Uma das coisas essenciais que deve ser aprendida quando empreendemos um estudo da astrologia é a natureza da distinção entre as duas fases fundamentais da técnica astrológica: a fase espacial, referente ao estudo do mapa de nascimento (ou de qualquer configuração celeste fixa) e a fase da continuidade, que trata dos movimentos correlacionados e periódicos dos corpos celestes, durante dias, meses e anos - movimentos que são registrados nas tábuas das efemérides. Estudamos o significado dessa distinção principalmente no que toca aos aspectos planetários e às suas classificações tradicionais em categorias boas e más. Declarei que o que se chama de forma ou estrutura pode ser considerado um fator de espaço ou de tempo. A estrutura do mapa de nascimento é um fator de espaço; isto é, uma combinação de formas - ou mais precisamente de relacionamentos angulares (aspectos). O mapa como um todo tem uma forma, do mesmo modo que um quadro ou uma estátua apresentam uma. Por outro lado, as colunas das efemérides revelam outro tipo de forma, similar ao que é definido na música sob o nome de "forma de sonata", de "fuga", etc. - uma forma produzida por seqüência cíclica e desenvolvimento, repetição e acentuação rítmica.
O astrólogo moderno normalmente segue três tipos básicos de procedimento. Primeiro, ele estuda o mapa de nascimento como sendo uma combinação (ou soma) de posições estáticas e fixas dos planetas e das cúspides, dentro do quadro de referência do zodíaco. Depois, entra nos domínios da continuidade e da seqüência de tempo; estuda o que é chamado de "progressões" (ou "direções") e "trânsitos".
Alguns astrólogos dão mais ênfase às primeiras, outros, aos últimos. Na maioria dos casos, ambos os fatores são calculados e considerados significativos. Normalmente, é do estudo das progressões e dos trânsitos que provém a maioria das indicações referentes ao futuro da pessoa, cujo mapa de nascimento está sendo analisado (o "nativo"); contudo, muitas conclusões concernentes a eventos futuros - em termos de crises básicas de desenvolvimento - podem ser tiradas através do exame do mapa, considerado como o "projeto" imutável do caráter da pessoa e do seu assim chamado destino.
No próximo capítulo discutirei o significado exato dos trânsitos e das progressões e suas áreas de aplicação prática. Mas, antes de chegarmos a esses assuntos mais específicos, creio que é imperativo discutir a questão geral da predição astrológica e da atitude psicológica adotada diante de tais predições. Para o futuro astrólogo, é particularmente importante entender que no momento em que penetrar nos domínios da continuidade e dos processos de desenvolvimento - o reino dos fatores evolutivos e dinâmicos na experiência real - encontrar-se-á diante de problemas que diferem fundamentalmente dos que tem ao interpretar a configuração do momento natal, que é imutável. Os filósofos poderiam dizer que a última lida com o fator de "ser" e a primeira com o de "tornar-se" - contudo, esses termos metafisicos poderão ser mais perturbadores do que proveitosos.
Parece que é melhor dizer que o mapa de nascimento (um fator de espaço) refere-se ao caráter abstrato do ser, enquanto os trânsitos e as progressões (fatores de tempo) referem-se às realizações progressivas do ser. Estudar um mapa de nascimento é estudar a "anatomia" da personalidade - isto é, no nível fisico, o lugar que os ossos, os músculos e os órgãos ocupam um em relação ao outro e dentro dos limites do todo orgânico, o corpo. Por outro lado, as progressões referem-se essencialmente à "fisiologia" e à "patologia" da personalidade, isto é, ao funcionamento real dos órgãos - ou, mais exatamente, à série de modificações produzidas pelo processo de vida e de crescimento pessoal, nas funções do organismo total da personalidade.
A anatomia de uma pessoa determina suas potencialidades fisicas (e também, em grande parte, as psicológicas) de vida e de caráter. Contudo, determina-se apenas a soma das "potencialidades" – não fatos ou acontecimentos reais. Um corpo débil ou deformado poderá vir a ser a base estrutural de um indivíduo brilhante e bem-sucedido ou a maldição de uma personalidade desesperada. Complexos psicólogos agudos podem ser úteis para o objetivo da auto-realização ou pode levar a uma neurose inútil.
