Ainda dentro das relações entre planetas, dado o movimento constante deles nos céus, podem ocorrer inúmeras variáveis de encontros, desencontros e impedimentos para sua colaboração efetiva.
Chamarei atenção agora para um fato semelhante à recepção. mas que funciona simplesmente pelo contato: trata-se da comissão de disposição e transferência de virtude "pelo corpo".
Quando um planeta faz aspecto com outro, desde que nenhum se interponha primeiro entre eles, o planeta A passa sua virtude (se a tiver) para o planeta B. O segundo planeta fica portador da virtude que possuir mais aquela que lhe foi transmitida pelo primeiro planeta.
Então vejamos: a Lua está a 6° de Câncer, Vênus está 8° de Câncer e Saturno a 9° de Libra. A Lua passa sua virtude a Vênus (note que ela possui virtude, pois está em seu domicílio) "através de seu corpo" e a transmite a Vênus.
Vênus que já tinha triplicidade e face neste signo e grau agora tem também a força de regência.
A ideia de transmissão de virtude vem desde Paulus de Alexandria, autor Helenístico. Ele dizia que se um planeta cadente e sem forças, recebesse um aspecto de Júpiter, por exemplo, ele poderia ser ativado e tornado útil, funcionando como se estivesse num ângulo ele mesmo.
A seguir abordarei uma série de fatores dinâmicos que ocorrem entre planetas, além da transmissão de virtude.
Entre as dinâmicas temos:
1 - A translação de luz ocorre quando um planeta mais leve se aplicou a um planeta e em seguida vai aplicar-se a outro: neste caso a luz do segundo será transferida para o terceiro. Isso só pode ocorrer se houver recepção. Digamos que a Lua está a 6° de Câncer, Vênus está 8° de Câncer e Saturno a 20° de Libra. A Lua faz um aspecto com Vênus e a seguir com Saturno. Como Vênus recebe Saturno por domicílio, a qualidade de Vênus, é transferida para Saturno: os dois significadores ficam unidos, mesmo que não estivessem unidos em aspecto.
2 - A coleção de luz ocorre quando dois planetas que estão inconjuntos faz
em aspecto a um terceiro mais lento que coleta, reúne a luz dos dois promovendo sua união.
3 - O retorno de virtude. Suponha que Saturno esteja retrógrado a 25° de Libra no Ascendente e Júpiter esteja no Meio Céu em Câncer a 25°.
Júpiter é o mais leve, portanto ele se aplica a Saturno. Saturno está retrógrado e por isso não pode obter a virtude de exaltação que Júpiter tem em Câncer. Ele a devolve então, fazendo o retorno da virtude a Júpiter que sai aprimorado com as qualidades de exaltação de Saturno em Libra. Júpiter que já era forte fica duplamente forte.
Os desencontros e perdas entre planetas são em maior número:
1 - Impedimento ou proibição: por vezes um planeta mais ligeiro vai se aplicar a outro mais lento e um terceiro planeta se interpõe entre os dois.
2 - Refranação: O planeta A que buscava aspecto com o planeta B desiste e entra em retrogradação,
3 - Contrariedade: o planeta A que ia aspectar o planeta B é impedido de fazê-lo porque outro, o planeta C, entrou em retrogradação e aspectou B primeiro.
4 - Frustração: o planeta A tenta o aspecto com B, mas B muda de signo e completa o aspecto com o planeta C (o planeta A fica "frustrado").
5 - Corte da luz: o planeta A ia fazer aspecto com B e a seguir com C, eventualmente fazendo urna translação de luz entre eles, mas C se torna retrógrado e atinge B primeiro. Este aspecto não impede o aspecto do significador A para os outros dois, mas impede a translação de luz de A para C por isso o aspecto é denominado corte da luz.
Concluindo, o importante não é gravar os nomes corretos, mas ter em mente o significado e as potenciais possibilidades de encontro ou empecilho ao encontro entre planetas.
Além disso, ter a tabela de efemérides à mão é imprescindível. sem a qual as vezes não conseguiremos saber o que ocorrerá proximamente aos planetas, o que significa que não conheceremos os sinais do futuro.
O leitor deve estar atento a esses aspectos e relações.
Em astrologia horária tais vicissitudes entre os planetas nos ajudam a prever um desenvolvimento favorável ou não, e na astrologia natal esses aspectos podem auxiliar ou prejudicar um planeta.
Em astrologia natal deveriam ser mais utilizadas, visto que tais dinâmicas nos dirão sobre o que ocorrerá ao nativo conforme o mapa natal progrida em suas direções.
Por exemplo, digamos que em um mapa natal a Lua esteja em Câncer a aplicar-se por um trígono a Vênus em Peixes. Imaginemos que a Lua esteja a 10° de Câncer e Vênus a 16° de Peixes. Haverá urna recepção mútua por triplicidade e um aspecto de trígono. Mas, vamos supor que Saturno esteja a 11° de Capricórnio.
Como a Lua é mais rápida que Vênus ela é quem vai se aplicar a Saturno primeiro, pois é sempre o planeta mais rápido que se aplica ao mais lento. Ocorre que Saturno não recebe a Lua e nem a Lua recebe Saturno. A Lua tem seu detrimento em Capricórnio e Saturno tem seu detrimento em Câncer.
Se o leitor estivesse interpretando uma carta horária essa situação seria desastrosa caso a Lua e Vênus fossem os significadores da matéria, que seria sumariamente negada.
Mas na astrologia natal essa dinâmica também é importante: corno a carta progride, podemos imaginar que a Lua vá se defrontar logo de início com Saturno.
As coisas seriam mais fáceis para o nativo se a Lua fosse se aplicar a Vênus e tal situação planetária pode representar a diferença entre uma infância feliz ou difícil.
Clélia Romano, in Fundamentos da Astrologia Tradicional, Edição do Autor, 2011.
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