A recuperação da Tradição reveste-se de grande importância no momento actual, uma vez que a Astrologia se tornou um fenómeno de moda, amplamente integrado na cultura popular. Consultar um astrólogo ou estudar Astrologia é já hoje quase prática comum, que ninguém estranha. Esta integração tem contribuído para "desempoeirar" o tema, antes olhado com suspeita e medo, mas tem também acarretado alguns inconvenientes graves, entre eles a vulgarização, que leva à diminuição da qualidade e ao nivelamento por um padrão mediano.
Em consequência, qualquer um pode hoje opinar livremente sobre Astrologia, por mais ignorante ou disparatada que seja a sua opinião, pois poucos têm conhecimentos suficientes para detectar (e muito menos para contrapor) as incoerências. A Astrologia tornou-se uma "zona franca" para todo o tipo de oportunismos e especulações. Na verdade, muito do que hoje toma o nome de "astrologia" — e é aceite como tal pela grande maioria dos estudantes — não passa de uma mistura atabalhoada de ideias desconexas, vagamente suportadas pela simbologia astrológica.
A desinformação é tão generalizada que muitos dos praticantes julgam, de boa fé, estar a fazer um trabalho válido, sem terem a noção de que a "astrologia" que lhes ensinaram é confusa, incompleta e medíocre em fundamentos sólidos.
De facto, muitos dos actuais "sistemas astrológicos" apostam extensamente em abordagens "terapêuticas" e "psicológicas" (por vezes com assustador amadorismo e irresponsabilidade), relegando para segundo ou terceiro planos a Astrologia propriamente dita.
Hoje, em plena Era da Informação, é quase impossível obter informações fidedignas sobre Astrologia. O excesso de informação gera uma massa indefinida de abordagens e práticas, onde a "astrologia" surge como mero suporte, e cada vez mais rarefeita. Em suma, cada vez há mais "astrólogos" e cada vez menos Astrologia.
A prática astrológica comum tornou-se demasiado simplificada do ponto de vista técnico e demasiado complicada ao nível dos conceitos: enquanto as regras e fundamentos astrológicos se reduzem cada vez mais à "receita" generalista, as "interpretações" vão-se envolvendo numa nuvem cada vez mais confusa de espiritualidades, psicologias e sistemas metafísicos avulsos.
É essencial que a Astrologia preserve a sua coesão e profundidade. Deixar que o conhecimento astrológico se desvirtue é mutilar o nosso legado cultural. Pela nossa parte, não consentiremos essa perda nem aceitaremos passivamente essa mutilação.
Este livro é parte do nosso contributo para a dignificação e preservação da Astrologia. Impunha-se um trabalho pedagógico, organizado e abrangente, que oferecesse aos estudantes um bom método de aprendizagem. Este é um passo essencial, pois só quem aprende correctamente pode mais tarde praticar correctamente.
Este é, portanto, um trabalho dedicado aos que honram a Astrologia, praticando-a de forma correcta, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista ético. E através deles que é preservado o legado cultural da Astrologia, permanecendo vivo, tanto para a geração presente como para as vindouras.
A Astrologia será no futuro o que dela fizermos hoje.
Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 14-5.
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