Quando o astrólogo interpreta o mapa de nascimento de alguém e lhe transmite os resultados, o que ele faz - ou pode fazer - é mudar, até certo ponto, a oríczrtação desse cliente em relação aos fundamentos e possibilidades básicas da sua vida. Tal mudança de orientação pode ter efeitos de grande alcance. Em alguns casos, tais efeitos poderão ser tão eficientes, quanto seriam se a pessoa fosse subitamente posta em contato com um novo conceito religioso ou social, que, pressurosamente aceito, transformaria a substância ou a qualidade do seu relacionamento com os outros homens e com Deus. A medida que o indivíduo aprende a ver sob nova luz as partes constituintes da sua própria personalidade e começa a reinterpretar suas fraquezas óbvias e constrangedoras, seus conflitos perturbadores e suas esperanças obscuras, considerando cada uma relativamente a todas as outras, sua atitude para com as falhas, os predicados, os dons e as aspirações, que considera propriedade sua, forçosamente irá sofrer modificações. Essa mudança de atitude ou orientação será um passo rumo a uma integração mais positiva ou a uma desintegração ainda maior.
Em outras palavras, o que o astrólogo conta ao cliente constituirá nele um quadro complexo. Essa imagem agirá sobre sua consciência de uma forma basicamente semelhante à forma que a visão do Salvador crucificado, morrendo para redimir os pecados dos homens, agiu sobre o "pagão" que estava preparado para ser convertido ao cristianismo. Ela é um símbolo poderoso e age como tal. Age muito mais sobre a imaginação da pessoa do que sobre suas faculdades racionais analíticas. Estabelece uma nova sujeição, uma nova polarização da vontade - que é sempre a serva da imaginação - talvez, uma nova fé... ou, então, um novo medo e um novo senso de desesperança ou de auto-indulgência otimista.
Portanto, o astrólogo, ao discutir o mapa de nascimento do cliente, responsabiliza-se em ajudá-lo a estabelecer um novo relacionamento entre o seu ego consciente e as possibilidades inerentes à sua natureza total Essa é ou, pelo menos, pode ser uma enorme responsabilidade e - conforme já vimos anteriormente - é uma responsabilidade que, essencialmente, não cessa com uma breve leitura astrológica. Contudo, essa fase de interpretação astrológica - a descrição em linhas gerais de uma imagem das potencialidades inatas do indivíduo, conforme vistas no mapa de nascimento e de nenhuma outra maneira - apresenta um tipo de responsabilidade normal e espiritual bastante diferente da que ocorre quando o astrólogo faz previsões definidas para seu cliente, baseado no estudo das progressões e dos trânsitos.
No primeiro caso, o quadro do mapa natal, se sabiamente apresentado, tem de ser contrário ao que o cliente conhece ao seu respeito. O cliente - se é uma pessoa amadurecida - poderá refutá-lo baseado em sua própria experiência. Se alguns pontos revelados na interpretação despertam nele uma súbita impressão de reconhecimento se "se encaixam" - indica que ele estava preparado para receber o conhecimento ou a revelação. Caso contrário, normalmente rebaterá as informações do astrólogo, dizendo que são tolices e uma prova da falta de competência do intérprete. Ele pode se recusar a crer na verdade ou na suficiência do quadro que o retrata e que lhe é apresentado; de fato, a pessoa comum, ao se ver diante de tal quadro, amiúde fecha a sua mente para ele, esquecendo-o bem depressa ou, então, distorce essa imagem para que possa combinar com suas próprias idéias sobre si mesmo. Desse modo, o perigo de o quadro ter efeitos desintegradores e negativos é relativamente pequeno, desde que não falte ao astrólogo um conhecimento, por mais rudimentar que seja, de psicologia e da natureza humana e, também, desde que o cliente não seja um neurótico incurável, pronto a acreditar em qualquer afirmação pelo simples fato de ser astrológica, especialmente toda vez que se referir a um aspecto negativo da sua personalidade.
