segunda-feira, 26 de junho de 2017

O Zodíaco na Astronomia e na História, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

O Zodíaco é uma estrutura celeste muito antiga. Terá sido definida pelas civilizações mesopotâmicas há 7.000 anos. A sua representação pode ser encontrada em quase todas as civilizações clássicas.

As doze divisões foram provavelmente originadas pelas estações do ano e pelo movimento lunar, pois num ano o Sol e a Lua encontram-se (Lua Nova) 12 vezes. Este facto deu origem aos 12 meses do calendário e, por consequência, a 12 divisões no caminho do Sol do Céu.

Numa fase inicial, estas divisões eram marcadas por estrelas e os signos do Zodíaco corresponderiam a conjuntos de estrelas: as constelações zodiacais. Este Zodíaco, baseado em constelações, é denominado por Zodíaco sideral.

Com o passar do tempo, os astrólogos/astrônomos notaram que o início das estações e os signos estavam desfasados e que este desfasamento aumentava com o tempo. Descobriu-se, assim, o fenômeno da precessão dos equinócios. Este movimento provoca uma deslocação do ponto vernal (o ponto onde o Sol está posicionado no Equinócio da Primavera) em relação ao pano-de-fundo de estrelas. Assim, o ponto vernal percorre todas as constelações do Zodíaco num período de 25.920 anos (mudando de signo a cada 2.160 anos).

Zodíaco Sideral, Zodíaco Tropical e a Precessão
Este movimento dá-se na ordem inversa das constelações (ou seja, o equinócio desloca-se da constelação de Carneiro para a de Peixes, depois para Aquário, etc.) e deve-se a uma oscilação cíclica do eixo da Terra.

A Precessão dos Equinócios e o Eixo da Terra
Para evitar o desfasamento e associar definitivamente o Zodíaco com as estações, o Zodíaco sideral foi substituído pelo Zodíaco tropical, no qual os signos são divisões das quatro estações do ano. Este é o Zodíaco utilizado pela tradição ocidental.

Desconhece-se quando esta mudança ocorreu. O seu grande divulgador foi, sem dúvida, Ptolomeu (c.100-c.178), mas o conceito pode ser bastante anterior a este autor. Como na época de Ptolomeu (início da era cristã) os dois zodíacos eram quase coincidentes, torna-se muito difícil determinar qual dos dois era utilizado pelos astrólogos de então.

No entanto, quase todos os autores ocidentais pós-ptolemaicos utilizam o Zodíaco tropical.

A grande excepção é a Astrologia Hindu, que evoluiu separadamente da tradição ocidental a partir do período grego e que ainda hoje utiliza o Zodíaco sideral.


Constelação versus signo

Desta forma, na tradição astrológica ocidental, quando falamos de signos não estamos a referir constelações. Os nomes coincidem porque o simbolismo dos signos foi extraído, em grande parte, das constelações.

Quando alguém diz que nasceu no "signo" do Capricórnio (referindo-se, portanto, ao signo solar) ficará talvez surpreso ao descobrir que, do ponto de vista astronômico, nessa época do ano o Sol está afinal na "constelação" do Sagitário.

O desfasamento atual entre os dois zodíacos é de 24° e é denominado Ayanamsa (termo Hindu).

Este fato não invalida a Astrologia, como por vezes se afirma, apenas indica o uso de um referencial diferente do da Astronomia. Estações e signos são o referencial do Zodíaco tropical, e os grupos de estrelas (constelações) o do Zodíaco sideral.

Nota: Apesar desta diferença ser reconhecida pelos Astrólogos há pelo menos dois milênios, muitos estudantes e (mais grave) alguns profissionais da Astrologia, desconhecendo este facto (ou ignorando-o propositadamente por facilitismo), teimam em chamar aos signos "constelações", perpetuando assim a confusão.


As eras astrológicas

Outro fenômeno associado à precessão dos equinócios é a sequência das eras astrológicas. Como o ponto vernal demora 2.160 anos a percorrer uma constelação, diz-se que nesse período essa constelação rege e determina os assuntos mundiais. É este o caso da famosa era de Aquário, para a qual caminhamos, segundo uns, ou que já estamos a viver, segundo outros.

Com base nas computações mais comuns, o ponto vernal encontra-se neste momento a cerca de 6° da constelação de Peixes e caminha lentamente (1° a cada 72 anos) para a constelação de Aquário. Estando correto este cálculo, deveremos chegar à era de Aquário daqui a cerca de 432 anos. Como as fronteiras das constelações são muito discutíveis, estes cálculos são deixados à imaginação e inventividade dos diversos autores.

As eras são muito utilizadas pelas correntes místicas/esotéricas modernas para explicar a "evolução" da Humanidade ao longo da História e justificar aparentes "alterações" no comportamento do ser humano.

Embora interessante, esta teoria não é mencionada de forma significativa nas fontes tradicionais, nem lhe é atribuída pela Tradição (tanto quanto sabemos) qualquer aplicação prática. Não há evidências da interpretação astrológica da precessão dos equinócios anteriores a 1870. Trata-se, portanto, de um conceito relativamente recente. Em contrapartida, o sistema tradicional aplica frequentemente e de forma mais pragmática outro tipo de ciclos, sobretudo na área da Astrologia Mundana.



Extraído de: Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007.

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