sábado, 16 de julho de 2016

Planetas Relacionados com o Inconsciente, por Dane Rudhyar




A. O inconsciente pessoal

O modo através do qual os planetas Netuno e Plutão foram descobertos serve como ilustração simbólica da relação entre consciente e inconsciente. Descobriu-se que certas anomalias no comportamento de Urano somente poderiam ser explicadas buscando-se a influência de outro planeta além de sua órbita. Essa influência foi cuidadosamente medida e o lugar de Netuno determinado aproximadamente, após o que os astrônomos foram capazes de encontrar esse planeta no lugar apontado analiticamente.

A existência de muitas analogias psicológicas, neuroses e estados supranormais de um modo parecido levou alguns psicólogos a tentarem demarcar um domínio psicológico desconhecido, cuja existência até agora temos percebido em grande parte pelo modo como perturba o comportamento consciente. É evidente que nosso ego consciente nem sempre é o mestre de sua casa, que às vezes poderes que parecem surgir do nada ou de alguma bruma ancestral sobrepujam nossa consciência. Foram-se nossas pequenas categorias e barreiras, estão esquecidos o nosso senso de autopreservação e nosso treinamento social — e nos movemos perplexos, levados por comandos profundos, expressos por forças não reconhecidas.

C. G. Jung talvez tenha sido o primeiro dos psicólogos modernos a reconhecer que o domínio dessas forças desconhecidas na realidade era duplo. Nisto ele apenas seguia (talvez inconscientemente) a antiga tradição cabalística que fala de uma "memória da Natureza", de uma "luz astral" que também é dupla, inferior e superior, enganosa e falsa em suas partes interiores, celestial e pura nas superiores. A interpretação de Jung do inconsciente pessoal e do coletivo naturalmente é muito diferente externamente do ensinamento oculto referente à luz astral, mas este pode um dia provar ser necessário para sustentar e aprofundar o primeiro.

Como já vimos, o inconsciente pessoal é a soma total de conteúdos reprimidos ou submersos da psique de um homem. Freud iniciou um estudo desse domínio, em que se escondem as sementes de neuroses e para o qual relegamos todos os sentimentos, pensamentos, impressões que recusamos admitir no santuário de nosso ser consciente, e dos quais fugimos com medo, repulsa ou ódio reprimido. A vida nos trouxe esses fatos psíquicos e os preencheu de energia vital, mas, em vez de permitir que esta energia vital se esgote em correlação com nosso ego, na esfera de nosso pensar, sentir e comportamento consciente, mandamos de volta, por assim dizer, o fluxo dessa energia e empurramos os pensamentos ou sentimentos, as impressões ou intuições perturbadoras para dentro de cavernas escuras de onde a memória não possa mais trazê-los à luz do consciente. Pode haver feridas e decadência enviando emanações venenosas para o consciente, ou a pressão subterrânea que exercem pode levar-nos inconscientemente a feitos e pensamentos assustadores para nosso ego consciente.

A astrologia provavelmente não tem nenhum meio de verificar esses conteúdos escondidos e reprimidos do inconsciente pessoal, mas ela contém em seu simbolismo certos fatores que nos permitem discernir e analisar a ação das tendências repressivas que distorcem e barram o fluxo normal das funções psicológicas. Em outras palavras, ela pode detectar o refluxo de energia psíquica do consciente para o inconsciente à medida que ocorre na psique. Pode determinar a polaridade de funções psicológicas, algumas das quais atuam numa direção repressiva e voltada para dentro, outras que operam do modo normal, do centro para fora.

Chegamos aqui ao fator de retrogradação planetária. Devido ao fato de que da Terra vemos o sistema solar de um ponto um tanto periférico e não a partir do centro, os outros planetas do sistema aparentemente se movem de maneira irregular. Às vezes, parecem estar parados, outras em que se movem para trás na direção oposta à de seu curso normal ao redor do Sol. No primeiro caso, falamos de uni planeta estacionário; no segundo caso, de um planeta retrógrado. Não sendo esses os casos, o movimento do planeta é direto. Estas características geocêntricas dos planetas (Sol e Lua não são incluídos, pois seus movimentos são sempre diretos) psicologicamente são de grande importância. Direto, retrógrado, estacionário: esta trindade de modos de movimento planetário corresponde a alguns elementos básicos do que podemos chamar de dinâmica psicológica. Por trás desses tipos de movimento encontramos o fator ainda mais geral da velocidade planetária (neste caso, velocidade aparente). À luz do observador terrestre, a velocidade em que os planetas se movem através do céu muda constantemente. Estas variações de velocidade correspondem a variações de intensidade funcional dos fatores psicológicos simbolizados pelos planetas. A intensidade funcional varia como resultado de muitas causas, mas as variações de velocidade são ao menos uma das causas, em termos simbólicos. Isto pode ser demonstrado especialmente quando consideramos as variações de velocidade de Mercúrio e da Lua, mas se aplica a todos os planetas.

Quanto mais rápida a velocidade, mais rápido é o fluxo de energia psíquica na e através da função considerada. Quando o planeta fica estacionário, a velocidade obviamente é igual a zero. A função simbolizada demonstra ter estabilidade extrema. Um tipo peculiar de rabugice pode muito bem descrever essa condição. Aquele fator particular na maquiagem consciente da pessoa não sairá. Resistirá a mudanças. Oferecerá um tremendo poder de inércia. Como era no início, assim será para sempre; Pessoas nascidas com planetas estacionários sempre apresentarão uma característica dessa natureza. É claro que isto será enfatizado se o planeta estacionário também for o re- gente da carta ou estiver fortemente colocado. O fator psicológico correspondente ficará quieta mas teimosamente preso a si mesmo na consciência, aconteça o que acontecer.

Poderiam ser dados muitos exemplos, mas a dificuldade é que em geral as características psicológicas representadas por um planeta estacionário não são óbvias, exceto do ponto de vista da análise psicológica. O Saturno estacionário no mapa de Richard Strauss é uma boa ilustração de forte egocentrismo e de um senso de forma igualmente forte. Sua posição em Libra adiciona um significado artístico.

Diz-se que um planeta estacionário é "estacionário direto" ou "estacionário retrógrado' de acordo com a direção de seu movimento subsequente. Em análise psicoastrológica, um planeta pode ser considerado estacionário no espaço de alguns minutos do ponto exato em que ele muda a direção de seu curso. O fator velocidade aqui envolvido é puramente relativo, e praticamente tudo o que é necessário ou útil a ser considerado é se a velocidade do planeta está acima da média (caso em que ele está em movimento rápido) ou abaixo da média (movimento lento).

Os planetas retrógrados simbolizam o retorno da libido (energia psíquica ou força vital) do consciente para o inconsciente. Se um planeta está retrógrado, a função que ele representa não é ativada para operação consciente. Os conteúdos psíquicos relativos a essa função, em vez de emergirem diretamente no consciente e assim influenciarem nosso comportamento diretamente, são temporariamente devolvidos ao inconsciente. Isto não significa necessariamente que sejam despojados de sua energia. Eles se fundem com outros conteúdos inconscientes, depois reaparecem mais tarde na consciência através da atuação de uma dessas funções do inconsciente que agora estudaremos. Estas correspondem às dos planetas Urano, Netuno e Plutão.

Podemos considerar, de início, o planeta Saturno, construtor do complexo-ego. Através de diferenciação e isolamento, Saturno separa certa quantidade de energia vital e a coloca numa forma. Constrói paredes para proteger e diferenciar a entidade particular assim condicionada e isolada de seus arredores. Em outras palavras, Saturno monta um sistema de defesa contra o mundo exterior enfatizando as características separadas do ego. "Eu sou esse certo atributo, e ninguém mais o é ou pode tocá-lo."

Se Saturno está retrógrado no nascimento, o nativo não sentirá isso de um modo natural e espontâneo. Não sentirá que isso seja verdade, especialmente quanto ao mundo exterior. Seu mecanismo de defesa saturnino não estará dirigido contra as invasões do mundo exterior — ao menos não imediata e espontaneamente. Ele não se sentirá fortificado contra o mundo externo — porque o padrão de seu ser consciente não é muito rígido. Ele, facilmente, se curvará a influências externas, que constantemente tenderão a tirar de foco seu padrão de consciência. Será um tanto indefeso em relação a contatos externos, e parecerá tímido, introvertido, deslocado, sem autoafirmação — ou então assumirá uma atitude arrogante, para escudar sua posição frágil. Então, seus modos poderão ser abruptos e explosivos.

Saturno retrógrado dirigirá esse poder de cristalização de padrões e construção de paredes para dentro. Haverá autoafirmação contra influências internas. A pessoa cederá externamente, mas mostrará um grande poder de resistência contra sugestões internas, inconscientes. Ela se fortificará espontaneamente contra impactos vindos do inconsciente coletivo, da tradição racial e padrões coletivos. Desenvolverá um senso de destino, separando-a internamente de seus iguais, enquanto muitas vezes será incapaz de resistir à pressão das exigências feitas por amigos e igualmente inimigos. Será obstinadamente autocentrada em seu mais profundo self, enquanto poderá ser incapaz de resistir a qualquer pedido de favores ou presentes.

Também pode ser que um homem com Saturno retrógrado se veja muito preocupado com a construção ou o fortalecimento de sua individualidade em crescimento. A função diferenciadora então funciona para dentro, fortalecendo o campo magnético do self e cristalizando seus conteúdos numa forma ainda inconsciente. Ele cederá fora apenas para ser mais capaz de resistir dentro. Esse fator astrológico é encontrado em pessoas que precisam resguardar sua individualidade contra influências psíquicas, religiosas ou raciais particularmente fortes em seu ambiente familiar imediato. O inimigo está no inconsciente, pressionando a partir de dentro. O passado está ameaçando o presente. Portanto a primeira tarefa psicológica é de autoproteção e autoafirmação interior. Assim a função Saturno opera para dentro, e seu efeito em geral será sentido apenas indiretamente na consciência e no comportamento, misturado com outros elementos inconscientes. Nicolau II, o último czar da Rússia, tinha Saturno retrógrado. Ramakrishna, o grande místico hindu, e o vidente Swedenborg nos dão outros exemplos.

Nestes casos, a Lua (oposto polar de Saturno) se vê, por assim dizer, desprotegida. A Lua nunca pode estar retrógrada, mas, por causa do seu movimento ao redor da Terra, está sempre ou dentro ou fora da órbita terrestre. Quando dentro (mais perto de uma conjunção solar), ela opera mais em conexão com a energia solar do self. Quando fora (mais perto de uma oposição solar), os sentimentos são mais "extrovertidos" ou dominados pela mente objetiva. Poder-se-ia dizer também que, fora da órbita da Terra, a Lua segue o influxo centrífugo de Marte, o planeta de todos os começos; quando dentro, ela cede às atrações centrípetas de Vênus, o planeta da consumação e realização. Se a Lua está dentro da órbita da Terra e Saturno está retrógrado, os sentimentos são dirigidos para dentro; temos um caso claro de introversão. O amor dirige-se mais para uma imagem interna que para pessoas reais e verdadeiras. Em qualquer caso, os sentimentos são um tanto desprotegidos quando Saturno está retrógrado. Eles não estão firmemente ancorados no ego consciente e/ou podem causar-lhe muitos problemas.

Quando Júpiter está retrógrado, a função de compensação da alma está voltada para dentro, afetando a consciência quase exclusivamente através do inconsciente, isto é, por meio de sonhos e projeções semelhantes. Se ao mesmo tempo Urano for forte, essas projeções do inconsciente podem ser extremamente vívidas. Se Júpiter for fraco por posição em signo, isto pode significar que a compensação está dotada de pouca energia, mas se ao mesmo tempo ele estiver forte por posição em casa, a compensação, mesmo fraca, é trazida constantemente à consciência pelo poder das circunstâncias. Esta observação se aplica mais ou menos a todos os planetas. Aspectos com outros planetas podem introduzir outros fatores e fatores contrários. Júpiter numa casa angular (primeira, quarta, sétima e décima) é típico da força por posição de casa. Se direto, o nativo é conscientemente dirigido por seu Destino, em geral para um propósito de grupo. Ele pode experimentar esse poder interior sob forma de alguma grande personalidade levando-o a finalidades dirigidas. Isto pode ser assim, especialmente se Júpiter for retrógrado. Se estacionário, o nativo fica quase totalmente sujeito a esse poder que o rege. O imperador da Áustria, Francisco José, cujo governo parece ter sido o verdadeiro centro da precipitação do carena da Europa, tinha, de acordo com Alan Leo, Júpiter retrógrado na quarta casa em quadratura com Marte no Descendente. Sua carta como um todo era extraordinária. Bismarck também tinha Júpiter retrógrado. Aristide Briand, o famoso Premier francês, tinha Júpiter e Saturno retrógrados em conjunção na sua quarta casa.

