terça-feira, 19 de julho de 2016

Os Nodos Lunares, por Dane Rudhyar



Ainda que os nodos lunares também sejam produzidos pela interseção da órbita lunar e da eclíptica, e ainda que, por causa desse fato básico, o significado da linha de nodos e dos dois nodos siga o princípio geral já colocado, eles ainda assim diferem dos nodos planetários de várias maneiras. Primeiramente, eles são puramente geocêntricos e não heliocêntricos — sendo os nodos de um satélite e não de um planeta colega da Terra. Os nodos lunares realmente são os pontos em que a Lua, como corpo celeste, é vista, da Terra, passando de uma latitude norte para uma ao sul, e vice-versa. Em outras palavras, são pontos críticos na relação de planeta com satélite — tão críticos, digamos, quanto os pontos equinociais na Terra, que, por analogia, poderiam ser chamados de "nodos do Sol" (em relação ao equador celeste e não à eclíptica) e que são momentos definidos de mudança na relação Sol—Terra.

Outros momentos críticos na relação Lua—Terra são aqueles que marcam a entrada e saída da Lua da porção de espaço figurativamente delimitada pela órbita da Terra, momentos que correspondem aproximadamente ao último e primeiro quartos de Lua. Mas estes se referem mais particularmente à questão "aspectos" entre corpos celestes — um assunto que só poderemos abordar superficialmente no presente trabalho —, ou ainda às "funções de ligação" integrando as atividades de fatores astrológicos internos e externos à órbita terrestre — como mencionado no capitulo precedente.

Quando estudamos os nodos lunares, estamos considerando uma relação estabelecida entre o plano da órbita da Lua e o da órbita terrestre. Este está centrado ao redor do Sol, como todas as órbitas planetárias. Mas aquele está centrado na Terra. Assim, a relação órbita da Lua com órbita da Terra, traduzida em termos da relação entre os centros destas duas órbitas, torna-se a relação Terra—Sol! Mas este é um novo tipo de relacionamento Terra—Sol, que se refere ao significado mais interno da possibilidade de ajuste entre, por um lado, o ego centralizado na Terra e sua vontade e, por outro, o self solar e Sua vontade.

Portanto, o que é visto através dos nodos lunares é a relação. entre a vontade "humana" e a vontade "divina", entre os esforços conscientes para integrar uma personalidade egocentrada e a orientação ou impulso motivador supraconsciente, que está trabalhando em direção à realização do total "cósmico" ou Personalidade divina. 0 primeiro é em grande parte o resultado do condicionamento do indivíduo por hereditariedade e meio ambiente; o último é o verdadeiro fator de Destino. Com Destino, queremos aqui dizer, o plano ordenado cujo atendimento perfeito pode tornar uma personalidade um fato da vida como estava potencialmente contido no momento-semente do nascimento do indivíduo — ou seja, na "mónada".

No Nodo Norte da Lua vemos o Destino trabalhando; no Nodo Sul, a vontade humana. As linhas dos nodos nos mostram as orientações do Destino, o propósito do Destino — e o que está por trás deste propósito, no passado. Mais que qualquer coisa, mostra-nos o "porquê" da vida individual. Por que o ego particular foi projetado para fora do oceano universal da Vida — por que nascemos e para quê. A linha dos nodos é um tipo de "linha de cisão", que representa a primeira polarização do ser. Numa ponta dessa linha vemos o passado (Nodo Sul), na outra, o futuro, de onde a personalidade emergiu, o que deverá realizar; essas coisas não serão determináveis em termos de eventos concretos, mas uma direção geral será esclarecida, já que a linha de nodos aponta para duas casas de um mapa e, assim, para duas fases definidas de existência. Será determinado um polo de Destino positivo e um negativo.

O modo através do qual o indivíduo se orientará ao longo de suas linhas de Destino determinará em grande parte se sua vida será um sucesso ou um fracasso, ou, mais corretamente, se suas realizações podem ser tabuladas como positivas ou negativas. Realizações negativas aqui significam aquelas que já pertencem ao passado da alma, que são ou uma repetição de coisas tão aprendidas que já se tornaram quase automáticas, ou a quebra de cristalizações psicomentais. Realizações positivas, ao contrário, são coisas que constituem um passo construtivo adiante, o nascimento de uma nova faculdade.

Este problema de orientação ao longo de linhas de cisão toca as próprias raízes do simbolismo astrológico. Jamais podemos entender uma carta astrológica se não com base nesses relacionamentos diametrais que ligam casas opostas e, numa medida menor, signos. O enquadramento essencial de uma carta, as linhas verticais e horizontais formadas por horizonte e meridiano, é a chave para todos os tipos mais profundos de interpretação astrológica, pois aqui lidamos com o processo mais primordial de segmentação celular e sua multiplicação. Cada crescimento, cada manifestação de vida acontece ao longo de certos eixos, e enquanto os eixos convencionais de espaço (norte, sul, leste, oeste, zênite, nadir) formam a estrutura do desenvolvimento do self individual, os eixos nodais (ou linhas dos nodos) nos dão as forças direcionais do Destino.

