sábado, 13 de agosto de 2016

Direções Primárias, por Dane Rudhyar



Estas direções foram apresentadas por manuais de astrologia de tantas maneiras diferentes e envolvem, como geralmente se ensina, tamanho aparato de computações matemáticas, que o estudante de astrologia pode muito bem sentir-se frustrado com o trabalho de calculá-las. O objetivo deste livro não permite uma apresentação detalhada ou precisa dessas direções primárias. Mas alguns pontos precisam ser levantados para indicar como eles se encaixam no esquema mais amplo da interpretação astrológica.

Em termos gerais, as direções primárias se referem ao fator de individualidade do self porque são calculadas ao longo do ciclo da rotação da Terra. Referem-se ao processo de completação deste fator individual. Neste processo, um grau de movimento também é igualado a um ano de vida. Porém, o fator em movimento não é mais o Sol, o índice da revolução orbital da Terra (como as progressões secundárias), mas em vez disso o meridiano (ou o ponto do Meio-do-Céu na carta). O meridiano se move à razão de um grau a cada período de quatro minutos, completando um círculo em 24 horas siderais. Parte-se assim do período de quatro minutos como correspondendo a um ano de vida.

Durante este período, obviamente, o movimento dos planetas em suas órbitas é praticamente nulo. Por isto em alguns sistemas eles são considerados absolutamente fixos, no que se refere a suas posições zodiacais. Seu movimento é produzido pela rotação da Terra, que, por assim dizer, compõe todo o padrão planetário e o gira como se gira o dial de um rádio. Poderíamos dizer que a cada quatro minutos um pequeno movimento de um grau é dado a todo o padrão. Como resultado, todo o padrão ocupa novas posições em termos de graus zodiacais. Estas novas posições são relacionadas com as posições originais,e os aspectos calculados entre posições originais (radicais) e novas (direções). Assim, Saturno, por direção, pode formar quadratura com o Sol radical após dez pequenos giros de um grau do dial. E isto significaria que, dez anos após o nascimento, o fator individual na personalidade do nativo experimentará uma crise de completação, que pode ser expressa em termos de Saturno em quadratura com o Sol.

Se este fosse realmente todo o mecanismo das direções primárias, seria idêntico em operação (se não em princípio) com a técnica de nossa análise-tempo da carta de nascimento. Mas o assunto é muito mais complexo. Em primeiro lugar, por as direções se formarem de fato ao longo do círculo da rotação axial da Terra, que é o equador, as posições dos planetas obviamente em movimento precisam ser calculadas em relação ao círculo equatorial e não à eclíptica (o caminho do movimento aparente do Sol). Isto significa que as posições dos planetas precisam ser expressas em termos de Ascensão Direta (distância do equinócio vernal sobre o equador) e não em termos de longitude (distância do equinócio vernal sobre a eclíptica).

Daí as posições radicais dos planetas precisam ser recalculadas — com o uso de tábuas especiais, levando em consideração também a latitude dos planetas — e elas serão encontradas em novos graus zodiacais. As novas posições, por movimento direcional, também serão expressas em termos de Ascensão Direta. Assim os aspectos serão computados entre duas posições de Ascensão Direta, a radical e a da direção. Este tipo de computação resulta nas mais simples direções primárias. Em termos simbólicos, elas são a criação do movimento regular do meridiano e levam, por assim dizer, o significado do Meio-do-Céu. Muitas vezes elas tratam do desdobramento do fator individual de um modo espiritual ou arquetípico, em relação ao pensamento e ao fluxo do poder do ser.

No entanto, existem tipos muito mais complexos de direções, que levam em consideração o movimento real dos planetas, sua declinação e, acima de tudo, o fator de latitude do lugar de nascimento. Latitude é um fator que se relaciona com o horizonte e com o Ascendente — porque a latitude do lugar de nascimento precisa ser conhecida para se determinar o grau do Ascendente. Temos assim um tipo de direções primárias que carregam, simbolicamente, o significado geral do Ascendente. Elas tratam do desdobramento do fator individual de um modo pessoal e particularíssimo. Revelam a qualidade única do destino individual, a percepção interior única da própria essência do indivíduo.

Num sistema como este de direções "mundanas", mudanças de residência também precisam ser levadas em consideração, pois aqui se vê o entrelaçamento mais específico de fatores individuais com fatores planetários: a relação próxima do homem com a Terra, seja num sentido trivial e ambiental, ou em tem,os de contato espiritual com as grandes forças da Natureza do planeta.

