Do ponto de vista da fase analítica da interpretação — e sempre deveria haver uma fase assim, mesmo apenas para conferir o que foi revelado por percepção "holística" —, pouco precisa ser acrescentado ao que já foi dito nos capítulos anteriores. Os dois passos fundamentais da análise referem-se respectivamente à "forma subjetiva", constituída pela relação entre a roda de casas e os signos do zodíaco (isto é, as posições zodiacais das cúspides, signos interceptados etc.), e à "forma objetiva", constituída pelas posições zodiacais (signos e graus) e posições de casa dos planetas, isoladamente e como um grupo. Estes dois passos da análise devem ser seguidos por um terceiro, como resultado do que serão determinados os "fatores de relação" secundários entre planetas, órbitas planetárias e cúspides: Nodos e Partes.
Segue-se então o que chamamos análise de tempo da carta de nascimento, estabelecendo uma "estrutura de vir-a-ser" geral, como uma expressão da individualidade fundamental do nativo. Isto deveria ser seguido e modificado por um estudo dos períodos determinados ou sugeridos pelos movimentos progredidos de todos os planetas radicais e pelos movimentos em trânsito dos planetas mais lentos (Plutão, Netuno, Urano, Saturno, Júpiter) através da duração de vida esperada do nativo.
Dissemos "um estudo dos períodos" desses planetas progredidos e em trânsito de propósito, pois o que tem valor neste estágio do processo de interpretação é determinar a forma geral do vir-a-ser da personalidade e uma fórmula geral mostrando os ciclos durante os quais o mundo exterior (o coletivo, a sociedade, as condições planetárias) promoverá e aqueles durante os quais dificultará (ou aprofundará, por oposição e desgaste) o desenvolvimento da personalidade como um todo e em relação às suas várias funções básicas.
Os períodos de progressões planetárias são os fatores componentes desta "forma de vir-a-ser personalidade" — e não qualquer aspecto entre dois planetas progredidos. Um certo aspecto situado num certo signo e casa (ou geralmente em dois signos e duas casas) pode ter significado em termos de um certo tipo de evento ou série de eventos. Mas seu significado é tão entrelaçado com o significado de uma dúzia de outros fatores, há tantos modos possíveis de interpretar sua operação provável e localizá-la, tanto no campo fisiológico quanto no psicológico — seja em termos de ênfase pela falta de algo, seja pela ênfase no excesso daquela coisa —, que um prognóstico absolutamente correto de eventos por progressões, direções e trânsitos é praticamente impossível. É possível e assustadoramente preciso em alguns casos, mas desgraçadamente impreciso, ou no elemento tempo ou na maneira de sua expressão concreta, num número igual de casos. Portanto, quando alguém percebe a grande influência que, em termos psicológicos, uma previsão pode exercer sobre uma pessoa sensível — e todos somos influenciáveis, alguns inconscientemente, outros conscientemente —, deveria também dar-se conta do quanto uma previsão errada pode ser nefasta.
O valor da astrologia não depende de seu rigor de previsão, pois então ela teria relativamente pouco valor, exceto nas mãos de astrólogos espetacularmente dotados, capazes de, por uma combinação de astrologia "horária" e "natal", "acertar na mosca" numa maioria assustadora de casos. Depende mais do fato de nos fornecer "fórmulas" de ser (carta de nascimento) e de vir-a-ser (análise de tempo, progressões etc.) que nos permitem extrair o maior significado daquilo que está acontecendo ou do que jd aconteceu. Se assimilarmos esse significado perfeitamente, então seremos capazes de enfrentar seja o que for que vier a acontecer: 1) com uma frente integrada, unificada; 2) como um portador de significado criativo. Ao fazer isto, seremos capazes de "transfigurar" o futuro, não mudando a "forma" de nosso ser ou vir-a-ser, mas fazendo esta forma brilhar de significado, harmonia e luz — como Jesus brilhou no Monte da Transfiguração. Ele brilhava de luz crística, com o poder das energias e conteúdos universais — mas Ele permanecia, em forma e individualidade, Jesus: Jesus que se tornou "Cristo".
