Mamãe pode ter, Papai pode ter, mas
Deus abençoa a criança que
conseguiu ter o seu.
Billie Holiday
Deus abençoa a criança que
conseguiu ter o seu.
Billie Holiday
Com a 1ª Casa a centelha inicial da identidade individual se manifestou e nossa entrada na vida foi definida. Agora, a tarefa que temos em mãos é a elaboração adicional de quem somos e a construção de um sentido mais sólido do Eu ou do ego pessoal. Nós necessitamos de mais definição, mais substância, maior senso de nosso próprio valor e de nossas habilidades. Necessitamos de alguma ideia do que é que possuímos que podemos chamar de nosso. Precisamos também ter uma noção do que valemos, daquilo que gostaríamos de nos tornar ou ganhar para
podermos estruturar nossa vida de acordo. A 2ª Casa, associada com o signo de terra Touro e com o planeta Vênus, e normalmente descrita como sendo de "valores, posses, dinheiro e recursos", preenche esta fase da viagem.
O rótulo tradicional da 2ª Casa faz com que ela pareça enquadrar somente o que é concreto e tangível e o que interessa ao fiscal do imposto de renda. Não se engane, há muito mais a ver.
Embora o nascimento seja o começo do nosso desenvolvimento individual separado, normalmente levamos até seis meses para reconhecer que temos um corpo e talvez até mais para diferenciar completamente o eu do não-eu.
Um grande passo à frente é dado ao nos estabelecermos como uma entidade distinta de tudo o mais, quando percebemos que a Mãe (que é o mundo inteiro para nós) não é nós. Antes disso, ela era vista apenas como uma extensão de quem somos.
Gradualmente desenvolvemos um sentido que nos permite ocupar uma forma física que não é a dela e de ninguém mais: "Estes são os meus dedos, não os dedos da Mãe; estas são as minhas mãos, não as mãos da Mãe — eles me pertencem, me definem, eles são o que eu sou e o que eu possuo" Mas a descoberta do nosso corpo em separado também desperta um sentido de nossa vulnerabilidade e de nossa limitação que antes não se havia apresentado. Com esta imponente descoberta vem a necessidade de defender o eu independente da morte e da destruição. Nós
aspiramos a nos tornar mais estáveis, permanentes, sólidos e duradouros.
O corpo é a primeira coisa pela qual nos definimos a nós mesmos e então encontramos um caminho aberto para uma futura autodefinição no momento em que atribuímos a nós mesmos mais e mais coisas através das quais deduzimos e damos maior substância ao nosso ego-identidade. Com o passar do tempo, vamos desenvolver um sentido para outras coisas que possuímos além do corpo, uma boa mente, o conhecimento de uma língua, uma natureza simpática, uma habilidade
prática, um gosto artístico etc. A 2ª Casa descreve aquilo que possuímos ou esperamos possuir, assim como os recursos ou atributos que, quando desenvolvidos, nos darão um sentido de substância, valor, merecimento, segurança e garantia previamente fornecida pela nossa identificação com a Mãe. Para a maioria das pessoas, isso significa dinheiro, mesmo que o fato de persegui-lo sem pensar muito não leve à autodefinição, mas ao desespero. Testemunho disso é o número de homens que foram levados a pular das janelas de prédios depois da quebra da Bolsa de 1929.
De maneira mais positiva, o desejo de ter dinheiro pode servir de mola para desenvolver certas qualidades e faculdades que sem ele ficariam apenas latentes.
Embora a 2ª Casa seja tradicionalmente associada ao dinheiro, deve-se notar que outras coisas podem preencher a necessidade de segurança, garantia e um sentido mais substancial de identidade, além de aumentar nosso saldo bancário.
Em nível mais primário, a 2ª Casa é uma indicação daquilo que constitui a nossa segurança pessoal. Coisas diferentes representam segurança para pessoas diferentes. Por exemplo, se Gêmeos ou Mercúrio estiverem na 2ª Casa, possuir conhecimento pode ser o que faz esta pessoa se sentir segura. Quem tem Peixes ou Netuno na 2ª Casa poderia receber segurança de uma filosofia "espiritual" ou de uma religião. Se alguma coisa nos faz sentir seguros e garantidos, é natural que queiramos adquiri-la.
Os signos e planetas que se encontram na 2ª Casa também servem como guias para indicar os tipos de faculdades e capacidades inerentes que podemos desenvolver e concretizar, e através dos quais nos é possível adquirir maior sentido de autovalorização. A 2ª Casa representa nossa opulência inata passível de ser puncionada, nossa substância ou região que pode ser cultivada de maneira produtiva. Se Marte ou Áries se encontrarem aí, então as boas qualidades em potencial que esta pessoa poderia efetivar seriam as que se harmonizam com as linhas que Marte e Áries representam: coragem, imediatismo, e a habilidade de saber o que quer e como consegui-lo. Vênus e Libra poderiam outorgar um bom gosto natural, talento artístico, um savoir-faire diplomático ou atração física como heranças. Qualquer posicionamento em qualquer casa nos dá indicações para a passagem natural de nossas possibilidades nesta área da vida. Por que não dar ouvidos a tais indicações?
