quarta-feira, 25 de maio de 2016

A DÉCIMA SEGUNDA CASA, por Howard Sasportas



Se as portas da percepção fossem desobstruídas, tudo apareceria ao homem
como é: infinito.


William Blake


Começando pela 1ª Casa, o crescimento assegurou que nos distinguíssemos da ilimitada e universal matriz de vida da qual primeiro emergimos. No entanto, como vimos na 11ª Casa, a distinção entre nós mesmos e os outros é desafiada pelo entendimento de que cada passo de um sistema é ligado e inter-relacionado com as outras partes. Tanto místicos quanto cientistas nos dizem que, afinal, não somos tão diferentes. Quem somos é influenciado pelos outros e os outros são influenciados pelo que somos. Nossas mentes estão ligadas e são diretamente afetadas umas pelas outras. A noção de que existimos como entidades isoladas está rapidamente perdendo espaço para um sentido mais amplo e coletivo do self. Na 12ª Casa, o duplo processo da dissolução do ego individual e a fusão com algo maior que é o self, é sentido e vivenciado, não via mente ou intelecto, como na 1ª Casa, mas com o nosso coração e a nossa alma. Como diz Chistopher Fry: "O coração humano pode ter a amplitude de Deus."

O poeta Walter de la Mare escreveu que "nossos sonhos são contos, narrados num paraíso nublado". Em nível mais profundo, a 12ª Casa, naturalmente associada com Água, Peixes e o planeta Netuno, representa a pressa de dissolução que existe em cada um de nós, uma ansiedade para voltar às águas indiferenciadas do útero materno, para o estado original de unidade. Freud, Jung, Piaget, Klein e um grande número de outros psicólogos modernos estão de acordo em afirmar que a primeira estrutura de consciência da criança é pré-pessoa/objeto, ignorando limites, espaço e tempo. Lembranças precoces ferem mais profundamente em nível muito profundo. Todo indivíduo intui que sua natureza mais profunda é ilimitada, infinita e eterna. A redescoberta dessa totalidade é a nossa maior necessidade e nosso maior desejo. De uma perspectiva psicológica reducionista, o desejo de religação com o original sentido de totalidade perdido pode ser entendido como uma regressão para o estado anterior ao nascimento, mas em termos espirituais esta mesma ansiedade se transforma num desejo místico de união com nossa fonte e numa experiência direta de fazer parte de algo maior do que nós mesmos. Este é um tipo de saudade divina.

De certo modo, a proposta de um retorno a este estado encantador e cheio de paz, soa como uma glória. E ainda, algo mais dentro de nós, o desejo do ego de se preservar e o medo de sua própria morte concorre para esse sentimento. O ego batalhou muito para ganhar uma fatia de vida para si mesmo. Por que deveria ele renunciar a isso? No símbolo de Peixes, o signo associado com a 12ª Casa, dois Peixes nadam em direções opostas. Os seres humanos se defrontam com um dilema fundamental com dois impulsos contrastantes. Todos querem perder seu sentido de isolamento e transcender sua separação individual, e ainda assim ficam aterrorizados com a desintegração e temem a perda do self separado. Essa dupla ligação existencial — querer a totalidade, temendo e resistindo a ela — este é o maior compromisso da 12ª Casa.

Por ser tão assustadora a dissolução da identidade do ego, as pessoas procuram gratificações substitutivas numa tentativa de satisfazer a ansiedade de autotranscendência. Uma das estratégias para a religação com a unidade é através do sexo e do amor: "Se eu sou amado, possuído ou faço parte de algo, consigo ir além do meu isolamento." Outra maneira para ganhar novamente o sentido perdido de onipotência e onipresença é através do domínio do poder e do
prestígio. Se posso estender meu território de influência sobre muitas coisas, o resto da vida está ligado a mim. O mergulho em álcool ou em drogas é outra maneira de quebrar barreiras. Tentativas de suicídio e várias outras formas de comportamento autodestrutivo ocultam muitas vezes o desejo de retornar a um estado de bem-aventurança de ser não-diferenciado. Outros procuram a transcendência mais diretamente através da meditação, da prece e da devoção a Deus. A 12ª Casa pode fazer aparecer qualquer uma destas saídas.

