quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A Formação de Progressões, Direções e Trânsitos, por Dane Rudhyar


Progressões e direções baseiam-se numa análise da movimentação real de planetas ou cúspides após o momento de nascimento. Elas se baseiam na ideia de que o nascimento não é um gesto final e que o ato de nascer se prolonga no tempo, espalha-se sobre um período de horas (direções primárias) ou dias (progressões secundárias), e por isso fornece um meio de prever os acontecimentos reais que se tornarão objetivos durante o período total de vida.

Este é um ponto extremo importante, normalmente não entendido. Todas as progressões ou direções envolvendo o estudo da movimentação planetária real após o nascimento (momento da primeira respiração) implicam que o indivíduo ainda não é uma personalidade completa em virtude de sua primeira respiração. A individuação não está completada naquele momento. E leva algum tempo, mais respiração, para que ela seja completada. Portanto, a vida é vista como um processo de completação. De um ponto de vista cósmico ou espiritual, este processo atinge uma completação tão perfeita quanto o indivíduo possa alcançar no corpo, que agora começa a viver como organismo independente algumas horas após o nascimento e em algumas semanas após o nascimento — isto de acordo com o nível em que nos colocamos: no nível do fator individual ou do fator coletivo.

Isto pode parecer um ponto difícil de entender, mas é muito simples, se apenas compreendermos que o homem como uma personalidade (corpo mais psique) é o resultado da interação de fatores individuais e coletivos. Estes fatores podem ser considerados separadamente, pois cada classe opera num certo nível de ser; ou, digamos, tem seu próprio ritmo de ser. Então o ritmo de existência do fator individual está relacionado com a rotação axial da Terra e em astrologia é simbolizado pelo ritmo dia e noite. Por outro lado, o ritmo de existência dos fatores coletivos está relacionado com a revolução orbital da Terra, e é simbolizado pelas estações.

Portanto, começamos com a ideia: a primeira respiração não é suficiente para estabelecer a completação da personalidade. Ponto seguinte: quando esta personalidade atingirá completação relativa? Para responder a isto, teremos de analisar a personalidade nos fatores que a compõem, e poderemos responder:

1) o fator individual atingirá completação relativa em alguns minutos ou horas;

2) o fator coletivo atingirá completação relativa em alguns dias ou semanas;

3) e o organismo, no qual e através do qual estes dois fatores se relacionam como comportamento real no todo maior da sociedade humana, operará enquanto organismo (isto é, como corpo e psique) por tantos anos ou décadas.

A completação no fator individual parece mais rápida porque está relacionada com a rotação axial da Terra e não (como o fator coletivo) com a revolução orbital da Terra. Mas não podemos esquecer que dissemos, algumas páginas atrás, que a completação é relativamente absoluta e não depende de valores tais como grande ou pequeno, comprido ou curto. Se você se colocar olhando para o horizonte ou para o Meio-do-Céu você verá todo o zodíaco passar diante de seus olhos em 24 horas, e em termos astrológicos isto significa que você atingiu completação total, pois o zodíaco simboliza o círculo de totalidade perfeita.

Mas, do ponto de vista da revolução orbital e do ritmo das estações, você verá o zodíaco todo passar na linha do relacionamento Terra/Sol (que simboliza o fator coletivo, orgânico e vital) somente depois de um ano. Mas totalidade é totalidade a despeito de tamanho ou duração do todo na qual ela se manifesta. Assim, à luz da totalidade, um ciclo completo de rotação (um dia sideral) e um ciclo completo de revolução orbital (um ano solar) são análogos — porque ambos representam a experiência do zodíaco como um Todo.

Experimentar o zodíaco inteiro, para o self individual, é passar por 24 horas de "inspiração" após o nascimento. É inspirar o zodíaco inteiro como é visto a partir da rotação da Terra.
Experimentar o zodíaco inteiro, para o ser coletivo-orgânico é passar por um ciclo completo de mudanças solares e sazonais, um ano inteiro. É experimentar o ciclo completo da vida vegetal — pois este ser coletivo, orgânico, em nós, em termos arquetípicos, é uma planta ou uma árvore, uma afirmação cuja discussão está fora do escopo deste livro.