Mercúrio retrógrado simboliza uma mente voltada para dentro, seja por causa de uma tendência mística ou por causa de uma lentidão de percepção congênita e uma inabilidade de projetar pensamentos para fora. De acordo com Marc Jones, a posição de Mercúrio antes e depois do Sol representa respectivamente avidez e deliberação mental. "Química mental" pode ser mostrada pela ligação dessas posições de Mercúrio às velocidades do movimento da Lua. Paul Clancy traçou um paralelo entre a agilidade mental e a velocidade do movimento de Mercúrio. Externamente, um Mercúrio retrógrado pode causar uma mente lenta, mas de nenhum modo isto é necessariamente assim. Pode igualmente representar uma mente preocupada em grande parte com o inconsciente coletivo, a mente de um vidente. Abdul Baha, que os bahai consideram personagem divino, tinha Mercúrio e Saturno retrógrados em trígono. Mercúrio estava em Gêmeos seis graus à frente do Sol; a Lua, em conjunção com a grande estrela da Pérsia, Régulo, também em trígono com Netuno em Aquário. Em outros casos, temos a base para complexos mentais peculiares. Um exemplo de uma mente vacilante é dado por Luís XVI, o rei da França executado pelos revolucionários. Ele tinha Mercúrio retrógrado em conjunção exata com o Sol, e também Saturno e Urano retrógrados.

Marte retrógrado indica que os impulsos para ação não fluem do ego para fora em expressão espontânea, mas se movem de volta para o inconsciente, onde se unem com alguns conteúdos inconscientes (muitas vezes imagens coletivas). É o poder inerente a esses que realmente impele o nativo à ação. Ação não vem de impulsos espontâneos, claramente conscientes, mas de uma motivação mais ou menos inconsciente. Dentre os muitos planetas retrógrados da carta de Annie Besant, última líder da Sociedade Teosófica, encontramos Marte. Seus atos frequentemente surgiam de motivos ocultos em seu inconsciente, pessoal ou coletivo.

Uma condição como essa pode afetar as forças sexuais. Elas podem ser devolvidas para o inconsciente, formando complexos e neuroses. Por outro lado, podemos lidar com uma tentativa definida de sublimar a natureza-desejo, como nas várias disciplinas da yoga. No caso de Annie Besant, notamos também que ela se tornou conhecida primeiro como um apóstolo do controle da natalidade.

Com Vênus retrógrado temos uma condição na qual os frutos da experiência não são trazidos ao ego consciente e normalmente assimilados ou liberados através de vários tipos de emoção. Existe frequentemente uma forte falta de ajustamento às condições do viver exterior. A vida emocional é insatisfeita e conteúdos inconscientes perturbam o fluxo natural de consciência e amor. Existe, às vezes, uma ênfase forte na criação artística e geralmente, colorida por sentimentos anormais. Uma ansiedade por tóxicos pode vir associada com isso. O poeta romântico Alfred de Musset tinha Vênus estacionário retrógrado.

Não se deve esperar de planetas retrógrados muita informação, pela razão de eles apenas indicarem a direção de funcionamento de algumas funções psicológicas, mas não o que acontece como resultado desse movimento em fluxo para trás, coisa que deve ser avaliada com base na carta como um todo. Um menino e uma menina, em vez de irem trabalhar na fábrica, tomam um trem e vão para a cidade. Podemos saber que eles foram para a cidade, mas isso não nos dirá como se comportarão e o que encontrarão nessa cidade. Do mesmo modo, sabemos que, quando um planeta está retrógrado, a função que simboliza não opera do modo assim chamado normal. A energia psíquica usada por essa função vai na direção do inconsciente. O que lhe acontecerá lá depende de todos os outros fatores da carta.


B. O inconsciente coletivo

Nos planetas estudados até agora encontramos um meio de analisar a formação e constituição do ser humano individual tal como ele funciona no meio da coletividade da qual é parte. A família, a nação, a raça, o grupo religioso, o clube, o sindicato e a fábrica são vários tipos de coletividade. O indivíduo age no meio deles e pode ajudar a criá-los ou transformá-los. Mas eles também atuam sobre o indivíduo. Se ele se esquiva de contatos e experiências na coletividade, torna-se inibido e adquire complexos ou atitudes especiais, que os planetas retrógrados, junto com outros elementos astrológicos, nos ajudam a analisar.

Se o indivíduo enfrenta normalmente seu grupo e a sociedade em geral, então a sociedade o influencia. O coletivo nele, aquilo que é idêntico em todos os homens de seu grupo, impõe sobre o indivíduo seus padrões atemporais. A sociedade segura o indivíduo através de seus instintos e tradições. Imagens primordiais batem nas paredes internas de sua consciência pedindo licença. Essas imagens podem ser divinas ou diabólicas. São a voz da totalidade compelindo as partes individuais do todo a ouvir. Os subtons são vibrações de luz, canções de almas liberadas que puxam para cima, em direção à meta final do Homem.

Esta voz do coletivo, à medida que age sobre indivíduos, é simbolizada pela trindade dos planetas remotos: Urano, Netuno e Plutão. E significativo que estes se tornaram publicamente conhecidos numa época em que a humanidade está atravessando as barreiras de isolamento de credos e dogmas e, materialmente, se não espiritualmente, todos os homens fluem para o oceano de uma humanidade comum. Urano tornou-se conhecido quando as revoluções francesa e americana quebraram o peso do feudalismo e medievalismo; Netuno, quando o humanitarismo e um renascimento do espírito religioso (ou de seu polo oposto, materialismo) varreram o mundo; Plutão, quando a humanidade está entrando em seu caminho em direção a novas estruturas de relacionamento social.

Na vida do indivíduo, esses planetas atuam de várias maneiras e em graus muito variados de intensidade. Quanto mais universal e "voltada para o todo" a consciência, mais construtiva e efetiva a ação desses agentes planetários da totalidade. No não-regenerado, eles podem ou ficar individualmente inefetivos ou então tornar-se símbolos da destruição do ego encapsulado. De qualquer modo, eles chegam ao ego individual como forças do além da consciência, guardando mensagens, choques inesperados ou causando, àquele que os deuses condenaram, cegueira espiritual e insanidade. Eles podem simbolizar o ápice espiritual da humanidade coletiva — seja ele chamado de Igreja Triunfante, Assembleia dos Abençoados, ou a Morada Branca dos Adeptos Iniciados. Eles também podem representar aquilo que os jornais chamam sociedade, ou ainda o poder da massa. Podem ser os agentes daquelas forças coletivas que os homens aprendem a conhecer sob o nome de religião. Eles até mesmo falam de eventos cósmicos além de nosso sistema solar e trazem ao iniciado contos de nossa galáxia e prognósticos dos espaços além. Em qualquer caso, eles são a totalidade falando às partículas individuais.

Se nos limitamos à abordagem psicológica e ao relacionamento entre o inconsciente coletivo e o ego particular, dizemos que Urano é o poder projetivo do inconsciente, Netuno seu poder dissolutivo e Plutão seu poder regenerador. Urano traz para o consciente representações e impulsos simbólicos. Isto pode ocorrer em sonhos ou em consciência de vigília. Sob Urano, vêm as inspirações do poeta, do artista, do inventor, do cientista, do homem de estado, do reformista religioso. Urano é caracterizado por seu poder de formação de imagens. Regenera o consciente trazendo-lhe visões do todo, imagens e ideias da Mente universal. Em termos estritos, ele não "regenera". Em vez disso, projeta imagens e ideias que têm o poder de transformar, sementes da nova consciência. Transformação e criação são as palavras-chave desse planeta revolucionário, que despeja constantemente novos quanta dinâmicos no coração do ego — perturbando, estimulando, misturando, rompendo a alma do descontentamento divino, a loucura do anarquista e do sem lei. Genialidade ou insanidade, inspiração ou perversão.

Netuno atua de modos mais sutis e misteriosos. Como um ácido poderoso, corrói as cristalizações do ego, sempre chamando o particular e o atado ao estado sem limites do universal. É o amor insistente, compassivo, transbordante do todo pela parte separada, que pode nem saber que é uma "parte" — um amor que pode ser o mais suave, mas que em geral é tão pleno de horizontes cósmicos e compaixão universal, que nossos sentimentos pequenos e limitados se retraem diante dele num respeito sutil. Netuno é o homem transfigurado pelo Cristo interior, mas ele também pode ser o homem perdido num "paraíso artificial", pedindo às drogas que o levem para além da jaula da percepção normal e da rotina diária, ao domínio dos sonhos e visões.

Cada força que nega limitações e tende a nos tornar inteiros, que mina a força do ponto de vista particular e injeta nele o fluido dos desejos não-terrenos; cada agente que dissolve cristalizações e põe a lente do ego fora de foco, que nos envolve com ânsias divinas através dos dias da segunda puberdade e nos arrebata para longe da família e do lar, para dentro da paz branca dos conventos ou para a fermentação viva da selva — pertencem todos ao símbolo de Netuno.

Em termos fisiológicos, a parte corpórea regida pelo signo zodiacal em que Netuno está colocado carece de diferenciação e crescimento focalizado. Parece não-desenvolvida. A energia vital não conseguiu fazer-se suficientemente concreta. Quando se trata de Urano, ao contrário, muitas vezes encontramos crescimento anormal, transbordamento de algum tipo, não tanto uma abundância de força vital quanto uma tensão de energia que cria gênios ou loucos. Netuno é o símbolo do mar, do não-diferenciado, de matéria cósmica em estado pré-natal ou de nirvana e compaixão infinita. Mostra como a sociedade atua sobre o indivíduo, como ele age sobre a sociedade, construtiva e destrutivamente. As notas fundamentais de Netuno são redenção, universalização ou desfocalização.

Plutão é o planeta do segundo nascimento, o regente dos Mistérios — de todo tipo de assembleia grupai, de organização parlamentar, em que se decidem novas políticas para a coletividade, ou de cerimoniais, através dos quais, indivíduo e sociedade se harmonizam de acordo com a elaboração de uma nova lei de vida. Júpiter também lida com organizações governamentais e com cerimônias religiosas — mas dentro dos limites impostos por Saturno. Em outras palavras, Júpiter simboliza deuses raciais e religião baseada em parentesco e consanguinidade. Representa hierarquia e autocracia — política ou religiosa —, isto porque Saturno antes de tudo determinou o ego, o Um, como regente dentro de certos limites. Júpiter atua dentro dessas fronteiras. A lei de Zeus segue a de Cronos-Saturno. Júpiter, como o guru, o mestre espiritual ou guia religioso, envolve elementos de relacionamento pessoal.

Plutão, por outro lado, é estritamente impessoal e não reconhece nenhum Deus ou rei pessoal; ele reconhece apenas um presidente eleito, por assim dizer. Seu rei é a lei. Ele é impiedoso e absolutamente justo — mas justo em termos de uma lei que muitas vezes transcende nossa compreensão limitada, e pode parecer cruel. Plutão relaciona o ego como um centro maior de existência, parte consciente, parte inconsciente. Leva àquilo que C. G. Jung chama self, a totalidade do ser. Simboliza o estágio final do processo de individuação, o segundo nascimento, o "tornar perfeito", iniciação, o "nascimento do Deus Vivo". Pois Plutão é Deus nas profundezas, Deus concretizado e real dentro e no centro da personalidade. Assim, a personalidade se transfigura numa Pessoa Viva. Nesse sentido Plutão é o símbolo da encarnação de Deus, da Irmandade Apostólica, reflexo da ordem cósmica zodiacal, da Morada Branca na Terra.

Plutão representa a Lei do self-total em oposição à Lei do ego particular (Saturno-Júpiter). Seu reino vem depois que este ego tenha sido impregnado de idéias-semente e arquétipos uranianos, e tenha perdido toda sua resistência e seu orgulho através do batismo netuniano. Então Plutão, tendo avaliado o ego nas balanças em que se equilibram consciente e inconsciente, concreto e abstrato, particular e universal, inicia-o na Companhia dos Perfeitos. Portanto sua nota fundamental é renascimento, também a concretização do Todo no Um universal.

De todos os aspectos astrológicos que já foram sugeridos como símbolos (ou causas) da Grande Guerra, apenas um parece válido. Plutão estava em conjunção com o solstício de verão em junho de 1914, e vinha evidentemente de sua primeira conjunção por um breve período durante setembro de 1912, quando era planejada a guerra dos Bálcãs. O solstício de verão é o ponto de fecundação cósmica. A vida se concretiza no útero. O mistério do "verter sangue" também pode acompanhar vastas fecundações cósmicas — ou iniciações.

Plutão estava entrando em Capricórnio em 1761-62. Isto foi perto da época que Swedenborg mencionou como a de descenso à Terra da "Nova Jerusalém". Dessa época em diante, tomava forma a Revolução Americana. Em 1938, Plutão entra em Leão. Isto poderia marcar o início de uma nova era. De acordo com o simbolismo numérico da Pirâmide, esta era começou em 16 de setembro de 1936.