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Progressões Secundárias, por Dane Rudhyar


Estas progressões são as de uso mais generalizado hoje em dia e podem ser encontradas muito bem explicadas em qualquer bom manual de astrologia. Sua técnica é bastante simples e todos os fatores necessários são encontrados numa efeméride astrológica comum. Basicamente o que medem são mudanças na relação Terra/Sol, isto é, na relação entre organismo e princípio vital organizador. Essa relação desenvolve-se constantemente durante o processo vital. Ela é diferente na juventude, na maturidade e na velhice. Um índice do significado e do modo de ação desse relacionamento Terra/Sol, em constante mudança, é encontrado no "Sol progredido" — a posição de seu grau, signo e casa, bem como nos aspectos que forma com outros planetas.

As progressões secundárias são calculadas em relação ao movimento aparente do Sol, e o dia solar — de meio-dia a meio-dia — é a unidade básica. Cada uma dessas unidades corresponde a um ano de vida. Como o movimento diário do Sol não é uma constante, seu valor exato precisa ser encontrado na efeméride. A posição do Sol dia após dia depois do nascimento dá a posição do "Sol progredido" em cada ano após o nascimento.

As progressões secundárias referem-se ao movimento orbital da Terra, portanto ao movimento aparente do Sol sobre a eclíptica. Assim, o fator solar domina completamente estas progressões. É um fator de integração, já que o Sol representa o princípio vital no corpo, ou o self na personalidade como um todo.

O que o "Sol progredido" mostra é o modo como o processo de integração da personalidade prossegue após o nascimento, o modo como a substância do ser coletivo, no meio do qual o indivíduo cresce, está sendo "assimilada" pelo indivíduo — processo que leva à maturidade e completação de uma personalidade plena. Portanto, as progressões solares lidam com o desenvolvimento do self em manifestação. Lidam com os vários estágios de incorporação da Vontade integradora da mônada, também com as modificações do princípio vital que controla os processos do organismo fisiológico. Do ponto de vista da completação da personalidade, elas são as progressões mais importantes — mais até do que prognósticos de eventos concretos. As progressões secundárias são, acima de tudo, solares por implicação e, na verdade, nada pode ser obtido delas que de algum modo não faça parte do fator solar em ação. Como o Sol representa o fator de integração, é fácil ver que as "progressões secundárias" são as mais significativas em relação ao Grande Trabalho psicológico-alquímico.

Testemunhos muito valiosos também podem ser obtidos das posições dos planetas e da Lua — desde que estes sejam sempre considerados um tanto subservientes ao fator solar. Planetas progredidos indicam como os tipos de atividade que eles representam co-operam no processo solar geral de completação. As progressões de Mercúrio revelam a atitude da mente e as faculdades mentais no Grande Trabalho do Alquimista interior. As progressões de Vênus estão relacionadas com as reações emocionais e as respostas estéticas; as de Marte, com a capacidade de iniciativa e de impulso espontâneo; as de Júpiter, com as atividades de revelação da alma compensadoras da psique; as de Saturno, com as lentas transformações da própria estrutura do campo do consciente; as de Urano, com o fluxo de forças transformadoras e regeneradoras provenientes do mundo interior, oculto; as de Netuno, com a dissolução de limitações e com o nascimento da consciência universal (metamorfose); as de Plutão, teoricamente, com a possibilidade de um segundo nascimento.

Quanto à Lua progredida, ela é o fator que se refere mais especificamente a eventos concretos dentre todos os fatores planetários progredidos. Ela indica mudanças externas, a elaboração de ciclos de carma passado, a abertura, fechamento e culminação de fases externas do processo vital. À medida que passa sobre as cúspides das casas (isto também é verdadeiro, em grau menor, para todos os planetas progredidos), ela dimensiona mudanças decisivas nas situações concretas da vida. Isto é especialmente marcante quando a Lua cruza os quatro ângulos e, acima de tudo, o Ascendente.

Contudo, mesmo a mais poderosa e mais factual de todas essas progressões, a Lua em conjunção no Ascendente, nem sempre se refere a uma mudança concreta. Muitas vezes, o que está indicado é o momento da decisão que leva à mudança. Muitas vezes, a mudança é da maior força, mas exteriormente não é reconhecida pelo nativo — especialmente se ele for de tipo introvertido. Isto se dá porque, mesmo no caso da Lua (num certo sentido, um refletor solar), o significado da ocorrência precisa ser relacionado com o Sol progredido. O símbolo do grau deste Sol progredido dá uma das melhores — mesmo que às vezes ilusória — indicações do significado espiritual dos próximos doze meses, que correspondem a um grau completo de progressão solar.

