A astrologia Tradicional faz uso apenas dos aspectos denominados ptolomaicos. São eles: sextil, trígono, quadratura e oposição. Teoricamente a conjunção não é considerada aspecto.
O sentido e significado dos aspectos têm uma base filosófica e uma base zodiacal. A base filosófica baseia-se nos ensinamentos da escola Pitagórica sobre o sentido do número, sendo a oposição a divisão do círculo por dois, o trígono a divisão por três, a quadratura a divisão por quatro e o sextil a divisão por seis. Tal estudo escapa ao escopo do livro, por isso nos basearemos no sentido zodiacal dos aspectos.
Estar em aspecto, por motivos que serão explicados adiante, é uma dignidade, como bem considerava Ptolomeu.
É considerada uma debilidade se um planeta não faz aspecto com seu domicílio ou se o regente do ASC não o aspecta. O aspecto funciona como alguém que "presta testemunho", o que pode significar comunicação. Se o aspecto feito é com um planeta maléfico a comunicação torna-se uma ameaça.
Por exemplo, em astrologia Helenistica diz-se que o Sol é "observado", por exemplo, se o aspecto for feito por Saturno. Seja qual for o aspecto, ele é uma ameaça para o Sol.
Vamos ver a questão dos aspectos, primeiramente no que diz respeito ao Ascendente.
Um planeta que não faz aspecto por signo com o Ascendente era dito pelos Helenísticos como estando amiss. Atualmente dizemos que o planeta está inconjunto.
Planetas nas casas 2, 6, 8 e 12 estão inconjuntos ao Ascendente. Não fazem com o Ascendente aspecto algum. Isto é perigoso para o nativo.
Os gregos utilizavam uma metáfora para explicar por que fazer aspecto é importante, especialmente com o Ascendente.
Sendo eles urn povo eminentemente dado a navegações utilizavam urna metáfora náutica:
Viam eles o Ascendente como o capitão de uma embarcação. Se o capitão não enxergasse à sua volta haveria perigo de levar o barco a encalhar ou a chocar-se contra obstáculos. Ora, planetas em aspecto corn o ASC são ajudantes que avisam o capitão dos potenciais perigos ou oportunidades em determinado setor.
Por vezes, um planeta que não aspecta o ASC pode se utilizar da comunicação com um terceiro planeta que aspecte a ambos e, através deste último, o capitão da embarcação vem a saber do que foi "avistado" pelo primeiro.
Digamos que um ajudante perceba que há um navio pirata aproximando-se à bombordo. Se o capitão está invisível não pode ser alertado. O que faz o marinheiro? Alerta alguém visível e que seja capaz de encontrá-lo e avisá-lo do fato.
Os planetas inconjuntos ao Ascendente são invisíveis a este e, se não houver outro planeta que os relacione, a simbólica "embarcação" do nativo sofre consideráveis prejuízos seja por não se dar acordo de oportunidades ou porque termina por chocar-se contra perigos não vistos.
Por isso, um planeta que transfira a luz de um planeta inconjunto para o Ascendente é uma grande ajuda, como no desenho a seguir, onde Vênus reporta ao ASC o comportamento de Saturno.
Vênus nesta carta faria o papel do náutico que fica pendurado no mastro grande a observar o mar e avisar ao capitão se há perigo a vista.
O aspecto com um maléfico é sempre perigoso, o que significa que o testemunho pode ser uma ameaça. Os gregos usavam a palavra observar, quando diziam que: Saturno observa "tal" planeta. O tipo de aspecto não importa: o melhor para qualquer planeta é não ser "observado" pelos maléficos.
Se o ASC for observado por um maléfico, é preciso que os benéficos também "prestem testemunho" para que o pior não venha a suceder.
Se um maléfico observar um planeta, o ASC ou pontos importantes da carta, tais como lots, e o fizer através de uma oposição é ainda pior.
Usando a metáfora náutica: mesmo que o capitão venha a conhecer o perigo ele precisa de aliados fortes para combatê-lo.
Por isso, o significado benéfico de um trígono ou sextil pode ser solapado se maléficos entrarem na configuração, muito embora a recíproca seja verdadeira e um aspecto com maléficos possa ser mitigado se benéficos entrarem na configuração.
Na astrologia Medieval os aspectos eram considerados produtivos ou perigosos dependendo da recepção entre os planetas que participassem desses aspectos.
De maneira geral, aspectos com os luminares e corn o Ascendente são os mais importantes.
Quanto à conjunção, ela é harmônica entre planetas que se combinam e desarmônica quando não se combinam.
A conjunção com o Sol é sempre danosa para o planeta, pois ele entra em combustão, corno já foi dito. Já o Sol não se ressente da conjunção com maléficos, pois ele os queima e, além disso, a conjunção do Sol com qualquer planeta significa o final da vida do planeta, o final de seu ciclo sinódico.
Para a natureza amigável ou hostil dos aspectos há uma referência baseada na posição zodiacal dos signos e suas correlações.
Observe a figura a seguir.
A partir deles observe que Mercúrio rege o masculino Gêmeos, onde Mercúrio tem seu domicílio diurno e o feminino Virgem onde Mercúrio tem seu domicílio diurno. A seguir Vênus rege Libra e Touro, onde tem respectivamente seu domicílio diurno e noturno, Marte rege Aries, seu domicílio diurno e Escorpião, seu domicílio noturno, Júpiter rege Sagitário e Peixes, respectivamente seu domicílio diurno e noturno e Saturno rege Capricórnio e Aquário, onde tem seu domicílio noturno e diurno, fechando assim o circulo zodiacal.
Observe agora na figura o hemisfério esquerdo, o lunar:
Capricórnio se opõe a Câncer, portanto sendo Saturno o regente de Capricórnio, a oposição tem o sentido de Saturno.
Peixes faz trígono a Câncer, e Júpiter rege Peixes, logo o trígono tem a natureza de Júpiter.
Aries faz quadratura a Câncer, e Marte rege Aries: logo a quadratura tem a natureza de Marte.
Touro faz um sextil a Câncer. Vênus rege Touro, logo o sextil tem a natureza de Vênus.
No hemisfério direito da figura, onde está Leão, o mesmo ocorre.
Aquário opõe-se a Leão. Como Saturno rege Aquário, a oposição tem a Natureza de Saturno.
Sagitário faz um trígono com Leão, logo, se Júpiter rege Sagitário o trígono tem a natureza de Júpiter.
Escorpião faz quadratura com Leão: logo, se Marte rege Escorpião, a quadratura tem o sentido de Marte.
Libra faz um sextil com Leão, logo, se Vênus rege Libra o sextil tem a natureza de Vênus.
Autores árabes como Sahal e de influência árabe, como Bonatti, consideram que um planeta a 29° não tem autoridade sobre o signo que está e sim sobre o signo seguinte. Eles admitem conjunção de planetas quando um está nos últimos graus de um signo e o outro nos primeiros graus do signo seguinte. Mas não dizem em nenhum momento que aceitam aspectos entre signos inconjuntos.
Com esta explicação da natureza dos aspectos espero ter deixado claro que não cabem outros planetas na astrologia. Tudo foi simetricamente planejado para 7 planetas, sendo dois os luminares.
Clélia Romano, in Fundamentos da Astrologia Tradicional, Edição do Autor, 2011, p. 95-100. http://www.astrologiahumana.com/
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