quarta-feira, 15 de junho de 2016

A Filosofia do Holismo, por Dane Rudhyar

Esta filosofia está totalmente explicada num livro notável, Holism and Evolution, escrito em 1926 por um homem ainda mais notável, general Jan C. Smuts, homem de estado, filósofo e cientista. Um artigo na Enciclopédia Britânica, sob o título "Holismo", também escrito pelo general Smuts, dá um resumo das ideias desenvolvidas no livro. A citação, um tanto extensa, é desse artigo:

O holismo é a teoria; que torna a existência de "todos" uma Característica fundamental do mundo. Refere-se a objetos naturais, animados e inanimados, como totalidades e não meras reuniões de elementos ou partes. Vê a natureza como consistindo de corpos e coisas distintos, concretos, e não como um continuum homogêneo difuso. E estes corpos ou coisas não podem ser inteiramente reduzíveis a partes, num ou noutro grau, são totalidades que são mais que a soma de suas partes, e a aglutinação mecânica de suas partes não os produzirá nem corresponderá a seu caráter e comportamento. As assim chamadas partes são distinções analíticas não reais mas em grande parte abstratas, e não expressam de modo próprio ou adequado a composição da coisa como um todo.

Portanto o holismo é uma concepção adicional e complementar à da ciência, cujas palavras-chave são continuidade e mecanicismo ... o esquema mecanicista (da ciência) aplica-se até mesmo a corpos vivos, já que suas estruturas materiais determinam as funções que constituem os caracteres de vida. ...Vida e mente são consideradas derivativas e epifenomenais à matéria. ...0 esquema científico foi seriamente minado pelas mais recentes descobertas na ciência física e matemática. O valor do conceito mecanicista para a pesquisa não é questionado, mas não pode mais ser considerado um indicador verdadeiro do caráter concreto do universo e de seus conteúdos. O holismo é uma tentativa de explorar um esquema alternativo, que ainda evitará as armadilhas do vitalismo.

O que está envolvido no conceito de um todo? Em primeiro lugar, enquanto um todo consiste de partes ou elementos, eles não podem ser fixos, constantes ou inalteráveis. ...Todo e partes influenciam-se mútua e reciprocamente, e modificam-se um ao outro. ...As partes são moldadas e ajustadas pelo todo, assim como o todo depende por sua vez da cooperação de suas partes. ...0 conceito do todo, ao se aplicar a objetos naturais, implica portanto dois grandes afastamentos do esquema científico ortodoxo. Em primeiro lugar, matéria, vida e mente não consistem de elementos fixos, constantes e inalteráveis. E, em segundo lugar, além das partes ou dos elementos nas coisas, existe um outro fator ativo (o todo), que a ciência não reconhece absolutamente.

A evolução é a complexificação progressiva de partes ou elementos em cooperação, com um aumento simultâneo na unidade de padrão com o qual eles se misturam. Portanto é uma série crescente de todos, dos mais simples padrões materiais até os mais avançados. ...A totalidade, ou holismo, caracteriza todo o processo de evolução numa medida cada vez mais crescente. E o processo é continuo no sentido de que tipos mais antigos de todos ou padrões não são descartados, mas tornam-se o ponto de partida e os elementos dos padrões mais novos, mais avançados. Assim, os padrões químicos materiais são incorporados aos padrões biológicos, e ambos aos padrões ou todos psíquicos subsequentes. ...Elétrons e prótons, átomos e moléculas, compostos inorgânicos e orgânicos, coloides, protoplasma, plantas e animais, mentes e personalidades são apenas alguns degraus nesse movimento de holismo...

O todo é criativo; onde quer que partes conspirem para formar um todo, surge alguma coisa que é mais do que as partes. ...A origem de um todo a partir de suas partes é um exemplo do muito surgindo do pouco, do superior a partir do inferior, de um modo que não violenta a razão ... porque o conceito de um todo em relação com suas partes é um produto da razão ...
(Enciclopédia Britânica, "Holismo")

Mais adiante, o general Smuts explica como o conceito de causação puramente mecânica é insatisfatório e possivelmente uma ficção, pois se o efeito nunca é mais do que a causa, se a causa é e precisa ser sempre necessariamente uma medida exata do efeito, este não pode ser um universo progressivo criativo. A causação holística (em que vários fatores contribuem para fazer novos todos) é o processo real, e possibilita o crescimento e avanço, que na verdade é o fato na natureza. Também, se a causa determina completamente o efeito, o determinismo é absoluto. No universo holístico a liberdade ê reconhecida como inerente à natureza.

