domingo, 17 de julho de 2016

O Sistema Solar como Personalidade, por Dane Rudhyar


Até agora nossa abordagem tem lidado com fatores puramente psicológicos e consideramos planetas como símbolos que nos permitiriam esquematizar os três tipos principais de atividades características de qualquer organismo vivo: atividades determinantes do que o organismo é, como se mantém, como se reproduz. Então estudamos os problemas que surgem da repressão das atividades orgânicas naturais como estão simbolizadas nos planetas retrógrados. Por fim, analisamos os três modos de atividade através dos quais o ego particular é capaz de transcender a si mesmo e tomar parte do caráter da universalidade. A imagem de Saturno, que é o fundamento do estado de ego particular, se desfaz então num tipo de representação de caráter plutoniano; o modo jupiteriano de atividade compensatória dá lugar a um processo netuniano de sublimação, O tipo marciano de autorreprodução é suplantado pela criatividade uraniana.

Se, no entanto, nos aproximarmos desse assunto de uma direção reversa, isto é, partindo de uma análise do sistema solar como um todo e projetando o resultado disso em nossa experiência fisiopsicológica, obteremos um quadro mais lógico e mais ordenado. Nosso conceito de personalidade se amplia e assume perspectivas cósmicas. O sistema solar inteiro, visto como um organismo vivo complexo, transforma-se numa personalidade cósmica. É preciso entretanto evitar cuidadosamente o erro de perdermos nossa base de operações: a Terra. Por mais "cósmicos" que possamos ser, estamos sempre e para sempre enraizados na Terra. O único sistema solar que conhecemos é aquele que é visto através da atmosfera terrestre e por meio de sentidos e instrumentos terrestres. Na verdade, nada conhecemos além da Terra e das reações que a Terra experimenta a partir do exterior. Precisamos permanecer sempre centrados na Terra, porque, enquanto operarmos por meio de veículos de consciência nascidos na Terra, por mais aprimorados que estes sejam, todas as nossas experiências serão condicionadas pela qualidade de nosso planeta, e todos os símbolos vitais que possamos conceber, sendo necessariamente interpretações e extensões dessas experiências, precisarão estar baseados no ponto de vista da Terra e do Homem como ser planetário.

Portanto, se falamos do sistema solar, falamos de como ele aparece ao pesquisador científico, espalhando-se em cada lado do caminho percorrido anualmente pela Terra. Há corpos celestes dentro dos confins da órbita da Terra e há outros fora. E verdade que o Sol é um dos focos dessa órbita terrestre elíptica, e também de outras órbitas planetárias. Mas o que isto significa é que nós, observadores humanos, não estamos no centro do sistema ao qual — sabemos o suficiente para percebê-lo — pertencemos como mero planeta. Este fato de nosso conhecimento, de que o Sol é o centro do sistema e não a Terra, não torna legítimo um ponto de vista verdadeiramente heliocêntrico. Sabemos desse fato intelectualmente, mas todas as nossas experiências são necessariamente centradas na Terra. Em outras palavras, eu, o ego, sei agora que o campo de minha consciência (minha própria Terra) não é o centro de meu ser total. Presumo que exista um self que, como o Sol, é o centro desse ser total. Embora eu não o experimente como um self, mas apenas como um ego. Postulo a possibilidade de uma identificação desse ego com o self. Mas se eu tivesse experimentado tal identificação, não mais seria uma personalidade egocentrada, Seria um Personagem divino — com um veículo solar de consciência - seja o que for que isto signifique. Pode ser que haja Personagens divinos operando por meio de um corpo nascido na Terra, mas, se isso for assim, a personalidade enraizada naquele corpo e percebida pelo homem comum não é sua verdadeira Personalidade. E assim não poderemos discutir com proveito uma "Personalidade Solar" que nós, como seres terrestres, jamais experimentaremos plenamente, nem há qualquer validade em presumir um enfoque centrado no Sol como base de um sistema de interpretação simbólica de vida. Nossos voos cósmicos precisam partir da Terra e a ela retornar — caso contrário precisarão continuar sendo sonhos e especulações sem significado vital.