É interessante o fato de o surgimento de Netuno e Plutão no cenário astrológico ter correspondido a uma época em que diferentes aspectos do inconsciente obtiveram reconhecimento público. Plutão foi descoberto exatamente 84 anos (o ciclo de Urano) depois de Netuno (1846). Em 1848 a Europa presenciou um grande levante revolucionário. É a data do Manifesto Comunista de Marx. Marca o início da propagação do espiritualismo. O grande movimento espiritual, o bahaísmo, começou em 1844. De qualquer forma, era um tempo de entusiasmo religioso e de ideais humanitários — verdadeiramente um tempo netuniano. De modo semelhante, Urano se tornou conhecido no meio de uma era revolucionária que acordou todo o mundo ocidental para a percepção de novos arquétipos de relacionamento social. Plutão foi visto em 21 de janeiro de 1930, quando o Sol entrou no signo de Aquário. A década anunciava promessas que rivalizavam em importância com as coisas que tornaram Urano e Netuno conhecidos. Os ideais do New Deal são tipicamente plutonianos à medida que temos nesse New Deal uma tentativa de incluir todas as classes sociais num tipo integral de organização em que os dois fatores, individualismo e coletivismo, serão harmonizados. Netuno torna inteiro, mas também leva à ausência de forma.

Plutão leva a mensagem de forma concreta, de organização. Se muitas vezes o vemos como desorganização é porque só podemos descobrir o primeiro estágio do processo. A Grande Guerra significou desorganização, mas testou o poder de homens se organizarem numa escala jamais sonhada antes. Ensinou eficiência e precisão. Criou a maquinaria que o homem poderá usar construtivamente, se assim o desejar.

Não é de todo improvável que, sob o regime de Plutão, como Paul Clancy sugere, estejam próximas as provas concretas e científicas da imortalidade humana. Alice Bailey anuncia o mesmo, e não há dúvida de que Plutão lida com todas as manifestações concretas da nova ordem.
Urano, Netuno, Plutão simbolizam processos que levam o inconsciente e seus poderes subliminais ao limiar da consciência e do ego. São portanto intermediários entre o sistema solar em si e a galáxia. Cometas também são intermediários, mas de uma qualidade mais transitória. Podemos conceber o    inconsciente em termos de uma acumulação de conteúdos conscientes tanto pessoais quanto coletivos; na verdade precisamos fazer isso se considerarmos a consciência ligada a organismos físicos. Mas é claro que o ocultista afirmará que o inconsciente coletivo é produto mais de Seres supra-humanos e supraterrestres do que das gerações passadas da humanidade. Ele considerará, astrologicamente, as estrelas fixas como símbolos dessas entidades cósmicas, como a intuição despertada as pode perceber vagamente além dos domínios conhecidos das mentes humanas. Urano, Netuno, Plutão são, assim, elos entre as estrelas e os planetas trans-saturninos — entre os "deuses" e a humanidade.

Há ainda mais um assunto que precisa ser abordado: qual é o significado dos três planetas remotos quando retrógrados? É provável que o que esteja indicado seja urna ação de retomo do elemento coletivo à coletividade, mas com o poder acrescentado de o indivíduo torná-lo efetivo de um modo novo. Para ser mais claro: cedo ou tarde raças e grupos sempre degeneram. Os indivíduos que compõem essas coletividades se omitem de agir de acordo com os instintos mais profundos e as verdades arquetípicas que, biológica ou espiritualmente, pertencem à humanidade. Da soma de todas essas omissões particulares decorre uma perversão geral, uma decadência da coletividade. Uma raça (ou uma nação, ou um grupo religioso) envereda por maus caminhos, então se cristaliza ou se desintegra. O que indivíduos causaram, indivíduos precisarão reajustar. Surgem reformadores, que proclamam as antigas verdades esquecidas, provavelmente sob uma nova roupagem. Esses homens são guiados pelo espírito vivo da humanidade coletiva para reformar o corpo doente das coletividades das quais são partes. Essa ação reformadora da coletividade pela coletividade através do indivíduo é simbolizada pelos movimentos retrógrados de Urano, Netuno, Plutão.

Urano "direto" reforma, ou melhor, transforma o ego consciente; quando "retrógrado", o que está simbolizado é a reforma do inconsciente, das profundezas escondidas das quais emerge o ego. Em alguns casos, pode significar que todos os quartos escuros estão sendo arejados e que os esqueletos da família estão sendo despejados; em outros, significa que o homem é na verdade o agente de algum tipo de impulso reformador que deverá mudar a mente de sua raça ou grupo. As imagens uranianas que ele projeta são antes de tudo impregnadas de uma energia iconoclástica. Elas não apenas desafiarão o consciente da raça, mas gerarão tempestades no inconsciente. Netuno retrógrado muitas vezes é encontrado onde são descobertas e denunciadas imposturas religiosas, onde o orgulho interior subconsciente é sutilmente aniquilado. Místicos muitas vezes têm um fator desse tipo em evidência em suas cartas, especialmente quando positivamente se posicionam contra os credos de sua época. Quanto a Plutão retrógrado, só se pode supor que ele tenderia a liberar a destruição organizada. Isto, numa carta individual, poderia estar ligado a um protesto peculiar contra a ordem estabelecida da sociedade.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Planetas Relacionados com o Consciente, por Dane Rudhyar



Agora estamos considerando o domínio do ego particular, que é o campo de consciência centrado na percepção: "eu sou isto ou aquilo". Esta percepção do "eu" consciente de que ele é aquele ser particular e nenhum outro é o primeiro fator básico na vida consciente. Toda entidade viva precisa primeiro ser ela mesma como uma forma exclusiva e definida. Este é o aspecto Saturno. Então ela precisa manter-se, e este fator de automanutenção se elabora através do princípio de ação compensatória, que é o fundamento de toda vida orgânica. Este é o aspecto Júpiter. Por fim, ela precisa reproduzir-se através de algum tipo de ação criativa — o que astrologicamente se refere a Marte.

Estes três planetas (Saturno, Júpiter, Marte) devem ser considerados os três planetas positivos ou "masculinos" e, por razões que veremos adiante, formam pares com três outros planetas, considerados negativos ou "femininos", respectivamente: Lua, Mercúrio e Vênus. Os termos masculino e feminino não são particularmente felizes. Seria melhor dizer que Saturno, Júpiter e Marte iniciam processos de vida. Eles atuam como agentes causais, enquanto a Lua, Mercúrio e Vênus estabelecem ou vivificam, completam ou fazem frutificar os mesmos processos. Portanto consideraremos estes seis "planetas do consciente" como três pares, estando cada par associado a uma das três atividades de vida básicas mencionadas acima. A razão deste procedimento será explicada depois; fazê-lo agora complicaria desnecessariamente o assunto.

Saturno-Lua. Na mitologia grega, Saturno é o regente da Idade de Ouro, a primeira idade da infância e inocência. Refere-se ao primeiro processo através do qual a força vital universal se torna diferenciada, limitada, particularizada como célula viva — como a semente inicial. Um processo de diferenciação como esse é a condição absolutamente necessária para a existência individual, isto é, existência como uma entidade auto-suficiente separada.

Em termos psicológicos, Saturno portanto simboliza aquele processo que leva à compreensão do "Eu sou". No entanto, isto pode não ser uma percepção tão simples como pode parecer e pareceu a muitos. Assim o psicologo moderno fala do "complexo-ego", como definido previamente: "um complexo de representações que constitui o centro de meu campo de consciência".

Dentro do "campo de consciência", a vida flui; em outras palavras, acontecem mudanças, a energia é liberada em ações e reações: Esta "energia psíquica", que está contida e opera no campo de minha consciência (dentro dos limites de meu ego, simbolicamente estabelecido por Saturno), astrologicamente é representada pela Lua. A Lua é aquela parte do Sol que está englobada por Saturno — se nos for permitida uma sentença astronomicamente tão peculiar. E aquela porção da energia vital do ser total da qual eu tenho consciência como eu mesmo, como o ego consciente que sou. Saturno se refere à estrutura abstrata desse ego. A Lua derrama "energia psíquica" nessa estrutura — e o resultado é uma entidade consciente, uma certa entidade viva em particular. Portanto a relação Lua-Saturno é a relação forma-energia. Fuma condiciona energia, apesar de existir na verdade uma profunda ação recíproca, muito longa para ser discutida numa pesquisa tão breve.

Júpiter-Mercrfrio. Júpiter é um símbolo muito mais misterioso do que a maioria dos astrólogos parece acreditar. Sua reputação como sinal de boa sorte parece não resistir ao teste da análise psicológica, mesmo que, num sentido abstrato e último, o processo que ele simboliza sempre leve a um aumento e expansão da consciência — mas às vezes através de provas bem terríveis. Em geral Júpiter é oposto a Saturno como expansão é oposta à contração. Saturno diferencia a entidade particular da matriz universal de vida. Júpiter leva ao ego limitado aquilo que compensará sua unilateralidade, e assim torná-lo-á novamente inteiro e universal.

A função de Júpiter pode ser expressa do melhor modo na psicologia prática ou analítica pelo termo compensação. O caráter autocompensatório da psique, como um organismo, foi mencionado em nosso capítulo que' tratou de psicologia analítica. Assim, Júpiter refere-se a anima e animus da teoria de Jung. Mas significa mais. E a função de compensação em todos os seus possíveis aspectos. Marc Jones define Júpiter como "o ponto de precipitação da alma de dentro de si para a vida tangível e a existência definida". Ele mostra "o ponto de expressão do verdadeiro estado de self, do propósito de encarnação". Isto também significa "compensação" num sentido metafísico. Porque a alma pode ser considerada como aquilo que constantemente procura harmonização e integração, e o "propósito de encarnação" como aquilo que neutraliza desarmonias e falhas do passado — em direção ao estabelecimento de harmonia num nível plenamente consciente.

Portanto, Júpiter é o poder de ação correta em nós, a voz do nosso verdadeiro Destino. Nosso ego consciente (Saturno-Lua) é o resultado de nosso passado, a síntese de nossas limitações e de nossa genealogia. É o presente como a soma total do passado. Mas Júpiter é o futuro puxando esse presente para a frente. E o destino que é para ser nosso, o destino que equilibrará nossas inadequações passadas, seguindo-o nos tornaremos inteiros. A alma e o ego são os dois polos de uma relação que opera por compensação. Assim, para uma consciência masculina, a alma, se projetada como uma imagem, normalmente é uma mulher — a musa, o eterno feminino impelindo-nos para cima etc. Para uma consciência feminina, a alma é o herói, a imagem crística, o Adonai, Siegfried, o vitorioso etc. Ela é sempre aquilo que nos completa, que nos torna inteiros. Também é, para o devoto, o Deus encarnado, o salvador, o professor espiritual ou guru, aquele personagem divino que vem a nós como representante do Todo, como quer que possamos imaginar essa totalidade. Portanto, Júpiter é o caminho de Deus em direção à humanidade. E religião. E cerimonial. Também é o rei, como um símbolo da totalidade do Estado, aquele cuja justiça e força (idealmente) compensa a fraqueza e as falhas dos cidadãos. Num estado democrático, é a constituição.

Mercúrio torna a função de Júpiter operacional. E portanto ele é inteligência, o veículo da alma. Mas, ai! um veículo que muitas vezes joga fora o personagem divino que carrega e se descontrola, incitado pelos humores da Lua ou dominado pelo poder cristalizador separativo de Saturno. Como regente do sistema nervoso, Mercúrio leva sensação ao ego, para que o ego possa aprender a lição de relacionamento com os objetos do mundo exterior. Ele unifica as reações do corpo. É o servo de Zeus-Júpiter — mas, tão frequentemente, um mensageiro sem valor e ladrão! A Lua, o polo feminino de Saturno, tem humores e muda constantemente. Mercúrio, que tem uma relação semelhante com Júpiter, é sempre inquieto e se amolda ao objeto de sensação ou de pensamento. A yoga hindu em grande parte é um sistema de concentração através do qual a função Júpiter subjuga a função Mercúrio.

Se Júpiter assume a posição de um Deus vingativo — se não existe nenhum outro modo de reagir contra as cristalizações de Saturno —, Mercúrio é capaz de se tornar igualmente destrutivo e desordenar as fases da Lua, pois Mercúrio é sempre mais ou menos inimigo da Lua — a não ser que Saturno se tenha tornado subserviente àquelas funções do inconsciente que passaremos a estudar.

Marte-Vênus. Com este par, lidamos com as forças centrifuga e centrípeta da experiência. Marte "mostra a tendência da vida para expressar-se, movendo-se para fora sem consideração especial pelas condições externas". É o "primeiro impulso de ser em toda a revelação externa do self' (Marc Jones). Em outras palavras, é o desejo de se afastar do centro, o Eros primordial, a libido, à medida que flui para fora através da psique. Simboliza todos os começos, todos os impulsos de iniciar, autoprojeção como uma liberação de pura energia.

Aquilo que sai da psique como Marte volta para ela como Vênus. Vênus é o efeito experimentado como um resultado do modo como o mundo exterior reage a esse sair Marcial. O impulso marcial volta para casa preenchido de experiências, provavelmente machucado e possivelmente com sabedoria. Vênus é o fim da experiência e aquilo que reunimos como resultado dela, portanto é o provedor de consciência, de conhecimento e sabedoria para o ego. É simbolizado por abelhas, porque abelhas trazem de volta para a colmeia o mel reunido das flores, que também são o último produto da planta. Portanto é o símbolo de todas as artes, de toda sabedoria social, de tudo que amadurece a partir da experiência. Também significa emoções, pois obtemos emoções, ou efeitos, como resultado de nossos contatos externos. Do relacionamento surgem alegria ou dor, canções ou desespero, arte ou sensualidade. A alma do relacionamento é amor. O amor de Marte é o amor que é desejo, é autoprojeção, é força bruta em direção à autorreprodução em e através de outros, mas sem nenhuma consideração pelos outros. O amor de Vênus é o amor sábio, o amor que surge do verdadeiro intercâmbio, do companheirismo altruísta: amor-sabedoria.