No entanto, é provável que a 12ª Casa desestrutura, engolfe, absorva ou infle a identidade individual. Esquecer o paradigma do "eu aqui dentro" ver sus o "você lá fora" significa que os limites entre nós e os outros se mesclaram. Por esta razão, uma forte ênfase nesta casa pode indicar pessoas que tenham grande dificuldade em formar claramente identidades definidas. Elas são influenciadas por qualquer coisa que esteja por perto ou seja lá com quem for que entrem em contato. Outras distorcem dramaticamente suas identidades pessoais fora de proporção. Antes de sacrificar o ego a ligar-se a algo caro e divino, a pessoa pode tentar embeber o ego com tais qualidades. Em vez de procurar se religar com Deus, a pessoa tenta bancar Deus — uma forma de arrogância relativa ao que Abraham Maslow chamou de "grande desvio superior".

Junto com esta confusão da 12ª Casa sobre quem somos, muitas vezes vem uma total falta de direcionamento de vida. Em algum nível pode haver a sensação de que uma vez que tudo é mesmo igual, qual é a diferença? Tão logo distingue-se uma clara identidade ou uma estrutura é imposta à vida, algo acontece que puxa o tapete debaixo dos pés e a nebulosidade reina suprema novamente. Assim que o indivíduo pensa que capturou algo em que pendurar o sentido do Eu este algo escorrega ou desaparece. A capacidade de manter as coisas unidas ou facilitar seus próprios fins pessoais é de algum modo servil a um poder de dissolução muito maior sobre o qual há muito pouco controle.

O obscurecimento de limites entre o self e os outros pode criar confusão a respeito de onde nós começamos e de onde terminam os outros, mas ao mesmo tempo confere um maior grau de simpatia e compaixão por aqueles com quem compartilhamos a Terra. Assim oprimidas pelo sofrimento ao seu redor, algumas pessoas com uma 12ª Casa forte vão procurar quaisquer meios de escape ou afastamento do mundo como um todo. Outras que sentem a dor "lá de fora" como sua própria, vão naturalmente trabalhar de modo a amenizar esta dor. Em vários graus, a 12ª Casa descreve o auxiliar, o "ordenador", o libertador, o mártir ou salvador, que "toma sobre si" as necessidades e as causas de outrem.

O significado original da palavra sacrifício é "tornar sagrado". Algo que foi tornado sagrado ao ser oferecido aos deuses ou a forças superiores. Passando através de todos os graus de significado da 12ª Casa está a suposição de que o indivíduo é redimido através do autossacrifício, através do oferecimento do self a algo maior. Isto é verdadeiro na medida em que temos, de alguma maneira, que deixar um sentido de self autônomo e separado para entrar no abraço maior do todo.

Enquanto o sacrifício e o sofrimento muitas vezes servem para aliviar o ego e dar vazão a uma maior simpatia e conhecimento espiritual, o valor da dor e a natureza do sacrifício são muito facilmente distorcidos em "Eu tenho de sofrer para encontrar a Deus" ou "Tudo o que possa se constituir numa satisfação pessoal deve ser abandonado". No entanto, talvez não sejam as coisas em si que devam ser sacrificadas mas, mais precisamente, o nosso vínculo com elas. No momento em que derivamos nossa identidade ou realização de tais coisas como relacionamentos, propriedades, ideologias ou sistemas de crença, perdemos o contato com a nossa natureza mais
profunda e básica com a nossa natureza ilimitada.

Algumas pessoas podem até tentar alcançar ou realizar seus sonhos e desejos da 11ª Casa apenas para descobrir, na 12ª que ainda se sentem enganadas por não terem a felicidade completa. Aquilo que pensavam que lhes daria a maior satisfação já não é suficiente, ou então mostrou não ser tudo. Os romanos tinham um ditado: Quod hoc ad aeternitatem? (que significa: O que é isso comparado com a eternidade?). Do mesmo modo, a 12ª Casa nos lembra  constantemente que todas as alegrias desejam ser infinitas.

