Tendo em conta o vasto manancial de obras de temática astrológica actualmente disponível, poderá parecer ao observador casual completamente supérflua a edição de ainda mais um título. Eu estaria certamente de acordo, não fosse o caso de se ter passado muito tempo desde que uma obra desta importância tenha sido publicada — seja em que língua for.
Um crescente número de edições tem vindo, nos últimos anos, a concentrar a sua atenção sobre o Sistema Astrológico que abrange o que é usualmente denominado de "a Tradição". Desconheço, no entanto, qualquer autor, ou autores, que tenham empenhado tamanhos recursos pessoais necessários à elaboração de uma obra com esta abrangência e profundidade. Este tipo de dedicação é apenas encontrada em quem ama verdadeiramente esta Arte, amor esse, por sua vez, apenas encontrado naqueles que descobriram, através de um aturado e árduo trabalho, a radiosa beleza da Astrologia. E que uma vez presenciada não permite retorno: temos necessidade de mais — de ver mais, de entender mais — necessidade essa que é, na minha opinião, a força motriz desta obra.
A Astrologia é, a meu ver, uma Arte Divina, um dom a ser enobrecido pelo praticante. A gratidão por esta dádiva expressa-se através do que o Artista nos dá de si próprio, e que deve sempre igualar, no mínimo, o que lhe foi dado. Utilizando esta bitola torna-se transparente, a partir do que nos é dado pelos autores nesta obra, o muito que receberam da Astrologia. E com o tanto que obtiveram, partilham-no com quem seja que se debruce atentamente sobre este seu trabalho.
E que grande sorte a vossa, caros leitores, pois eu bem sei quanto custa produzir uma obra desta envergadura académica. Não se trata de uma mera cópia, nem de nenhuma simples tradução de alguma obra em Latim ou Inglês. Estamos antes perante uma cabal exposição desse Sistema e seus métodos, que tanto estudo assíduo e cuidadoso tem exigido aos seus autores, e apenas alcançável a partir de um profundo conhecimento e grande respeito pela bem-amada Arte.
Raramente encontro razões válidas para recomendar obras contemporâneas de Astrologia, a maioria oferecendo escassa substância e dúbia veracidade. No entanto, aconselho-vos, neste caso particular, a guarblicação do livro Astrologia Cristã, do inglês William Lilly (1602-1681), e a tradução de várias obras da época helenística e medieval.
Estes livros trouxeram aos estudantes e praticantes contemporâneos a noção de que a prática astrológica antiga era muito mais complexa e rica que a actual. Esta descoberta motivou uma vaga de estudos e traduções de obras antigas que, aos poucos, revelaram a prática da Astrologia em todo o seu esplendor: uma disciplina académica de grande riqueza e profundidade, capaz de gerar interpretações de inigualável precisão, em qualquer área da experiência humana.
Os que prosseguiram estes estudos empregaram a expressão "Astrologia Tradicional" para distingui-la da astrologia contemporânea (reconstruída sobre bases incompletas em finais do século XIX e que entretanto já dera origem a uma miríade de abordagens divergentes).
Como a Astrologia Tradicional surgiu neste cenário de múltiplas linhas, houve quem a confundisse com mais uma abordagem, entre as muitas que já existiam. Contudo, o termo "Astrologia Tradicional" refere-se não a mais um "tipo de astrologia", mas sim à própria Astrologia. Vem reatar a prática astrológica segundo a Tradição, devolvendo-lhe a sua grandeza e dignidade.
Este retomar da Tradição permite ao estudante contemporâneo contactar as fontes da sua arte e fundamentar a sua prática sobre bases sólidas e perenes; oferece-lhe a possibilidade de partilhar da experiência que incontáveis praticantes da arte nos legaram.
No nosso percurso estudámos e praticámos as versões modernas da Astrologia, nas suas vertentes psicológica, esotérica e outras. No entanto, foi na Tradição que encontrámos um sistema completo e eficaz, que nos permitiu alcançar aquilo que sempre procurámos: a essência da Astrologia.
Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 13-4.
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