Vamos falar de ação.
Os sete astros que consideramos como agentes no nosso modelo celeste se movem, cada um num passo diferente. À medida que se movem, eles se observam, se encontram e se opõem; essas interações simbolizam os eventos – ou, pelo menos, as oportunidades de evento – terrestres.
Esse capítulo vai repetir um pouco o que expliquei sobre os planetas, mas é necessário.
O Senhor dos Planetas
O Sol se move sempre mais ou menos na mesma velocidade e sempre, é claro, sobre a eclíptica, no meio do Zodíaco. Seu movimento é sempre da ordem comum dos signos.
A velocidade do Sol é em torno de 59' de grau por dia.
A Senhora do Céu
A Lua se move bem mais rápido que o Sol. Sua velocidade média é de 13º11' por dia, mas pode chegar a menos de 11º, ou avançar a mais de 15º, por dia.
Mesmo com essa variação, ela sempre está muito mais rápida que qualquer outro corpo.
A Lua e sua Dança – os Nodos Lunares
Outro movimento que a Lua apresenta é a variação de latitude celeste. Ela não se movimenta sobre a eclíptica, mas vai até o extremo norte da faixa do Zodíaco, retorna, cruza o círculo do Sol, avança até o extremo sul, retorna, cruza a eclíptica de novo, volta a se afastar para o norte, etc.
Esse movimento forma dois pontos opostos – o ponto de cruzamento entre as trajetórias da Lua e do Sol. Estes dois pontos são o que chamamos de Nodos Lunares.
O ponto no qual a Lua cruza a eclíptica indo em direção ao norte é o Nodo Norte (chamado também de Cabeça do Dragão). O ponto oposto, quando ela vai em direção ao Sul, é o Nodo Sul (a Cauda do Dragão).
Estes pontos são importantes, em primeiro lugar, porque é na proximidade deles que ocorrem os eclipses.
Se o Sol e a Lua se encontrarem longe dos Nodos, a Lua estará com latitude alta o suficiente para não se interpor ao centro do Sol. Assim, vamos ter uma Lua nova, quando a luminosidade do astro-rei a ofusca.
Da mesma forma, se eles se opuserem longe dos Nodos, o Sol ilumina completamente a Lua e temos uma Lua cheia.
Quando isso acontece perto dos Nodos, a Lua está alinhada com o Sol.
Quando estão juntos, ela bloqueia sua luz, temos o eclipse solar; quando estão opostos, a Terra bloqueia a luz, e temos o eclipse lunar.
O significado desses pontos, em resumo: o Nodo Norte está ligado à expansão, aumento, liberação, elevação, e o Sul à contração, diminuição, restrição, rebaixamento.
Perto do Sol – Mercúrio e Vênus
Há mais dois planetas com o movimento muito obviamente atrelado ao do Sol.
A velocidade média de Mercúrio é a mesma do astro-rei, 59' por dia, mas ele raramente anda neste passo.
Mercúrio se afasta do Sol, no máximo, a pouco menos de um signo. Quando chega a este ponto, ele está parado, a velocidade zero. Ele muda de direção, começa a se aproximar do Sol a velocidade crescente. Quando se encontra com o Sol, sua velocidade é máxima, podendo chegar a dois graus por dia. Ele desacelera a partir daí, a princípio muito pouco, mas quando chega à distâncias próximas de um signo, desacelera, para, e reinicia o movimento no sentido contrário.
Estar parado é o que chamamos de estar estacionário. Quando o movimento aparente planeta é na direção contrária dos signos, dizemos que ele está retrógrado.
Assim, a velocidade máxima de Mercúrio é de 2° por dia, mas pode ser positiva ou negativa. Quando ele está andando a menos de 20' por dia é considerado lento, acima de 01°30' minutos, rápido.
O movimento de Vênus é bastante parecido. Só que ela se afasta mais do Sol, e nunca chega a mais de 01°30' por dia. É considerada lenta quando anda a menos de 15' por dia, e rápida quando está a mais de 01°10'.
Lentos e Superiores – Marte, Júpiter e Saturno
Os três planetas têm uma maior independência do Sol. Eles mudam de direção por causa do Sol, mas podem estar a qualquer distância dele no zodíaco.
Marte anda com velocidade média de pouco mais de meio grau (31') por dia. É considerado lento quando está abaixo de 10', e rápido quando se desloca a mais de 40' diários. Ele também para e muda seu sentido (ou seja, ele também fica estacionário e retrógrado).
Júpiter anda a uma velocidade média de 05' minutos, é considerado lento a menos de 03' e rápido a mais de 12', em qualquer sentido do movimento.
Saturno, o mais lento dos sete, anda normalmente a 02' por dia. Qualquer coisa abaixo disso, em qualquer sentido, o deixa lento; acima de 06' por dia, ele está rápido.
