sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A Forma e o Padrão dos Aspectos Planetários — Forma Subjetiva, por Dane Rudhyar



O que consideramos sob este título., na verdade, é o fator de inclinação da Terra sobre o plano de sua órbita, como se manifesta nas cartas natais de indivíduos. Por causa desta inclinação, uma casa, na maioria dos casos, contém ou mais ou menos de trinta graus de longitude zodiacal, O acúmulo ou alongamento de espaço zodiacal no quadro fixo das doze casas cria um certo tipo de forma. O mesmo signo zodiacal pode aparecer em duas cúspides sucessivas, ou podem existir signos "interceptados". Isto revela elementos importantes de significado, que no entanto não podem ser facilmente entendidos a não ser que se dê maior atenção ao assunto de cúspides, muitas vezes mal-entendido.

Referindo-nos a capítulos anteriores, dificilmente precisaremos enfatizar o fato de a "roda de casas" dever ser considerada o mostrador de um relógio, que projeta no espaço um processo que na verdade ocorre no tempo. O circulo de doze casas esquematiza numa folha plana a rotação da Terra em torno de seu eixo, as mudanças sucessivas da posição do horizonte durante o dia. As duas cúspides opostas representam uma posição do horizonte a cada duas horas, enquanto a Terra gira em torno de seu eixo, cujos extremos são os polos norte e sul. Na carta natal, a linha formada pelas cúspides da primeira e da sétima casas é realmente o horizonte na hora e no lugar de nascimento. A linha das cúspides da segunda e da oitava casas dá a posição do horizonte duas horas mais tarde; a linha formada pelas cúspides das casas terceira e nona, a posição do horizonte quatro horas mais tarde etc. Assim, os conteúdos de uma casa são a soma total de fenômenos celestes que atingem o horizonte durante um período de duas horas, e cada cúspide deveria ser considerada como o horizonte leste — ponto de consciência do self — em momentos diferentes e com relação a fases sucessivas da existência individual e do destino.

Cada cúspide carrega o significado básico de "Horizonte Leste". Marca o começo de um novo período de consciência e é um momento de significado primordial com relação a tudo que virá a ocorrer durante o período que inicia. Cada cúspide é um momento de iniciação, um momento de nascimento. Aquilo de que o self do nativo, o "eu sou", toma consciência durante aquele momento, determina o significado do período de duas horas que se segue. Ele dá-se conta de uma certa parte, ou grau, do zodíaco — e todo o período (casa) é caracterizado, "regido", por aquele grau e signo do zodíaco — e, por extensão, pelo planeta cuja função corresponde à natureza do signo.

Em outras palavras, em cada cúspide o "eu sou" nasce em um de seus aspectos. Este momento de cúspide é um momento-semente, um momento de transição de um estágio de ser para outro. As doze cúspides representam doze grandes transições de vida, e portanto levam o significado daqueles momentos críticos na vida nos quais não apenas se dá uma lenta passagem de uma fase para outra, mas também quando ocorre uma coisa que é única e faz parte do significado do "nascimento" ou "semente".

Tais "momentos-semente" são pronunciamentos criativos do indivíduo todo. São fatos de manifestação do self: atos criativos, momentos de liberdade. O indivíduo é "livre" apenas em suas cúspides. E somente durante esses momentos de "transição de vida" que a pessoa não é intrinsecamente condicionada pelas consequências das ações passadas, pelos efeitos de causas prévias. E só então que ela pode operar verdadeiramente como um "indivíduo", pois em qualquer outro momento está submetida ao grupo ou coletividade de que passou a ser parte. Ela está engrenada em seu grupo, presa pela iniciativa que tomou durante o momento de cúspide e pelo ambiente que escolheu — mais ou menos deliberadamente — para pôr em prática sua iniciativa. Na cúspide, o indivíduo está, por assim dizer, "em ponto morto" — capaz de passar para qualquer marcha ou velocidade que escolha.

Por exemplo: na cúspide da sétima casa o indivíduo simbolicamente escolhe seu companheiro ou parceiro. A cúspide é o símbolo de sua iniciativa e de sua liberdade criadora, nesta particular fase de experiência de vida da sétima casa. Uma vez tendo escolhido, ele não é mais livre; precisa elaborar os resultados de sua iniciativa. As cúspides da oitava e da nona casas mostram os momentos secundários da escolha em relação a este assunto de parceria. Na primeira, a autorregeneração é possível na esfera do relacionamento; na última, autoexpansão e ampliação de perspectiva de vida.

O conceito de cúspide precisa ser estendido na prática ao de "zona de cúspide". Em algumas vidas, a velocidade das transições de vida é grande e as mudanças acontecem repentinamente; em outras, a transição é bem gradual. Como resultado, é difícil determinar as dimensões exatas dessas zonas de cúspide. Mas na maioria dos casos elas não deveriam abranger mais que três ou quatro graus. Planetas localizados nestas zonas têm um significado particularmente criativo. Enfatizam o elemento da liberdade individual e caracterizam, de acordo com sua própria natureza, a natureza e potencialidade da livre operatividade do "eu sou" com relação à fase de existência do self representada pela casa.