Isto é verdadeiro acima de tudo para o eixo dos nodos lunares, mas também, de um modo menos óbvio, para todos os nodos planetários. Cada planeta representa uma qualidade particular do processo vital todo e, assim, uma função psicológica. O eixo nodal do planeta representa a principal linha de ênfase no desenvolvimento daquela qualidade. Em termos mais triviais, as coisas acontecerão ao longo daquela linha — no que se refere a essa qualidade. As características das duas casas afetadas por essa "linha de enfase" indicarão que departamentos da vida, quais fases de self individual experimentarão essa tensão.

O eixo constituído pelos nodos da Lua lida bem diretamente com o próprio processo de individuação. Aqui vemos o trabalho das forças que procuram integrar o "eu" particular e o self maior; a faculdade de assimilar nova substância vital e de rejeitar os valores inúteis por terem sido despojados de tudo o que era necessidade vital para a personalidade individual. Podemos chegar até o ponto de dizer que aqui temos uma linha de ação metabólica, não muito diferente daquele canal tubular que se estende da boca ao ânus. No Nodo Norte, está sendo absorvida vida, a substância da experiência está sendo ingerida e reduzida a material assimilável; no Nodo Sul, assimilamos os conteúdos da vida, automaticamente, sem esforço, e eliminamos o refugo.

Nesta ilustração psicológica, a Terra representa o diafragma. Acima do diafragma está a região do Nodo Norte, abaixo dele, a região do Nodo Sul. O primeiro representa os novos alimentos e o processo ativo de digestão; o segundo, a comida antiga agora digerida e sendo assimilada, transformada em atividade instintiva automática — mais a rejeição de resíduos inassimiláveis. Marc Jones chama o eixo dos Nodos Lunares de "eixo do destino". Mas o eixo digestivo, incluindo estômago, intestinos etc., é o "eixo do destino" de nosso corpo — uma realidade fatal para a maioria de nós!

No entanto, essa ilustração não é totalmente perfeita. Num sentido mais geral, o Nodo Norte representa o ponto em que uma entidade particular absorve ou recebe a substância da vida. E o canal por onde o poder de integração (que é Vida) entra na Terra e em seus habitantes, pois ali a Lua se transforma num vaso em que esse poder é derramado e do qual flui para todos os planetas. O Nodo Sul é, ao contrário, o ponto em que a Lua se transforma no distribuidor automático (e ejetor) da força assimilada pela Terra, que uma vez foi solar. No Nodo Sul, o Sol e a Lua estão absolutamente sem relação. A Lua fragmenta no Nodo Sul e focaliza no Nodo Norte. Temos assim integração (no polo norte do eixo) e desintegração (no polo sul), ou ingestão e distribuição. Progresso se faz no Nodo Norte através de empenho. Hábitos se estabelecem no Nodo Sul através de automatismo, baseado em repetição.

Se nos deitássemos ao longo do eixo nodal, olharíamos para o futuro voltando-nos para o norte e aceitaríamos o passado voltando-nos para o sul, Portanto o Nodo Norte trata do trabalho a ser feito, a nova realização, a nova faculdade a ser desenvolvida, e se nos empenhamos naquela direção, dela receberemos poder em abundância, O nodo sul representa o trabalho que já foi feito, a realização já bem conhecida, o desempenho rotineiro já repassado várias vezes, talvez — a saída fácil. Assim a oposição entre, por um lado, autointegração, individuação, esforço, a linha de maior conexão através de empenho, e, por outro, desintegração de self, automatismo, inércia, a linha de menor resistência.

O Nodo Sul sempre é, em qualquer mapa, uma maravilhosa indicação da linha de menor resistência, especialmente por sua posição de casa. Pois o que queremos dizer com linha de menor resistência se não a do desempenho fácil? Facilidade, por sua vez, depende de repetição prévia de desempenhos similares, repetição que se instalou como hábito, ou instinto. O que é fácil de fazer é aquilo que nós, como almas individuais reencarnadas, ou como ponto final de uma longa cadeia de transmissão hereditária, já fizemos antes. Portanto representa uma conquista passada. Indica que no passado foi construído um instrumental adequado e eficiente, que no nascimento foi herdada uma faculdade ou tendência, para cuja aquisição não tivemos de nos esforçar conscientemente.