A unidade orgânica que constitui um todo é a base última da individualidade. Difícil de ser notada no domínio inorgânico, a individualidade cresce através do mundo orgânico até vir a ser a base do mais recente e maior todo da evolução, a personalidade humana. A partir da progressiva combinação ou integração evolutiva de padrões materiais, químicos, biológicos e mentais, nasce a personalidade completa, que constitui e explica a unidade e as inter-relações entre esses três conjuntos de padrões.

O todo, quando visto a partir de um ângulo externo mecânico, é o que chamamos partes. Mas, visto de uma base interna integral, o todo é o self. A relação entre o todo e as partes é assim transformada na relação do self com o não-self, que conhecemos como a relação sujeito-objeto na psicologia. Totalidade é identidade. O processo do mundo dirige-se da matéria, através da vida, à mente e ao espírito; da necessidade à liberdade; da externalidade dos elementos à interioridade e identidade de todos (totalidades). O fazer-totalidades caracteriza esse processo a cada estágio. Isto se aplica a processos psicológicos, nos quais há uma crescente construção de padrões mais elevados a partir de padrões inferiores. Em psicologia a gestalt mostrou, por exemplo, que a atividade mental produz padrões ou estruturas de experiências que se comportam como totalidades e entram em outras experiências como totalidades in divididas e indivisíveis.

O mesmo é verdadeiro com relação às estruturas sociais, religiosas e políticas, que são antes holoids do que totalidades, pois as totalidades reais são sempre as personalidades que construíram essas estruturas parvo crescimento e o avanço espiritual de todos os indivíduos humanos. O general Smuts não acredita que o indivíduo exista para o bem do Estado ou da Igreja, mas ao contrário. Quanto à possibilidade de que o universo também possa ser um todo, ele se recusa a assumir uma posição definitiva, dizendo apenas que "este não é um universo completado, mas um universo em formação, e podem existir totalidades grandes e pequenas em formação além da compreensão de nossas limitadas faculdades". E ele conclui com essas belas palavras:

Embora a teoria do holismo aceite francamente a base material do mundo e reconheça a ordem natural como o idealismo não pode, todavia justifica plenamente as exigências dos espíritos na interpretação do mundo. ...Somos constantemente confrontados com a oposição entre matéria e espírito, entre o temporal e o eterno, entre o fenomênico e o real. Holismo mostra esses opostos como reconciliados e harmonizados no todo. Mostra todo e partes como aspectos um do outro; o finito é identificado com o infinito, o particular com o universal. A eternidade está contida no tempo, a matéria é a vestimenta e veículo do espirito, a realidade não é uma ordem de outro mundo transcendente mas imanente ao fenomenal. Para alcançar a realidade, não precisamos fugir da aparência; cada pequeno centro e todo no mundo, embora humildemente, é um laboratório em que o tempo é transmutado em eternidade, o fenomênico em realidade. A maravilhosa verdade está em todo lugar; em qualquer lugar onde se baixe a sonda, ela atingirá profundidades desconhecidas; qualquer corte no mundo das aparências revelará a própria textura da realidade. Em qualquer lugar, o todo, mesmo o visivelmente menor e mais insignificante, é a maravilha real, o milagre que contém os segredos que estamos buscando em pensamento e conduta. Existe o dentro, que é o além. Ser um todo e viver no todo torna-se o princípio supremo do qual decorrem todas as mais elevadas regras éticas e espirituais (tal como a Regra Dourada). E ele une estas regras com a natureza das coisas, pois não apenas bondade, amor e justiça derivam dele, mas também beleza e verdade, que estão enraizadas no todo e não têm significado sem ele. O todo é, na verdade, tanto a fonte quanto o princípio de explicação de todos os nossos ideais mais elevados, não menos que dos mais antigas estruturas evolutivas.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar. 

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