A situação é diferente quando são feitos prognósticos para um indivíduo porque, nesse caso, ele não tem nenhum recurso contra o impacto de tais revelações. Está quase que totalmente desprotegido contra seus possíveis efeitos negativos. Mesmo que raciocine consigo mesmo e decida conscientemente não se afetar pelas previsões, sua memória subconsciente não desiste. Obviamente, tal fato se torna pior quando o evento ou a tendência profetizada é infeliz e caso se desperte o medo das conseqüências - o que acontece em nove entre dez casos! - mas também poderá ter efeitos psicologicamente destrutivos até mesmo quando o que se espera é bastante afortunado, pois poderá levar a uma expectativa auto-satisfeita que enfraquece o vigor dos esforços do indivíduo.
Quando o astrólogo procura "ver adiante" na vida do cliente (e, obviamente, isso também se aplica à sua própria vida), já não lida com configurações celestes fixas e imutáveis do momento natal. Ele se move num reino de forças em movimento, de relacionamentos sempre fluentes - um reino onde em primeiro lugar, qualquer coisa poderá acontecer porque não há nenhuma maneira de limitar o alcance das influências possíveis; e, em segundo lugar, porque o tipo de expectativa que um indivíduo tem do futuro é um fator poderoso na determinação do que realmente vai acontecer. Esse é um ponto que jamais deverá ser esquecido.
Nenhum homem vive sozinho. Ele faz parte de uma família, de um grupo, de uma nação, da humanidade em geral e, finalmente, do universo inteiro. Ele age sobre o todo de que é uma parte, mas é influenciado muito mais vigorosamente por todos esses vários todos dos quais é uma parte. Como, então, um astrólogo poderia tentar traçar uma imagem coerente e válida de todos esses impactos mentais e influências correlacionadas que assaltam qualquer pessoa, especialmente na nossa tolerante e caótica sociedade do século XX? Por outro lado, o futuro não é algo que acontece por si mesmo, sem a interferência do indivíduo. A atitude individual, relativa ao futuro, ajuda a criá-lo; só isso torna absolutamente impossível determinar acontecimentos que irão ocorrer - e significa que o astrólogo assume uma grande responsabilidade ao condicionar a atitude do seu cliente em relação ao futuro.
Isso tudo, porém, não quer dizer que as previsões desse tipo sejam enganadoras ou indignas de confiança. Não apenas pode ser provado estatisticamente que previsões feitas por astrólogos eficientes, criteriosos, minuciosos e particularmente livres de prevenções e preconceitos apresentam uma porcentagem muito grande de exatidão, mas também podemos ver facilmente como as predições astrológicas podem ser corretas e de que modo e dentro de que espécie de limites é possível esperar que sejam dignas de confiança. O fato básico a se ter em mente é que, não importando o que aconteça a um organismo (um corpo ou uma personalidade completa), só poderá ocorrer dentro dos limites da sua capacidade de reação. Nada poderá sair de uma pessoa que não esteja potencialmente dentro dela.
Traduzido para a linguagem técnica astrológica, isso significa que qualquer que seja o impacto das influências e das configurações planetárias após o nascimento, esse impacto seguirá as linhas de reação funcional mostradas no mapa de nascimento. Do mesmo modo, qualquer que seja a doença ou sensação incomum de exaltação que um homem pode experimentar, ele viverá essa experiência com seu corpo e com sua psique - portanto, dentro dos limites estabelecidos pela "anatomia" básica do seu organismo físico e psíquico. A estrutura fundamental da personalidade de um indivíduo é a "lei" e a "verdade" dessa personalidade; tudo o que vem para o indivíduo é condicionado por essa lei e por essa verdade.
Eu disse condicionado, não disse prefixado pelo destino. Os acontecimentos da vida interior ou exterior podem ser uma compensação de defeitos ou debilidades inerentes. Sob a pressão de eventos sociais ou cósmicos, uma pequenina abertura ou uma solução de continuidade na trama da personalidade, poderá se transformar num buraco escancarado, por onde as forças do Mal penetram. Todavia, se isso aconteceu é porque deve ter havido um ponto fraco na armadura da personalidade. O ponto fraco tem de estar marcado no mapa de nascimento e, no caso de ocorrência dessa intrusão de forças elementais ou destrutivas, o astrólogo deverá ser capaz de verificar (por meio dos vários métodos que usa para investigar os processos dinâmicos da existência humana) como e sob que circunstâncias básicas essa intrusão aconteceu. O conhecimento dessas circunstâncias em si poderá não ter um grande valor para a pessoa afligida, mas por meio dele o astrólogo criterioso pode descobrir o quadro particular de referência dentro do qual a intrusão aconteceu - essencialmente, portanto, porque aconteceu.
