sexta-feira, 10 de junho de 2016

Algumas Palavras a Respeito de Magia Astrológica, por Alexandre Volguini.

Cada ciência tem seu lado utilitário e prático e a astrologia não representa uma exceção a essa regra, muito embora a luta contra as más influências astrais pertença mais ao domínio da magia que ao da astrologia (talvez seja por isso que a grande maioria das obras astrológicas a deixa de lado e que numerosos astrólogos ficam perplexos quando lhes é dito ser inútil conhecer as ciladas do futuro se não é possível evitá-las).

Na maioria das vezes, a tradição preconiza a arte talismânica como meio de corrigir o tema astrológico, mas esse remédio destina-se sobretudo ao horóscopo natal, corrigindo, dessa forma, a falha do influxo de um astro através do porte do metal e da pedra que lhe pertencem. O princípio é simples: reforça-se habitualmente a influência de um planeta relativamente fraco, mas não afligido, pois, ao reforçar-se um astro que projeta vários aspectos dissonantes, reforçam-se fatalmente estes últimos. A teoria, no entanto, não é suficiente e essa arte está hoje praticamente perdida, a despeito dos numerosos trabalhos recentes que provam a sua legitimidade. Além disso, sua exposição não tem qualquer relação com o tema deste livro. Desejamos falar aqui do meio - diretamente decorrente das Revoluções Solares - de combater o destino, pelo menos de modo parcial.

Enfatizamos amplamente, no decorrer desta obra, a importância da orientação das Casas, e sobretudo do Ascendente anual, em relação ao tema natal. Observamos igualmente que várias viagens de Eduardo VIII (quando ainda era príncipe de Gales) foram ditadas pela astrologia (remédio que não apresenta nenhuma novidade, já que várias peregrinações da Idade Média foram prescritas por astrólogos, após procederem ao exame do horóscopo).

Com efeito, se nada podemos fazer contra as configurações nefastas formadas pelos planetas, temos condições de atenuar as aflições recebidas pelo Ascendente e pelo Meio-do-Céu de uma Revolução Solar mudando o lugar para o qual esta última deve ser estabelecida ou, em outras palavras, aconselhando o nativo a passar o dia de seu aniversário num local que não seja o de sua residência. Quando se trata do Ascendente num signo de curta ascensão, um deslocamento de 500 quilômetros, e até mesmo menos, é frequentemente suficiente para modificar de maneira radical um tema anual.

Suponhamos estar diante de uma Revolução Solar cujo Ascendente se situa no signo de Aquário sobre Urano natal na VI Casa de nascimento. E fácil evitar essa configuração explosiva, seja através de um deslocamento para o leste - a fim de, não somente conduzir o Ascendente para fora dessa sobreposição violenta, como também situá-lo na VII Casa natal —, seja através de um deslocamento para o oeste, a fim de recuar o Ascendente para a V Casa natal.

Dessa maneira, é possível evitar os temas anuais verdadeiramente catastróficos e muitas vezes neutralizar, de modo relativo, as dissonâncias planetárias, evitando, por exemplo, que uma oposição poderosa se coloque sobre o meridiano ou sobre o horizonte da Revolução Solar. Em suma, toda a magia astrológica consiste unicamente em fazer desviar e em enfraquecer os aspectos maléficos violentos através do deslocamento (para o local mais longínquo possível) dos ângulos, que são os pontos mais sensíveis de uma figura horoscópica.

A busca do lugar mais propício para passar o dia do aniversário (ou, em outras palavras, a busca do melhor Ascendente anual) é comparável a uma eleição. Difere desta última, contudo, no sentido de que, enquanto a eleição consiste na escolha de um bom momento para iniciar um empreendimento ou para realizar uma ação importante, no caso de uma Revolução Solar, o momento é irrevogavelmente dado pelo retorno do Sol a seu lugar de nascimento e não passa do deslocamento das Casas em relação ao horóscopo natal e aos planetas anuais (geralmente bastante limitado, já que não é possível prescrever uma viagem aos antípodas para melhorar o céu anual). Tal como uma eleição, trata-se de uma operação delicada, que só pode ser feita por um astrólogo experiente, mas já constitui um grande consolo a possibilidade de amortecer o choque das configurações mais violentas em lugar de suportar cegamente a pressão das influências astrais.