Essas classificações de planetas rápidos e lentos são apenas generalizações didáticas. Não há um consenso com precisão absoluta sobre esses limites, e não há necessidade disso, porque a intenção é sempre comparar os planetas uns com os outros e comparar as velocidades de um mesmo planeta em momentos diferentes.
A velocidade real (em vez da média) dos planetas deve sempre ser conhecida, porque ela nos diz se um planeta, quando parece estar saindo de um signo, vai sair realmente ou está prestes a ficar estacionário, retrogradar e voltar pelo mesmo caminho que veio.
Também precisamos saber a velocidade real deles para saber se os encontros entre os planetas vão acontecer ou não.
Vamos falar sobre esses encontros agora.
Conjunções
Vimos no capítulo 12 que há relações entre os signos que chamamos de aspectos.
Não pode haver aspecto, é claro, entre um signo e ele mesmo. No entanto, dois planetas estarem no mesmo é algo importante, pelo mesmo motivo que estarem em signos que façam aspectos é importante – estão nas mesmas condições.
Em tese, dois planetas que estejam no mesmo signo, em qualquer grau, estão em conjunção (chamada também de cópula ou sínodo).
Na prática, quando mais próxima for a conjunção, mais relevante ela é. Isso vale para os aspectos entre planetas, também.
Também há uma grande diferença entre uma conjunção que vai acontecer no futuro (quando o movimento dos planetas nos diz que eles vão se encontrar no mesmo grau, minuto e segundo de grau), e uma que já aconteceu (quando o movimento dos planetas nos diz que eles já se encontraram e estão se separando).
O primeiro caso é chamado de conjunção aplicativa. O segundo, conjunção separativa. Se o primeiro caso significa eventos – ou oportunidades – futuros, e o segundo significa eventos passados, é claro que o evento é significado pelos dois planetas exatamente no mesmo ponto do zodíaco. Este momento é chamado de conjunção perfeita.
Quando estamos falando de influência de um planeta sobre o outro, basta estarem no mesmo signo, embora, a partir de uma dada distância, o efeito seja desprezível. Se estivermos pensando num evento, pelo contrário, ele só acontece se a conjunção, em algum momento, ficar perfeita.
Se um dos planetas ficar retrógrado e voltar antes de levar a conjunção à perfeição, ou se um dos planetas mudar de signo antes que a conjunção ocorra, ela não aconteceu. O evento simbolizado não ocorre.
Isto é importante, porque vale também para os aspectos.
Conjunção só ocorre no mesmo signo. Se um dos planetas mudar de signo, ela não acontece. Se o outro mudar de signo também e encontrar com o primeiro, vai acontecer outra conjunção, no futuro, entre os dois planetas, mas essa conjunção, no primeiro signo, não aconteceu. Se, dependendo do contexto, da área astrológica, do que estamos analisando, vamos considerar essa segunda conjunção ou ignorá-la, é outra história; mas a primeira não aconteceu.
O que a conjunção significa?
Literalmente, estar junto.
Isso é bom ou mau?
Depende do contexto. Não há como saber em abstrato. Encontrar minha amada e encontrar o meu assassino são eventos bastante diferentes em termos do quanto eu vou gostar e do que vai acontecer comigo, mas ambos são conjunções.
Combustão e Cazimi
Há duas conjunções especiais, que na maior parte dos casos têm uma significação mais bem definida.
Estar conjunto ao Sol normalmente é bem ruim para o outro planeta. A menos de 8 graus e meio do Sol, dizemos que o planeta está combusto (que quer dizer o que parece: está esturricado, queimado).
Pela natureza do Sol, a combustão carrega o sentido de destruição, anulação, ocultação e cegueira.
Quando um planeta está combusto e com muita dignidade essencial (no próprio domicílio ou exaltação), a combustão não tem essa conotação ruim, se assemelhando a uma conjunção comum, mas o sentido de cegueira – a depender do contexto – permanece.
Há uma pequena faixa de alívio neste deserto solar. Quando um planeta está a menos de 17 minutos e meio do Sol, ele está cazimi ou no coração do Sol. De novo, ele significa o que parece. A ideia aqui é que o planeta está nas graças do rei, e fica protegido de qualquer efeito ruim da proximidade com ele. Ele não se torna o rei, é lógico, mas abaixo dele, ele pode fazer o que quiser.
Eu acho que os capítulos sobre o céu e sobre os planetas deixaram claro a posição de primazia do Sol com relação aos outros planetas. Isso é bastante fácil de ver aqui. Quando mais próximo do Sol (sem estar cazimi, lógico), pior para o planeta; mesmo quando está fora da faixa de combustão, ele ainda é considerado como estando Sob os raios do Sol até que se afaste dele mais de 17 graus.