Antes de deixarmos esse tipo de "progressões secundárias" — cujo estudo detalhado exigiria um outro livro —, é preciso mencionar um ponto importante. Ainda não esclarecemos o procedimento real pelo qual uma frase como "progressão de Vênus" pode receber um significado factual. Como podemos descobrir a natureza das progressões de Vênus? Elas estão relacionadas com o quê? Duas possibilidades se evidenciam. Vênus progredido é considerado, ou formando aspectos com os outros planetas progredidos do mesmo período de dia progredido, ou estabelecendo relações definidas com os planetas em suas posições originais (ou radicais) na carta de nascimento. Por exemplo: se a pessoa nasceu a 19 de janeiro de 1935, seu Sol radical está a 10° de Capricórnio e Júpiter a 16° 56' de Escorpião. Quando ela tiver sete anos (1942), o Sol progredido terá alcançado a posição marcada na efeméride para 8 de janeiro como 17° de Capricórnio. Nesta mesma data, Júpiter progredido estará em 18° 5' de Escorpião. Formou-se um sextil em 8 de janeiro entre o Sol progredido e o Júpiter radical (entre 16° 56' de Capricórnio e 16° 56' de Escorpião). Isto é visto como acontecendo no "processo de vida" em 1942.

Se, no entanto, quisermos considerar o sextil de Sol e Júpiter progredidos, então precisaremos esperar até 9 de janeiro — quando estes dois planetas estiverem respectivamente localizados em 18° 13' de Capricórnio e 18° 13' de Escorpião. Isto prorroga a atualização ou realização do sextil natal entre Sol e Júpiter na vida da pessoa para o ano de 1943. Se, em vez de Júpiter, que se move lentamente, tivéssemos tomado um planeta rápido, a discrepância entre as datas de consumação dos aspectos de planeta progredido com radical e planeta progredido com progredido teria sido maior. Portanto a questão é que tipo de aspecto deveríamos escolher, e se, como geralmente se faz, considerarmos os dois tipos, deveria haver uma diferença entre eles?

Aqui — como em muitas outras ocasiões! — os astrólogos divergem. A maioria deles reconhece a validade dos dois procedimentos, mas alguns pensam que um tipo é mais efetivo, outros, o outro tipo. Como sempre, tentaremos examinar o assunto de um modo lógico e filosófico. Se calculamos aspectos entre posições planetárias progredidas e radicais, o que fazemos é conceber o mapa radical como um padrão permanente tão indelevelmente impresso na personalidade, que cria pontos psíquica e fisiologicamente sensíveis, bastante significativos para representar focos de distribuição de energia. Quando os planetas progredidos atingem estes pontos (por conjunção, oposição, quadratura etc.), um significado é liberado em termos de atividade planetária. Em outras palavras, os planetas radicais são vistos como centros permanentes de energia, ativados, revolvidos, estimulados (de um ou outro modo) quando planetas progredidos entram em aspectos definidos com eles.

Estabelece-se assim um relacionamento significativo entre um valor de conhecimento, ser, espaço, individualidade do self (pontos radicais) e um valor de completação, tempo, transformação, fluxo vital (planeta progredido). Se, por outro lado, dois planetas progredidos se relacionam por aspecto, então o relacionamento é entre dois valores do último tipo. Portanto, ao considerarmos tais aspectos de planeta progredido com progredido, estamos navegando totalmente no fluxo ilimitado do "vir-a-ser" sem nenhuma ancora para a forma-semente do "ser". Podemos fragmentar nossa interpretação, perder o senso de propósito, que é a nota fundamental de uma abordagem apropriada das progressões secundárias.

Nas progressões secundárias, vemos o propósito de "ser" trabalhando através do "vir-a-ser". As várias posições do Sol progredido em cada grau sucessivo do zodíaco após o dia do nascimento mostram a evolução do propósito das atividades vitais em meio à mudança: propósito que lentamente se aperfeiçoa e refina através da vida. A análise de tempo da carta de nascimento também revelou um propósito desse tipo, mas num sentido mais arquetípico, subjetivo e abstrato. Nas progressões secundárias, vemos o propósito de ser desdobrar-se em passos reais, daí a discrepância entre os cálculos obtidos seguindo-se os dois métodos.

Cada grau de progressão do Sol atinge um novo aspecto desse propósito de vida (simbolizado no grau do Sol radical — e, num outro sentido, no do Ascendente), e, quando isto acontece, o "padrão planetário" radical lentamente muda sua forma para se encaixar, por assim dizer, neste novo propósito. Se a forma-seminal original do ser (carta de nascimento) domina verdadeiramente todo o desenvolvimento da personalidade — como acontece, por exemplo, em homens completamente obscurecidos por uma missão suprapessoal —, então as posições progredidas precisam ser remetidas quase que exclusivamente aos lugares radicais dos planetas, pois o propósito original é absolutamente constante e sempre ativo. Mas, se no decorrer do tempo de vida, a personalidade experimenta mudanças profundas de propósito, metamorfoses reais de ser, então os aspectos entre planetas progredidos e radicais são menos válidos, e os aspectos apenas entre planetas progredidos são mais significativos em termos de mudanças reais.

