Em termos gerais, forma é o elemento de existência que define o particular distinguindo-o do universal. Cada manifestação particular de vida tem uma forma, que a caracteriza essencial e espiritualmente, dando-lhe um significado determinável em termos da maneira pela qual ela se relaciona como um todo com a vida universal. Forma é uma abstração. Falar de forma como uma realidade tangível é utilizar mal o termo e confundi-lo com "corpo". Uma das práticas mais infelizes da teosofia moderna foi a de usar o termo forma ali onde se queria dizer "corpo". A confusão se origina, obviamente, numa antiga distinção comum na filosofia hindu, mas que muito provavelmente se deve a uma falha de tradução de palavras ou, talvez, mais ainda, a uma interpretação errônea ou a um mau entendimento do conceito que está por detrás das palavras. Nossa mente ocidental tem capacidade para materializar os conceitos metafísicos do Oriente e, ao fazê-lo, envolver-se com uma abordagem da vida que não é verdadeiramente integradora.
A forma é uma abstração. Significa a padronização essencial ou o relacionamento entre partes em um todo através do qual este todo é definido como uma entidade particular. A forma é um complexo de relações: a fórmula total de relações de partes com partes e partes com o todo. A individualidade desse todo, portanto, é totalmente definida e adquire significado através de sua forma.
O corpo é forma insubstanciada e substancia incorporada. A forma, em si, não tem implicações substanciais, apesar de ser determinada originalmente e em termos de propósito vital pela necessidade dos elementos substanciais que ela correlaciona e integra num corpo. O corpo é um aglomerado de elementos substanciais (átomos, moléculas etc.) que é tornado relativamente permanente e significativo pelo fato de ter uma forma. A forma é abstrata. E a planta do arranha-céu definindo genericamente sua estrutura e em todos os detalhes de seu funcionamento. O arranha-céu concluído é um corpo — substancial e tangível.
A forma define o significado e o propósito do corpo. Pode-se conceber um domínio de pura forma não-operacional, sem ligação com substâncias ou materiais: um domínio de plantas e fórmulas algébricas. Isto, num sentido, é o mundo dos arquétipos ou ideias — exceto por haver sempre energia associada àquilo que chamamos arquétipos ou ideias, enquanto não há energia normalmente ligada aos conceitos de fórmulas algébricas ou plantas. Poder-se-ia dizer que esta é a diferença entre idéia e conceito: a ideia é vital e carregada de energia de vida potencial; o conceito é puramente intelectual. A distinção poderia ser a mesma que a existente entre a álgebra (um sistema de simbolismo abstrato que "funciona", ou seja, que tem sido útil na interpretação de dados de experiências) e o algarismo (um sistema também perfeitamente lógico de simbolismo, mas que até agora nunca foi útil ou aplicado).
Neste sentido — que não é universalmente aceito — uma ideia é uma semente no nível psicomental. É uma semente, porque é tanto forma como energia. A ideia finalmente germinará e se tornará um corpo: um organismo individual ou um organismo racial social — um grande movimento humano, uma instituição que opera entre homens. Por outro lado, o conceito é uma mera estrutura intelectual, forma ainda não carregada de energia vital. Um conceito passa a ser uma ideia quando um ser — humano, supra-humano ou divino — se identifica com este conceito e nele coloca energia.
Temos, assim, a trindade básica: energia, forma, substância, simbolizada pelo quarto termo: personalidade. No entanto, a personalidade em si é a manifestação última de um termo mais universal: atividade. Quando a atividade se torna verdadeiramente criativa num sentido individual, nasce a verdadeira personalidade. Mas já usamos o termo personalidade como significando "um padrão de comportamento humano" e, assim, à medida que estamos considerando primeiramente o aspecto psicológico da astrologia, podemos usar o termo personalidade como o quarto termo, no qual energia, forma e substância são sintetizadas.
Nos capítulos precedentes, estudamos os quatro fatores fundamentais da astrologia: a roda de casas, os signos do zodíaco, os planetas e os graus. Destacamos que os primeiros dois fatores foram gerados pelos dois movimentos primários da Terra, rotação axial e revolução orbital, e, como tais, correspondiam respectivamente aos elementos individual e coletivo de existência. O grau, sendo uma síntese dos dois movimentos, revelaria o elemento criativo, de significado. Além disso, referimo-nos aos planetas (considerados, em sua totalidade, o sistema solar visto da Terra) como indicadores de personalidade.
Estas caracterizações foram feitas em relação à psicologia humana. Mas, se desejarmos ampliá-las para incluir todas as manifestações possíveis de vida, precisaremos nos referir aos quatro termos acima mencionados: energia, forma, substância e atividade. Usando agora estes últimos termos, podemos redefinir nossos fatores astrológicos fundamentais, como segue:
O zodíaco representa a substância. Constitui a substância de todas as manifestações de vida na Terra, pois refere-se ao relacionamento variável entre a Terra e a fonte e origem de toda a vida. Os signos do zodíaco representam os doze tipos básicos de substância-vital, em todos os níveis de existência. Substância representa o coletivo. Cada fator astrológico é sempre remetido ao zodíaco, tal como toda manifestação individual de existência nasce de materiais coletivos e é uma combinação específica destes.