Para aumentar ainda mais o rol de nossas capacidades em potencial, a 2ª Casa também designa nosso relacionamento com dinheiro e posses: isto é, nossas atitudes para com o mundo material e as condições que se encontram neste plano. Quer adoremos Mamon como deus ou consideremos o mundo das formas como maya ou ilusão, tudo isso vai ser mostrado pelos posicionamentos aqui.
Também é indicada a maneira, o meio ou o ritmo com o qual chegamos a ganhar dinheiro e como desenvolvemos nossa competência — seja ela audaciosa, letárgica ou irregular — e nossos recursos. Nós nos apegamos muito ou deixamos as coisas escorregar por entre os nossos dedos? Temos que empregar tremendo esforço nesta área da vida ou somos abençoados pelo toque de um Midas? Será que ainda queremos aquilo que batalhamos para obter?
Por exemplo, Marte ou Áries na 2ª Casa poderia indicar uma avidez por acumular dinheiro tanto quanto uma propensão para gastá-lo precipitadamente.
Pode haver uma tendência a se associar o quão "macho" se é com a capacidade de
fazer fortuna e adquirir posses. O dinheiro poderia ser ganho através de profissões
associadas com Marte - algo como trabalho para um estabelecimento militar, até
ferragens. O estilo de Vênus na 2ª Casa é bem diferente: ela talvez atraia dinheiro para si em vez de clamar por ele e perseguir a fortuna e a riqueza como um meio de aumentar sua sedução e atração.
Dinheiro poderia ser ganho por meio de profissões associadas a Vênus, algo como artes plásticas até o departamento de cosméticos da Harrod's. Liberace, o popular pianista que exibe afrontosamente sua riqueza e seu excesso de gosto, nasceu com Urano em Peixes na 2ª Casa. Maquiavel, que acreditava que os fins justificavam os meios, nasceu com Marte nesta casa. Karl Marx cujas teorias políticas e econômicas mudaram a história, nasceu com Sol e Lua em Touro, na 2ª Casa.
Normalmente, os posicionamentos na 2ª Casa designam nosso valor e nossas esperanças de ganho na vida. Isto é extremamente crucial por basearmos toda nossa existência em tais critérios. Quando nossos valores mudam, todo nosso enfoque de vida pode ser alterado dramaticamente. Nos anos 60, muitos executivos abandonaram seus empregos seguros e seus escritórios da Madison Avenue, rasgaram seus ternos feitos sob medida, doaram seus futuros promissores para tentar uma nova vida na Califórnia, tudo por causa de uma mudança de valores.
A 2ª Casa mostra aquilo que desejamos. A energia-desejo é uma força misteriosa e poderosa: de fato, o que desejamos, valorizamos ou de que gostamos muito determina aquilo que atraímos para nossas vidas. Existe uma alegoria pertinente a este princípio. Pessoas de uma pequena cidade apreciavam demais certo artista famoso e aclamado internacionalmente e escreveram a seu agente para pedir à ilustre figura se ela se dignaria a visitar a cidade. O agente respondeu em termos que não deixavam dúvidas de que o famoso artista não tinha tempo para perder viajando a um povoado tão insignificante quanto o deles. Perseverantes, as pessoas de lá fundaram sociedades de estudos para conhecer mais profundamente o trabalho, a vida e a filosofia de seu amado artista e erigiram até uma estátua para ele no centro da cidade. Casualmente, o artista ouviu falar do irresistível entusiasmo e amor que estas pessoas sentiam por seu trabalho. Naturalmente ficou curioso o bastante para viajar até a pequena cidade que fazia tal alarde a seu respeito. No fim, ele não só visitou a cidade como se sentiu tão bem recebido lá que decidiu fazer dela seu novo lar. Contra todas as previsões, a profundidade e a qualidade do desejo destas pessoas e seu gosto pelo artista literalmente o arrastaram até elas. Entendido desta maneira, através da avaliação e da estima das qualidades associadas com o planeta que cai na 2ª Casa, somos capazes de criar situações que atraem estes princípios para nós ou os trazem à tona. Trânsitos e progressões para a 2ª Casa indicam esses tempos de mudanças e alterações para com o desejo-natureza.
Todos temos a tendência de formar o nosso sentimento de identidade e segurança em primeiro lugar daquilo que temos, possuímos ou atribuímos a nós mesmos — seja ele o corpo, o lar, o saldo bancário, a esposa, nossos filhos ou uma filosofia religiosa. No entanto, derivar uma identidade de algo externo ou relativo é fundamentalmente precário e condicional. Qualquer um deles poderia ser tirado de nós a qualquer momento e de repente perder sua importância. Mesmo nosso corpo, que foi a primeira coisa que achamos como nosso próprio e através do qual conseguimos nosso sentido inicial do eu, tem de ser eventualmente "largado" e sacrificado. Talvez a única segurança real provenha de uma identificação com aquela parte de nós que permanece quando tudo o mais que achávamos que éramos nos é arrancado. Para parafrasear Jung, nós só descobrimos o que nos sustenta quando tudo o mais que pensávamos nos sustentar não nos sustenta mais. Seria bom refletir a respeito da sabedoria de certas tribos de índios americanos que obrigavam a cada final do ano o homem mais rico do povoado - aquele que com mais sucesso havia conseguido maior fortuna para si mesmo — a dar tudo o que havia aumentado em sua fortuna.
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