Na antiga astrologia baseada na concepção ptolomaica do universo, as casas eram divisões estáticas do espaço acima e abaixo da Terra plana. Não sendo uma expressão de movimento planetário, não podiam ser uma expressão de Vida. Elas lidavam puramente com circunstâncias externas, estabelecendo departamentos fixos para as atividades da Vida. Portanto a base de toda as classificações de operações de vida era o zodíaco e o percurso cíclico do Sol por seus signos. Os equinócios e solstícios serviam muito naturalmente para efetuar uma divisão do zodíaco em quatro grandes quadrantes correspondentes às estações. Esta divisão se baseia precisamente na relação do plano equatorial da Terra com a eclíptica, o caminho visível do Sol. Os equinócios estão nos pontos de interseção destes dois planos; os solstícios, nos pontos em que estes dois planos estão mais distantes um do outro. Isto nos dá os quatro signos cardinais do zodíaco: Aries e Libra nos equinócios de primavera e outono — Câncer e Capricórnio nos solstícios de verão e inverno.
Estes quatro signos foram vistos como os tempos cruciais do ano, períodos de atividade especial da força vital e de liberação especial de poder. No entanto, era claro que os tipos de liberação que ocorriam durante esses quatro períodos cruciais eram de naturezas diferentes. Nos equinócios, vinham os tempos de maior impulso vital; nos solstícios, de menor impulso; como, quando observamos as oscilações de um pêndulo, vemos seu movimento mais rápido ao cruzar o ponto de equilíbrio, e mais lento quando alcança as posições extremas.
Para os antigos, a eclíptica parecia oscilar para o sul e para o norte com relação à Terra, completando uma oscilação completa a cada ano. Para nós, modernos, são os polos da Terra que executam o movimento oscilatório com relação ao Sol, apontando em direção ao Sol ou na direção oposta. Quando o polo norte se coloca de frente para o Sol, isto é verão no hemisfério norte; quando ele esconde sua face do Sol, é inverno. A mesma oscilação pendular, mas vista à luz da relação equador-eclíptica ou da relação polo-Sol.
O resultado, em ambos os casos, é que os signos equinociais do zodíaco, Aries e Libra, são de grande impulso positivo, enquanto os signos solsticiais, Câncer e Capricórnio, são de impulso negativo. Por outro lado, nos pontos solsticiais as polaridades de vida (o yang e yin da filosofia chinesa) são respectivamente experimentados em sua qualidade mais pura. O mais puro yang (com o mínimo de mistura yin) é experimentado pela Terra no solstício de verão; o mais puro yin (com o mínimo de mistura yang) é experimentado pela Terra no solstício de inverno, enquanto nos equinócios as duas polaridades estão misturadas igualmente.
Temos assim dois conjuntos de fatores. Nos equinócios, o impulso de vida é maior. Nos solstícios, as qualidades das polaridades da vida são sentidas em seu modo mais puro. Isto nos dá o significado da caracterização dos quatro períodos cruciais do ano em termos de quatro "elementos": Fogo e Ar, Água e Terra. Fogo (Aries) e (Ar) Libra são expressões do impulso, Água (Câncer) e Terra (Capricórnio) são expressões de qualidades de vida, ou polaridades. Nos equinócios, temos extremos de movimento e atividade (em direção ao Sol ou se afastando dele, em direção positiva ou negativa); nos solstícios, encontramos potencialmente os extremos de realização (ou das polaridades yang ou yin).
Os termos yang e yin, no entanto, não podem nos confundir. Eles realmente significam objetivo e subjetivo, exterior e interior; assim, de acordo com costumes antigos, eles se referiam ao homem e à mulher. De Aries para Libra: este é o período de viver objetivamente, o período em que a vegetação se manifesta. É o domínio da folha. De Libra para Aries: este é o período de viver subjetivamente, o período em que a vegetação é latente, escondida abaixo da crosta da Terra. É o domínio da semente. Folha e semente são dois grandes símbolos de exterior e interior, de objetividade e subjetividade.
Portanto, Aries representa o extremo de impulso em direção à condição de folha, em direção ao extremo de realização na (e através da) realidade objetiva, que é Câncer — a planta completada no fruto: maturidade objetiva.
Por outro lado, Libra representa o extremo de impulso em direção à condição de semente, em direção ao extremo de realização na (e através da) realidade subjetiva, que é Capricórnio — o nascimento da consciência crística interna: maturidade subjetiva.
Assim, Fogo (Aries) é movimento em direção à manifestação objetiva: o desejo primordial de manifestação, a sede de vida num corpo; Tantha — a vontade de viver como um self separado — na filosofia budista. Fogo se realiza em Água (Câncer): a urgência de ser se realiza na seiva das plantas, a linfa e leite que sustenta toda a vida animal, e também a alma pessoal.
