Nascer implica crise, assim como renascer. A tendência que todos demonstramos de nos prolongar a nós mesmos - em nossos filhos, em nossas obras - e o desejo inconsciente de nos perpetuar implicam seguir o processo vital em sua totalidade, isto é, o processo de regenerar-se. Morrer para viver de novo, tal como na fábula da Fênix, que renasce de suas cinzas.
Essa dualidade vida - morte, expressa de maneiras muito diversas, é consubstancial com a natureza de Plutão. Quer entendamos a dualidade com a primeira manifestação da divisão da unidade - seja esta denominada Natureza, Vida ou Princípio Cósmico - quer, por outro lado, simplesmente vejamos sua analogia no processo de reprodução de uma célula, estaremos chegando ao nível de profundidade, originalidade ou capacidade de gerar, no qual se situa Plutão.
Essa seqüência dual produz, em seu desenvolvimento, profundos transtornos, tanto pessoais como coletivos. Plutão traz à superfície tudo o que deve ser eliminado durante o processo de regeneração. Ele enfatiza e revela as facetas mais ocultas de nós mesmos. Põe-nos diante de nossa realidade mais crua e desnuda, levando-nos a ver que também em nós existe essa dualidade básica.
Se somos construtores, também podemos destruir; somos bons e maus a um só tempo e nossos níveis se compensam como o yin e o yang, mostrando-nos assim - através da aproximação com os princípios mais instintivos, ou seja, próximo da origem da fonte de energia - nossa mais pura e genuína natureza.
A crise que tal processo supõe pode levar-nos a pensar em Plutão como um destruidor, como uma sombra ou como nosso lado obscuro, e certamente essa é uma de suas características mais evidentes. Contudo, o caudal de sabedoria oculta que Plutão faz surgir na superfície possibilita ao homem - que sabe ser correto o conhecimento obtido através da experiência plutoniana - tomar decisões transcendentes para sua vida futura.
Os mistérios mais profundos da vida, bem como talvez a própria essência de sua energia, aparecem em estreita relação com Plutão. A vida tende sempre a manifestar-se, a reproduzir-se, ainda que nas circunstâncias mais difíceis.
O poder que a vida demonstra, de nascer, manifestar-se, morrer, regenerar-se e perpetuar-se em outra manifestação, nos mostra as chaves através das quais podemos procurar entender Plutão, ao mesmo tempo que revela a evidente dificuldade de penetrar no mistério de sua essência.
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