sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Karma e Transformação (por Stephen Arroyo)

A palavra «karma» é usada em tantos sentidos por ocultistas, astrólogos e outros especialistas dedicados ao estudo das leis uni-versais que guiam as nossas vidas que, ao considerarmos a relação da astrologia com o karma, devemos, primeiro, esclarecer o significado do termo. Basicamente, a palavra refere-se à lei universal de causa e efeito, idêntica à ideia bíblica de que «o homem deverá colher tudo o que semeia».

Esta lei é apenas a aplicação mais ampla das nossas ideias terrenas de causa e efeito; é evidente que alguém que plante cardos não pode esperar colher rosas. A lei do karma é semelhante à lei da mecânica de Newton, que estabelece: «Toda a acção desencadeia uma reacção igual e oposta». A única diferença entre a lei universal do karma e a lei física de causa e efeito é o âmbito de existência que cada uma delas abrange.

A lei do karma parte do princípio de que a vida é uma experiência contínua, de modo algum limitada a uma encarnação no mundo material. A lei universal do karma pode, pois, ser vista como um método para atingir e manter a justiça e o equilíbrio universais. Ela é, de facto, uma das mais simples e envolventes leis da vida, inseparável daquilo que alguns chamam a «lei da oportunidade», isto é, uma lei universal que coloca cada um de nós em condições que proporcionam as exactas lições espirituais de que necessitamos, em ordem a tornarmo-nos mais semelhantes a Deus.

O conceito de karma baseia-se no fenómeno da polaridade, pelo qual o universo mantém uma situação de equilíbrio. Situação de equilíbrio não quer, porém, dizer estado de inércia, mas antes um equilíbrio dinâmico, constantemente em alteração. Inerente a este conceito é a presunção de que uma «alma» individual (ou «entidade», segundo algumas escolas de pensamento) tem dentro de si o poder causal que eventualmente dará fruto: os «efeitos». A faculdade que desencadeia o processo é a «vontade», e toda a estrutura do fenómeno causal chama-se «desejo». O «desejo» pode, ser visto como a aplicação da vontade, de modo a dirigir-se a energia da pessoa para a manifestação de um impulso ou ideia.

A ideia de karma é, evidentemente, inseparável da teoria (ou lei) da reencarnação. Embora alguns autores tenham considerado o karma e a reencarnação como metáforas ou símbolos de um processo cósmico muito mais subtil do que dá a entender a concepção popular destes termos, a maior parte das pessoas que aceitam as doutrinas da reencarnação e do karma como uma realidade viva não rejeitam o significado tradicional, óbvio, das palavras. Para a maior parte das pessoas, o processo da reencarnação refere-se simplesmente à manifestação periódica de seres imortais, almas ou espíritos, através do mundo físico, a fim de aprenderem determinadas lições a desenvolver processos específicos de ser, como preparação para um estado mais elevado de ser (ou consciência psicológica). De acordo com a teoria da reencarnação exposta nas interpretações psíquicas do grande vidente Edgar Cayce (agora muitas vezes chamado «O Profeta Adormecido», do título do best seller de Jess Stern), todas as «entidades» foram criadas «no princípio» e encarnam periodicamente para aprenderem as fundamentais lições espirituais: amor, paciência, moderação, equilíbrio, fé, devoção, etc.

De acordo com Cayce, é com frequência útil, para o desenvolvimento espiritual, possuir o conhecimento das leis básicas universais, tais como reencarnação, karma, graça «o semelhante gera o semelhante» e o «espírito é o construtor». A «lei da graça» é a mais importante nas interpretações psíquicas de Cayce.

Tal como a mecânica newtoniana comparada com a moderna física nuclear, a lei do karma parece operar a um nível bastante rudimentar, comparada com a lei da graça que, segundo Cayce, suplanta a do karma quando uma pessoa se abre à «consciência psicológica de Cristo». Esta «consciência psicológica de Cristo» é a experiência humana da Unidade que não tem reação porque não ocorre ao nível onde a lei da polaridade (ou dos opostos) actua. Por isso, se aceitarmos o conceito de lei da graça de Cayce, concluímos que a lei do karma não é a força última subjacente às nossas vidas. No entanto, pode ser útil compreender o karma, que é e como funciona, O próprio Cayce declarou que «cada vida é a soma total de todos os egos previamente encarnados» e que «tudo o que foi previamente construído, bom ou mau, se contém nesta oportunidade» (isto é, a encarnação presente). Através de milhares de interpretações psíquicas gravadas, Cayce salientou sempre que quando uma pessoa experimenta um determinado tipo de problema ou uma fase angustiada da vida está simplesmente a «encontrar-se consigo próprio» — por outras palavras, que o indivíduo se confronta precisa-mente com a experiência que criou no passado.

A lei do karma exprime-se, na sua forma mais rudimentar, no axioma bíblico «olho por olho, dente por dente» (Para os que estiverem interessados em investigar a abundância de referências ao karma e à reencarnação na Bíblia, ver: Job, XIV, 14; Eclesiastes, I, 11; Jeremias, I, 5; S. Mateus, XVII, 9-13 e XVI, 13-14; S. Marcos, VI, 15; S. Lucas, IX, 8; S. João, III, 7 e I, 21, 25, Col. III, 3; S. Judas, I, 4; e Apocalipse, III, 12..) Não podemos sobrestimar o poder do desejo como a força mais profunda que desencadeia o karma. Apenas o ego terreno pode desejar, visto que o ego essencial (ou alma) é já algo com tudo e, por isso, nada deseja. Na sua essência, a lei do karma diz-nos: «Tu obténs o que queres ... eventualmente». Mas claro que podemos não compreender as ramificações dos nossos desejos, salvo quando os experimentarmos.

Consideraremos, por exemplo, o caso de um homem que deseja a riqueza material. No futuro, ele nasce numa família de grande fortuna que vive rodeada do maior luxo. Tem agora o que queria; mas estará satisfeito? Não. Outros desejos surgem imediatamente, porque é próprio do espírito insatisfeito produzir desejos. Na verdade, o homem pode chegar a compreender que a sua riqueza é não só insatisfatória, como também um terrível fardo! Pelo menos quando era pobre nada tinha a perder e, por isso, era livre. Agora que é rico, está permanentemente preocupado com a possibilidade de per-der aquilo que, na realidade, já não quer, mas a que está preso. A questão passa a ser esta: como poderá uma pessoa libertar-se (ou ser libertada) das cadeias forjadas pelos seus desejos, a fim de poder ser outra vez livre? (O grande poeta inglês William Blake chamava a estas cadeias «algemas feitas pelo espírito».) Esta liberdade é o objectivo máximo de todas as vias de libertação e técnicas de auto-realização.

O melhor da análise da natureza e acção da lei kármica está nos escritos e doutrinas de vários mestres espirituais, a maior parte do Oriente, doutrinas que radicam, por isso, nas tradições budistas ou hindus. Paramahansa Yogananda, um dos primeiros mestres espirituais do Oriente a divulgar amplamente as suas teorias .

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Extraido do livro Astrologia, Karma e Transformação de S. Arroyo --- Publicações Europa - América - 1978

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