Ar (Libra) é movimento em direção à realização subjetiva — a procura do Deus interior, a sede de "liberação" ou de Nirvana. Liberação de quê? Da escravidão ao corpo e ao existir separado. É movimento para longe do sol físico e em direção ao além. Ar se realiza em Terra (Capricórnio): a procura de Deus se satisfaz no nascimento do corpo crístico interior — a Terra espiritual, a nova Jerusalém.
Em termos de nossa nomenclatura prévia — individual, coletivo e criativo —, temos o diagrama.
Isto pode parecer conflitante com o que dissemos do zodíaco como um todo, referindo-se ao coletivo. Mas precisamos compreender que individual e coletivo são termos correspondentes. O corpo é "coletivo" para o self individual, mas é um todo, e portanto um organismo individual. Assim, quando falamos de "indivíduo" com relação ao zodíaco, falamos dessas energias cósmicas que estão construindo a totalidade de qualquer todo. Totalidade e existência individual são quase sinônimos — o mesmo fato visto a partir de duas concepções diferentes.
Fogo é individual porque é o princípio que anima toda a existência individual. É aquilo que se eleva da Terra em direção ao Sol. É o fogo da germinação que impulsiona o núcleo da semente em direção ao Sol, em direção ao Deus onipresente.
Ar é "coletivo" porque é aquilo que leva todo indivíduo e corpo separado à sutil comunhão da respiração. Ar liga pulmões e sangue de todas as entidades que respiram. E aquilo que se eleva da água em direção ao espaço todo-abrangente. E a emanação de todos os corpos, o perfume de todas as vidas. Nele e através dele todas as vidas alcançam unidade na semente que envolve tudo, que é o Deus-do-Mistério: ESPAÇO.
Água é a manifestação "criativa" da urgência de ser um indivíduo separado. Terra é a manifestação "criativa" da urgência de alcançar um estágio de solidariedade espiritual absoluta. Solidariedade é para o espírito o que solidez é para a matéria. Nos dois casos, isto significa Terra. No âmbito do escopo da vida de um homem em particular é preciso que se estabeleça solidariedade entre todos os centros vitais orgânicos e magnéticos antes que o corpo crístico — um símbolo ou um signo dessa solidariedade perfeita — tome forma.
O leitor poderá estar perplexo pelo modo como fazemos com que a oposição entre individual e coletivo coincida com os equinócios, enquanto encontramos a oposição entre yang e yin coincidindo com os solstícios. A contradição é mais aparente que real. A dualidade de princípios ou polaridades chinesa referia-se a fatos concretos, enquanto nós, quando falamos de individual e coletivo, estamos lidando com princípios de movimento, ou digamos, com tendências de consciência. Em outras palavras, colocamo-nos num nível abstrato, que obviamente muda nossa focalização. Em termos práticos, a diferença é muito pequena. Câncer tradicionalmente rege o "lar" e Capricórnio a "vida pública" ou "profissão" — na verdade, a esfera de criatividade individual e de criatividade coletiva.
Acontecem muitas confusões na aplicação do simbolismo astrológico porque as várias abordagens da interpretação não são diferenciadas com suficiente clareza. Quando o manual relaciona todas as coisas que Câncer deve representar, na verdade está empilhando uma massa de "significados", resultados de diferentes tipos de interpretação. Câncer significa uma coisa de um ponto de vista, outra coisa de outro ponto de vista. Este fato justifica esta nossa atitude, que busca um esclarecimento e uma classificação de significados. Pode-se tentar interpretar os signos do zodíaco a partir de vários pontos de vista, cada um resultando num determinado conjunto de significados, mas, a menos que se perceba o modo como cada conjunto é produzido e a lógica de sua produção, necessariamente continuará a haver confusão.
Até agora lidamos com o fundamento mais geral e arquetípico da interpretação zodiacal, considerando os quatro momentos básicos do ciclo do ano. É evidente que é aconselhável, e de fato necessária, uma sequência nessa diferenciação, e há dois modos essenciais pelos quais isso pode ser feito. A estrutura quádrupla dos signos "cardinais" (Aries-Libra, Câncer-Capricórnio) nos dá quatro seções de 90 graus cada. Cada seção pode ser dividida em duas subseções de 45 graus cada, ou em três subseções de 30 graus cada uma. Este último é o procedimento usual, mas perde muito de seu significado quando não é correlacionado ao primeiro, coisa que infelizmente é pouco compreendida.