Digamos que um cidadão judeu da Alemanha é perseguido e torturado durante o regime nazista. Suas reações individuais às terríveis experiências são condicionadas por aquilo que ele é essencialmente, na qualidade de ser humano - portanto, pelas potencialidades encontradas no seu mapa de nascimento. Poderá sobreviver aos tormentos com sua personalidade mais ou menos intacta ou, então, poderá perder a razão ou morrer. O tipo de tormento, as condições nas quais isso ocorreu e a época deverão ser indicadas por algum fator ou grupo de fatores astrológicos. Mas, o estudante de astrologia deve entender que qualquer grupo de fatores poderia se referir a esse tipo trágico de evento. Trânsitos poderosos, uma concentração de aspectos progredidos, eclipses, etc., poderiam ser os indicadores astrológicos. Ninguém poderia dizer a priori e antecipadamente quais seriam os símbolos fatais e, menos ainda, que nessa ocasião os nazistas estariam governando a Alemanha!
Psicológica e espiritualmente, o que é ainda mais importante, é que o judeu perseguido poderá, em princípio, ter sofrido pelo fato de ser um indivíduo predisposto a certos tipos de tragédia pessoal ou porque era um judeu vivendo na Alemanha. Pois, para o indivíduo, o conhecimento disso é, de fato, da maior importância espiritual, porque, desse modo, poderá determinar o "quadro de referência" da sua tragédia e o alcance da sua reação para a humanidade e para o universo - e, em conseqüência, o alcance da sua responsabilidade (ou seja, da sua capacidade de reação).
O psicólogo moderno adepto da escola de pensamento de Carl Jung perceberá imediatamente a importância do que foi dito acima, pois está habituado a diferenciar o inconsciente "pessoal" do "coletivo" e a relacionar com qualquer uma das duas áreas as indicações derivadas dos sonhos e de outros fatores psicológicos. O astrólogo deve desenvolver algum tipo similar de técnica para que suas interpretações e prognósticos possam ter um valor real para seu cliente. Acima de tudo, deverá compreender que o valor real da astrologia - ao menos psicologicamente falando - não reside na sua aptidão para dizer o que provavelmente acontecerá (e ele nunca poderá dizer mais do que isso!), mas sim na sua aptidão para ajudar o cliente a compreender plenamente, e em termos do seu ser total, o que está acontecendo ou já aconteceu.
Praticamente ninguém jamais saberá o que o seu "ser total é. A maioria das pessoas vive em alguns poucos cantos da sua natureza, reagindo somente com a periferia do seu ser, nunca usando mais do que
uma fração muito pequenina das suas células cerebrais e, de um modo geral, das suas potencialidades inatas. Um mapa de nascimento é um símbolo tão abstrato (lidando apenas com umas poucas funções básicas) que, para o astrólogo, é realmente impossível deduzir por meio dele tudo o que um cliente gostaria de saber a respeito das suas potencialidades. E nesse ponto que entra em cena o uso dos trânsitos e das progressões, pois, estudando-os, o astrólogo poderá se tornar capaz de descobrir quais dessas muitas potencialidades serão acentuadas durante o processo da existência real, quais delas focalizarão a atenção do nativo ou serão trazidas à sua atenção pela pressão dos seus relacionamentos sociais e pessoais. Também poderá descobrir a época aproximada na qual essas focalizações irão ocorrer e sob que espécie geral de circunstâncias. Esse conhecimento, se adequadamente utilizado, pode contribuir para a conquista de uma personalidade mais plena, mais rica e mais total.