Portanto, consideremos o sistema solar, do ponto de vista da Terra e do Homem, como um todo planetário. Dividiremos o sistema solar naquela parte que está contida no interior da órbita da Terra e naquela parte exterior a essa órbita. Dentro da órbita terrestre, encontramos os planetas internos Vênus, Mercúrio e o Sol; fora dela, os planetas exteriores Marte, Júpiter, Saturno e Urano, Netuno, Plutão. As posições correspondentes desses planetas nesses dois domínios celestes darão a cada planeta seu significado simbólico essencial, pois, permitam-nos repetir mais uma vez, os significados básicos dos planetas lhes pertencem pela lógica de suas posições com relação d Terra e em virtude de suas características astronômicas, tais como velocidade de revolução e rotação, massa, cor , número de satélites etc. Em outras palavras, Vênus tem um certo significado básico simplesmente por ser o primeiro planeta entre a Terra e o Sol. Do mesmo modo, não pode haver dúvida quanto ao significado básico de Plutão, porque este significado deriva de sua posição, de suas características orbitais etc. É claro que um significado como esse é ao mesmo tempo muito básico e muito abstrato ou geral — quase tão abstrato ou geral quanto os significados dos números dois e três. Portanto, na aplicação deste significado à interpretação de determinados nascimentos, as estatísticas e a experiência acumulada têm um valor inestimável. No entanto, não dão origem ao significado básico.

Isto é particularmente importante quando consideramos a Lua como um fator astrológico. Para os antigos, a Lua era a auxiliar do Sol, a "luz" secundária que brilhava à noite. Todo o simbolismo de Sol e Lua foi construído sobre esses dados de experiência relativos à luz do Sol e da Lua, e as correlações fisiopsicológicas estabelecidas entre luz solar (dia, calor etc.) e luz lunar (noite, mistério, medo etc.).

Essas correlações não são mais os principais geradores de significado em termos de conhecimento e comportamento científico moderno. Por um lado, a luz artificial transformou noite em dia, e a vida da cidade moderna fez dos dias de trabalho em escritórios uma espécie de noite. Contudo, mais profundo do que isso, a atribuição de significados a planetas (e a todos os fatores astrológicos) precisa agora ser estabelecida sobre aquilo que, para nós, homens modernos, é nosso conhecimento básico: o conhecimento científico e intelectual.

Desse ponto de vista astronômico, a Lua ocupa um lugar especial de fato como o satélite da Terra. Girando mensalmente ao redor da Terra, encontra-se metade do tempo dentro da órbita terrestre e metade do tempo fora dela. Como resultado disso, a Lua é o elo entre os domínios interior e exterior do sistema solar, entre os planetas interiores e exteriores. Por causa de sua função de ligação, ela aparece sempre mutante em seu aspecto. Ela tem fases, ondas crescentes e decrescentes, um ritmo dualista definido. Quando nova, a Lua está no ponto mais interior da órbita terrestre. Quando cheia, no ponto mais exterior. Subjetividade e objetividade.

Antes, quando estudamos os planetas aos pares, dissemos que a Lua era a contrapartida feminina de Saturno. Mas essa afirmação, ainda que verdadeira num certo sentido, não deve ser tomada por definitiva. Há um "mistério" ligado à Lua, e ele tem a ver com a mudança que (ao menos potencialmente) ocorreu no final das eras arcaicas (por volta de 600 a.C.). Se agora estudamos o sistema solar do ponto de vista da órbita terrestre e se continuamos a ver os planetas aos pares, deveremos obter o seguinte resultado:

Marte e Vênus colocados a cada lado da Terra se tornam opostos polares, assim como Júpiter e Mercúrio; então Saturno e o Sol. Antes de discutirmos o que o Sol significa aqui, permitam-nos repetir que os planetas exteriores são positivos no sentido de se referirem às causas das atividades representadas pelos pares, enquanto os planetas internos se referem a resultados e são assim chamados negativos. Marte simboliza o poder de iniciar e de impulso que começa todas as atividades vitais; Vênus, a energia consumadora, concludente, frutífera, que fecha todos os ciclos de atividade. Júpiter simboliza o poder de circulação dentro de cada todo orgânico, que os expande a partir de dentro e os torna inteiros. Mercúrio é o sistema nervoso e mais tarde o poder de pensamento que consolida e se torna o veiculo do poder jupiteriano. Saturno é o poder original que inicia qualquer manifestação vital isolando do oceano indiferenciado da vida um fragmento particular e que, construindo uma parede ao redor desse fragmento, lhe dá a possibilidade de ser uma entidade separada, independente.

