se que o que todos pensavam ser uma cobra era, na verdade, apenas um grande pedaço de corda que alguém havia deixado cair no chão. Tanto barulho por causa de um pedaço de corda!
Por nos esquecermos tão frequentemente do papel que desempenhamos na constituição do mundo convém examinar a 3ª Casa e avaliar o contexto geral por meio do qual temos condições de interpretar o ambiente ao redor. Será nossa tendência ver uma cobra ou um pedaço de corda? Tornando-nos mais conscientes dos preconceitos e das atitudes sugeridas pelos posicionamentos nesta casa, isso nos possibilitará trabalhar com mais criatividade dentro desta estrutura.
Astrologia e Cura, por A.T. Mann
Cada signo do zodíaco está relacionado com partes do corpo, com órgãos ou sistemas internos, com mecanismos psicológicos e fases do processo vital de crescimento. Os vários tipos de terapia também podem ser relacionados com os signos do zodíaco.
Ao conhecermos qual o planeta responsável por um tipo particular de obstrução é fácil determinar os tipos de terapias que seriam adequadas porquanto serão consideradas do ponto de vista do signo no qual o planeta reside. Tensões podem surgir devido à ação dos planetas Marte, Urano ou Plutão, para citar apenas alguns. Quando ativos, eles porão em evidência a parte do corpo em que residem e produzirão sintomas. Males do estômago, particularmente úlceras ou câncer, estão emocionalmente relacionados com doenças que se manifestam pelo signo de Câncer, regente do estômago, e têm sua origem na estrutura do lar e do sistema familiar, que se reflete no estômago.
Virtualmente, todos os problemas estomacais estão relacionados com problemas ligados ao sistema familiar. As terapias apropriadas ao signo de Câncer são a psicoterapia, a terapia familiar e os Remédios Florais do Dr. Bach. Cada signo apresenta terapias associadas, próprias às suas influências. A roda das terapias é uma forma de entender como essas terapias atuam em conjunto para fornecer o potencial conducente à integração.
Life-Time Astrology (1984) descreve o meu modelo astrológico - único - do processo da vida no tempo, desde a concepção até a morte, tal como é visto ao redor da periferia do horóscopo. Um método direto para determinar o encontro dos planetas em períodos da vida em que eles estão ativos também é exposto, a par de uma orientação geral sobre esse novo sistema astrológico revolucionário que, pela primeira vez, integra a astrologia, a matemática e o mecanismo do tempo biológico, idéias modernas referentes à biologia e à genética e ao mais alto conhecimento da psicologia transpessoal. Na prática, A Astrologia do Tempo Biológico é um instrumento excelente porque todo o processo vital pode ser facilmente divisado em torno da roda do horóscopo, sendo superada a árdua datação de eventos da astrologia tradicional.
A Astrologia do Tempo Biológico divide a vida inteira, da concepção à transcendência, em quatro oitavas, como um guia multidimensional da vida no tempo. Através desse guia, torna-se fácil entender como surgem as doenças, que terapia escolher face a certos problemas e como a cura funciona.
Muitas terapias contemporâneas serão apresentadas, avaliadas astrologicamente e sua aplicabilidade demonstrada por meio de horóscopos-amostras. Embora possa ter sido verdade que a cada pessoa cabe um tipo particular de terapia que lhe é mais eficaz, o mundo moderno é tão complexo que necessitamos de uma série de terapias ao longo de nossas vidas que pode variar drasticamente, de acordo com a época e as circunstâncias. As necessidades de cada etapa do nosso desenvolvimento podem ser suplementadas por terapias apropriadas. Considerando que o processo de autodescoberta por tentativa e erro pode ser longo e penoso, não se deve, ser aleatório quanto à seleção de terapias alternativas.
A ideia de "plena confiança" na terapia será apresentada e suas implicações no processo curativo, descritas. De um modo geral, existe uma cega confiança entre terapeuta e cliente, assegurando que a informação transmitida durante uma sessão não passe dos dois participantes. Essa prática data do relacionamento freudiano entre terapeuta e paciente e é agora considerada uma forma obsoleta de encarar a terapia. O uso limitado das informações e sentimentos evocados durante a terapia é, frequentemente, não só contraproducente, como prolonga a duração de problemas que precisam ser discutidos abertamente. O conceito de plena confiança é um conceito novo, no sentido de suscitar questões de terapia, sejam médicas ou psicoterapêuticas, e chamar a atenção de todos os terapeutas em atividade. Isso é fundamental para evitar o que ocorre comumente, isto é, o acupunturista trabalha na energização de uma pessoa toda terça-feira de manhã e depois o psicoterapeuta dirige suas energias no sentido de acalmá-la toda quinta-feira à tarde. Em prol de uma integração de terapias, é preciso que exista, por parte de terapeutas e clientes, o desejo de abrir o modelo terapêutico, de forma a incluir todos os terapeutas. A própria família do cliente precisa ser encorajada a ampliar seu conhecimento do sistema e dos meios pelos quais os problemas estão sendo enfocados.
Uma série de diagnósticos astrológicos ilustrará horóscopos de uma ampla gama de pessoas, portadoras de desequilíbrios ou de doenças, assim como de pessoas que sofrem de câncer, de leucemia, de AIDS, de doenças transmitidas sexualmente e de anorexia nervosa.