A 12ª Casa (junto com as outras casas de Água, a 4ª e a 82) tradicionalmente revela padrões, anseios, instâncias e compulsões que operam em níveis abaixo do conhecimento consciente, e mesmo assim influenciam significativamente nossas escolhas, atitudes e diretrizes na vida. Empilhadas em nossa memória inconsciente, experiências passadas colorem a maneira como vemos e achamos o mundo. Mas a que distância para trás estas influências do passado se originam?

Em alguns casos, os planetas e os signos na 12ª Casa podem contar com o que os psicólogos chamam de "o efeito umbilical". Segundo esse conceito, o embrião em desenvolvimento é receptivo, não só a substâncias físicas que a mãe ingere mas é também afetado pelo seu estado psicológico geral durante o período de gestação. Suas atitudes e experiências são transmitidas através do cordão umbilical ao feto, dentro do útero. A natureza do que é transmitido à criança desta maneira é mostrada pelos posicionamentos da 12ª Casa. Se Plutão se encontra aí, a mãe pode ter sofrido alguma experiência traumática durante a gravidez. A criança nasce então com uma sensação de perigo de vida e uma incômoda apreensão de que a condenação está logo ali, virando a esquina. Não existe memória consciente da origem dessa atitude; existe apenas a vaga impressão do que é esta vida. Por exemplo, recentemente acompanhei o caso de uma mãe grávida com um diagnóstico de tumor no cérebro. Sua filha nasceu com Plutão na 12ª Casa e a mãe morreu logo depois de seu nascimento.

E o que aconteceu antes do útero materno? Muitos astrólogos se referem à 12ª Casa como a "casa do carma". Os reencarnacionistas acreditam que a imortal alma humana encontra-se num caminho de aperfeiçoamento e de retorno à sua origem que não pode ser completado no curto espaço de uma vida. Leis definitivas, em vez do acaso, operam para determinar as circunstâncias de cada tempo de vida ou de cada estágio de nossa residência provisória. Em cada nova encarnação trazemos conosco aquilo que colhemos em experiências de vidas anteriores, bem como as capacidades latentes que aguardam desenvolvimento. Causas colocadas em movimento em existências anteriores afetam aquilo que encontramos na presente. A alma escolhe um determinado tempo para nascer, pois as normas astrológicas estabelecem as experiências necessárias para o presente estágio de crescimento. Neste sentido, todo o mapa representa o nosso carma — tanto o que provém do resultado de nossas ações passadas como o que é necessário despertar em nós para continuar. Mais especificamente, a 12ª Casa mostra o que estamos "trazendo" do passado que vai operar nesta vida seja como débito ou como crédito em nossa conta.

Difíceis posicionamentos de 12ª Casa podem indicar antigos "pontos fracos" e energias mal utilizadas em vidas anteriores, e que ainda temos de aprender a usar sabiamente na atual. Posicionamentos positivos nesta casa sugerem qualidades entranhadas que nos servirão vantajosamente nesta vida como resultado de "trabalho" feito sobre elas no passado. Com relação a esta teoria, alguns astrólogos chamam a 12ª Casa de "autossustentação ou autodestruição". Por exemplo, um Marte ou Áries nesta posição, poderia significar que o egoísmo, a impulsividade ou a pressa tenham sido um problema no passado e a continuação de tal comportamento poderia ser a causa de uma "queda" nesta vida. Por outro lado, numa 12ª Casa bem aspectada, Marte sugere que as qualidades positivas dele, tais como coragem, força e franqueza, já foram aprendidas e que sustentarão o nativo em tempos difíceis, aparecendo justamente quando são mais necessárias. Aspectos mistos a posicionamentos na 12ª Casa mostram que o efeito deste planeta ou desta energia fica, de algum modo, em suspenso como que sendo testado para ver como manipulamos este princípio. Se o usamos sabiamente, seremos premiados; se desgastamos o planeta ou o signo em questão, as consequências tendem a ser bastante severas.