Podemos levar essa analogia mais longe e considerar o ciclo do giro do eixo da Terra, o Grande Ciclo Polar (ciclo precessional) de 25.868 anos. Este também constitui um ciclo inteiro de experiência e é "zodiacal", ao menos no sentido de que cada meridiano do nosso planeta, por precessão, forma conjunção com cada um dos graus do zodíaco durante esse período. (Isto é o mesmo que dizer que o ponto vernal entra sucessivamente em contato com cada meridiano.)

Temos assim três ciclos, cada um dos quais representa uma plenitude de experiência zodiacal, cada um dos quais pode ser simbolicamente considerado igual ou análogo aos demais: o dia sideral, o ano solar e o Grande Ciclo Polar. Eles se referem respectivamente ao fator individual, coletivo e planetário. Mas, vimos antes que, quando falamos do fator planetário, referimo-nos à vida do "Indivíduo Planetário" cuja experiência "eu sou" é simbolizada pelo eixo de rotação da Terra: o eixo polar. Assim, um Grande Ciclo Polar é o ciclo de completação do fator individual no Ser Planetário, que podemos chamar Logos Planetário ou Deus. E aqui nos confrontamos com uma situação muito interessante, mas um tanto confusa. Se o leitor consultar nosso estudo sobre o Grande Ciclo Polar (pág. 145), verá que produzimos duas alternativas de subdivisão para esse ciclo. Se o dividirmos de acordo com os períodos vibratórios chamados nutação, teremos a divisão do ciclo todo em, digamos, 70 períodos de 370 anos solares (20 ciclos dos nodos lunares). Mas se seguirmos aquilo que H. P. Blavatsky afirma ser o "cálculo esotérico" (presumivelmente mantido por ser uma citação da Cabala), teremos uma divisão em 370 períodos de 70 anos.

Isto é muito interessante com relação ao nosso problema atual, pois aqui temos dois valores (370 e 70) que podem ser tomados como medidas arquetípicas do ciclo da personalidade humana. Ambos são verdadeiros; apenas referem-se a coisas diferentes. Setenta anos (três vintenas mais dez) constituem o período cármico da manifestação individual na personalidade (isto é, o ciclo de nosso relacionamento individual com o Indivíduo Planetário). Trezentos e setenta anos constituem o período de manifestação da personalidade arquetípica: personalidade como um organismo espiritual, como uma estrutura permanente, aperfeiçoada, pronta para tornar-se uma célula do Ser Planetário.

O assunto não pode ser discutido satisfatoriamente aqui, mas era preciso abordá-lo à medida que nos leva ao reconhecimento desse ciclo "esotérico" de 370 anos, o verdadeiro ciclo de completação da personalidade. Obviamente nenhuma personalidade comum (desde o tempo dos patriarcas) alcança tal extensão de manifestação no corpo, mas esta é a própria razão pela qual nenhuma personalidade comum, neste estágio da evolução planetária, atinge completação como uma personalidade.

E é justamente para isto que as progressões astrológicas apontam, pois por seu equacionamento tradicional de "um dia após o nascimento, ou quatro minutos após o nascimento, para um ano de processo vital" vê-se imediatamente que nenhum ciclo de progressões ou direções jamais se completa. Em outras palavras, o fator individual no homem não experimenta o zodíaco todo, mas, digamos, apenas 70 de seus graus medidos no ciclo da rotação da Terra. O fator coletivo, igualmente, experimenta 70° do zodíaco — medidos sobre o círculo da revolução orbital da Terra. E a personalidade pode "manter corpo e alma unidos"' por apenas 70 anos — de um ciclo de completação total de 370 anos.