O que nos acontece é o que precisamos que nos aconteça. Conforme vamos vivendo e experimentando, nós nos relacionamos com homens, com coletividades e com um universo dinâmico e impessoal. Encontramos correntes, ressacas e marés históricas. Elas se movem de acordo com vastos ritmos sociais e cósmicos. Como rádios sintonizados neste ou naquele comprimento de onda, experimentamos essas ondas históricas em conformidade com nossa capacidade de reagir a elas - nossa seletividade. Os "aspectos progredidos" formados pelos nossos planetas indicam mudanças na sintonia e nos nossos modos de reação. Mas só podemos captar com nossos aparelhos receptores o que está lá. Podemos nos colocar em sintonia com uma onda uraniana de rebelião, contra relacionamentos que impõem obrigações. O astrólogo poderá nos dizer quando poderemos fazer isso, mas não poderá nos dizer o que essa onda uraniana trará à nossa consciência. Poderá ser uma luta política local ou uma abertura para uma nova demonstração da nossa capacidade de iniciativa. Poderá ser uma revolução que envolverá o globo.
O primeiro caso poderá nos instigar a um tipo de ação responsiva, que nos dará poder e prestígio local - sendo o quadro de referência local algo que podemos abranger construtivamente e manejar com sucesso. Mas, poderíamos ser um judeu-alemão vivendo durante os anos
de perseguição nacional ou mundial; nesse caso, nossa rebelde reação uraniana à vida provavelmente nos levaria a situações e nos colocaria contra forças coletivas que jamais poderíamos enfrentar construtivamente. Seríamos vencidos; a crise uraniana teria demonstrado ser destrutiva, mas ninguém poderia ter previsto a substância e as circunstâncias sociais de tal tragédia. O que apenas poderia ter sido prognosticado seria que em tal época estaríamos em sintonia com um tipo uraniano de onda histórica. A maioria de nós pode lidar com processos históricos de uma cidade pequena; muito poucos podem lidar com a história mundial e conservar sua integridade ou saúde.
Conforme iremos ver agora, as progressões tratam, teoricamente, da maneira como nos sintonizamos com os vários comprimentos de onda da experiência e criamos nossas oportunidades, enquanto os trânsitos se referem principalmente aos impactos do mundo exterior sobre nós - isto é, às realizações que nos são impostas pela nossa participação nos vários grupos, privados ou públicos, aos quais voluntariamente aderimos (ou fomos compelidos a isso). Na prática, porém, os dois tipos de fatores astrológicos estão constantemente interligados. Não podemos separar seus efeitos, não mais do que podemos separar o fato de que agimos como pessoas totais, de acordo com um ritmo individual de crescimento ou de desintegração, do fato de que agimos como partes de grupos humanos e coletividades que nos impulsionam e modelam, tenhamos ou não percepção disso.
Também nunca devemos perder de vista o fato de que obedecemos a um ritmo definido de desenvolvimento orgânico, dentro de um espaço de tempo básico de vida, simplesmente porque pertencemos à espécie humana, ao gênero homo sapiens. Portanto, as progressões e os trânsitos planetários deverão ser interpretados, tendose como referência as possibilidades humanas definidas pela idade do indivíduo.
Conseqüentemente, em vista de tudo isso, devemos concluir que, embora a determinação da natureza abstrata da nossa individualidade (a configuração espacial do nosso mapa de nascimento) seja uma questão teoricamente simples (não obstante se tome bastante complexa, ao tentarmos trazer as indicações abstratas para o nível das realidades fundamentais do temperamento e do caráter) é muito difícil determinar a maneira como essa individualidade se revela e se completa através dos intricados ciclos da vida. De fato, é uma impossibilidade, se por "determinação" significarmos a descrição de uma série de acontecimentos exatos, que podem ser esperados como ocorrências predeterminadas.
Um ser humano isolado representa um pequeno ciclo dentro de uma série interminável de ciclos muito maiores, concêntricos e excêntricos. Todos eles se influenciam mutuamente e se interpenetram. Nada está isolado. Nenhum organismo cresce num vácuo, do nascimento à morte, de semente a semente. Tudo o que o astrólogo pode revelar, enquanto estuda o caso de um indivíduo, é a ocasião em que o ritmo do seu ciclo será modificado por mudanças orgânicas essenciais ou pelas conseqüências dele ter se relacionado ou se exposto, consciente ou insconscientemente, voluntária ou involuntariamente, às energias emanadas dos outros todos orgânicos maiores, dos quais se tornou uma parte.