Precisa ficar claro que um dom hereditário ou instinto como esse não é ruim e que, portanto, o Nodo Sul num mapa não tem em si um significado mau ou destrutivo. Se tem sido chamado ponto de autodesintegração, é porque com muita freqüência temos um modo de seguir a linha de menor resistência, que é aferrar-se à coisa já conhecida, à atuação na qual podemos nos expressar com maior vantagem. Ao fazer isso recusamo-nos a progredir, a passar para novas conquistas. Tornamo-nos escravos de nosso grande dom natural. Em vez de usar essa habilidade natural em termos de um novo tipo de desenvolvimento, ela "nos arrasta" — e nos leva à própria desintegração. Se somos controlados por nossas habilidades inatas em vez de as controlarmos, perdemos o principal propósito de nossa vida.

Se o Nodo Norte é um ponto de recepção de poder espiritual, o Nodo Sul de modo algum é um símbolo de impotência. No entanto é um símbolo de desajuste a condições novas. Significa faculdade inata, mas geralmente descobrimos que a vida até certo ponto nos proíbe o uso daquela faculdade. De algum modo ela pertence ao passado, e, a não ser que a tornemos subserviente a um novo propósito e a controlemos com bastante rigidez, impedirá o crescimento correto de uma nova faculdade vital, aquela que representa nosso próximo passo.

Por outro lado, quando consideramos o tipo de faculdade caracterizada pela posição do Nodo Norte, descobrimos que a vida nos força de várias maneiras a desenvolvê-la constantemente. A vida pede aquele poder — e está disposta a derramá-lo sobre nós se nos empenharmos naquela direção, se abrirmos um canal. Todo esforço feito naquela direção geralmente será bem recompensado — a não ser que nos aferremos teimosamente o tempo todo à atitude representada pelo Nodo Sul. Podemos fazê-lo inconscientemente, se tomamos cuidado de não fazê-lo conscientemente. Se este for o caso, fatalmente se desenvolverá um complexo psicológico. O presente estará desesperadamente dividido entre passado e futuro. Então o resultado será impotência. E poderemos experimentar a tragédia do "destino". O passado terá de morrer antes que o futuro possa viver. E poderemos nos ver despojados de nosso dom inato por algum golpe do Destino porque nos identificamos com ele, nos perdemos nele e fomos por ele "desfeitos". Assim, uma verdadeira "autodesintegração" .

Um dos exemplos mais simples que poderíamos dar é o dos nodos na quarta e na décima casas. Temos aqui urna oposição entre lar e profissão, vida privada e pública. Se o Nodo Norte está na décima casa, a vida pública e a profissão serão o canal para a autointegração, O Nodo Sul na quarta casa indicará que o nativo tem uma tendência congênita para a constituição de um lar, e isto poderá levá-lo a fugir da vida pública. Se se afasta demais, sua vida familiar se tornará destrutiva. Ela se desintegrará em suas mãos, apesar de ele retornar para ela desejoso, desesperado. Se, ao contrário, ele trabalhar intencionalmente em seu ideal profissional, pode ser capaz de fazer de seu lar (no sentido mais amplo do termo) e de sua própria base concreta de ser, o verdadeiro fundamento para sua vida pública.

No entanto, existe uma outra interpretação possível, de acordo com a qual a atividade pública e os esforços profissionais são vistos como geradores da energia que então será liberada na esfera do lar ou da alma (quarta casa) no Nodo Sul. Esta segunda interpretação é a mais positiva ou espiritual. Ela explica, por exemplo, por que um grande gênio como Wagner tinha o Nodo Sul em sua décima casa. Ele liberava publicamente, através de sua criação, a energia gerada por seus sentimentos e sua vida familiar ou interior (quarta casa).

A operação dos nodos nem sempre é fácil de detectar apenas por se conhecer o nativo. A maioria de nós esconde cuidadosamente o fato de estar seguindo a linha de menor resistência. Escondemos isto principalmente de nós mesmos. E a evidente facilidade com que desempenhamos certos tipos de ação pode nos levar a acreditar que deveríamos continuar a desempenhá-los. Em alguns casos deveríamos, mas então o significado que lhes atribuímos precisaria ser diferente. Aqui, como em todo caso que trate de uma apreciação espiritual de comportamento, o que conta não é o ato em si, mas o motivo ou a vontade que está por detrás do ato ou nele contida.

Um estudo dos nodos lunares poderá nos ajudar muito a testar nossos próprios motivos, bem como os de outros. Pois, quando confrontados com muitas situações, podemos colocar nossas ações e reações no teste ácido das polaridades nodais. Nesta situação, seguimos a linha de menor resistência ou a de maior integração? Os nodos nos dirão quando temos as maiores chances de "enganarmos a nós mesmos". Possivelmente até em cartas horárias poderemos ser capazes de encontrar com bastante precisão qual é nossa verdadeira motivação num caso particular. Mas a leitura de cartas horárias de um modo assim psicológico é realmente uma arte muito rara, que apenas poucos virão a ser capazes de dominar.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

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