Mas voltando aos períodos das progressões. Se vemos na carta de Mussolini que aos 46 anos, seu Sol progredido faz conjunção com Urano e trígono com Netuno, isto pode não nos dar tanta informação direta quanto aos eventos que podem ocorrer então. De fato, do quanto é possível entrever a partir de sua vida externa, relativamente pouco correspondeu nessa idade a um aspecto progredido que deveria ser capital na vida de Mussolini, considerando que o trígono Urano-Netuno engloba todos os seus planetas, e assim tem um papel da maior importância em seu ser e destino. É verdade que o acordo com o Papa foi assinado (11/02/1929) por volta do tempo de maturação dos aspectos progredidos, mas, supondo que seja esta a correlação desejada, como um astrólogo que estudasse sua carta, digamos em 1900, poderia ter previsto um evento concreto como esse? Além disso, por que esse tratado teria, astrologicamente, tanto significado no destino de Mussolini? Mas podemos abordar as progressões solares acima mencionadas de outro modo.
Podemos determinar os aspectos formados pelo.Sol progredido desde o nascimento. Para começar pelos mais recentes: em 1916, o Sol progredido faz quadratura com Saturno radical; em 1917, com a Lua radical; em 1922, com Marte radical; em 1923, entra em conjunção com a parte da Fortuna; em 1927, forma sextil com Júpiter; então em 1929 faz trígono com Netuno e conjunção com Urano; e, em 1930, sextil com Vênus. São então determinados períodos de progressões considerando o tempo decorrido entre cada dois aspectos. O período de quadratura Sol-Lua opera de 1916 a 1917; o período de quadratura Sol-Marte termina em 1922. Finalmente o período de conjunção Sol-Parte da Fortuna começa testemunhando a "marcha sobre Roma" e a ascensão de Mussolini ao poder pessoal.
Todos os períodos antes deste são baseados em aspectos de quadratura — desde a quadratura de Sol progredido com Netuno em 1898 (15 anos), e, antes dessa série da quadraturas, houve apenas sextis (com Lua e Marte). Isto estabelece imediatamente — à luz das progressões solares básicas — vários ciclos de vida bem marcados. Até os 15 anos de idade, um período de sextis — a rotina do crescimento sob influência materna (Lua) e paterna (Marte). Então, de 1898 até o início da primavera de 1922, temos um período de luta para manifestar um ideal, para surgir como uma figura de destino: quadraturas, símbolos de encarnação e involução.
O ano de 1922 é dominado por um novo tipo de aspecto: a primeira conjunção solar — com a Parte da Fortuna. Isto agora significa "ênfase". Ênfase em quê? Naquilo que a Parte da Fortuna representa. A Parte da Fortuna é o "Ascendente" da Lua. Ela "distribui" e focaliza o poder da Lua. A Lua representa a vida da personalidade como um elemento da evolução, representa também "o público", o coletivo confrontando o indivíduo. Assim o período de ênfase ou destaque apontado pela conjunção Sol-Parte da Fortuna focalizou o poder da coletividade sobre a individualidade de Mussolini, destacou o poder de sua própria personalidade. Na décima casa, enfatizou a autoridade e a atividade pública; em Virgem, um processo de limpeza (até simbolizada pelos fascistas usando óleo de rícino com políticos não-dispostos a cooperar).
No entanto seria inútil encontrar um dia ou mês em que essa conjunção opera especificamente. O que deve ser entendido é mais o significado geral de um período. Mesmo quando falamos do sextil entre Sol progredido e Júpiter, referimo-nos ao período de 1923 a 1927, um período de estabelecimento (sextil) de autoridade (Júpiter). Então, de 1927 a 1929, chegamos ao período de Sol progredido em trígono com Netuno e conjunção com Urano. Obviamente temos então um período durante o qual o poder do inconsciente coletivo é predominante. Todos os planetas de Mussolini estão fechados no trígono Urano-Netuno. Quando o Sol chega à conjunção com Urano, obviamente finaliza um período de ênfase pessoal e continua, indo ao desconhecido, por assim dizer, para aquilo que é não-destacado e não é demonstrado por atividades planetárias. Então Mussolini ultrapassa aquilo que ele é como uma personalidade, mas, antes de fazer isso, ele deu acabamento à sua vida pessoal tomando algumas medidas que fecham um período e abrem outro. Este é o significado do Tratado de Latrão, um significado netuniano, sutil, de ubiquidade, e do estabelecimento definido do "Estado associado" italiano, que, mesmo tendo sido delineado durante o período de Júpiter (1926-1927), se implanta na mente da nação e em seu inconsciente coletivo só depois de 1927.