Isso vale para quando ambos estão no mesmo signo. Estar à uma distância do Sol equivalente à combustão, mas em signos diferentes, é estar sob os raios do Sol. O planeta pode estar sob os raios do Sol e em signo diferente, mas o efeito é bem mais fraco.
Essas distâncias não são gratuitas. O disco solar tem um diâmetro aparente médio de 35 minutos de grau no céu; seu raio, então, é de 17 minutos e meio.
Aspectos – estamos só olhando
Dois planetas que estejam em signos que fazem aspecto estão, em tese, em aspecto. Quando algum autor antigo menciona que dois planetas se observam (o termo em inglês é “beholding”), é disso que está falando.
No entanto, embora isso possa ser relevante em alguns casos, queremos saber de eventos, ou influência próxima. Aqui, vale exatamente o que falei para as conjunções.
Aspectos que vão acontecer no futuro são aplicativos. Aspectos que já aconteceram são separativos. Aspectos são perfeitos ou exatos quando acontecem. Se alguma coisa impedir o aspecto de chegar à perfeição, ele não aconteceu.
Eles são bons ou maus?
De novo, a pergunta não faz sentido (com uma exceção, vamos ver abaixo).
O que vai nos dizer se um aspecto é bom ou mau é o contexto. Eles podem ser classificados entre fracos e fortes, e entre fáceis e difíceis. O raciocínio por trás disso está no capítulo 12.
O sextil é fraco e fácil. É o mais fraco dos aspectos.
A quadradura é medianamente forte e difícil. Os eventos significados por ela não têm, a princípio, nada de ruim, mas – dependendo do contexto e do nível – podem ter alguma dificuldade ou atraso envolvidos.
O trígono é forte e fácil. Os planetas estão no mesmo elemento, a conexão é quase tão fácil quanto uma conjunção. Mas uma conexão fácil com o sujeito que vai roubar minha carteira não me deixa feliz, nem tem um desfecho positivo.
E a exceção?
A oposição. Ela é forte e extremamente difícil. Os eventos significados por ela, por tanto, não acontecem, ou acontecem de forma desfavorável, ou ainda acontecem e algo ruim acontece em seguida.
Desta forma, a menos que o contexto dê um bom motivo para ignorar uma dificuldade tão grande, este aspecto é difícil e ruim.
Aspectos “novos”
Como eu disse no capítulo 12, os signos não têm afinidade com os signos adjacente a eles e os adjacentes aos signos opostos a eles. Assim, aspectos entre planetas que estejam em signos adjacentes (ou entre um signo e um signo adjacente ao postos) não existem porque os signos não estão em aspecto.
Da mesma forma, um ângulo que una dois planetas que estejam em signos que fazem sextil não é um aspecto porque o único que eles podem fazer é o sextil.
Ou seja, os “aspectos Keplerianos” são divisões interessantes do Zodíaco, mas não são aspectos.
Latitude. Conta?
Não mencionei a latitude (distância entre os planetas medida perpendicularmente à eclíptica, em vez de medida ao longo da eclíptica), exceto quando falei dos nodos.
Isso é porque ela não é importante neste contexto.
Como eu disse no começo do livro, o simbolismo da eclíptica é claro. É o Sol, símbolo do Criador, atualizando ou lembrando as possibilidades da criação, ao longo dos signos. A posição com relação ao passo do Sol é extremamente importante, independente da latitude; estrelas bastante longe da eclíptica (mais de vinte graus fora do Zodíaco, por exemplo) são importantes, para se ter uma ideia. Não há motivos para desprezar aspectos entre planetas, que nunca se afastam mais de 10 graus da eclíptica, por causa da latitude.
Isso vale para a posição Cazimi, também, embora alguns autores importantes discordem. Estar no mesmo hemisfério celeste que o Sol é o bastante para deixar o planeta invisível; não são alguns grau de distância da eclíptica que fariam alguma diferença; o importante é estar naquele grau da trajetória do Sol exatamente junto com ele, a comunhão exata com relação às possibilidades do Cosmos.
O que posso apresentar como justificativa além do que disse acima é que, na minha experiência, Cazimi funciona independentemente da latitude.
A única exceção mencionada neste capítulo são os eclipses, e é fácil ver porquê. A Lua e o Sol têm discos visíveis no céu (o disco máximo normal da Lua é do mesmo tamanho que o do Sol, 35'); se eles não estiverem próximos em latitude, um não se interpõe ao outro e o eclipse não ocorre. Não faz nenhuma diferença para o Sol se Mercúrio está conjunto a ele a menos de 17', ou a mais de 6 graus, de latitude, então sua disposição com relação a ele não muda; mas a latitude da Lua na conjunção com ele faz diferença na imagem que ele apresenta no céu.
Marcos Monteiro, Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013.
O livro pode ser adquirido aqui:
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