Ninguém pode dizer com antecipação que resultados serão esses. Uma vez aberta a porta, uma vez feito (ou rompido) o relacionamento, pratícamezrte qualquer coisa poderá acontecer. É verdade que - em essência - a coisa acontece numa determinada direção, ou na direção do seu oposto polar; mas a natureza exata e especialmente o alcance, a extensão e as implicações do acontecimento são incalculáveis. Elas não podem ser conhecidas, simplesmente porque não podemos saber como o próximo organismo maior estará relacionado, na ocasião, com outros ainda maiores. Você abre o dique, através do qual as águas do curso de água ligam-se com um rio, que se liga com o mar. Você espera uns poucos metros cúbicos de água, e poderá ter de enfrentar uma onda gigantesca. Espera uma truta - e eis que surge um tubarão comedor de homens! A astrologia, conforme a conhecemos hoje em dia, não pode determinar qual das duas, eventualidades irá surgir. Somente poderá informar que numa determinada ocasião você desejará abrir o dique - e muito provavelmente irá abri-lo. Daí em diante, o risco é seu.
Num outro sentido, a predição é da mesma natureza da que o astrônomo faz sobre a chegada da primavera, por ocasião do equinócio. A primavera virá; essa é uma afirmação geral, abstrata. Mas, os resultados reais e concretos da primavera - o calor, as folhas verdes, as flores e uma feliz sensação de renascimento - poderão vir no foral de fevereiro ou de abril, porque o cruzamento exato do Equador pelo Sol, embora seja um fator básico, não é o único que influi na mudança do clima e no crescimento das plantas. A primavera virá, mas, que espécie de primavera? O que ela trará para a humanidade? Para isso o astrônomo também não poderá dar respostas.
Do mesmo modo, o astrólogo pode ver que dentro de um número definido de dias ou de anos, depois do nascimento do indivíduo, Júpiter e Saturno agirão um sobre o outro na forma de uma quadratura. Por meio desse e de outros fatores, poderá deduzir que uma crise no desenvolvimento do indivíduo irá ocorrer durante um certo ano - um pouco antes ou um pouco depois. Poderá avaliar com bastante exatidão o caráter básico da crise, a necessidade humana que focalizará e o tipo geral de atividades individuais e de circunstâncias que nela estarão envolvidas. O que não poderá predizer são os acontecimentos exatos que colocarão a crise em foco, ou a maneira como o indivíduo reagirá ao seu desafio.
Toda crise é um desafio. Todo aspecto progredido ou trânsito é uma oportunidade para transformação, expansão ou purificação. É uma porta que se abre sobre o vasto oceano da vida e do inconsciente coletivo universal. A principal tarefa da astrologia é nos ajudar a enfrentar o que chega a nós através dessa porta, e não a de especular a respeito de algumas de suas aberturas, ainda remotas, ainda irreconhecíveis. Cada passo à frente - cada crise de crescimento - é uma perda de equilíbrio imediatamente neutralizada por um esforço para restaurá-lo. Se tentamos dar dois passos ao mesmo tempo, caímos.
O homem sensato sabe disso. Ele não se preocupa com os problemas que ainda não chegaram. Contudo, na sua compreensão da atividade cíclica da natureza, pode ter a respeito das coisas uma visão impessoal e de longo alcance. Estudando a natureza e seus ciclos, ele se prepara para enfrentar qualquer coisa que a natureza lhe tenha reservado, ou a qualquer outra pessoa com quem esteja relacionado. Ele aprende as leis da mudança; se recusa a se apegar às formas e a temer o desafio do que é novo. Assim, ele também se recusa a se preocupar com o novo, que ainda não nasceu e que talvez nem sequer tenha sido concebido. Ele é sábio, porque está tão livre do futuro como do passado.
Tal sabedoria é tão diflcil quanto rara. Contudo, sem ela, a astrologia profética não serve a qualquer propósito psicológico válido.
Extraído de: The Practice of Astrology Asa Technique in Human Understanding
(Dane Rudhyar, 1968)
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