Planetas localizados exatamente no início de uma casa estão "nascendo" à luz da cúspide dessa casa e representam impulsos iniciantes. Planetas localizados exatamente ao foral de uma casa representam qualidades realizadoras, o recolher dos frutos da experiência relativa a uma certa fase da existência como self. Se estiverem na zona de cúspide, estes planetas indicam que o self manifestar-se-á criativamente e realizar-se-á poderosamente ou através do impulso iniciante ou da qualidade realizadora, conforme seja o caso.

Isto entendido, podemos resolver o problema dos "signos interceptados", isto é, o caso de um signo zodiacal que não aparece em nenhuma cúspide, mas está, por assim dizer, encerrado em uma casa. Quando um signo não aparece numa cúspide, isto mostra que o self individual do nativo não opera criativamente, ou não atinge consciência da qualidade vital simbolizada por aquele signo. O nativo, como ser espiritual, não exerce sua liberdade por meio do poder daquele signo, mas ele a exerce, por assim dizer, em dobro através do poder do signo que aparece em duas cúspides sucessivas. Com "em dobro" queremos dizer, com relação a duas fases básicas de seu ser e destino.

Em outras palavras, coisas importantes não surgem para ele positivamente através da qualidade representada pelo signo interceptado. Se, por exemplo, Aries estiver interceptado na décima casa, a qualidade impulsiva, pioneira de Aries não é um assunto vital na vida do nativo. Ele não tem escolha quanto a usá-la ou não. Como self individual, ele não se expressa através dela. O que acontece é que esta qualidade de Aries é, por assim dizer, dada por certa em todos os assuntos de décima casa. Pode ser vital em operação por detrás de todas as atividades públicas e profissionais do nativo — subsconsciente ou instintivamente. Isto poderá significar que a qualidade Aries opera como um "complexo" psicológico. Ela pode ter sido inibida, neste caso, talvez por causa da posição social do pai. Pode ter-se tornado a substância de um "complexo de inferioridade", e este complexo impulsiona o nativo poderosamente, mas fatal e talvez até tragicamente, em direção a conquistas públicas.
Portanto, a qualidade Aries domina os assuntos de décima casa, mas a dominação pode ser em alguns casos quase neurótica. Está enraizada em fatores inconscientes, fatores sobre os quais o indivíduo, como tal, tem muito pouco controle, e através dos quais ele nunca atinge verdadeira consciência nem se expressa criativamente. Isto talvez porque, em vidas passadas (caso nelas se acredite), a alma individual tenha obtido tudo o que poderia da qualidade do significado interceptado — e, neste caso, a qualidade está embutida na nova personalidade como um instinto não questionado. Ou então pode ser que a personalidade se tenha formado sob uma pressão externa que inibiu o desenvolvimento consciente e harmonioso (espiritual) da qualidade, tendo se desenvolvido um "complexo".

Os resultados externos serão bastante diferentes em cada caso, mas o que pode ser determinado astrologicamente é o fato de que há um certo fatalismo ligado à qualidade do signo interceptado — algo inerente ou subconsciente, que opera com inevitabilidade, e sobre o que o indivíduo praticamente não tem nenhum controle. Será compulsivo, se não patológico ou trágico. Sempre significará algum tipo de desequilíbrio, em termos psicológicos. Mas este próprio desequilíbrio poderá significar uma concentração de forças que impelirão o nativo a realizações surpreendentes. Como C. G. Jung muitas vezes ressalta, um "complexo" na verdade não é necessariamente "mau". Muitas vezes é o meio através do qual o indivíduo se eleva acima da média e da norma. Ele o esporeia às alturas das conquistas individuais — desde que se efetue um equilíbrio psicológico que seja individualmente significativo e estável.

Se a qualidade do signo interceptado tem um tal caráter de motivação inconsciente e fatalista, por outro lado, a qualidade do signo estendido em duas cúspides sucessivas mostra-se como sendo de importância decisiva na vida consciente e deliberada do nativo. Se, por exemplo, Leão reger as casas segunda e terceira, os assuntos pertinentes a ambas as casas serão resolvidos pelo indivíduo através da qualidade de Leão. Na lida com suas posses ancestrais bem como com seu meio ambiente imediato, por exemplo, o nativo vai-se expressar e encontrar a si mesmo por meio de afirmação poderosa, emocional e autoprojetiva.

Num capítulo posterior estudaremos o assunto das progressões, mas poderíamos dizer aqui que sempre que a Lua progredida (ou o Sol) ou o "ponto do self" passa por um signo interceptado, o ritmo de vida (externo ou interno, respectivamente) geralmente se acelera. O indivíduo se defronta com assuntos profundamente enraizados no passado, compulsivos. Por outro lado, quando esses índices móveis de desdobramento de vida passam por signos espalhados, o ritmo de vida desacelera ou passa a ser mais livre de compulsões. O indivíduo pode parecer estar fazendo um intervalo para respirar e indo atrás de alguma coisa de um modo mais quieto e deliberado.

Tais indicações, como as dadas por signos interceptados e signos abrangentes precisam naturalmente ser modificadas por outras indicações, com freqüência mais importantes, derivadas de posições planetárias, aspectos etc. Mas pela utilização de todos os vários elementos associados com as cúspides, o astrólogo intuitivo pode ler a história espiritual do indivíduo de um modo que provavelmente não pode ser repetido. Talvez seja por essa razão que é tão difícil determinar o grau exato das cúspides! Pois a história espiritual do desenvolvimento de um indivíduo deveria sempre permanecer um profundo mistério para o investigador superficial.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

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