Este é então o esboço da trindade consciente dos poderes vitais básicos, cada um ativo e reativo, que a astrologia simboliza como Saturno-Lua, Júpiter-Mercúrio, Marte-Vênus. Cada entidade viva precisa primeiro ser ela mesma como uma forma definida (Saturno), então precisa manter-se como um sistema autocompensatório (Júpiter), fmalmente precisa reproduzir-se através de ação criativa (Marte). "Ser" manifesta-se através de sentimentos (Lua), "manutenção" opera através de inteligência ou instinto (Mercúrio), "autorreprodução" é demonstrada no poder de gerar filhos ou ideias (Vênus).

Tal a esfera do consciente. Chegamos agora ao processo através do qual o consciente transcende ou destrói a si mesmo.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Sol como Integrador, por Dane Rudhyar



A astrologia, sendo um sistema de interpretação simbólica de fatos astronômicos significativos, obviamente precisa diferenciar firmemente entre o Sol — uma estrela que dá vida e luz, que é o centro do sistema astronômico ao qual pertencemos — e planetas que são meros refletores ou transmissores de luz, sendo a própria Terra um deles. Se nos referimos ao ego como um "complexo de representações que constitui o centro de meu campo de consciência e parece possuir um grau muito alto de continuidade e identidade", é claro que seu símbolo astrológico é a própria Terra como vista a partir do local de nascimento do nativo. O campo contínuo de consciência de qualquer homem é o que está contido dentro dos limites de seu horizonte e, por implicação, aquilo que, apesar de abaixo do horizonte, emergirá em seu campo de consciência.

Em outras palavras, o quadrãngulo da carta astrológica (horizonte e meridiano — e especialmente Ascendente e Meio-do-Céu) representa a forma do campo de consciência. O ego pode ser considerado o momento de nascimento em si, o centro da carta — ou, numa simbolização ainda mais precisa, o ápice da pirâmide construída sobre os quatro ângulos da carta. O ego não é o integrador, pois é apenas um ponto abstrato. Nem o Ascendente ou o Meio-do-Céu são fatores integradores, pois eles também só têm implicações estruturais. Eles determinam a forma que deverá ser adotada pelo processo de integração. Eles não simbolizam a qualidade de energia, pela liberação da qual esse processo será, ou poderá ser, finalmente concluído.

Construir o campo de consciência como una estrutura claramente formada centrada corretamente no ego é como construir um olho perfeito com a capacidade de focalização precisa através da lente e dos músculos oculares, de forma que a imagem refletida sobre a retina caia exatamente sobre o "ponto amarelo" da retina, o único provido de sensitividade total à luz. É o que o grande especialista ocular e filósofo, Dr. Bates, chamava fixação central, e esta operação requer prática muscular e prática de visualização ou imaginação, incluindo relaxamento.

Num sentido psicológico, "fixação central" refere-se ao uso do intelecto — o mecanismo de focalização consciente — de acordo com as leis da lógica e do pensamento formal. Muito, se não a totalidade, da filosofia grega clássica e pós-clássica (especialmente desde Aristóteles), toda a ciência ocidental (especialmente desde a Renascença) e a filosofia científica moderna (por exemplo, Bertrand Russell) constituíram e ainda constituem um vasto treinamento coletivo de "fixação central" mental. No domínio psíquico-espiritual, alguns tipos de práticas esotéricas, algumas derivadas da visão de mundo budista no Oriente, outras da filosofia de Pitágoras, visavam uma semelhante "fixação central" das energias da alma numa estrutura formada de "Eu Sou-ismo". Como já foi dito, foi por volta do século VI a.C. que este problema de focalização mental começou a dominar a visão da elite da humanidade. Este processo de "fixação central" no campo de consciência vem continuando pelo ciclo europeu (especialmente desde Abelardo), e produziu o homem ocidental, com aquilo que Jung chamou de maneira tão pitoresca "câimbra do consciente".

Tal como o Dr. W. H. Bates pedia a seus pacientes que relaxassem seus olhos imaginando um ponto totalmente negro, o Dr. Jung pede aos seus que relaxem seu intelectualismo consciente para "deixarem as coisas acontecerem" e com práticas de relaxamento psíquico, tal como o uso da "fantasia" criativa espontânea.

Se então os eixos da carta representam a estrutura do campo de consciência — a estrutura do "olho", simbolicamente —, o Sol representa a "luz" liberando a energia (os fótons), por meio da qual a visão se torna possível. Num sentido real, o olho como um órgão de visão é moldado estruturalmente pela natureza da luz. De modo semelhante, o ego — o "eu" consciente — é moldado pelo poder emanado do self. Portanto apropriadamente se diz que o ascendente e os outros "ângulos" da carta distribuem o poder do Sol, como veremos em nosso capítulo seguinte. O Sol é a energia vital. Os ângulos da carta são os canais para a distribuição e "transformação" dessa energia solar no campo de consciência.

No entanto o Sol não deveria ser considerado o símbolo do self. Ele representa o poder do self, mas o self não é apenas poder. É poder em relação à forma. É poder operando por meio de uma forma e regenerando substância. Em outras palavras, o self, se é que sua natureza pode ser determinada astrologicamente, é a relação entre o Sol e os eixos, horizonte e meridiano. Ainda mais precisamente, é a relação entre o significado das posições zodiacais ocupadas pelo Sol e pelos quatro ângulos — significado em termos de signos zodiacais (ou subdivisões de signos), de grau e de relação angular entre essas posições. Estas últimas se referem aos aspectos entre Sol, Ascendente e Meio-do-Céu; e, mais ainda, à posição de casa do Sol.

Esta posição de casa do Sol denota a fase de estado individual de ser e o período de vida no qual e através do qual o poder integrador do Sol estará operando mais fortemente. Referindo-nos à tabulação prévia dos significados das casas e ao esquema dos ciclos de 28 anos, estes dois elementos de personalidade e destino podem ser facilmente determinados — desde que, é claro, se conheça o momento exato de nascimento. A posição zodiacal do Sol e o grau em que está mostrarão a qualidade desse poder integrador em si mesmo.


Tomemos por exemplo a carta de Einstein. O Sol está no vigésimo quarto grau de Peixes na décima casa. Portanto a qualidade do poder integrador de seu self será: síntese, consumação, meditação e introspecção. Mas o Sol estando na décima casa, da atividade pública, da profissão e do pensamento (como uma função do self individual), esse poder atuará através dessas características de décima casa. A posição do Sol também indica que ocorreu uma intensificação do poder significativo de seu destino quando Einstein estava em seu 222 ano, isto é, em 1901. Então ele se tornou inspetor de patentes em Berna, Suíça, e foi provavelmente por aquela época, pouco depois da publicação dos estudos de Planck sobre teoria quântica, que foram desenvolvidos ao menos os rudimentos da teoria da relatividade. Ela foi levada à atenção do mundo científico em 1905, quando o "ponto de self' de Einstein entrou em conjunção com Plutão. Além disso, o grau do Sol, que, como já dissemos, "fornece urna chave para o significado criativo inerente a todas as atividades e focalizações", carrega este símbolo, dos mais apropriados: "Uma pequena ilha no meio do oceano; seus felizes habitantes criaram um mundo próprio". O que poderia ser mais significativo na carta de um homem que até mesmo escreveu sobre "universos insulares" e criou novas visões cósmicas!

Podemos dar, como outra ilustração, a carta da rainha Vitória, que simboliza não apenas uma personalidade, mas, ao menos por implicação, também a era que carrega o seu nome. O Sol acabava de se levantar, no seu nascimento, e isto ocorreu cerca de uma hora depois da lua nova em Gêmeos. Temos aqui urna personalidade de raros dons intelectuais (Gêmeos), urna era que teve toda a rigidez e concepções estreitas do intelectualismo superenfatizador, e que, além disso, presenciou o crescimento assustador dos meios de transporte e viagens e de distúrbios nervosos. O significado da décima segunda casa é mostrado no fato de, após a morte de seu marido, a rainha Vitória ter vivido praticamente reclusa pela maior parte de sua longa vida e de ela atuar melhor quando por detrás do cenário e através de algum grande primeiro-ministro, como por exemplo Disraeli. O símbolo do grau do Sol dá o significado de aristocracia e energia de individualidade ativa. Podemos dizer que toda a era vitoriana é uma manifestação típica de décima segunda casa — uma somatória, uni período de precipitação cármica, o foral de um ciclo anterior para um começo admiravelmente novo, talvez agora perto de se manifestar.


O momento mais significativo de sua vida veio quando, aos 56 anos, foram feitos planos definidos para a consagração do império britânico e quando como gesto inicial, seu filho foi enviado para a Índia. Então o seu "ponto de self' havia chegado ao seu Sol, e sua personalidade havia realmente se tornado um símbolo mundial, manifestando plenamente o poder de seu destino — e assim de seu verdadeiro self. Sua consagração como "imperadora da Índia" veio um ano mais tarde, quando o "ponto de self' estava em trígono com Júpiter e em sua primeira casa. Isto e o jubileu de Diamante de 1897 (quando o "ponto de self' entrou em conjunção com Júpiter na décima casa) foram os gestos exteriores de poder. Mas o verdadeiro estado de self da rainha não pode ser encontrado neles, mas nos movimentos mais escondidos "por detrás dos panos", tão apropriadamente simbolizados pela décima segunda casa.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Lilith na Casa 12




Se tomarmos a Casa 12 como a Casa das provas, aqui se indicariam provas de sacrifício. Se renuncia ao prazer e à liberdade. Hospitais, cárcere, real ou simbólico, conventos, drogas como evasão.

Se desliga com a vida ativa, com o mundo. Há um culto ao secreto.

Intervenções cirúrgicas, problemas psíquicos, ou investigações dos sofrimentos dos demais.

Para alguns esta é a Casa do Karma, onde se expiam os pecados de vidas anteriores.

Favorável para trabalhar com o inconsciente. Um belo dia, libertam-se as pulsões inconscientes, aparecendo uma nova personalidade, se liberta do próprio cárcere.

O medo de ser julgado negativamente pode fazer-lhe rejeitar a maior parte de suas emoções e tudo cai em um sentimento de impotência.

Planetas e Personalidades, por Dane Rudhyar



Definimos "personalidade" como "uma síntese de padrões de comportamento, como a soma total de todos os movimentos externos e emoções de um ser humano: o ritmo total de suas atividades-vida — do modo como ele caminha e aperta seus lábios a seu comportamento no campo de batalha ou num palco de concerto". Dissemos que, como sem atividade não poderia haver "personalidade", podemos falar dela como um complexo de atividades. Tais afirmações são prova suficiente de que não damos ao termo o significado um tanto pejorativo que os teósofos e estudantes de filosofia esotérica normalmente lhe atribuem.

Não consideramos personalidade como representante do ser "externo" em contradição com a assim chamada individualidade ou ser "interno". Sentimos que essa oposição ou dualismo não é especialmente útil no nosso atual estágio de desenvolvimento humano. Antes, tende a focalizar o comportamento humano de um modo que é mais ético e devocional que integrador e estético — este último termo sendo utilizado como o definimos previamente. Personalidade, para nós e presumivelmente para homens como o general Smuts e a maioria dos psicólogos modernos, é o ser humano todo em funcionamento. Não é o ser humano todo em essência ou de modo abstrato, mas em sua manifestação real e à medida que é perceptível a outras personalidades funcionando no mesmo nível de operação.

Nenhum astrólogo — bem como nenhum psicanalista — pode interpretar uma vida e destino num nível superior àquele em que ele mesmo funciona. Um escriturário de mente estreita num escritório de uma pequena cidade não pode conhecer a personalidade real de um grande santo ou gênio. É claro que ele poderá emitir julgamento sobre ela ou possivelmente adorá-la, mas não está em posição de conhecê-la e avaliá-la como uma personalidade — apesar de poder reagir muito fortemente a algumas de suas características. Personalidade significa totalidade in actu. E não existe nenhuma percepção real ou no mínimo nenhuma compreensão da personalidade a não ser que a totalidade de seus componentes seja apreendida, conscientemente ou através de sentimentos intuitivos. E ninguém pode apreender essa totalidade a não ser que esteja no mesmo nível de desenvolvimento humano ou se, num nível superior, for capaz de colocar-se no nível inferior, temporariamente.

