Esta filosofia está totalmente explicada num livro notável, Holism and Evolution, escrito em 1926 por um homem ainda mais notável, general Jan C. Smuts, homem de estado, filósofo e cientista. Um artigo na Enciclopédia Britânica, sob o título "Holismo", também escrito pelo general Smuts, dá um resumo das ideias desenvolvidas no livro. A citação, um tanto extensa, é desse artigo:
O holismo é a teoria; que torna a existência de "todos" uma Característica fundamental do mundo. Refere-se a objetos naturais, animados e inanimados, como totalidades e não meras reuniões de elementos ou partes. Vê a natureza como consistindo de corpos e coisas distintos, concretos, e não como um continuum homogêneo difuso. E estes corpos ou coisas não podem ser inteiramente reduzíveis a partes, num ou noutro grau, são totalidades que são mais que a soma de suas partes, e a aglutinação mecânica de suas partes não os produzirá nem corresponderá a seu caráter e comportamento. As assim chamadas partes são distinções analíticas não reais mas em grande parte abstratas, e não expressam de modo próprio ou adequado a composição da coisa como um todo.
Portanto o holismo é uma concepção adicional e complementar à da ciência, cujas palavras-chave são continuidade e mecanicismo ... o esquema mecanicista (da ciência) aplica-se até mesmo a corpos vivos, já que suas estruturas materiais determinam as funções que constituem os caracteres de vida. ...Vida e mente são consideradas derivativas e epifenomenais à matéria. ...0 esquema científico foi seriamente minado pelas mais recentes descobertas na ciência física e matemática. O valor do conceito mecanicista para a pesquisa não é questionado, mas não pode mais ser considerado um indicador verdadeiro do caráter concreto do universo e de seus conteúdos. O holismo é uma tentativa de explorar um esquema alternativo, que ainda evitará as armadilhas do vitalismo.
O que está envolvido no conceito de um todo? Em primeiro lugar, enquanto um todo consiste de partes ou elementos, eles não podem ser fixos, constantes ou inalteráveis. ...Todo e partes influenciam-se mútua e reciprocamente, e modificam-se um ao outro. ...As partes são moldadas e ajustadas pelo todo, assim como o todo depende por sua vez da cooperação de suas partes. ...0 conceito do todo, ao se aplicar a objetos naturais, implica portanto dois grandes afastamentos do esquema científico ortodoxo. Em primeiro lugar, matéria, vida e mente não consistem de elementos fixos, constantes e inalteráveis. E, em segundo lugar, além das partes ou dos elementos nas coisas, existe um outro fator ativo (o todo), que a ciência não reconhece absolutamente.
A evolução é a complexificação progressiva de partes ou elementos em cooperação, com um aumento simultâneo na unidade de padrão com o qual eles se misturam. Portanto é uma série crescente de todos, dos mais simples padrões materiais até os mais avançados. ...A totalidade, ou holismo, caracteriza todo o processo de evolução numa medida cada vez mais crescente. E o processo é continuo no sentido de que tipos mais antigos de todos ou padrões não são descartados, mas tornam-se o ponto de partida e os elementos dos padrões mais novos, mais avançados. Assim, os padrões químicos materiais são incorporados aos padrões biológicos, e ambos aos padrões ou todos psíquicos subsequentes. ...Elétrons e prótons, átomos e moléculas, compostos inorgânicos e orgânicos, coloides, protoplasma, plantas e animais, mentes e personalidades são apenas alguns degraus nesse movimento de holismo...
O todo é criativo; onde quer que partes conspirem para formar um todo, surge alguma coisa que é mais do que as partes. ...A origem de um todo a partir de suas partes é um exemplo do muito surgindo do pouco, do superior a partir do inferior, de um modo que não violenta a razão ... porque o conceito de um todo em relação com suas partes é um produto da razão ...(Enciclopédia Britânica, "Holismo")
Mais adiante, o general Smuts explica como o conceito de causação puramente mecânica é insatisfatório e possivelmente uma ficção, pois se o efeito nunca é mais do que a causa, se a causa é e precisa ser sempre necessariamente uma medida exata do efeito, este não pode ser um universo progressivo criativo. A causação holística (em que vários fatores contribuem para fazer novos todos) é o processo real, e possibilita o crescimento e avanço, que na verdade é o fato na natureza. Também, se a causa determina completamente o efeito, o determinismo é absoluto. No universo holístico a liberdade ê reconhecida como inerente à natureza.