Referindo-nos ao "efeito umbilical" ou à teoria do carma e da reencarnação, os posicionamentos da 12ª Casa descrevem influências que recaem sobre nós de causas e origens que obviamente não podemos lembrar ou ver. Através da 4ª Casa de Água herdamos ou retemos vestígios de nossa ancestralidade. Na 12ª Casa, é possível que sejamos receptivos a uma combinação ou memória ainda maiores — aquilo que Jung chamou de "inconsciente coletivo": a memória inteira de toda a raça humana. Jung definiu o inconsciente coletivo como "a precondição de cada psique individual, do mesmo modo que o mar é o transportador da onda individual". De alguma maneira, como é mostrado na 12ª Casa, cada um de nós está ligado ao passado, trazendo registros de experiências muito anteriores àquelas que conhecemos pessoalmente.

Além do resíduo do passado, no entanto, o inconsciente coletivo é também um reservatório de potenciais latentes à espera de serem extraídos. Colin Wilson escreve que "a mente inconsciente pode incluir todo o passado do homem, mas inclui também o seu futuro". A mente inconsciente é mais do que um mero reservatório de ideias, impulsos e desejos reprimidos ou queimados; é também a fonte de "potencialidades de conhecimento e experiência" que o indivíduo ainda quer contactar. A 12ª Casa, em outras palavras, contém tanto o nosso futuro como o nosso passado.

Algumas pessoas com posicionamentos na 12ª Casa atuam como mediadoras e transmissoras de imagens universais, míticas e arquetípicas que giram no nível do inconsciente coletivo. Em vários níveis, artistas, escritores, compositores, atores, líderes religiosos, curandeiros, místicos e profetas atuais tocam este reino e se tornam os veículos de inspiração para outros. Com aquilo que eles sintonizaram, tocam o acorde certo, que então ressoa dentro de nós, tornando-nos capazes de compartilhar de sua experiência. Inúmeros exemplos de mapas com
posicionamentos na 12ª Casa ilustram este fenômeno: o compositor Claude Debussy com a sensual Vênus em Leão na 12ª Casa; William Blake com a imaginativa e sensível Lua em Câncer nesta casa; o poeta Byron — cuja maneira expansiva e jocosa de usar a palavra, a rima e a forma, revigorou todo o movimento romântico — tinha Júpiter em Gêmeos na 12ª Casa; e o visionário Pierre Teilhard de Chardin com Sol, Netuno, Vênus, Plutão e a Lua todos na 12ª Casa são apenas alguns casos explicativos.

É como se as energias da 12ª Casa não tivessem de ser usadas somente para fins pessoais. É possível que nos seja pedido expressar este princípio pelo bem dos outros, não só para nós. Por exemplo, se Marte se encontra nesta posição, podemos fazer o papel de batalhadores da causa de outros. Neste sentido, anulamos o nosso Marte ou o oferecemos aos outros. Mercúrio na 12ª Casa entende as preocupações dos outros ou serve de porta-voz a eles.

Algumas pessoas, através dos posicionamentos da 12ª Casa, levam o que pode ser chamado de "vidas simbólicas". Seu modo de vida individual reflete as tendências ou os dilemas numa atmosfera coletiva. Por exemplo, Mahatma Gandhi com Sol em Libra na 12ª Casa tornou-se o pensamento vivo do princípio libriano de coexistência pacifica para milhões de pessoas. Urano na 12ª Casa do mapa de Hitler tornou-o excepcionalmente aberto a ideologias que pairavam no ar naquele tempo.

Bob Dylan tem Sagitário na cúspide da 12ª Casa e seu regente, Júpiter, na 5ª, a área do mapa relativa à expressão criativa; através de sua música ele foi a boca e a inspiração de muitas das tendências de contra-cultura dos anos 60. Uma mulher negra com Urano em Câncer na 12ª nasceu e cresceu numa parte da Inglaterra em que praticamente só havia brancos. Tendo de integrar-se na vida da cidade, ela não estava lidando somente com seu próprio dilema pessoal, mas também lutando pela causa de muitos outros negros.