Essas observações são necessárias porque as pessoas muitas vezes falam da personalidade como se fosse uma coisa absolutamente óbvia, apreendida de modo semelhante por qualquer um. Reagir a algumas fases de uma personalidade e compreender ou mesmo ter noção da realidade — isto é, da totalidade humana que é a própria personalidade — são duas operações diferentes. Personalidade, como uma síntese de padrões de comportamento, pode abranger muitas fases de atividades extremamente difíceis de apreender. Não. estamos nos referindo aqui aos dédoublement exagerados de personalidade, que produzem dois tipos absolutamente distintos de comportamento em relação a um organismo físico, mas meramente ao fato de a personalidade poder implicar séries de atividades que transcendem o desenvolvimento consciente normal da humanidade como ela é hoje. Personalidade é um "balancete" mostrando o relacionamento sempre em mudança entre fatores conscientes e inconscientes, individuais e coletivos, no ser humano total. As pessoas cujos seres internos estão repletos de projeções das camadas mais profundas do "inconsciente coletivo" são, como personalidades, complexas e difíceis de entender.

Somente seus pares podem conhecê-las, conhecer o padrão total de seu comportamento em todos os níveis. Pois, como Walt Whitman escreveu em versos livres de beleza críptica:

Only themselves understand themselves and the like of themselves,
And souls only understand souls.
[Somente eles entendem a si mesmos e aos
seus iguais,
e Almas somente entendem almas.]


Sem dúvida uma das maiores conquistas da técnica astrológica é o poder que se adquire, através de seu domínio, de ver numa carta de nascimento o projeto de uma personalidade total. Já vimos como se pode isolar e interpretar os fatores individuais e coletivos, que constituem, por assim dizer, as bases da personalidade. Mas o padrão da tapeçaria só será apreendido pelo estudo daquelas entidades astrológicas que são focos de cor, de atividade, de significado. Essas entidades, consideradas em suas infinitas correlações e não como pontos isolados, formam todas juntas o desenho da tapeçaria da vida. Revelam a personalidade como um padrão de comportamento multiforme, simbolizando desde os mais triviais aos mais exaltados e transcendentais modos de atividade fisiopsicológica.

Essas entidades astrológicas se colocam sob duas categorias gerais. Primeiro, os planetas em si, incluindo Sol e Lua; segundo, pontos abstratos derivados dos relacionamentos entre as órbitas dos planetas (nodos) ou das posições dos planetas em relação ao horizonte e meridiano (rodas). Este capítulo será devotado a uma breve análise do significado básico de planetas em termos de análise da personalidade; o seguinte, a um estudo dos nodos e das mais importantes dentre as rodas ou partes.

No entanto, precisaremos mais uma vez dividir nosso campo de estudo e classificar os planetas ao menos de duas maneiras essenciais. O primeiro tipo de classificação lida com o poder motivador e a fonte de atividades simbolizada pelos planetas. Deveremos distinguir entre planetas que se referem ao consciente e os que se referem ao inconsciente — com os termos consciente e inconsciente como são usados por C. G. Jung e definidos num capítulo anterior (p. 89), Astrologia e psicologia analítica). Afora essas duas categorias, devemos colocar o Sol como símbolo das energias integradoras do self, que é descrito por Jung como o "centro da totalidade da psique". A psique inclui conteúdos inconscientes e conscientes. Integrar esses conteúdos — isto é, conscientemente assimilar os conteúdos do inconsciente — é a essência do processo de individuação, do qual o Sol é o símbolo ativo.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Lilith na Casa 11



Exigência extrema com as amizades. Seletividade terrível, rejeitam-se amigos que desmerecem a seus olhos o que conduz a uma solidão real, não simbólica. Amigos mortos ou desaparecidos.

O destino vai fazendo um vazio ao redor, há uma fatalidade que impede de fazer ou ter amigos: mortes, suicídios ou comunicação impossível.

Dificuldade para encontrar o próprio lugar em um grupo. Ao inserir-se em um grupo social, não é compreendido.

Amigos que se tornam inimigos.

Enquanto os projetos são permanentemente replantados e postos em juízo, ou são demasiado ambiciosos e, portanto, nem sequer são considerados seriamente.

O Zodíaco como o Ciclo do Indivíduo Planetário, por Dane Rudhyar



Até agora consideramos os signos zodiacais principalmente a partir da concepção de serem uma série de energias cósmicas projetadas, por assim dizer, pelo Macrocosmo (as Doze Hierarquias) sobre o microscomo; em outras palavras, como uma série de operações formativas, ou fases de construção desse microcosmo. Esta é a visão equatorial-coletiva. Mas também podemos pensar o zodíaco como o ciclo de casas do Indivíduo planetário Que "mora no pólo norte", e para Quem um ano é um dia, com seis meses de luz do Sol (Aries a Libra) e seis meses de escuridão (Libra a Aries), ao menos em termos teóricos. Nessa abordagem, o zodíaco é interpretado em termos de consciência mais que em termos de energia.

Uma interpretação-consciência desse tipo é muito valiosa, pois coloca os signos do zodíaco em relação com as casas, e assim se mostra uma interpenetração de significados que nos auxilia a entender muito das afirmações tradicionais confusas quanto ao significado de signos e casas. Além disso, desenvolve-se inn tipo de fórmula algébrica que pode ser facilmente demonstrada como sendo a subestrutura por debaixo de todas as interpretações dramáticas e mitológicas do zodíaco conhecidas por estudantes de astrologia e ocultismo. A mais notável dessas interpretações indubitavelmente é a do livro The Zodiac, de Sampson. Alice Bailey deu uma outra interpretação tradicional quando relatou, numa série de palestras, a história dos Doze Trabalhos de Hércules. Hércules é o Sol e seus Doze Trabalhos são as doze operações cósmicas do zodíaco vistas de um ponto de vista regenerador mais que formativo.

Em trabalhos astrológicos comuns, os signos do zodíaco são representados como os fatores básicos de significado, e as casas modelam seus significados a partir deles. Mas, em nossa opinião, encontramos no padrão de doze partes do mostrador de casas uma fórmula básica de desdobramento individual, e é este padrão - um padrão puramente abstrato — que estabelece a série mais universal de significados.

Este, é claro, é um padrão puramente numerológico lidando com o significado dos números de um a doze inclusive, mas os números recebem significado por serem, por assim dizer, projetados geometricamente. Esta projeção é a roda ou o mostrador de casas. Assim, Aries adquire significado por ser uma projeção orgânico-equatorial do número um; Touro, do número dois etc. até Peixes, como número doze. O eixo 1-6 representa o dualismo de self e do não-self, de "eu" e do "tu". O eixo 4-7 representa o dualismo da experiência: subjetiva e objetiva .— ou de comportamento privado e público. Esperamos que o quadro que se segue ajude a esclarecer o assunto. Ele deveria ser estudado em associação com a tabela de significados das casas da p. 171. Manuais astrológicos modernos, como os escritos por Alan Leo, C. E. O. Carter, A. G. Libra, Parker etc., estão cheios de referências adicionais valiosas quanto ao significado dos signos do zodíaco, isoladamente e em grupos. Como Carter escreve:

A tarefa de interpretar o texto zodiacal tem sido tentada por muitos escritores, cada um abordando o trabalho a partir de sua própria concepção. Está distante de meus desejos sequer tentar divergir tacitamente de suas conclusões ou procurar superar qualquer coisa que tenha sido escrita antes. Os conteúdos do circulo de Sabedoria Zodiacal são inexauríveis e apresentam os mais variados aspectos da integralidade da Verdade.
The Zodic and the Soul, p. 14.

A última sentença desta citação nos fornece a chave para muita coisa que poderia ser desenvolvida extensamente, especialmente o termo conteúdos. O zodíaco representa, dissemos, o elemento de "substancia". Mas dos conteúdos de vida de qualquer entidade viva. As casas nos revelam o modo pelo qual esses conteúdos estão distribuídos numa forma de existência ou destino. Os planetas são pontos focais e símbolos de todas as atividades vitais. Os graus nos fornecem a chave para o significado criativo inerente de todas as atividades e todas as focalizações.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Lilith na Casa 10



Destinos importantes, especiais, fora de série.

Pode-se simbolizar, a nível coletivo, a imagem de um mito, de alguém que sai do rebanho.

Atitude aristocrática, altiva, distante.

Marginalidade, rejeição a entrar em um molde, escolhe uma vida diferente da maioria.

Também é frequente naqueles que se tornam iniciadores, em aqueles que ajudam a tomar consciência: psicólogos, psiquiatras, astrólogos, curandeiros, certas medicinas, temas esotéricos.

Se encontra naqueles que trocam frequentemente de trabalho, por ser contestadores dos métodos de trabalho.

São um desafio a toda ocupação, querem ir mais longe.

Rejeitam as leis do jogo da sociedade e passam a vida denunciando e assinalando as falhas. Fazem de sua vida uma rebeldia permanente.

Atitude suicida com o êxito social, renuncia um belo dia ao poder e à parcela de glória através de um harakiri profissional.

O Significado e a Classificação dos Signos do Zodíaco, por Dane Rudhyar





Na antiga astrologia baseada na concepção ptolomaica do universo, as casas eram divisões estáticas do espaço acima e abaixo da Terra plana. Não sendo uma expressão de movimento planetário, não podiam ser uma expressão de Vida. Elas lidavam puramente com circunstâncias externas, estabelecendo departamentos fixos para as atividades da Vida. Portanto a base de toda as classificações de operações de vida era o zodíaco e o percurso cíclico do Sol por seus signos. Os equinócios e solstícios serviam muito naturalmente para efetuar uma divisão do zodíaco em quatro grandes quadrantes correspondentes às estações. Esta divisão se baseia precisamente na relação do plano equatorial da Terra com a eclíptica, o caminho visível do Sol. Os equinócios estão nos pontos de interseção destes dois planos; os solstícios, nos pontos em que estes dois planos estão mais distantes um do outro. Isto nos dá os quatro signos cardinais do zodíaco: Aries e Libra nos equinócios de primavera e outono — Câncer e Capricórnio nos solstícios de verão e inverno.

Estes quatro signos foram vistos como os tempos cruciais do ano, períodos de atividade especial da força vital e de liberação especial de poder. No entanto, era claro que os tipos de liberação que ocorriam durante esses quatro períodos cruciais eram de naturezas diferentes. Nos equinócios, vinham os tempos de maior impulso vital; nos solstícios, de menor impulso; como, quando observamos as oscilações de um pêndulo, vemos seu movimento mais rápido ao cruzar o ponto de equilíbrio, e mais lento quando alcança as posições extremas.
Para os antigos, a eclíptica parecia oscilar para o sul e para o norte com relação à Terra, completando uma oscilação completa a cada ano. Para nós, modernos, são os polos da Terra que executam o movimento oscilatório com relação ao Sol, apontando em direção ao Sol ou na direção oposta. Quando o polo norte se coloca de frente para o Sol, isto é verão no hemisfério norte; quando ele esconde sua face do Sol, é inverno. A mesma oscilação pendular, mas vista à luz da relação equador-eclíptica ou da relação polo-Sol.

O resultado, em ambos os casos, é que os signos equinociais do zodíaco, Aries e Libra, são de grande impulso positivo, enquanto os signos solsticiais, Câncer e Capricórnio, são de impulso negativo. Por outro lado, nos pontos solsticiais as polaridades de vida (o yang e yin da filosofia chinesa) são respectivamente experimentados em sua qualidade mais pura. O mais puro yang (com o mínimo de mistura yin) é experimentado pela Terra no solstício de verão; o mais puro yin (com o mínimo de mistura yang) é experimentado pela Terra no solstício de inverno, enquanto nos equinócios as duas polaridades estão misturadas igualmente.

Temos assim dois conjuntos de fatores. Nos equinócios, o impulso de vida é maior. Nos solstícios, as qualidades das polaridades da vida são sentidas em seu modo mais puro. Isto nos dá o significado da caracterização dos quatro períodos cruciais do ano em termos de quatro "elementos": Fogo e Ar, Água e Terra. Fogo (Aries) e (Ar) Libra são expressões do impulso, Água (Câncer) e Terra (Capricórnio) são expressões de qualidades de vida, ou polaridades. Nos equinócios, temos extremos de movimento e atividade (em direção ao Sol ou se afastando dele, em direção positiva ou negativa); nos solstícios, encontramos potencialmente os extremos de realização (ou das polaridades yang ou yin).

Os termos yang e yin, no entanto, não podem nos confundir. Eles realmente significam objetivo e subjetivo, exterior e interior; assim, de acordo com costumes antigos, eles se referiam ao homem e à mulher. De Aries para Libra: este é o período de viver objetivamente, o período em que a vegetação se manifesta. É o domínio da folha. De Libra para Aries: este é o período de viver subjetivamente, o período em que a vegetação é latente, escondida abaixo da crosta da Terra. É o domínio da semente. Folha e semente são dois grandes símbolos de exterior e interior, de objetividade e subjetividade.

Portanto, Aries representa o extremo de impulso em direção à condição de folha, em direção ao extremo de realização na (e através da) realidade objetiva, que é Câncer — a planta completada no fruto: maturidade objetiva.

Por outro lado, Libra representa o extremo de impulso em direção à condição de semente, em direção ao extremo de realização na (e através da) realidade subjetiva, que é Capricórnio — o nascimento da consciência crística interna: maturidade subjetiva.