E quanto ao oposto polar de Saturno? Logicamente deveria ser o Sol. Mas também se falou muito e até se fez uma efeméride de um planeta intramercurial, Vulcano. Não sabemos se Vulcano existe ou não. Mas não se pode basear significados astrológicos em fatos astronômicos meramente possíveis. Vulcano pode existir. Mas exista ou não, aquilo que ele representa, como significado, pode ser atribuído muito mais satisfatoriamente à fotosfera do Sol. Ocultistas disseram que não conhecemos o Sol real, que o que vemos é apenas, por assim dizer, a luz que passa por uma janela aberta. Essa luz constitui o que pode ser chamado de superfície do Sol, a parte ativamente radiante do Sol. Na verdade isto é tudo que sabemos sobre o Sol, sensorial e fisicamente. E a fonte das "vibrações solares", e estas para nós significam luz e vida. Saturno coloca os limites de qualquer organismo vivo particular e assim ajuda a focalizar, dentro desses limites, como se através de uma lente, a luz difusa do espaço interestelar ou galáctico. O Sol, num certo sentido, é a própria lente. A fotosfera é a totalidade de raios de luz e calor focalizados e que preenchem os limites do organismo vivo. Saturno diferencia. A fotosfera torna viva a entidade diferenciada.

Temos assim uma dupla trindade de planetas internos-externos. Cada um desses planetas representa uma polaridade da vida trina: três positivos e três negativos. Qual é o "sétimo"? — pois todas as filosofias nos dizem que o grande número de todas as manifestações da vida é sete. O sétimo é aquilo que correlaciona as polaridades opostas. É aquilo que, além do mais, coleta essas energias polares e as distribui, através de um processo de ondas cíclicas, para o organismo vivo. E a Lua.

Sem a Lua, não existiria nenhum intercâmbio, nenhum relacionamento entre planetas interiores e exteriores. Não haveria fluxo de energias dentro e através da Terra. A cada lado da Terra estão os planetas. Mas é a Lua que coleta suas energias à medida que se desloca entre o mais interior e o mais exterior. Tendo coletado e misturado as energias, ela as distribui para a Terra. Ela alimenta a Terra com essas energias.

Portanto, a Lua é o útero e a mãe da Terra. É o fluido linfático. É o fluxo aquoso, a seiva dentro da planta. Coleta todas as forças cósmicas e as distribui ao embrião em seu ventre. Coleta todos os sais minerais do solo e os distribui à planta inteira. É a placenta envolvendo orbitalmente a Terra, como a placenta envolve o embrião. Na verdade, a Lua pode ser chamada de "ela", a mãe. Ela é a força-mãe, as águas da vida. Mas ela também é o amor de mãe possessivo, que sufoca e envolve a criança, arrastando-a psicologicamente de volta ao berço — o complexo materno, a escravidão de emoções e sentimentalidade.

Mas tocamos apenas a borda da vestimenta. Existe apenas um planeta interno e um externo? Aqui o "mistério da Lua" começa a desvendar-se. Pois é claro que deve existir uma "lua", um agente de ligação para cada dualidade polar. Vimos que há três pares de planetas, três capacidades básicas de vida (ser um self, manter-se, reproduzir-se) em cada organismo vivo. Então deve haver três "luas", e nossa Lua física é apenas o agente que liga o par planetário mais próximo, o de Marte e Vênus. Por ser o mais próximo é o    mais visível, o mais óbvio e o que mais compele para o exterior e de modo consciente, a fonte de nossos desejos e sentimentos mais claros. Mas também deve existir uma Lua para correlacionar o casal Júpiter-Mercúrio e distribuir suas energias harmonizadas para a Terra, e ainda uma "Lua" para distribuir para nós as energias correlacionadas de Saturno e da fotosfera.

Mas, onde estão essas "Luas"? — o leitor poderá perguntar. Talvez não existam massas físicas celestes reais de substância que preencham a função das duas "Luas superiores" acima mencionadas. Talvez elas existam num estado invisível, refletindo luz muito próxima do infravermelho ou ultravioleta para ser visível. Talvez sejam essas "Luas superiores" que os "clarividentes" têm visto e tomado por planetas girando em tomo do Sol. Talvez o "planeta-misterioso" por detrás da Lua seja a próxima "Lua superior". Há muitas dúvidas. Mas, o que fazer disso?