A 12ª Casa tem sido chamada de a casa dos "inimigos secretos" e das "atividades por baixo do pano". Isso pode significar literalmente pessoas que intrigam ou conspiram contra nós. No entanto, mais parecem ser fraquezas ocultas ou forças dentro de nós mesmos que minam a realização de nossos objetivos e metas conscientes. Enfim, impulsos inconscientes como mostrados pelos posicionamentos da 12ª Casa são também capazes de impedir a realização de nossas aspirações conscientes. Por exemplo, se um homem tem a Lua e Vênus na 7ª Casa existe uma forte ansiedade por estar junto a outra pessoa em relacionamento íntimo; por outro lado, se este homem tem também Urano na 12ª, isso sugere que inconscientemente pode haver um tão forte desejo por liberdade e independência que ele vai sabotar de algum modo qualquer tentativa de estreitar laços afetivos. Em geral, em qualquer luta entre aspirações conscientes e inconscientes, o inconsciente vence. Neste caso, o indivíduo pode ser costumeiramente atraído por mulheres que não são livres para casar ou que, por alguma razão, não retribuem seus avanços. Desta maneira, o impulso de continuar independente (Urano na 12ª) mantém-se vitorioso sobre as necessidades conscientes. Se existem pressões morais conscientes dentro de nós, podemos fazer algo para regulá-las e alterá-las, caso assim o desejamos. Se não estivermos conscientes de certos impulsos e regras, estes abrem caminho para nos dominar e controlar. Aquilo que é inconsciente dentro de nós tem uma habilidade de vir por trás e nos atingir na cabeça. Por este motivo, não importa o quanto tentemos, algumas metas conscientes são continuamente bloqueadas e precisamos examinar a 12ª Casa para encontrar uma pista da razão pela qual isso acontece.

A ligação da 12ª Casa com instituições tem sentido à luz das várias conotações desta casa já discutidas até agora. A 12ª Casa mostra o que está escondido ou o que se encontra por trás das coisas, como hospitais e prisões são, em parte, lugares onde determinadas pessoas vivem segregadas da sociedade.

Aqueles que têm difíceis posicionamentos da 12ª Casa podem desmoronar sob a pressão da vida ou cair sob a presa de poderosos complexos inconscientes que irrompem na superfície, resultando numa necessidade de serem assistidos e contidos. Outros são postos de lado por serem considerados perigosos ao bem estar da sociedade. Em qualquer desses casos, a vontade de uma autoridade maior é forçada sobre eles conforme o princípio da 12ª Casa de submissão individual a algo maior do que o self. Uma hospitalização ou um período de afastamento da vida pode ser necessário para restabelecer o equilíbrio psicológico e físico, tornando a pessoa novamente inteira — outro princípio da 12ª Casa. Experiências em orfanatos, hospícios e tratamento de deficientes também aparecem via 12ª Casa.

Não é estranho encontrar pessoas com posicionamentos nesta casa trabalhando em tais instituições. Servir a outros menos afortunados que eles é a expressão prática da compaixão e da simpatia que a 12ª Casa confere. A Igreja, certas obras de caridade ou a vida monástica são outras esferas que absorvem a pessoa que sente ser este o seu chamado para sacrificar ou dedicar a vida a Deus ou ao bem-estar dos outros. Os reencarnacionistas acreditam que um mau carma passado pode ser redimido através de boa vontade e serviços desse tipo. Como já mencionamos, a 12ª Casa dá acesso ao arquivo coletivo de experiências passadas de geração em geração. Por isso, não é de surpreender que os guardiões deste armazém, aqueles que trabalham em museus ou bibliotecas, tenham muitas vezes posicionamentos próprios da 12ª Casa.

Não seria correto discutir a 12ª Casa sem mencionar mais uma vez a pesquisa feita por Michel e Françoise Gauquelin.6 Eles analisaram as carreiras de esportistas vitoriosos e encontraram uma correlação de Marte na 12ª Casa.

Cientistas e médicos também tendem a ter Saturno nesta posição. Escritores têm a Lua, e atores, Júpiter. Baseados em seus estudos, tudo indica que planetas na 12ª (e até certo ponto na 9ª, 6ª e 3ª casas) determinam significativamente o caráter e a profissão do nativo. Isso surpreendeu muitos astrólogos que achavam que posicionamentos na ls ou 10ª Casa deveriam ser
mais fortes neste aspecto.