A unidade orgânica que constitui um todo é a base última da individualidade. Difícil de ser notada no domínio inorgânico, a individualidade cresce através do mundo orgânico até vir a ser a base do mais recente e maior todo da evolução, a personalidade humana. A partir da progressiva combinação ou integração evolutiva de padrões materiais, químicos, biológicos e mentais, nasce a personalidade completa, que constitui e explica a unidade e as inter-relações entre esses três conjuntos de padrões.
O todo, quando visto a partir de um ângulo externo mecânico, é o que chamamos partes. Mas, visto de uma base interna integral, o todo é o self. A relação entre o todo e as partes é assim transformada na relação do self com o não-self, que conhecemos como a relação sujeito-objeto na psicologia. Totalidade é identidade. O processo do mundo dirige-se da matéria, através da vida, à mente e ao espírito; da necessidade à liberdade; da externalidade dos elementos à interioridade e identidade de todos (totalidades). O fazer-totalidades caracteriza esse processo a cada estágio. Isto se aplica a processos psicológicos, nos quais há uma crescente construção de padrões mais elevados a partir de padrões inferiores. Em psicologia a gestalt mostrou, por exemplo, que a atividade mental produz padrões ou estruturas de experiências que se comportam como totalidades e entram em outras experiências como totalidades in divididas e indivisíveis.
O mesmo é verdadeiro com relação às estruturas sociais, religiosas e políticas, que são antes holoids do que totalidades, pois as totalidades reais são sempre as personalidades que construíram essas estruturas parvo crescimento e o avanço espiritual de todos os indivíduos humanos. O general Smuts não acredita que o indivíduo exista para o bem do Estado ou da Igreja, mas ao contrário. Quanto à possibilidade de que o universo também possa ser um todo, ele se recusa a assumir uma posição definitiva, dizendo apenas que "este não é um universo completado, mas um universo em formação, e podem existir totalidades grandes e pequenas em formação além da compreensão de nossas limitadas faculdades". E ele conclui com essas belas palavras:
Embora a teoria do holismo aceite francamente a base material do mundo e reconheça a ordem natural como o idealismo não pode, todavia justifica plenamente as exigências dos espíritos na interpretação do mundo. ...Somos constantemente confrontados com a oposição entre matéria e espírito, entre o temporal e o eterno, entre o fenomênico e o real. Holismo mostra esses opostos como reconciliados e harmonizados no todo. Mostra todo e partes como aspectos um do outro; o finito é identificado com o infinito, o particular com o universal. A eternidade está contida no tempo, a matéria é a vestimenta e veículo do espirito, a realidade não é uma ordem de outro mundo transcendente mas imanente ao fenomenal. Para alcançar a realidade, não precisamos fugir da aparência; cada pequeno centro e todo no mundo, embora humildemente, é um laboratório em que o tempo é transmutado em eternidade, o fenomênico em realidade. A maravilhosa verdade está em todo lugar; em qualquer lugar onde se baixe a sonda, ela atingirá profundidades desconhecidas; qualquer corte no mundo das aparências revelará a própria textura da realidade. Em qualquer lugar, o todo, mesmo o visivelmente menor e mais insignificante, é a maravilha real, o milagre que contém os segredos que estamos buscando em pensamento e conduta. Existe o dentro, que é o além. Ser um todo e viver no todo torna-se o princípio supremo do qual decorrem todas as mais elevadas regras éticas e espirituais (tal como a Regra Dourada). E ele une estas regras com a natureza das coisas, pois não apenas bondade, amor e justiça derivam dele, mas também beleza e verdade, que estão enraizadas no todo e não têm significado sem ele. O todo é, na verdade, tanto a fonte quanto o princípio de explicação de todos os nossos ideais mais elevados, não menos que dos mais antigas estruturas evolutivas.
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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.
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