Aquilo de que estamos falando são ciclos de movimentação e distribuição de energia. Um deles está operando com ou através de nossa Lua visível e é um ciclo de aproximadamente 28 dias. Um outro destes ciclos está começando a ser conhecido como um ciclo de 40 meses, afetando mudanças financeiras e o calor do Sol. Um outro bem conhecido é o "ciclo das manchas solares", de pouco mais de 11 anos. Todos esses ciclos são de fato percursos cíclicos de circulação de energia (ou correlações abstratas de movimento — se preferirmos ser mais abstratos). Operem pela intermediação de um corpo físico como nossa Lua ou através de algum fluxo de partículas magnéticas que tenha efeitos de onda — não há nenhuma diferença no que se refere ao simbolismo astrológico. O que conta na atividade cíclica é o fluxo de "algo" que o astrólogo pode relacionar simbolicamente com uma função vital (coletiva e social, bem como individual). O que esse "algo" é, seja um planeta sólido ou uma onda de partículas elétricas, ou mesmo uma abstração pura e simples, isto deveria ter apenas uma pequena importância para o astrólogo. Cabe ao astrônomo descobrir todos os fatos científicos a respeito.

O esboço que se segue poderá ajudar a esclarecer como e onde — é claro que esquematicamente — operam as "Luas". A primeira (nossa Lua física) liga as órbitas de Marte e Vênus, e tem um período de aproximadamente 28 dias. Refere-se ao domínio da ação física e da procriação fisiológica. Representa todos os "sentimentos" ligados àquele domínio. Vitaliza todas as coisas, mesmo aquelas remotamente ligadas ao sexo, e toda atividade criativa à medida que a atividade tenha uma base material concreta de manifestação através de movimentos corpóreos (todas as artes, pois envolvem atividade muscular de um ou outro tipo). Vitaliza, portanto, quase que exclusivamente, o homem e a mulher funcionando num estágio instintivo e fisiológico. Além disso, opera no (e através do) ciclo de crescimento e decomposição de todos os organismos biológicos.

A segunda "Lua" conecta as órbitas de Júpiter e Mercúrio, coleta suas energias e as distribui à Terra. O período dessa atividade é de provavelmente 40 meses. O número é significativo e liga o ciclo com o ciclo de gestação de 40 semanas. Este número, 40, é encontrado com muita freqüência no simbolismo bíblico e refere-se a um período de atribulações e formação interior  (como o é o período de gestação, é claro). Mesmo mais recentemente, diz-se que Abdul Baha, líder da causa Bahai, ficou aprisionado em Akka (que significa "útero") durante 40 anos: um símbolo da formação da nova era espiritual iniciada após sua morte, ou ao seu nascimento.
Precisamos agora considerar os planetas exteriores, Urano, Netuno e Plutão. Se ainda mantivermos a órbita terrestre como eixo, veremos que estes planetas universalísticos são equilibrados somente dentro do próprio "coração do Sol".

Em nossa discussão anterior, "O Sol como elemento de Integração", escrevemos que o Sol representa o poder do self — não o próprio self. Este poder integrador do self opera primeiramente durante o desenvolvimento da psique humana, dentro dos limites do consciente definidos por Saturno. Saturno mais o poder do Sol (fotosfera) constituem o "eu sou" — Saturno é "eu" e poder do Sol é "sou" —, sempre considerando nosso sistema solar centralizado na Terra como uma "personalidade cósmica".
Então o "eu" saturnino é transcendido através do processo trino de vida simbolizado por Urano, Netuno, Plutão. Estes três planetas representam o que Jung chama não-eu, aquilo que precisa ser assimilado pelo "eu". Quando essa assimilação acontece, a "personalidade cósmica" expande, melhor ainda, experimenta uma repolarização ou "conversão". Dentro do "coração do Sol" surge um "eu" transfigurado e este "eu" encontra seu "sou" no poder da trindade Urano-Netuno-Plutão. Esta trindade planetária constitui o processo do qual a "personalidade cósmica" se vê ligada ao todo astronômico mais vasto, digamos, à galáxia.