Portanto, a roda de casas representa a forma, aquilo que caracteriza essencialmente a "combinação específica" — isto é, o indivíduo. Enquanto o zodíaco é um fator espacial e objetivo, a roda de casas refere-se inerentemente ao tempo e aos valores subjetivos, à forma de existência do self, simbolizada primeiramente pela "cruz dentro do círculo" — sendo a roda astrológica conhecida uma diferenciação adicional, por divisão por três, da mandala básica da alma (cf. Astrology and Analytical Psychology, p. 113).
Mas forma pode ser considerada tanto à luz da existência como self quanto da personalidade ativa e criativa. Isto equivale a dizer que pode ser representada em termos astrológicos pela relação da Terra com o espaço zodiacal que a circunda — o campo magnético da Terra, ou pela relação da Terra com a totalidade do sistema solar que a circunda. Em outras palavras, minha orientação particular à vida como um indivíduo é um fator subjetivo. É o modo como me percebo, sinto, entendo e penso sobre mim mesmo. Este é o meu ponto de vista quanto à vida. Relaciona-me com a vida. A forma desse relacionamento é dada pelas casas.
Por outro lado, como personalidade humana envolvida em ações e reações vivendo com outras personalidades num vasto mundo de relacionamento, também tenho um certo ritmo de comportamento. Este ritmo é minha personalidade, e pode expressar exatamente minha opinião individual sobre a vida — ou não, Isto porque é uma tentativa de harmonizar ou de equilibrar os fatores individuais e coletivos em minha vida, assim, um certo tipo de compromisso — no melhor dos casos, de integração de tendências opostas. Em termos astrológicos, este ritmo complexo de comportamento é simbolizado pelo sistema solar como um todo, como é visto da Terra, o que quer dizer, pelas correspondentes posições de todos os planetas (sempre incluindo Sol e Lua) em minha carta natal. A isto chamamos padrão planetário. Ele nos dá um segundo tipo de forma — forma não em relação com o indivíduo per se, mas com referência à personalidade, ou ao termo atividade.
Temos assim, digamos, forma subjetiva — determinada pelo relacionamento entre os eixos da carta e a eclíptica, e forma objetiva — determinada pelas correspondentes posições de todos os planetas e também por suas posições em relação aos eixos da carta (horizonte e meridiano). Estudaremos rapidamente estes dois tipos de forma, mas há ainda mais um ponto a utilizar. Consideramos até agora os elementos "substância", "forma" e "atividades". Nada ainda foi dito sobre "energia".
Energia é o fator de movimento implícito em todos os outros fatores até agora discutidos. Movimento é o principio que dá energia à vida. Está no núcleo da substância zodiacal espalhada no espaço coletivo. É o poder de desdobramento no centro de todo self individual nascido do útero do tempo. É o poder vital na confusão de atividades nas quais e através das quais a personalidade se revela. Além disso, o significado nasce de uma combinação de movimentos. É quando o indivíduo interpreta a substância coletiva de todas as funções e de todas as atividades que surge o significado. O significado é simbolizado pelo "grau", que arquetipicamente é a distância de espaço orbital percorrida num dia pela Terra, a quantidade de substância universal (zodíaco) assimilada pelo indivíduo em seu ciclo básico de consciência (ciclo de rotação da Terra — dia).
No significado há ubiquidade, mas apenas em potencial. Todo símbolo astrológico não deve ser apenas interpretado em termos de sua posição num ou noutro signo zodiacal, mas está localizado num (ou sobre um) grau. Potencialmente, ao menos, tem, portanto, significado. Mas o domínio de significados não é apenas' "individual", é "coletivo" também. O número de graus do zodíaco é um número finito. E este número caracteriza o status espiritual do planeta como um todo. Portanto significado é um fator planetário aplicável a indivíduos. E o portal pelo qual o ser humano individual entra no ser, ou no estado de ser, do Indivíduo planetário. Em direção contrária, existe uma ação do Indivíduo planetário (chame-o Logos ou Deus) sobre o homem individual, tal como sobre a humanidade coletiva. Ela está revelada no que chamamos "grande círculo polar" — comumente chamado ciclo de precessão dos equinócios; a primeira pode ser encontrada numa simbolização dos "graus" daquele ciclo. O que se quer dizer com "graus" num ciclo desse tipo poderia ser sugerido indiretamente pelo movimento subsidiário dos polos (nutação) cujo ciclo se iguala ao ciclo dos nodos lunares.
Poderíamos acrescentar que a Lua e aqueles ciclos de energia que consideramos como "Luas superiores" representam um aspecto particular de energia em termos do fator "personalidade". A Lua é o símbolo visível daqueles ciclos de energia, porque é o satélite da Terra. Sua revolução ao redor da Terra representa movimento real centrado na Terra. Suas fases podem ser vistas afetando os processos de crescimento de vida. Em níveis superiores, as diversas "Luas" controlam as marés de energia psíquica, mental e espiritual.
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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
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