Assim, Fogo (Aries) é movimento em direção à manifestação objetiva: o desejo primordial de manifestação, a sede de vida num corpo; Tantha — a vontade de viver como um self separado — na filosofia budista. Fogo se realiza em Água (Câncer): a urgência de ser se realiza na seiva das plantas, a linfa e leite que sustenta toda a vida animal, e também a alma pessoal.
Ar (Libra) é movimento em direção à realização subjetiva — a procura do Deus interior, a sede de "liberação" ou de Nirvana. Liberação de quê? Da escravidão ao corpo e ao existir separado. É movimento para longe do sol físico e em direção ao além. Ar se realiza em Terra (Capricórnio): a procura de Deus se satisfaz no nascimento do corpo crístico interior — a Terra espiritual, a nova Jerusalém.

Em termos de nossa nomenclatura prévia — individual, coletivo e criativo —, temos o diagrama.

Isto pode parecer conflitante com o que dissemos do zodíaco como um todo, referindo-se ao coletivo. Mas precisamos compreender que individual e coletivo são termos correspondentes. O corpo é "coletivo" para o self individual, mas é um todo, e portanto um organismo individual. Assim, quando falamos de "indivíduo" com relação ao zodíaco, falamos dessas energias cósmicas que estão construindo a totalidade de qualquer todo. Totalidade e existência individual são quase sinônimos — o mesmo fato visto a partir de duas concepções diferentes.

Fogo é individual porque é o princípio que anima toda a existência individual. É aquilo que se eleva da Terra em direção ao Sol. É o fogo da germinação que impulsiona o núcleo da semente em direção ao Sol, em direção ao Deus onipresente.

Ar é "coletivo" porque é aquilo que leva todo indivíduo e corpo separado à sutil comunhão da respiração. Ar liga pulmões e sangue de todas as entidades que respiram. E aquilo que se eleva da água em direção ao espaço todo-abrangente. E a emanação de todos os corpos, o perfume de todas as vidas. Nele e através dele todas as vidas alcançam unidade na semente que envolve tudo, que é o Deus-do-Mistério: ESPAÇO.

Água é a manifestação "criativa" da urgência de ser um indivíduo separado. Terra é a manifestação "criativa" da urgência de alcançar um estágio de solidariedade espiritual absoluta. Solidariedade é para o espírito o que solidez é para a matéria. Nos dois casos, isto significa Terra. No âmbito do escopo da vida de um homem em particular é preciso que se estabeleça solidariedade entre todos os centros vitais orgânicos e magnéticos antes que o corpo crístico — um símbolo ou um signo dessa solidariedade perfeita — tome forma.

O leitor poderá estar perplexo pelo modo como fazemos com que a oposição entre individual e coletivo coincida com os equinócios, enquanto encontramos a oposição entre yang e yin coincidindo com os solstícios. A contradição é mais aparente que real. A dualidade de princípios ou polaridades chinesa referia-se a fatos concretos, enquanto nós, quando falamos de individual e coletivo, estamos lidando com princípios de movimento, ou digamos, com tendências de consciência. Em outras palavras, colocamo-nos num nível abstrato, que obviamente muda nossa focalização. Em termos práticos, a diferença é muito pequena. Câncer tradicionalmente rege o "lar" e Capricórnio a "vida pública" ou "profissão" — na verdade, a esfera de criatividade individual e de criatividade coletiva.

Acontecem muitas confusões na aplicação do simbolismo astrológico porque as várias abordagens da interpretação não são diferenciadas com suficiente clareza. Quando o manual relaciona todas as coisas que Câncer deve representar, na verdade está empilhando uma massa de "significados", resultados de diferentes tipos de interpretação. Câncer significa uma coisa de um ponto de vista, outra coisa de outro ponto de vista. Este fato justifica esta nossa atitude, que busca um esclarecimento e uma classificação de significados. Pode-se tentar interpretar os signos do zodíaco a partir de vários pontos de vista, cada um resultando num determinado conjunto de significados, mas, a menos que se perceba o modo como cada conjunto é produzido e a lógica de sua produção, necessariamente continuará a haver confusão.

Até agora lidamos com o fundamento mais geral e arquetípico da interpretação zodiacal, considerando os quatro momentos básicos do ciclo do ano. É evidente que é aconselhável, e de fato necessária, uma sequência nessa diferenciação, e há dois modos essenciais pelos quais isso pode ser feito. A estrutura quádrupla dos signos "cardinais" (Aries-Libra, Câncer-Capricórnio) nos dá quatro seções de 90 graus cada. Cada seção pode ser dividida em duas subseções de 45 graus cada, ou em três subseções de 30 graus cada uma. Este último é o procedimento usual, mas perde muito de seu significado quando não é correlacionado ao primeiro, coisa que infelizmente é pouco compreendida.

Diferenciação de energia: a divisão do zodíaco em quatro partes, que até agora estudamos, nos dá quatro tipos básicos de substância cósmica: Fogo-Ar, Agua-Terra. Esta é a diferenciação zodiacal mais fundamental à medida que o zodíaco como um todo simboliza, como já dissemos, a construção de um microcosmo. Substância é a coisa mais fundamental em qualquer construção. Mas "energia" e "forma" são igualmente importantes. Por isso veremos que o zodíaco, muito logicamente, é suscetível de dois outros tipos de diferenciação, referindo-se respectivamente à energia e à forma.

Energia não é muito diferente de substância. É substância ativada e liberada, como a física moderna já demonstrou bem definidamente. Podemos assim esperar que o princípio de "diferenciação de energia" seja similar ao de "diferenciação de substância". Ambos se baseiam no princípio do dualismo polar, de ação e reação. O zodíaco-energia será então óctuplo, enquanto o zodíaco-substância é quádruplo.

De acordo com T. O. McGranth (Timing Business Activity and the Sun, p. 12):

Sabe-se que todos os corpos tais como o Sol e seus satélites são corpos carregados e que são circundados por ion campo magnético; que em todo corpo magnético tendo dois pólos (o Sol e seus satélites são corpos desse tipo), as correntes magnéticas circulam do pólo norte para o pólo sul, tornando-se neutras a cada 90° e atingindo uma intensidade máxima a cada 45°.

Se o caso é esse, é evidente que os pontos de máxima liberação de energia deverão ser encontrados a meio caminho entre equinócios e solstícios. Esses pontos portanto se encontram nos seguintes graus do circulo: 45, 135, 225, 315, ou, em termos da nomenclatura zodiacal usual: 15° Touro, 15° Leão, 15° Escorpião, 15° Aquário. Estes pontos não são desconhecidos para alguns ocultistas. Eles correspondem ao que já foi chamado de: Quatro Portais de Descensão Avatárica. Como na terminologia antiga um "avatar" na realidade é uma liberação de energia cósmica, o significado da frase é bastante evidente. Esses Quatro Portais são simbolizados pelas quatro criaturas simbólicas: O Touro, o Leão, a Águia, o Anjo. Cada um deles representa um tipo determinado de liberação dinâmica, um tipo particular ou Raio de Poder — e de "iniciação" liberadora de energia.




O Touro e o Leão representam poder de individuação, poder enraizado no planeta, isto é, na existência concreta de si. Por outro lado, a Águia e o Anjo simbolizam poder de coletivização, poder que expande o individual para o coletivo e para o universal. Poderíamos acrescentar que o Touro é poder em direção à formação do ser individual, enquanto o Leão é poder que emana do ser individual. A Águia é poder em direção à formação do ser universal, enquanto o Anjo é poder que emana do ser universal.

No ciclo anual, os quatro pontos "avatáricos" acontecem aproximadamente em 6 de maio, 8 de agosto, 8 de novembro, 5 de fevereiro. Nessas épocas, as energias ou realizações que foram acumuladas nos equinócios e solstícios são liberadas e efetivadas. O numerologista poderia interessar-se por considerar o fato de que os algarismos do número de cada um desses oito pontos do circulo somam o dígito 9: (45, 90, 135 etc.). Baha'u'llah, o grande profeta persa que muitos consideram o avatar da nova era de Aquário, nasceu em 12 de novembro, muito perto do ponto da Águia — uma época muito apropriada para alguém que pregou o evangelho de uma "religião universal" e em geral uma síntese planetária todo-abrangente. Ele adotou o número 9 como o símbolo de sua mensagem.

Diferenciação de forma: a energia opera num ritmo polar de ação e reação; assim, qualquer tipo de diferenciação de energia baseia-se em divisões e subdivisões teoricamente iguais: 2, 4, 8. Na simbologia antiga, oito é o número do Sol, 888, o número do Cristo, o Sol trino.

Assim o número nove representa Aquele que domina o poder óctuplo. Mas como se poderá dominar o poder, a não ser que se tenha uma forma-de-poder — um mecanismo — na qual segurar e a partir da qual liberar o poder à vontade? Não é possível discutir em profundidade o significado do termo forma-de-poder.* Que seja suficiente dizer que não pode existir uma liberação controlada e rítmica de energia a não ser que exista algum tipo de "mecanismo" através do qual essa liberação se efetue. Todos os mecanismos são "formas-de-poder", isto é, formas que controlam a geração, concentração e distribuição de poder.

Sempre três operações: geração, concentração e distribuição. Por isso, o número básico de todas as formas-de-poder (e, provavelmente, poderíamos dizer, de todos os tipos de técnica) é 3. 0 engenheiro usa atração e empuxo. Puxar e empurrar são duas coisas, mas esse usar envolve um terceiro princípio. Ação e reação: este é o ritmo energético puro. Mas é necessário um terceiro termo: interação, para que a energia possa construir um corpo orgânico. Um corpo não é um tubo através do qual as ondas de energia afluem e refluem. Ele assimila substância. Guarda energia. Transforma poder. Usa fluxo e refluxo para subir o nível ou potencial de energia. E este é o "viver orgânico" — que sempre envolve três faculdades básicas: automanutenção, auto-reprodução, auto-realização.

Poderíamos prosseguir quase infinitamente enumerando trindades de princípios em todos os domínios de ser e vir-a-ser. Mas aqui, com o zodíaco e com todos os elementos "equatoriais", lidamos principalmente com poder — com o poder que constrói e regenera organismo ou corpos. E a formulação mais satisfatória da trindade de elementos que entra nessa operação de construção é a já mencionada: geração, concentração e distribuição
.
Vimos que nos quatro pontos cruciais do ciclo anual havia uma geração de poder. Os resultados desta geração são quatro tipos básicos de "substâncias": Fogo-Ar; Agua-Terra. Através dessas quatro "substâncias" ou elementos cósmicos, o poder irá operar de acordo com o ritmo triplo acima mencionado. Isto nos dará o seguinte esquema de operação:



Os signos zodiacais de geração de poder são chamados signos cardinais.

Os signos zodiacais de concentração de poder são chamados fixos.

Os signos zodiacais de distribuição de poder são chamados mutáveis.

Eles podem ser respectivamente relacionados com espírito, alma e mente — todos os três operando dentro do "corpo" total, ou "ovo áurico" : o microcosmo. Este microcosmo também pode ser denominado, usando o termo em seu significado mais abrangente: personalidade. Personalidade, ou, talvez ainda melhor, a Pessoa Viva, é a síntese de espírito, alma e mente operando em um corpo (ou corpos, se se aceita o conceito ocultista de diversos veículos distintos para energias espirituais anímicas e mentais centradas na estrutura física visível).

O Espírito — ou a Vida — gera. A alma concentra. A mente distribui. A personalidade manifesta — ou esconde! O trabalho de desenvolvimento de vida para cada ser humano é revelar, nas atividades da personalidade, as gerações do espírito, as concentrações da alma e as distribuições da mente.
Para poder completar o quadro simbólico, basta correlacionar a classificação quádrupla com a tripla. Então deveremos tentar entender como:


Isto pode parecer um tanto complicado e desconcertante, e assim podemos tentar um outro modo de expressar a "fórmula" zodiacal:

Fogo espírito (Aries) é fogo gerador: fogo elétrico

Fogo alma (Leão) é fogo concentrador: fogo solar

Fogo mente (Sagitário) é fogo distribuidor: fogo por fricção.

Isto significa que:

Quando o fogo gera, está operando em termos de espírito.
Quando o fogo concentra, está operando em termos de alma.
Quando o fogo distribui, está operando em termos de mente.

Em outras palavras:

Fogo gerador é o ponto de partida do self individual (Áries).

Fogo concentrador refere-se à liberação criativa de self, meio através do qual a alma se reconhece inteira e semelhante a Deus (Leão).

Fogo distribuidor é aquele que mistura, sintetiza e universaliza todos os elementos e energias anteriores ao nascimento crístico — o nascimento do ser universal (Sagitário).

O mesmo procedimento ressaltará com maior clareza o significado dos outros elementos:

Água geradora (Câncer) opera em termos do espírito. É o poder que faz nascer o self concreto, que cria uma base concreta de operação — um lar —para o self individual.

Água concentradora (Escorpião) opera em termos de alma. Concentra e sustenta a urgência de coletivização do Ar-espírito (Libra), o impulso em direção ao "re-nascimento em Cristo".

Água distribuidora (Peixes) opera em termos de mente. Efetua a síntese de energias que foram levadas à focalização criativa em Capricórnio e vitalizadas em Aquário.

Ar gerador (Libra) opera em termos de espírito. É o poder que reúne e torna comuns as emanações de indivíduos.