Todo o mecanismo do nascimento é visto como um fator crítico e desvalorizado no que tange à subsequente saúde física, mental e emocional. A moderna arte de cura pela Astrorradiônica, desenvolvida pelo autor, será apresentada e demonstrará a possibilidade de diagnosticar e tratar uma pessoa a distância, através do modelo energético do horóscopo. Os mecanismos e a filosofia desta sutil arte de curar proporcionarão uma nova perspectiva em termos de saúde e anatomia.
Ao conhecermos qual o planeta responsável por um tipo particular de obstrução é fácil determinar os tipos de terapias que seriam adequadas porquanto serão consideradas do ponto de vista do signo no qual o planeta reside. Tensões podem surgir devido à ação dos planetas Marte, Urano ou Plutão, para citar apenas alguns. Quando ativos, eles porão em evidência a parte do corpo em que residem e produzirão sintomas. Males do estômago, particularmente úlceras ou câncer, estão emocionalmente relacionados com doenças que se manifestam pelo signo de Câncer, regente do estômago, e têm sua origem na estrutura do lar e do sistema familiar, que se reflete no estômago.
Virtualmente, todos os problemas estomacais estão relacionados com problemas ligados ao sistema familiar. As terapias apropriadas ao signo de Câncer são a psicoterapia, a terapia familiar e os Remédios Florais do Dr. Bach. Cada signo apresenta terapias associadas, próprias às suas influências. A roda das terapias é uma forma de entender como essas terapias atuam em conjunto para fornecer o potencial conducente à integração.
Life-Time Astrology (1984) descreve o meu modelo astrológico - único - do processo da vida no tempo, desde a concepção até a morte, tal como é visto ao redor da periferia do horóscopo. Um método direto para determinar o encontro dos planetas em períodos da vida em que eles estão ativos também é exposto, a par de uma orientação geral sobre esse novo sistema astrológico revolucionário que, pela primeira vez, integra a astrologia, a matemática e o mecanismo do tempo biológico, idéias modernas referentes à biologia e à genética e ao mais alto conhecimento da psicologia transpessoal. Na prática, A Astrologia do Tempo Biológico é um instrumento excelente porque todo o processo vital pode ser facilmente divisado em torno da roda do horóscopo, sendo superada a árdua datação de eventos da astrologia tradicional.
A Astrologia do Tempo Biológico divide a vida inteira, da concepção à transcendência, em quatro oitavas, como um guia multidimensional da vida no tempo. Através desse guia, torna-se fácil entender como surgem as doenças, que terapia escolher face a certos problemas e como a cura funciona.
Muitas terapias contemporâneas serão apresentadas, avaliadas astrologicamente e sua aplicabilidade demonstrada por meio de horóscopos-amostras. Embora possa ter sido verdade que a cada pessoa cabe um tipo particular de terapia que lhe é mais eficaz, o mundo moderno é tão complexo que necessitamos de uma série de terapias ao longo de nossas vidas que pode variar drasticamente, de acordo com a época e as circunstâncias. As necessidades de cada etapa do nosso desenvolvimento podem ser suplementadas por terapias apropriadas. Considerando que o processo de autodescoberta por tentativa e erro pode ser longo e penoso, não se deve, ser aleatório quanto à seleção de terapias alternativas.
A ideia de "plena confiança" na terapia será apresentada e suas implicações no processo curativo, descritas. De um modo geral, existe uma cega confiança entre terapeuta e cliente, assegurando que a informação transmitida durante uma sessão não passe dos dois participantes. Essa prática data do relacionamento freudiano entre terapeuta e paciente e é agora considerada uma forma obsoleta de encarar a terapia. O uso limitado das informações e sentimentos evocados durante a terapia é, frequentemente, não só contraproducente, como prolonga a duração de problemas que precisam ser discutidos abertamente. O conceito de plena confiança é um conceito novo, no sentido de suscitar questões de terapia, sejam médicas ou psicoterapêuticas, e chamar a atenção de todos os terapeutas em atividade. Isso é fundamental para evitar o que ocorre comumente, isto é, o acupunturista trabalha na energização de uma pessoa toda terça-feira de manhã e depois o psicoterapeuta dirige suas energias no sentido de acalmá-la toda quinta-feira à tarde. Em prol de uma integração de terapias, é preciso que exista, por parte de terapeutas e clientes, o desejo de abrir o modelo terapêutico, de forma a incluir todos os terapeutas. A própria família do cliente precisa ser encorajada a ampliar seu conhecimento do sistema e dos meios pelos quais os problemas estão sendo enfocados.
Uma série de diagnósticos astrológicos ilustrará horóscopos de uma ampla gama de pessoas, portadoras de desequilíbrios ou de doenças, assim como de pessoas que sofrem de câncer, de leucemia, de AIDS, de doenças transmitidas sexualmente e de anorexia nervosa.
Todo o mecanismo do nascimento é visto como um fator crítico e desvalorizado no que tange à subsequente saúde física, mental e emocional. A moderna arte de cura pela Astrorradiônica, desenvolvida pelo autor, será apresentada e demonstrará a possibilidade de diagnosticar e tratar uma pessoa a distância, através do modelo energético do horóscopo. Os mecanismos e a filosofia desta sutil arte de curar proporcionarão uma nova perspectiva em termos de saúde e anatomia.
Assinar:
Postagens (Atom)