Diferenciação de energia: a divisão do zodíaco em quatro partes, que até agora estudamos, nos dá quatro tipos básicos de substância cósmica: Fogo-Ar, Agua-Terra. Esta é a diferenciação zodiacal mais fundamental à medida que o zodíaco como um todo simboliza, como já dissemos, a construção de um microcosmo. Substância é a coisa mais fundamental em qualquer construção. Mas "energia" e "forma" são igualmente importantes. Por isso veremos que o zodíaco, muito logicamente, é suscetível de dois outros tipos de diferenciação, referindo-se respectivamente à energia e à forma.
Energia não é muito diferente de substância. É substância ativada e liberada, como a física moderna já demonstrou bem definidamente. Podemos assim esperar que o princípio de "diferenciação de energia" seja similar ao de "diferenciação de substância". Ambos se baseiam no princípio do dualismo polar, de ação e reação. O zodíaco-energia será então óctuplo, enquanto o zodíaco-substância é quádruplo.
De acordo com T. O. McGranth (Timing Business Activity and the Sun, p. 12):
Sabe-se que todos os corpos tais como o Sol e seus satélites são corpos carregados e que são circundados por ion campo magnético; que em todo corpo magnético tendo dois pólos (o Sol e seus satélites são corpos desse tipo), as correntes magnéticas circulam do pólo norte para o pólo sul, tornando-se neutras a cada 90° e atingindo uma intensidade máxima a cada 45°.
Se o caso é esse, é evidente que os pontos de máxima liberação de energia deverão ser encontrados a meio caminho entre equinócios e solstícios. Esses pontos portanto se encontram nos seguintes graus do circulo: 45, 135, 225, 315, ou, em termos da nomenclatura zodiacal usual: 15° Touro, 15° Leão, 15° Escorpião, 15° Aquário. Estes pontos não são desconhecidos para alguns ocultistas. Eles correspondem ao que já foi chamado de: Quatro Portais de Descensão Avatárica. Como na terminologia antiga um "avatar" na realidade é uma liberação de energia cósmica, o significado da frase é bastante evidente. Esses Quatro Portais são simbolizados pelas quatro criaturas simbólicas: O Touro, o Leão, a Águia, o Anjo. Cada um deles representa um tipo determinado de liberação dinâmica, um tipo particular ou Raio de Poder — e de "iniciação" liberadora de energia.
O Touro e o Leão representam poder de individuação, poder enraizado no planeta, isto é, na existência concreta de si. Por outro lado, a Águia e o Anjo simbolizam poder de coletivização, poder que expande o individual para o coletivo e para o universal. Poderíamos acrescentar que o Touro é poder em direção à formação do ser individual, enquanto o Leão é poder que emana do ser individual. A Águia é poder em direção à formação do ser universal, enquanto o Anjo é poder que emana do ser universal.
No ciclo anual, os quatro pontos "avatáricos" acontecem aproximadamente em 6 de maio, 8 de agosto, 8 de novembro, 5 de fevereiro. Nessas épocas, as energias ou realizações que foram acumuladas nos equinócios e solstícios são liberadas e efetivadas. O numerologista poderia interessar-se por considerar o fato de que os algarismos do número de cada um desses oito pontos do circulo somam o dígito 9: (45, 90, 135 etc.). Baha'u'llah, o grande profeta persa que muitos consideram o avatar da nova era de Aquário, nasceu em 12 de novembro, muito perto do ponto da Águia — uma época muito apropriada para alguém que pregou o evangelho de uma "religião universal" e em geral uma síntese planetária todo-abrangente. Ele adotou o número 9 como o símbolo de sua mensagem.
Diferenciação de forma: a energia opera num ritmo polar de ação e reação; assim, qualquer tipo de diferenciação de energia baseia-se em divisões e subdivisões teoricamente iguais: 2, 4, 8. Na simbologia antiga, oito é o número do Sol, 888, o número do Cristo, o Sol trino.
Assim o número nove representa Aquele que domina o poder óctuplo. Mas como se poderá dominar o poder, a não ser que se tenha uma forma-de-poder — um mecanismo — na qual segurar e a partir da qual liberar o poder à vontade? Não é possível discutir em profundidade o significado do termo forma-de-poder.* Que seja suficiente dizer que não pode existir uma liberação controlada e rítmica de energia a não ser que exista algum tipo de "mecanismo" através do qual essa liberação se efetue. Todos os mecanismos são "formas-de-poder", isto é, formas que controlam a geração, concentração e distribuição de poder.
Sempre três operações: geração, concentração e distribuição. Por isso, o número básico de todas as formas-de-poder (e, provavelmente, poderíamos dizer, de todos os tipos de técnica) é 3. 0 engenheiro usa atração e empuxo. Puxar e empurrar são duas coisas, mas esse usar envolve um terceiro princípio. Ação e reação: este é o ritmo energético puro. Mas é necessário um terceiro termo: interação, para que a energia possa construir um corpo orgânico. Um corpo não é um tubo através do qual as ondas de energia afluem e refluem. Ele assimila substância. Guarda energia. Transforma poder. Usa fluxo e refluxo para subir o nível ou potencial de energia. E este é o "viver orgânico" — que sempre envolve três faculdades básicas: automanutenção, auto-reprodução, auto-realização.