Ar concentrador (Aquário) opera em termos de alma. Dá vitalidade e impulso à Terra espiritual (Capricórnio). É a respiração da alma coletiva.

Ar distribuidor (Gêmeos) opera em termos de mente. Exterioriza e interpreta o impulso individual de Aries, uma vez salientado e substanciado em Touro.

Terra geradora (Capricórnio) opera em termos de espírito. É o poder de encarnação, o poder de assumir um corpo — à luz do espírito que envolve.

Terra concentradora (Touro) opera em termos de alma. Dá substância e profundidade aos impulsos de Aries.

Terra distribuidora (Virgem) opera em termos de mente. Espalha a liberação de self criativo de Leão através do espaço, em que é visto como uma massa de energias polares (A Virgem de Luz). A discriminação surge na mente como o problema de lidar com polaridades, com luz e sombra.



A partir disso, podemos ver como cada elemento cósmico é susceptível de assumir três funções distintas, de modo semelhante a como o homem pode agir, sentir e pensar ao mesmo tempo: 1) como um pai em relação ao filho; 2) como um marido em relação à esposa; 3) como um colega e colaborador em relação aos associados e amigos, assim (em termos vagos) gerando, concentrando e distribuindo as energias de seu próprio ser.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.









domingo, 10 de julho de 2016

Lilith na Casa 9




Rejeição por todas as fronteiras e todos os limites.

Contestador de todo o ensinamento recebido ou de qualquer conhecimento transmitido que não se verifique através da experiência. Rejeição das ideias advindas da moral e dos dogmas.

Pode assinalar a paixão pelas viagens, pelo estrangeiro, como a rejeição de sair das próprias fronteiras.

Pode sentir-se bloqueado para aprender idiomas, ainda que, por regra geral, haja mais fascinação do que rejeição pelo estrangeiro.

Pode-se encontrar um mestre ou um guru, porém nada será fácil nem indulgente. Iniciação dura e difícil.

Frustração, sacrifícios ou impedimentos de algum conhecimento de estudos, estes se adquirem de forma marginal e autodidata.

O que é na Verdade o Zodíaco? por Dane Rudhyar





Poderíamos facilmente prosseguir com nosso estudo do significado atribuído aos signos do zodíaco, isoladamente e em seus agrupamentos tradicionais, mas fazer isso seria tomar as coisas por certas e fugir, na verdade, do enfrentamento de sérios problemas relacionados com o zodíaco e o lugar que ele ocupa em qualquer sistema coerente e holisticamente lógico de interpretação astrológica. Por isso precisamos voltar aos fundamentos e tentar aprofundar o que são os fatos realmente envolvidos com o estabelecimento de um zodíaco.

O zodíaco ptolomaico já foi descrito como um cinturão de fogo criativo envolvendo a Terra e focalizado sobre a Terra principalmente pelo Sol e secundariamente pelos planetas. O centro desse cinturão de fogo é a eclíptica, o caminho visível do Sol. Os signos do zodíaco são identificados com as constelações (ao menos na astrologia pré-ptolomaica), bem como com hierarquias celestes de "construtores cósmicos". Estas hierarquias constituem coletivamente a Mente Universal, a energia operacional criativa do macrocosmo. O zodíaco como um todo é uma enorme lente cósmica que focaliza sobre a Terra os poderes combinados das hierarquias, com isso fazendo da Terra como um todo, ou do Homem total, um microcosmo.

A medida que o Sol passa, por ordem, pela frente das doze constelações zodiacais, os processos operacionais de vida na Terra são iniciados e levados à completação. Primavera e outono são pontos de partida lógicos, já que na zona temperada eles marcam mudanças definitivas de estação e alteram a fisionomia da superfície da Terra através do efeito das estações sobre a vegetação. Este fato óbvio fica mais preciso pela medida das mudanças de localização do nascente e do poente. O Sol se põe em seu ponto mais próximo ao sul no solstício de inverno; então ele se "move para o norte" (e também mais para perto do zênite) até alcançar seu ponto mais próximo ao norte no solstício de verão. Assim o ano solar normalmente se divide em duas metades: "quando o Sol se move para o norte" e "quando o Sol se move para o sul". A primeira metade é espiritual, a segunda material — na maioria dos sistemas oculto-mitológicos. Os pontos equinociais, por outro lado, representam pontos de equilíbrio, sendo o tempo em que o Sol parece estar parado.

Nestes sistemas antigos, o ano inteiro é visto como um grande drama sinfônico de integração, sob a regência suprema do Sol e com trabalho secundário executado pelos solistas celestes: os planetas. Este é um drama de integração coletiva, afetando a raça como um todo, o planeta como um todo. Não há verdadeira integração individual astrológica, Integração' individual fica então reservada à iniciação secreta; e, num certo sentido, não é "integração" individual, mas sim o assumir de um corpo terreno por uma entidade supraterrena — uma estrela. E assim a iniciação se relaciona com ciclos estelares, como se pode ver do estudo do que restou do processo egípcio de iniciação, que se dava na pirâmide, com orifícios telescópicos apontando para certas estrelas ligadas ao processo iniciático.

Nessa época não existe astrologia do indivíduo e nenhum conhecimento público do fato da rotação axial da Terra. A descoberta pública definida da rotação da Terra corresponde ao começo da era do individualismo, a Renascença — mais uma "prova" da exatidão de nosso simbolismo! Os pitagóricos na Grécia sabiam da rotação da Terra, mas para eles este era um assunto mais ou menos sagrado e secreto — assim como o era o processo de individuação, na época uma questão puramente de iniciação secreta.

Agora este fato da descoberta pública da rotação da Terra ao redor do eixo polar e de sua revolução ao redor do Sol transformou completamente a base do simbolismo astrológico. No mínimo provocou uma cisão entre a astronomia, que surgia, e a astrologia tradicional. O que os astrólogos não viam, e mesmo agora ainda não viram totalmente, é que a forma esférica da Terra e o fato de sua rotação introduziram um sentido intrinsecamente novo de espaço, que tornou necessária uma reavaliação do zodíaco. Na astrologia ptolomaica, não existia nenhuma diferença fundamental entre o movimento de revolução da esfera de estrelas fixas e dos vários céus planetários. Mas agora que a Terra gira em torno de seu eixo, torna-se óbvio um dualismo de movimento: o dualismo da rotação axial que, como vimos, dá origem a todos os fatores individuais, e da revolução orbital da qual todos os planetas participam.

Em outras palavras, a unidade do zodíaco é rompida: aquilo que era o símbolo da simples operação da vida na construção de formas, corpos e almas se torna um sistema complexo de movimentos, com no mínimo dois tipos básicos de significado. E nós precisamos reconhecer este fato. Precisamos ou nos agarrar a um mundo ptolomaico e dizer que estamos lidando puramente com um sistema de simbolismo de vida baseado em movimento visível e nos dados concretos fornecidos por nossos sentidos, ou então precisamos produzir novas evidências e novas teorias para explicar o zodíaco de um modo intelectual, científico. A diferença entre o sistema ptolomaico e o sistema moderno é a mesma entre percepção sensorial direta e conhecimento intelectual. A astrologia precisa escolher qual deles quer seguir.

Nossa opinião é que, se adotamos a visão astronômica moderna, precisamos deixar de considerar o zodíaco ptolomaico o fator básico na astrologia; em vez disso precisamos enfatizar o círculo, ou o mostrador de casas. Pois com este estamos fazendo, a nosso novo modo, o que os antigos faziam quando falavam do zodíaco como o drama anual de integração, coletivo e planetário.

Conforme escrevemos há pouco, não havia nenhuma concepção de um tipo real de integração individual exceto à medida que se referisse ao processo secreto de iniciação. Integração individual é aquilo que C. G. Jung chama individuação. E o que deveríamos compreender é que este processo de individuação a seu tempo tomará o lugar do processo de iniciação. Não é mais o Sol que gira, focalizando sobre a Terra coletiva os espaços estelares de vida sem fronteiras. Mas a Terra agora gira, e sua rotação tem significado individual para o homem individual. Num sentido mais amplo, ela se transforma no símbolo do processo de individuação.

Na verdade, estudamos este processo quando lidamos com os três ciclos de 28 anos da vida humana — medido ao longo do mostrador de casas. Assim esse mostrador de casas pode ser agora considerado como o fator básico, em lugar do zodíaco solar; como um padrão de integração ou de realização de vida. O indivíduo pode experimentar os seus próprios ciclos de consciência através de tais ciclos simbólicos de rotação terrestre, pois ele agora está centrado, ao menos potencialmente, em sua própria estrela polar — e não é mais uma criatura do Sol, com um plexo solar aberto através do qual fluem as energias formadoras da vida.

E claro que o zodíaco continua sendo o padrão de desenvolvimento coletivo e do funcionamento vital universal; mas, quando enfatizamos o processo psicológico de individuação, precisamos também enfatizar as casas, como um conjunto de pontos de referência, como determinante dos ciclos básicos dos estados de self. Mas a beleza do simbolismo é mostrada por isto: na verdade nada mudou, exceto o ponto de vista. Esclarecemos isto imediatamente, na sequência.

"O ano é o dia do Senhor". Mas quem é o Senhor, astrologicamente? E o polo norte, o fim integrador ou a cabeça do "eu sou" planetário (eixo polar). E todos sabemos que, ao menos teoricamente, no polo norte o ano é dividido num dia de seis meses e uma noite de seis meses! Na verdade o ano do polo norte é um "dia", e descobrimos assim que aqui nosso mostrador de casas se aplica de um modo diferente: seis meses o Sol está abaixo do horizonte, seis meses acima do horizonte: um ciclo planetário de dia e noite, e portanto a possibilidade de um mostrador de casas medindo o processo de doze partes da consciência durante esse "dia" do Senhor!

Isto é extremamente lógico se compreendermos que o ano solar originalmente é um registro das mudanças de estação. Mas estas mudanças de estação se devem à inclinação do eixo da Terra, que também é a causa de um dia de seis meses e uma noite de seis meses experimentados (novamente em termos relativos) nos polos. Isto mostra que o que é um ciclo anual (coletivo) com relação às zonas temperadas é um ciclo diário (individual) com relação aos polos. Podemos interpretar isto dizendo que o que é coletivo para as células no organismo inteiro é individual com referência ao organismo como um todo. Individual e coletivo são termos relativos. Relativos a quê? Ao ponto de vista adotado.

Como diz a Bíblia e todos os livros de ocultismo, os seres humanos são células no corpo do Senhor. A astrologia polar lida com o indivíduo planetário (o "Senhor"), e seu ciclo de individuação é o ano. Ele funciona unicamente por meio do eixo polar, e os fatos que se referem a este eixo polar (inclinação, giro etc.) são as bases do simbolismo de uma astrologia planetária-polar. O fato da inclinação axial, combinado com o da revolução do planeta todo ao redor do Sol, constitui a base para o "dia" polar — tal como o fato da rotação da superfície do globo ao redor de seu eixo causa o "dia" para nós, seres humanos ... células do corpo planetário.

No entanto, como células nos relacionamos umas com as outras constantemente — e é esta relação, esse intercâmbio coletivo, que está representado simbolicamente no zodíaco. Nesse caso podemos considerar a Terra como um imenso corpo no qual as células-homem "se movem e têm sua existência". Se o zodíaco é uma representação dos movimentos e das relações dessas células-homem dentro do corpo da Terra, segue-se logicamente que os signos do zodíaco representam divisões anatõmicas do corpo que é a Terra. No entanto não é o planeta material que deve ser considerado, mas o planeta como um campo de relações. Este campo na verdade é criado pela rotação da Terra e pelas correntes magnéticas geradas pelos polos. Ele também está ligado à ionosfera (acima da estratosfera), influenciada pelos raios ultravioleta do Sol. Em resumo, o zodíaco é o que cientistas-astrólogos chamam campo magnético da Terra, o que os ocultistas chamam aura da Terra, ou o ovo áurico do Ser planetário.

Abstratamente, é o domínio em que todos os relacionamentos entre todos o seres vivos na Terra estão interligados. E a grande matriz do coletivo, energizado e misturado ritmicamente pelas radiações solares e presumivelmente também por raios cósmicos e similares. E um campo magnético — mas ele pode ser representado, menos cientificamente, como um invólucro de fogo ou eletricidade dentro do qual a Terra gira, mas que permanece constantemente polarizado na mesma direção: em direção ao polo da eclíptica.

Esta linha dos polos da eclíptica é o eixo ideal da Terra ao redor do qual o eixo real gira em 25.868 anos. Assim o zodíaco pode ser concebido como a Terra ideal, o corpo arquetípico do Todo planetário no qual os homens vivem como células e grupos de células.

E provável que esta afirmação venha a parecer conflitante com as anteriores, indicando que o zodíaco era o resultado da revolução orbital da Terra ao redor do Sol e um fundo para os movimentos orbitais de todos os planetas. Mas precisamos também lembrar que acrescentamos: sempre com relação à Terra!