Poderíamos perguntar: mas o que de fato se quer dizer com "coração do Sol"? Ele é o self. E o self é a totalidade da personalidade realizada e integrada — uma abstração. Mas até mesmo esta abstração é suscetível de ser simbolizada concretamente em termos do todo imediatamente maior. Assim poderíamos dizer que o "coração do Sol" em termos do todo (centralizado na Terra) galáctico é a estrela que (em nossa galáxia) se localiza exatamente atrás do Sol. No entanto isto dificilmente terá algum significado prático para nós, homens comuns!

No entanto o que tem significado é a idéia de que existe um ciclo de ligação entre a órbita de Urano e o "coração do Sol", uma quarta "Lua"'. Este é o ciclo de 28 anos do estado de ser individual, que, repetido três vezes (uma vez para cada um dos planetas mais exteriores) dá o tempo da "construção" simbólica "do Templo de Sol-o-Mon" (o Sol do Homem): 84 anos — o período do movimento de Urano em torno do Sol. Dois ciclos de 28 anos (56 anos) constituem de acordo com o Sr. McGrath, o ciclo maior de negócios. Este período corresponde a três ciclos nodais de 18 anos e meio cada e a cinco ciclos de manchas solares de 11 anos e 2 meses cada. Estas correspondências ajudam a esclarecer o significado de Netuno, quando plenamente entendido, já que o período sideral de Netuno é igual a três períodos de 56 anos.

Todos esses ciclos, que podem ser considerados "Lias" superiores, são extremamente importantes no estudo da "personalidade cósmica", pois simbolizam "funções de ligação" entre energias da alma que, quando plenamente integradas, são a substância dessa "personalidade cósmica" tão convenientemente simbolizada pelo padrão complexo do sistema solar como entendido a partir da Terra. Tais "funções de ligação" foram mantidas esotérica e misteriosamente sagradas na cosmopsicologia arcaica. Daí o "mistério da Lua".

Para os antigos, esse mistério residia na qualificação da Lua como oposto polar de Saturno. Quando a humanidade funcionava puramente no nível fisiológico e a mente dificilmente era um fator independente ou uma base para a focalização das energias vitais, então era de fato a Lua que, como força materna, animava os egos (os limites saturninos) dos seres humanos. Estes ainda se encontram, psicologicamente, no útero da Mãe — e isto no nível fisiológico-instintivo (Marte-Vênus) de atividade. Mas à medida que os homens se tornam mentalmente polarizados e se elevam do útero materno psicológico para o domínio da energia pura e do pensamento independente, eles são progressivamente preenchidos pelo poder da fotosfera solar. Seus egos saturninos se iluminam e a "Lua superior", Lúcifer (ou seja, o Portador da Luz), "leva luz" a eles, a luz de Júpiter e Mercúrio correlacionados. Um passo seguinte no desenvolvimento espiritual os iluminará pelo poder da Lua Kundalini (Ísis?) ligando Saturno e a fostofera; mais um passo os verá vitalizados pela correlação Urano e Sol (Osíris?).

Acreditamos que o "planeta-mistério por detrás da Lua" não seja um planeta, mas esta segunda "Lua" que chamamos de Lúcifer — o elo Júpiter-Mercúrio. Os asteroides são os remanescentes — ou não serão eles a condição pré-natal?.-- desse Lúcifer. Não poderão as miríades de asteroides ser um símbolo do estado fragmentado das energias psicomentais ou forças-da-alma dos seres humanos? O Grande Trabalho do espírito é a integração dessas forças da alma espalhadas num organismo espiritual, um "templo do Deus vivo". Assim, cada homem precisa integrar em si mesmo esses "asteroides" e transformá-los numa "Lua" através da qual o poder da alma (Júpiter) e o poder da mente (Mercúrio) serão correlacionados e tornados ciclicamente operativos.

Após este trabalho preliminar de integração psicomental, concentração, ou yoga, virá mais um estágio — simbolizado por Kundalini—Ísis. Então o véu de Ísis deve ser levantado pelo candidato à iniciação. O homem se vê circundado pelo halo do Deus vivo, pela radiância de múltiplas chamas da Coroa. Finalmente, o próprio homem se torna um Sol. Seu coração bate em uníssono com o "coração do Sol".

A Lua física representa a humanidade comum de hoje. As três "Luas superiores" representam os três estágios da iniciação maçônica: Aprendiz — Companheiro — Mestre. Estes estágios simbolizam ritualisticamente as três fases básicas do processo de integração da personalidade — da gestação do "Deus Vivo" à criança crística, dentro da psique.



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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.





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