Poderíamos prosseguir quase infinitamente enumerando trindades de princípios em todos os domínios de ser e vir-a-ser. Mas aqui, com o zodíaco e com todos os elementos "equatoriais", lidamos principalmente com poder — com o poder que constrói e regenera organismo ou corpos. E a formulação mais satisfatória da trindade de elementos que entra nessa operação de construção é a já mencionada: geração, concentração e distribuição
.
Vimos que nos quatro pontos cruciais do ciclo anual havia uma geração de poder. Os resultados desta geração são quatro tipos básicos de "substâncias": Fogo-Ar; Agua-Terra. Através dessas quatro "substâncias" ou elementos cósmicos, o poder irá operar de acordo com o ritmo triplo acima mencionado. Isto nos dará o seguinte esquema de operação:
Os signos zodiacais de geração de poder são chamados signos cardinais.
Os signos zodiacais de concentração de poder são chamados fixos.
Os signos zodiacais de distribuição de poder são chamados mutáveis.
Eles podem ser respectivamente relacionados com espírito, alma e mente — todos os três operando dentro do "corpo" total, ou "ovo áurico" : o microcosmo. Este microcosmo também pode ser denominado, usando o termo em seu significado mais abrangente: personalidade. Personalidade, ou, talvez ainda melhor, a Pessoa Viva, é a síntese de espírito, alma e mente operando em um corpo (ou corpos, se se aceita o conceito ocultista de diversos veículos distintos para energias espirituais anímicas e mentais centradas na estrutura física visível).
O Espírito — ou a Vida — gera. A alma concentra. A mente distribui. A personalidade manifesta — ou esconde! O trabalho de desenvolvimento de vida para cada ser humano é revelar, nas atividades da personalidade, as gerações do espírito, as concentrações da alma e as distribuições da mente.
Para poder completar o quadro simbólico, basta correlacionar a classificação quádrupla com a tripla. Então deveremos tentar entender como:
Isto pode parecer um tanto complicado e desconcertante, e assim podemos tentar um outro modo de expressar a "fórmula" zodiacal:
Fogo espírito (Aries) é fogo gerador: fogo elétrico
Fogo alma (Leão) é fogo concentrador: fogo solar
Fogo mente (Sagitário) é fogo distribuidor: fogo por fricção.
Isto significa que:
Quando o fogo gera, está operando em termos de espírito.
Quando o fogo concentra, está operando em termos de alma.
Quando o fogo distribui, está operando em termos de mente.
Em outras palavras:
Fogo gerador é o ponto de partida do self individual (Áries).
Fogo concentrador refere-se à liberação criativa de self, meio através do qual a alma se reconhece inteira e semelhante a Deus (Leão).
Fogo distribuidor é aquele que mistura, sintetiza e universaliza todos os elementos e energias anteriores ao nascimento crístico — o nascimento do ser universal (Sagitário).
O mesmo procedimento ressaltará com maior clareza o significado dos outros elementos:
Água geradora (Câncer) opera em termos do espírito. É o poder que faz nascer o self concreto, que cria uma base concreta de operação — um lar —para o self individual.
Água concentradora (Escorpião) opera em termos de alma. Concentra e sustenta a urgência de coletivização do Ar-espírito (Libra), o impulso em direção ao "re-nascimento em Cristo".
Água distribuidora (Peixes) opera em termos de mente. Efetua a síntese de energias que foram levadas à focalização criativa em Capricórnio e vitalizadas em Aquário.
Ar gerador (Libra) opera em termos de espírito. É o poder que reúne e torna comuns as emanações de indivíduos.
Ar concentrador (Aquário) opera em termos de alma. Dá vitalidade e impulso à Terra espiritual (Capricórnio). É a respiração da alma coletiva.
Ar distribuidor (Gêmeos) opera em termos de mente. Exterioriza e interpreta o impulso individual de Aries, uma vez salientado e substanciado em Touro.
Terra geradora (Capricórnio) opera em termos de espírito. É o poder de encarnação, o poder de assumir um corpo — à luz do espírito que envolve.
Terra concentradora (Touro) opera em termos de alma. Dá substância e profundidade aos impulsos de Aries.
Terra distribuidora (Virgem) opera em termos de mente. Espalha a liberação de self criativo de Leão através do espaço, em que é visto como uma massa de energias polares (A Virgem de Luz). A discriminação surge na mente como o problema de lidar com polaridades, com luz e sombra.
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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
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