Lembrando disso, podemos dizer que o zodíaco é o sistema solar em relação com a Terra. Um passo adiante: ele é o todo do relacionamento planetário-solar projetado sobre o invólucro solar, ou espiritual, da Terra. Ou ainda: é a zona ao redor da Terra em que as emanações coletivas da Terra se integram com as emanações coletivas do Sol e dos planetas. E pode muito bem ser que essa zona na verdade corresponda, nas regiões que circundam a Terra, ao cinturão equatorial na superfície do globo. Na verdade, não importa, a partir de nossa concepção, qual definição ou formulação se adote.

O zodíaco, como usado pela astrologia ocidental, é tanto uma ideia quanto um fato. Corno uma ideia, é uma expressão dos movimentos combinados e das relações entre Sol, Lua, planetas e a Terra. É uma expressão do ser coletivo e do relacionamento entre partes ou órgãos que juntos constituem um todo orgânico. É a expressão da totalidade orgânica. Como tudo precisa estar relacionado ao observador na Terra, podemos projetar esta "expressão" ao redor da Terra e chamá-la avo áurico ou Terra ideal, ou seja o que for que indique a totalidade da vida em operação dinâmica. Podemos até projetar a ideia do zodíaco na superfície da Terra e assim determinar que localidade pertence a qual signo do zodíaco — como Johndro e Counsil o fizeram, cada um partindo de uma "base mundial" particular para essa projeção. Em cada caso, o que está sendo feito é uma representação de elementos coletivos e de intercâmbio orgânico.

Isto se torna ainda mais evidente pela tradicional projeção do zodíaco sobre o corpo humano — ou., o que é menos usual mas melhor, sobre a "aura" ou ovo áurico da humanidade. Aqui vemos um certo signo do zodíaco associado a cada parte do corpo. Então o zodíaco é realmente um padrão de intercâmbio orgânico, uma representação esquemática dos circuitos de força vital (Sol) à medida que dá energia às várias partes e órgãos da coletividade integrada de células — que chamamos de um corpo. Assim o zodíaco é visto como o padrão ideal e o molde estruturador de todos os "corpos".

Como um fato de aplicação prática astrológica, o zodíaco como é utilizado hoje no mundo ocidental, precisa ser considerado como o "campo magnético" da Terra, sendo este o único modo de justificar nossas medidas astrológicas à luz de um sistema solar heliocêntrico científico. Isto está explicado da maneira mais lúcida no livro Casting the Horoscope de Alan Leo, do qual citaremos o seguinte:

O zodíaco que nós usamos na verdade é a Aura da Terra. É uma esfera ou ovoide, cujos polos coincidem com os polos da eclíptica e cujo meio ou plano equatorial é a eclíptica. .. Por alguma razão, até agora inexplicada, esta esfera está polarizada numa direção, isto quer dizer, ela permanece sempre na mesma posição qualquer que seja o lugar de sua órbita em que a Terra esteja, sendo neste aspecto comparável com uma bússola de marinheiro, cujo mostrador circular sempre flutua com seu polo

norte apontando numa direção. Esta esfera está dividida em doze partes como os gomos de uma laranja, e são estas seções que constituem os "signos" do zodíaco. No entanto, estamos principalmente ocupados com o que se refere ao plano equatorial, pois é este que medimos em signos ou graus e que determina a posição zodiacal de um planeta.

Agora, é claro que, tuna vez que esta esfera ou aura permanece constantemente "flutuando" numa posição enquanto a Terra caminha ao redor do Sol, os raios do Sol passarão sucessivamente através de cada um desses signos. Se você coloca uma lâmpada no meio de uma mesa e anda ao redor dela sempre voltado para o mesmo canto da sala, os raios da luz terão incidido sobre cada uma das partes da cabeça pela ordem — o nariz, a face esquerda, atrás da cabeça, face direita e assim por diante ...

Quase nem é preciso dizer que essa "aura" não gira a cada dia com a rotação da Terra em torno de seu eixo, mas que a Terra gira dentro dela, como a roda de um giroscópio.

Em outras palavras, tal "aura" representa a coletividade de todo o sistema solar em relação com a Terra. A Terra gira dentro dela, como qualquer indivíduo se move dentro de seu próprio meio ambiente, ambiente que, para o indivíduo, representa o coletivo, isto é, a soma total de relações que este indivíduo pode experimentar. O zodíaco é o ambiente coletivo da Terra e, assim, da humanidade como um todo. Todas as relações cósmicas em que a Terra possa entrar, todas as radiações externas que venham a penetrar a atmosfera terrestre, e com isso os pulmões e o sangue de todos os organismos que respiram sobre a Terra — tudo precisa passar através do zodíaco. Num outro sentido, então, o zodíaco é a placenta do embrião do corpo da Terra. Todas as energias construtivas que produzem o crescimento do embrião precisam passar pela placenta. A placenta é a área formadora, a área na qual e da qual as energias construtivas e substâncias do macrocosmo vitalizam o microcosmo tal como as energias da mãe vitalizam o embrião.

Quando os raios solares e planetários passam sucessivamente através de cada um dos signos zodiacais, o microcosmo em crescimento recebe "alimento" ou estímulo correspondente — até que atinja o estado de desenvolvimento perfeito. A Terra não está perfeitamente desenvolvida, e a espécie humana também não está. Assim, ano após ano a Terra, a espécie humana e todas as outras espécies de vida sobre este globo recebem mais "substância cósmica", mais "comida macrocósmica" — a própria substância das hierarquias celestes, no simbolismo oculto, o pão e as 'águas celestiais da Vida universal.

O leitor que tenha compreendido o que foi dito antes verá prontamente que pouco importa se se diz que a Terra gira em torno do Sol ou que o Sol gira ao redor da Terra. Aquilo com que lidamos em astrologia são três fatores: o microcosmo, o macrocosmo e a relação entre eles. Em outras palavras, isto significa: o particular, o universal e a soma total de agentes através dos quais o universal se evidencia como um todo orgânico particular. A soma total desses agentes constitui o zodíaco. E no que se refere à humanidade, o universo todo gira em torno de nós, tal como a vida da mãe gira em torno da criança. Egoísmo? De modo algum, apenas bom senso. A ciência moderna, ao tentar ser impessoal e objetiva, não compreende que, quando tudo foi dito e feito, é impessoal e objetiva apenas à medida que se refira a seres humanos individuais. Tudo que a ciência faz é nos dar um conhecimento válido para todos os homens nesta Terra. Em termos filosóficos, mais ainda, até mesmo práticos, o conhecimento científico está intrinsecamente condicionado e limitado pelas fronteiras da Terra. A Terra é como um embrião dentro da placenta. O embrião só pode conhecer diretamente o que ocorre com ele e ao redor dele, e isto em termos de vida intra-uterina. E assim o zodíaco é na verdade aquilo que os teósofos chamam de "círculo-limite" da Terra.



Em terminologia científica, a opinião e conhecimento de todos os habitantes da Terra são absolutamente limitados ao que ocorre dentro do campo magnético da Terra. Eles podem conhecer o lado de fora apenas através de distúrbios em seu campo magnético. Sabemos do Sol, de planetas, estrelas, apenas através de seus efeitos sobre o campo magnético da Terra. Não temos absolutamente nenhum modo de saber se os raios das estrelas não são regularmente defletidos pelo campo magnético da Terra. Tudo o que podemos fazer é medir corretamente os distúrbios neste campo magnético ou "aura da Terra". Não existe nenhuma possibilidade filosófica e teórica de jamais sabermos diretamente o que existe de verdade além dos limites deste campo. Podemos saber apenas "por inferência". Em outras palavras, para usar os termos que a nova escola de idealistas popularizou, especialmente entre os físicos ingleses, nosso conhecimento é válido apenas em termos da "estrutura intelectual" que adotamos. Esta "estrutura", que talvez seja a maior criação objetiva do homem, está relacionada com o homem. A ciência moderna reconhece o fato de ter como centro o ser humano — de ser uma interpretação de fatos experimentados coletivamente, válidos coletivamente para a humanidade na Terra.

O zodíaco simboliza a estrutura à qual todo fenômeno astrológico precisa ser remetido; tem como centro o ser humano e a Terra. Ele é uma abstração e um símbolo, tal como a Cidade Sagrada com seus doze portais — na alegoria bíblica — é uma abstração, um. símbolo. O zodíaco é a parede que separa todos os habitantes da superfície da Terra do universo. Simbolicamente, esta parede tem doze portais, doze signos do zodíaco, doze canais através dos quais flui a energia universal. Falamos da "parede" de um átomo, mas queremos dizer com isso apenas os limites de um campo magnético, e agora nós bombardeamos partículas altamente energéticas através dessa parede, e assim libertamos um ou mais fótons da "cidade sagrada" do átomo.

Por que falamos de "portais" numa "parede"? Por que não um campo aberto? Talvez porque: 1) os limites de um campo magnético diferenciem de modo suficientemente claro o interno do externo a ponto de parecerem uma parede — tal como a superfície de uma mesa parece ser sólida como uma parede, apesar de não ser nada além de um campo magnético; 2) a energia, vindo de fora para dentro e indo de dentro para fora, só possa entrar ou sair em partículas que a física moderna chama quanta E pode ser que o modo como esses quanta se comportam possa ser expressado de modo correto, mas, é claro, apenas simbolicamente, pelo conceito de "portais" — que se abrem e fecham ritmicamente corno as válvulas do coração.

Como quer que isto seja, o fato é que o zodíaco que usamos na astrologia moderna deve ser considerado como circundando a Terra, e não uma criação da Terra como um globo em rotação. Ele é a expressão da relação Terra/Universo e, mais particularmente, da relação Terra/Sol. Isto se torna evidente pelo fato de essa esfera simbólica ou postulada ao redor da Terra estar orientada para a eclíptica e para o polo da eclíptica. Ela não participa da rotação da Terra, ou da inclinação do eixo da Terra. Portanto é, sob todos os aspectos, igual ao zodíaco ptolomaico! — visto apenas através das lentes da astronomia moderna. E a "esfera celeste" dos astrônomos, mas limitada às vizinhanças da Terra — usando o termo vizinhança como na física moderna.

Muitos astrólogos, no entanto, frequentemente por uma questão de simplicidade, ainda mais frequentemente porque não consideram com atenção os fundamentos lógicos do sistema que usam, referem-se ao zodíaco como uma vasta esfera centrada no Sol e envolvendo todo o sistema solar. Então há alguns que deliberadamente falam do zodíaco como o "campo magnético do Sol". E claro que não há nada de errado com essa última ideia, ela apenas não corresponde à realidade factual, prática, nem à ideia filosófica do zodíaco, do modo como aplicamos o termo zodíaco hoje.

A ilustração mais simples disso está contida no seguinte fato: se os signos do zodíaco são uma segmentação em doze do espaço ao redor do Sol, e a Terra passa através de um desses segmentos a cada mês ao circular em torno do Sol, então, por exemplo, em abril, ela fica no signo de Libra (e o Sol então parece estar em Aries). Mas, se for assim, a Lua em revolução próxima à Terra permanece no signo de Libra tanto quanto a Terra, ou seja, um mês inteiro! Em outras palavras, todo o material da astrologia como usamos hoje cai por terra. Precisamos pensar num zodíaco terrestre através do qual a Lua se move (talvez o zodíaco lunar do passado?); precisamos descartar a ideia de planetas retrógrados. Em outras palavras, precisamos de todo um quadro de referências astrológico inteiramente diferente. Não obstante, a ideia é atraente para o astrólogo de tipo científico. Na nossa opinião, ela não combina com os princípios básicos do simbolismo astrológico. Pois implica a ideia de que podemos legitimamente nos imaginar no Sol e que podemos interpretar a vida e as relações planetárias a partir dali. Como dissemos, estamos lidando na astrologia com a interpretação de fatos de experiência. Assim, enquanto experimentamos as coisas em e através de corpos nascidos na Terra e a ela condicionados, não podemos presumir a opinião imaginária de um ser com um corpo real nascido no Sol e a ele condicionado. Na verdade, nada sabemos a respeito do Sol exceto como um centro de radiações que nos afeta. Chamamos esse centro de Sol E simbólica e teoricamente tudo funciona como se o Sol fosse aquilo que o fazemos parecer. Mas não experimentamos o Sol do ponto de vista do Sol. Nós o experimentamos apenas do ponto de vista da Terra. E, como já foi dito, a astrologia, ou qualquer tipo de interpretação da vida lida com fatos experimentais aos quais se atribuem significados.

Com isto não estamos contradizendo afirmações anteriores Podemos muito bem aceitar a interpretação da ciência moderna dos movimentos relativos do Sol e dos planetas, e adotar a atitude acima definida. O conceito astronômico do sistema solar é o de um sistema de interpretação de fatos observados — um sistema muito conveniente e intelectualmente maravilhoso. Mas o que conta para nós são os fatos. Com base nesses fatos, a astronomia estabelece um modelo do sistema solar. Com base nesses mesmos fatos, a astrologia estabelece um simbolismo de interpretação de vida. Ambos são igualmente lógicos. E se o anterior parece funcionar mais precisamente que este último, isto provavelmente se dá porque este lida com uma área de ser que é mais exata em termos de significado que em termos de eventos, uma área em que o "princípio da indeterminância" opera fortemente.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.