No entanto, será que tais descobertas são tão estranhas do ponto de vista que entendemos ser o da 12ª Casa? Se existe uma ânsia de "dar" tudo o que está na 12ª a outras pessoas, segue-se que poderíamos fazer carreira com base nos princípios ali contidos. E mais: se a 12ª Casa indica energias na atmosfera coletiva, às quais somos sensíveis, é provável que nosso caráter e expressão reflitam isso. Esportistas captam a ansiedade coletiva de competir e chegar primeiro (Marte). Escritores sintonizam a imaginação coletiva (Lua) e cientistas servem à necessidade coletiva para classificar e estruturar (Saturno).

Uma vez que a 12ª Casa tem relação com a religação a algo caro e divino, um indivíduo pode vivenciar um planeta nesta posição com a chave ou a passagem para a grandeza e a autotranscendência. Naturalmente, a pessoa gostaria de desenvolvê-la.

Em algum nível, ela pode acreditar que as portas do paraíso são abertas através da superação de qualquer princípio da 12ª Casa. A profunda ânsia, totalidade e imortalidade que existe em todos nós é a incitação que motiva a realização através dos planetas da 12ª Casa.

Para algumas pessoas, uma ênfase na 12ª Casa contribui para a falta de uma clara identidade, uma nebulosidade, vidas sem diretrizes, sacrifícios, sensação de opressão por parte de impulsos inconscientes ou subjacentes soltos na atmosfera, e um falso senso do valor do sofrimento e do auto-sacriffcio. Por outro lado, o conceito da 12ª Casa de entregar-se ao sentimento de ser um self separado, dá vida à verdadeira simpatia e compaixão, a serviços altruístas, inspiração artística e, finalmente, à capacidade de estar num todo maior.

Na 11ª Casa teorizamos sobre a unidade e a falta de conexão de toda a vida. Em princípio isso é reconhecido. Na 12ª Casa, o mistério da nossa unidade com o resto da criação é percebido diretamente com todas as células do corpo. Toda a existência é sentida como parte de nós mesmos, do mesmo modo como as partes do nosso corpo são partes de nós. Com tal conhecimento, seria difícil ferir inadvertidamente outra pessoa como o seria cortar fora um de nossos dedos.

Consequentemente, achamos que aquilo que deve servir ao nosso bem-estar individual servirá invariavelmente para o bem do todo.

Uma antiga história ilustra o lado positivo da 12ª Casa. Um homem tem permissão para visitar o paraíso e o inferno. No inferno ele vê uma grande reunião de pessoas sentadas em volta de uma longa mesa posta, com comida farta e gostosa; no entanto, as pessoas são pobres e esfomeadas. Ele logo percebe que a razão de se encontrarem em estado desesperador é que as facas e os garfos servidos são maiores que os braços dos comensais. Como resultado disso, eles são incapazes de levar a comida à boca e de se alimentar. Depois, mostra-se ao homem o paraíso. Ele encontra a mesma mesa posta ali com os mesmos longos talheres. No paraíso, porém, em vez de as pessoas estarem somente preocupadas em se alimentar, cada uma usa seus talheres para alimentar ao próximo. Todas elas estavam bem alimentadas e felizes.

Enquanto não perdermos totalmente nossa própria identidade pessoal ou o sentido de nossa individualidade única, temos de vivenciar, tomar conhecimento, honrar e nos ligar aquela parte de nós que é universal e ilimitada. Afinal, o truque é nadar nas águas da 12ª Casa sem afundar.

Emergimos da matriz universal da vida, nos estabelecemos como entidades individuais e, depois de tudo, achamos que somos realmente uma coisa só com a criação. Quer nossa conexão com o todo maior seja vivenciada conscientemente quer não, através da 12ª Casa é inevitável que nosso corpo físico morra e se desintegre. Quando o corpo morre, morre também o sentido de termos uma existência física separada. De um modo ou de outro, retornamos ao solo coletivo do qual viemos. O que havia no começo há no fim. Voltamos ao Ascendente para recomeçar uma nova volta da espiral.

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