O período do sextil Sol-Vênus também é um período muito curto. Presumivelmente refere-se à vida emocional de Mussolini, mas acrescenta significado individual àquilo que primeiramente se referia a grandes fatores inconscientes (sob os aspectos do Sol com Urano e Netuno). Depois disso começa um novo período, caracterizado pelo trígono do Sol progredido com Plutão, depois com Saturno, Lua e Marte. Estes períodos são expansivos. Referem-se à formação de novos ideais, de novos relacionamentos, de novas alianças. O futuro dirá se eles devem ser interpretados negativa ou positivamente. Em 1939, o Sol progredido está programado para entrar em Libra, então Mussolini terá 56 anos. Este será o final de um período de sua vida que começou em 1908, quando ele foi para Trento.
Uma análise semelhante poderia ser elaborada considerando-se não apenas o Sol progredido, mas todos os planetas progredidos, e também estudando os movimentos dos planetas lentos, após o nascimento, quando transitam sobre pontos importantes do mapa radical. E claro que aqui teremos uma série de aspectos muito complexa e diversificada, e será preciso ter o maior cuidado para isolar os fatores mais significativos. Mas a ideia de que os períodos são mais significativos que os aspectos exatos que marcam seus limites também é válida — especialmente porque, com planetas lentos, estes são períodos durante os quais eles passam várias vezes sobre pontos sensíveis do mapa, por causa da alternância de movimento direto e retrógrado. Os períodos determinados pelo trânsito de um planeta lento por toda uma casa são particularmente significativos. Mostram como as circunstâncias e forças coletivas afetam basicamente as várias fases do ser e do destino individual — fases simbolizadas pelas casas.
Então, também se deve considerar os ciclos de 28 anos e de 7 anos dos eixos da carta, especialmente o que chamamos de movimento cíclico do Ponto do self. Estes ciclos podem ser estudados em termos de seu início, seu ponto central e sua conclusão. Mostram o trabalho interno do processo de individuação em seus três níveis sucessivos — às vezes referindo-se a acontecimentos concretos, mas, se for este o caso, apenas à medida que estes focalizem transições críticas no processo geral.
Finalmente, as direções primárias e certos trânsitos precisos (como eclipses e conjunções múltiplas) podem ser estudados para definir os contornos do quadro já desenhado. Existe uma escola de astrólogos que dá ênfase básica às direções primárias, e que portanto colocaria muitas objeções a relegá-las para o final do processo de interpretação como o fizemos, mas eles não devem esquecer que nossa "análise do tempo da carta de nascimento", que colocamos em primeiro lugar no estudo do vir-a-ser, fornece indicações gerais semelhantes ou quase idênticas às que se conseguem através da utilização do método mais simples de direções (ou através das direções radicais). Acreditamos que estas sejam não somente tão eficazes quanto as verdadeiras direções primárias, mas também que, dado seu número menor, sejam muito mais válidas para uma percepção estrutural do destino como a totalidade do vir-a-ser individualmente determinado e significativo. Os outros tipos de direções podem ser muito significativos numa análise detalhada, ou sempre que for necessário um estudo próximo das correlações totais dos fatores astrológicos relacionados com um evento ou período de vida conhecido, e nestes casos todos os trânsitos também precisam ser considerados. Mas, para a finalidade psicológica de integração da personalidade e interpretação da vida, as principais motivações em nossa abordagem da astrologia, as direções primárias do tipo complexo não apenas exigem muito tempo e muitos cálculos, mas sua própria multiplicidade quase lhes tira o propósito, pois, onde se tem tanto que escolher e organizar para poder determinar eventos ou significados, a atenção facilmente se fragmenta e o essencial vai desaparecendo, obnubilado pelos múltiplos não essenciais.
_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário