Definimos "personalidade" como "uma síntese de padrões de comportamento, como a soma total de todos os movimentos externos e emoções de um ser humano: o ritmo total de suas atividades-vida — do modo como ele caminha e aperta seus lábios a seu comportamento no campo de batalha ou num palco de concerto". Dissemos que, como sem atividade não poderia haver "personalidade", podemos falar dela como um complexo de atividades. Tais afirmações são prova suficiente de que não damos ao termo o significado um tanto pejorativo que os teósofos e estudantes de filosofia esotérica normalmente lhe atribuem.
Não consideramos personalidade como representante do ser "externo" em contradição com a assim chamada individualidade ou ser "interno". Sentimos que essa oposição ou dualismo não é especialmente útil no nosso atual estágio de desenvolvimento humano. Antes, tende a focalizar o comportamento humano de um modo que é mais ético e devocional que integrador e estético — este último termo sendo utilizado como o definimos previamente. Personalidade, para nós e presumivelmente para homens como o general Smuts e a maioria dos psicólogos modernos, é o ser humano todo em funcionamento. Não é o ser humano todo em essência ou de modo abstrato, mas em sua manifestação real e à medida que é perceptível a outras personalidades funcionando no mesmo nível de operação.
Nenhum astrólogo — bem como nenhum psicanalista — pode interpretar uma vida e destino num nível superior àquele em que ele mesmo funciona. Um escriturário de mente estreita num escritório de uma pequena cidade não pode conhecer a personalidade real de um grande santo ou gênio. É claro que ele poderá emitir julgamento sobre ela ou possivelmente adorá-la, mas não está em posição de conhecê-la e avaliá-la como uma personalidade — apesar de poder reagir muito fortemente a algumas de suas características. Personalidade significa totalidade in actu. E não existe nenhuma percepção real ou no mínimo nenhuma compreensão da personalidade a não ser que a totalidade de seus componentes seja apreendida, conscientemente ou através de sentimentos intuitivos. E ninguém pode apreender essa totalidade a não ser que esteja no mesmo nível de desenvolvimento humano ou se, num nível superior, for capaz de colocar-se no nível inferior, temporariamente.
Essas observações são necessárias porque as pessoas muitas vezes falam da personalidade como se fosse uma coisa absolutamente óbvia, apreendida de modo semelhante por qualquer um. Reagir a algumas fases de uma personalidade e compreender ou mesmo ter noção da realidade — isto é, da totalidade humana que é a própria personalidade — são duas operações diferentes. Personalidade, como uma síntese de padrões de comportamento, pode abranger muitas fases de atividades extremamente difíceis de apreender. Não. estamos nos referindo aqui aos dédoublement exagerados de personalidade, que produzem dois tipos absolutamente distintos de comportamento em relação a um organismo físico, mas meramente ao fato de a personalidade poder implicar séries de atividades que transcendem o desenvolvimento consciente normal da humanidade como ela é hoje. Personalidade é um "balancete" mostrando o relacionamento sempre em mudança entre fatores conscientes e inconscientes, individuais e coletivos, no ser humano total. As pessoas cujos seres internos estão repletos de projeções das camadas mais profundas do "inconsciente coletivo" são, como personalidades, complexas e difíceis de entender.
Somente seus pares podem conhecê-las, conhecer o padrão total de seu comportamento em todos os níveis. Pois, como Walt Whitman escreveu em versos livres de beleza críptica:
Only themselves understand themselves and the like of themselves,
And souls only understand souls.
[Somente eles entendem a si mesmos e aos
seus iguais,
e Almas somente entendem almas.]
Sem dúvida uma das maiores conquistas da técnica astrológica é o poder que se adquire, através de seu domínio, de ver numa carta de nascimento o projeto de uma personalidade total. Já vimos como se pode isolar e interpretar os fatores individuais e coletivos, que constituem, por assim dizer, as bases da personalidade. Mas o padrão da tapeçaria só será apreendido pelo estudo daquelas entidades astrológicas que são focos de cor, de atividade, de significado. Essas entidades, consideradas em suas infinitas correlações e não como pontos isolados, formam todas juntas o desenho da tapeçaria da vida. Revelam a personalidade como um padrão de comportamento multiforme, simbolizando desde os mais triviais aos mais exaltados e transcendentais modos de atividade fisiopsicológica.
Essas entidades astrológicas se colocam sob duas categorias gerais. Primeiro, os planetas em si, incluindo Sol e Lua; segundo, pontos abstratos derivados dos relacionamentos entre as órbitas dos planetas (nodos) ou das posições dos planetas em relação ao horizonte e meridiano (rodas). Este capítulo será devotado a uma breve análise do significado básico de planetas em termos de análise da personalidade; o seguinte, a um estudo dos nodos e das mais importantes dentre as rodas ou partes.
No entanto, precisaremos mais uma vez dividir nosso campo de estudo e classificar os planetas ao menos de duas maneiras essenciais. O primeiro tipo de classificação lida com o poder motivador e a fonte de atividades simbolizada pelos planetas. Deveremos distinguir entre planetas que se referem ao consciente e os que se referem ao inconsciente — com os termos consciente e inconsciente como são usados por C. G. Jung e definidos num capítulo anterior (p. 89), Astrologia e psicologia analítica). Afora essas duas categorias, devemos colocar o Sol como símbolo das energias integradoras do self, que é descrito por Jung como o "centro da totalidade da psique". A psique inclui conteúdos inconscientes e conscientes. Integrar esses conteúdos — isto é, conscientemente assimilar os conteúdos do inconsciente — é a essência do processo de individuação, do qual o Sol é o símbolo ativo.
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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
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