Em outras palavras, temos três ciclos de completação: o dia sideral, o ano solar e o ciclo de completação da personalidade, de 370 anos. Em termos de completação, estes podem ser considerados analógicos (ou "iguais"). Uma unidade em um ciclo corresponde a uma unidade nos outros ciclos. A unidade do dia sideral (rotação) e um período de quatro minutos aurante o qual o meridiano percorre o espaço de um grau zodiacal. A unidade do ano solar (revolução orbital) é o dia solar, durante o qual o Sol parece deslocasse para frente uma média de 59° 8'. E estas duas unidades são ditas correspondentes a um ano da vida da personalidade.

O cálculo "um dia igual a um ano" baseia-se no fato , já muitas vezes mencionado, de que para o "eixo polar" — que simboliza o "EU SOU" planetário — um ano é igual a um dia (seis meses de dia e seis meses de escuridão, teoricamente). Assim, se quatro minutos são análogos a um dia, e um dia é igual a um ano, então quatro minutos também correspondem a um ano — como é entendido nas "direções primárias".

Os pontos principais para entender um problema tão complexo são: 1) que "direções primárias" se referem ao ciclo de rotação da Terra e ao fator individual no homem; 2) que "progressões secundárias" se referem ao ciclo de revolução orbital e ao fator coletivo no homem; 3) que ambas são expressões correlatas do fato de o nascimento não significar completação da personalidade, e que, portanto, nascimento é um processo continuo, que prossegue em três níveis: individual, coletivo e orgânico (personalidade); 4) que cada um desses três níveis, ou fatores de existência, tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, que o relaciona respectivamente com um ciclo de completação. Assim, as fases de desenvolvimento do fator individual podem ser determinadas a partir de posições planetárias, após o nascimento, ao longo do ciclo de rotação axial. As fases de desenvolvimento do fator coletivo podem ser determinadas a partir de posições planetárias ao longo do ciclo de revolução orbital. E as fases de desenvolvimento da personalidade, à medida que este é determinável pelo ambiente social e planetário, podem ser computadas a partir das posições dos corpos celestes ano após ano — ou seja, ao longo do ciclo de completação de 370 anos. Tais posições são os chamados trânsitos.

Isto então nos dá três métodos básicos de determinação das fases do processo vital que continua, prolonga-se e leva à correspondente completação relativa do ser humano, cujo padrão estrutural é mostrado em sua carta de nascimento: direções primárias, progressões secundárias e trânsitos.

O mesmo procedimento é adotado nestes três casos, em termos gerais: as posições planetárias são calculadas para qualquer período de tempo desejado, e as novas posições assim obtidas (por progressão, direção ou trânsito) são comparadas com as posições radicais ou de nascimento, ou, em alguns casos, são consideradas em seus novos inter-relacionamentos. Assim, são determinados "aspectos", que definem ou caracterizam o processo vital ou as condições de vida gerais num dado ano, mês ou dia de vida. Em cada caso, novos fatores planetários são gerados pelo uso destes métodos, que, ou superam ou, mais geralmente, modificam o significado dos 24 fatores originais que constituem a carta de nascimento; enquanto no método estudado anteriormente, de "análise de tempo da carta de nascimento", os únicos fatores utilizados são os 24 fatores primários, ou então, fatores secundários produzidos pela combinação dos fatores primários.

Do que foi dito ao longo deste capitulo, presumivelmente adquiriu-se uma compreensão mais ou menos definida do valor e do significado relativo dos métodos básicos usados na astrologia para expressar o fator tempo e o fator devir. No entanto, deveremos retornar a esta questão complexa ao resumirmos nossa discussão referente ao uso e à interpretação de carta de nascimento e progressões (em geral) em relação à grande meta de completação da personalidade. Mas, antes de chegarmos a esse ponto, parece necessário darmos um pouco mais de atenção à técnica de progressões, direções e trânsitos, de forma que o leitor possa familiarizar-se mais com elas e com sua importância e significado correspondentes.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.


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