É inútil insistir mais na técnica dessa prática relativamente simples, que não exige mais que uma boa tabela de Casas, mas não se deve negligenciar, nessa pesquisa, nenhum fator horoscópico, como, por exemplo, a Parte da Fortuna e, sobretudo, as regências planetárias, pois a mudança do lugar da Revolução Solar leva geralmente a alguns deslocamentos das Casas de um signo para outro.

A fim de não alongar esta exposição, não dei a lista das significações das regências num tema anual, uma vez que estas últimas são perceptivelmente semelhantes as do tema natal. Os astrólogos experientes não terão maiores dificuldades para interpretá-las. Quando aos principiantes, alguns exemplos, abaixo citados, os ajudarão a apreender o mecanismo das regências.

O regente da II Casa na I Casa anual (sobretudo em conjunção com o Ascendente) mostra o desejo e, muitas vezes, os esforços do nativo no sentido de influenciar e melhorar a sua situação financeira. Com os benéficos não afligidos, seu desejo tem muitas probabilidades de realizar-se. Com os maléficos dignificados, os esforços pessoais devem ser grandes. Se o regente da II é Urano, o sujeito tomará disposições financeiras incomuns, nas quais, de modo geral, ainda não pensa no momento do aniversário. Se o regente é Marte, devem-se temer algumas imprudências.

O regente da V na I Casa anual mostra, com freqüência, uma pessoa fortemente apaixonada, sobretudo quando se trata de Marte, Vênus e Urano e se o nativo não é mais uma criança nem chega a ser um velho. Neste último caso, trata-se geralmente da influência exercida sobre o sujeito ou sobre sua vida por uma pessoa muito mais jovem, normalmente seu próprio filho ou sua filha.

O regente da VI na I Casa anual exerce uma má influência sobre a saúde e mesmo sobre o trabalho, exceto no caso de os luminares e os benéficos estarem muito bem- aspectados. Marte e Urano anunciam, na maioria das vezes, os mal-estares ou as doenças repentinas, súbitas, mas de curta duração (se isso for confirmado por outras indicações horoscópicas). Se o regente da VI é Saturno, pode-se pressagiar desgosto para o trabalho, bem como numerosas fadigas.

Observei essa posição de Marte em Câncer - que "reforça", por sua presença no quarto signo, sua posição natal sobre a cúspide da IV Casa (em Escorpião) — durante o ano da manifestação de problemas inesperados em função de uma úlcera no estômago.

O regente da VIII na I Casa anual é um dos índices de morte no decorrer do ano, sobretudo quando se trata de um maléfico. A Casa governada por esse planeta no tema natal designa quase sempre a pessoa considerada; se governava, no momento do nascimento, a III Casa, a morte ameaça o irmão do sujeito, a irmã ou qualquer outra pessoa designada por essa parte do céu; se estava na regência da VII, o perigo paira sobre o cônjuge ou sobre um associado, e assim por diante.

Esses exemplos do papel desempenhado pelas regências numa Revolução Solar nos desviaram do objeto deste capítulo: o deslocamento do sujeito no dia de seu aniversário. Isso exige ainda uma observação.

Como as configurações que se formam durante as 24 horas que seguem o momento astronômico do aniversário têm repercussão sobre o ano que começa, é necessário, se ocorrer esse deslocamento, que se passe no local um dia inteiro, a fim de impregnar-se definitivamente com as influências astrais que agem sobre esse lugar. A não-observância desta última regra, cuja evidência não exige nenhuma demonstração, pode provocar algumas desilusões.

Como todas as operações mágicas, essa luta contra o destino por meio da melhora premeditada de um tema anual suscita, evidentemente, vários problemas de ordem moral e religiosa, já que parece perturbar o curso predestinado das coisas. A maioria dos místicos de todos os países a condenam abertamente e um dos "pais" do Taoísmo é categórico a esse respeito: "Eu gostaria que o povo, embora considerando, naturalmente, a morte como algo lamentável, não se deslocasse (para evitá-la)..." E Chuang-Tse (nascido por volta de 370 a.C.) escreve, colocando estas palavras na boca de Tse Lai moribundo: "O homem tem relações mais estreitas com o Yin e o Yang do que com sua própria família; se essas duas forças desejam a minha morte e eu resisto, serei tratado como um rebelde..." É muito provável que essa atitude passiva dos místicos diante do destino seja uma das razões pelas quais essa prática astrológica é ainda pouco difundida.

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