quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Fórmula Ariana-Hindu, por Dane Rudhyar

A Índia representa tipicamente (mas claro que não exclusivamente) a atitude de devoção, isto é, dependência do Um-que-é-no-começo. Ressalta — de várias maneiras — o Primeiro Princípio, o alfa da evolução e os anseios em direção à Unidade absoluta. O fato de ter existido na Índia uma síntese universal de conhecimento nem sempre é reconhecido, mas pode ser descoberto nos grandes dias do antigo Aryavarta, da civilização ariana, sob as muitas crenças e perversões que mancharam a beleza e simplicidade puras do sistema antigo, muito anterior ao budismo — tal como o I Ching antecedeu em muito o confucionismo. Esse sistema parece ter sido, ao menos em parte, recuperado de um modo um tanto misterioso por Bhagavan Das, e remetemos o estudante à leitura de seu grande trabalho, o Pranava Veda.

A integração da Índia, sendo baseada no Um original, é essencialmente hierárquica — muito mais que a da China, que é equilibradora. Toda atividade e conhecimento são vistos em seu relacionamento radical com o Um trino, que é o AUM, o processo do mundo derivado da Unidade absoluta incognoscível e incompreensível. Em AUM, A representa a mônada universal, U o mundo da ilusão, M a relação entre ambos. Esta relação é de negação. Pois a antiga sabedoria hindu, baseada no Um, nega os Muitos exceto como uma obscura objetivação desse Um.

Portanto, a fórmula do processo mundial é dada por: "O self — não é — o Não-self'. A fórmula de conhecimento é que o objeto (Não-self) precisa ser conhecido de forma que o sujeito (self) percebe, por ver o caráter ilusório daquele, que não há nada além do sujeito. A integração é alcançada através de negação e renúncia. O processo do mundo é visto como uma ilusão (maya). A personalidade e as mutações são ilusões, e no final do ciclo o Um original torna a encontrar-se com o que era originalmente — incorrompido pela mutação. O que ele ganhou através do processo de mutação? Isto: que ele agora sabe, conscientemente, que "Eu sou o que eu sou". Assim, a consciência é o fim do processo, mas uma consciência que se identifica completamente com o sujeito e retira do objeto toda realidade. No entanto, todo fogo deixa cinzas, e assim é necessário um novo ciclo para reincorporar essas cinzas numa nova árvore viva e em crescimento. Portanto o processo do mundo continua infinitamente através de encarnação após encarnação do mesmo self. Assim, o tempo torna-se a fatalidade de ser — a urdidura e o tecido de carena e miséria.

Essa atitude básica diante da vida obedece necessariamente a uma ênfase acentuada no Um-que-é-no-começo. Para este Um, o "processo" do meio do ciclo significa desmembramento, tragédia — ou sacrifício. O fim significa retorno à integridade do começo. Por isto o AUM: que deve ser repetido sucessivamente, pois o M é cessar, libertação. Mas torna a trazer renascimento. E o verdadeiro AUM é o um inaudível, verdade que reside em recolhimento e abstração. A e U também são pronunciados como O para mostrar que a distinção entre self e não-self é um mero conceito, uma ilusão. Assim, OM é o tom integrado — o som vogal mais simples, exalação de ar e fechamento de lábios. Um verdadeiro símbolo do Um sem semelhante.

A síntese de conhecimento e atividade universal baseou-se em tais conceitos. Do OM emanou o Gayatri, a invocação sagrada ao Sol e à unidade de toda vida. A partir do Gayatri e de alguns outros mantrams básicos, surgiram os quatro Vedas; dos Vedas vieram os Vedantas; destes, representando as ciências básicas do self, se originaram as seis escolas da filosofia hindu, finalmente sintetizadas na sétima secreta — Atma-Vidya — a consciência do "fim", levando à re-pronunciação do AUM de urn modo universal. Tudo isso não passa de esboço muito tosco de um dos sistemas básicos de consciência da humanidade, de um sistema que ainda é o fundamento da maioria das religiões e da maior parte dos tipos de filosofia oculta.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

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