Todos esses métodos (progressões, direções, trânsitos) deixam de considerar o indivíduo como um todo, passível de perfeição. Eles quebram a singularidade, a qualidade única e a unidade da simbolização astrológica. Espalham o nascimento num período indefinido de minutos, dias ou anos, e mostram o homem iniciando ciclos de desenvolvimento que ele normalmente não pode completar no presente estado do destino humano. Mostram-no com as três partes de sua natureza desenvolvendo-se de acordo com ritmos que não combinam exatamente. É verdade que nisto reside liberdade — mas também não-completação.
No procedimento explicado no capítulo "O mostrador de casas", lidamos com completação cíclica. O homem é visto como capaz de completar a construção de seu templo de imortalidade no intervalo de 84 anos (três ciclos de 28 anos). Ele é visto como o experimentador de ciclos inteiros de experiência, através dos quais todos os seus planetas, e todos os seus relacionamentos mútuos de qualquer tipo concebível (partes do mapa, aspectos etc.), são sucessivamente energizados e expressados. Aqui, na verdade, temos uma visão positiva, construtiva do Homem, um Deus que está se fazendo; enquanto nas progressões, direções e trânsitos somos levados a testemunhar o espetáculo de um corredor largando numa corrida tripla que ele talvez não possa esperar terminar. Seu "Sol progredido" nunca completará a corrida zodiacal. Seu "Meio-do-Céu direcional" nunca conhecerá um dia completo de atividade. O Sol em transito nunca se porá sobre uma personalidade completada através das "370 voltas" da Grande Serpente da Eternidade, de que falam a Cabala e H. P. Blavatsky.
De que vale então nascer, se o indivíduo está fadado a ser derrotado pelo carma racial e não pode ter a esperança de atingir a meta de totalidade? Não existe nenhum homem que, dentro dos limites da nossa presente vida terrena, jamais atinja completação? Se a completação é possível para o indivíduo, a despeito do ambiente racial — se não como personalidade externa, ao menos como self individual —, então progressões, direções e trânsitos igualmente contam apenas uma parte da história do processo de vida. Eles podem lidar com o corpo terreno tangível e com a personalidade racial, mas há um campo que eles não consideram — o único, parece, no qual o indivíduo pode atingir a completação, e assim — a imortalidade.
A análise do tempo que apresentamos no último capítulo não tenta mapear a totalidade de nenhum ciclo de desenvolvimento. Não coloca limites determinados nem se refere a nenhum ciclo em particular. Simplesmente dá informações a respeito de certos momentos críticos no processo de elaboração real das implicações contidas na carta de nascimento. Mas tais momentos críticos teoricamente poderiam ser repetidos ad infinitum. Mesmo a equação "um grau é igual a um ano" não é um fator necessário nessa "análise do tempo". Pois, do modo como concebemos este método, trata-se apenas de uma questão de relacionamento abstrato entre 24 fatores fixos. O que ele realmente pretende mostrar não é o tempo exato de uma ocorrência, mas mais a sequência das operações envolvidas no processo de atualização das potencialidades mostradas na carta de nascimento. Em outras palavras, as operações de construção podem ser aceleradas, mas o telhado não será colocado antes que as paredes sejam construídas, nem estas serão construídas antes que o alicerce tenha sido construído. Portanto, o que a análise do tempo revela é a sequência de operações, e a equação um grau por ano é apenas um coeficiente que parece ser o mais próximo do correto no atual estágio da empreitada humana. Em algumas personalidades, um coeficiente mais rápido poderia ser mais eficaz; por exemplo: dois graus e meio por ano foi a equação sugerida por Carter (um doze avos de um signo zodiacal), e em muitos casos dá resultados muito significativos.
Quando detalhamos o método através do qual se poderia mapear o progresso do indivíduo por ciclos de 28 anos, também escrevemos que este era um modo de determinar a escala de operações na construção do templo do Homem. Mas, pela própria natureza deste tipo de análise de tempo da carta de nascimento, lidamos com ciclos fechados. Lidamos com limites de tempo muito definidos — arquetípicos — com relação a um período de vida. O que não foi feito quando deveria ter sido feito ficará perdido para sempre. Mas os termos feito e perdido não se referem tanto a um comportamento da personalidade quanto a percepções individuais. Temos aqui um desvendar das profundezas do ser, uma exploração solene do santuário da alma individual — do domínio do puro significado.
Isso fica particularmente evidente quando observamos o ciclo de progressões da Lua, que ocorre em mais de 27 anos, rigorosamente aproximando-se do ciclo de 28 anos do que chamamos de ponto do self; também o ciclo de trânsito de Saturno, que cobre um período um pouco mais longo. Enquanto a Lua progredida indica, na maior parte, fases do ser exterior, e Saturno em trânsito o lento aprofundamento ou cristalização do fator ego, o ponta do self refere-se a valores puramente internos, mas que esclarecem a mais secreta determinação do indivíduo, sua capacidade ou incapacidade de atribuir significado à vida.
Para terminar, permitam-nos alertar o estudante dos movimentos cíclicos do self, para que ele não esqueça de que este ponto, na verdade, não é um mero ponto, mas uma cruz. Os quatro ângulos da carta (os dois eixos do self individual, horizonte e meridiano) precisam ser vistos em rotação durante o ciclo de 28 anos. Ocorrem mudanças sutis de focalização, enfatizando em alguns casos o fator horizonte, em outros o fator meridiano. Só quando estes são cuidadosamente estudados, em função de indicações dadas pela carta de nascimento como um todo é que este método revela um quadro realmente válido, porque completo, da vida interior do indivíduo. Através dele podemos ver o padrão de completação individual em lento desdobramento, delineando-se suave ou vividamente contra o fundo das progressões e trânsitos mais óbvios e concretos. Aqui pode-se discernir o homem, um sucesso ou um fracasso — em termos não daquilo que ele faz, mas do significado e da beleza com que reveste cada incidente da vida em seu caminho em direção à divindade — ou à aniquilação.
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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
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