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A Formação de Progressões, Direções e Trânsitos, por Dane Rudhyar


Progressões e direções baseiam-se numa análise da movimentação real de planetas ou cúspides após o momento de nascimento. Elas se baseiam na ideia de que o nascimento não é um gesto final e que o ato de nascer se prolonga no tempo, espalha-se sobre um período de horas (direções primárias) ou dias (progressões secundárias), e por isso fornece um meio de prever os acontecimentos reais que se tornarão objetivos durante o período total de vida.

Este é um ponto extremo importante, normalmente não entendido. Todas as progressões ou direções envolvendo o estudo da movimentação planetária real após o nascimento (momento da primeira respiração) implicam que o indivíduo ainda não é uma personalidade completa em virtude de sua primeira respiração. A individuação não está completada naquele momento. E leva algum tempo, mais respiração, para que ela seja completada. Portanto, a vida é vista como um processo de completação. De um ponto de vista cósmico ou espiritual, este processo atinge uma completação tão perfeita quanto o indivíduo possa alcançar no corpo, que agora começa a viver como organismo independente algumas horas após o nascimento e em algumas semanas após o nascimento — isto de acordo com o nível em que nos colocamos: no nível do fator individual ou do fator coletivo.

Isto pode parecer um ponto difícil de entender, mas é muito simples, se apenas compreendermos que o homem como uma personalidade (corpo mais psique) é o resultado da interação de fatores individuais e coletivos. Estes fatores podem ser considerados separadamente, pois cada classe opera num certo nível de ser; ou, digamos, tem seu próprio ritmo de ser. Então o ritmo de existência do fator individual está relacionado com a rotação axial da Terra e em astrologia é simbolizado pelo ritmo dia e noite. Por outro lado, o ritmo de existência dos fatores coletivos está relacionado com a revolução orbital da Terra, e é simbolizado pelas estações.

Portanto, começamos com a ideia: a primeira respiração não é suficiente para estabelecer a completação da personalidade. Ponto seguinte: quando esta personalidade atingirá completação relativa? Para responder a isto, teremos de analisar a personalidade nos fatores que a compõem, e poderemos responder:

1) o fator individual atingirá completação relativa em alguns minutos ou horas;

2) o fator coletivo atingirá completação relativa em alguns dias ou semanas;

3) e o organismo, no qual e através do qual estes dois fatores se relacionam como comportamento real no todo maior da sociedade humana, operará enquanto organismo (isto é, como corpo e psique) por tantos anos ou décadas.

A completação no fator individual parece mais rápida porque está relacionada com a rotação axial da Terra e não (como o fator coletivo) com a revolução orbital da Terra. Mas não podemos esquecer que dissemos, algumas páginas atrás, que a completação é relativamente absoluta e não depende de valores tais como grande ou pequeno, comprido ou curto. Se você se colocar olhando para o horizonte ou para o Meio-do-Céu você verá todo o zodíaco passar diante de seus olhos em 24 horas, e em termos astrológicos isto significa que você atingiu completação total, pois o zodíaco simboliza o círculo de totalidade perfeita.

Mas, do ponto de vista da revolução orbital e do ritmo das estações, você verá o zodíaco todo passar na linha do relacionamento Terra/Sol (que simboliza o fator coletivo, orgânico e vital) somente depois de um ano. Mas totalidade é totalidade a despeito de tamanho ou duração do todo na qual ela se manifesta. Assim, à luz da totalidade, um ciclo completo de rotação (um dia sideral) e um ciclo completo de revolução orbital (um ano solar) são análogos — porque ambos representam a experiência do zodíaco como um Todo.

Experimentar o zodíaco inteiro, para o self individual, é passar por 24 horas de "inspiração" após o nascimento. É inspirar o zodíaco inteiro como é visto a partir da rotação da Terra.
Experimentar o zodíaco inteiro, para o ser coletivo-orgânico é passar por um ciclo completo de mudanças solares e sazonais, um ano inteiro. É experimentar o ciclo completo da vida vegetal — pois este ser coletivo, orgânico, em nós, em termos arquetípicos, é uma planta ou uma árvore, uma afirmação cuja discussão está fora do escopo deste livro.

Podemos levar essa analogia mais longe e considerar o ciclo do giro do eixo da Terra, o Grande Ciclo Polar (ciclo precessional) de 25.868 anos. Este também constitui um ciclo inteiro de experiência e é "zodiacal", ao menos no sentido de que cada meridiano do nosso planeta, por precessão, forma conjunção com cada um dos graus do zodíaco durante esse período. (Isto é o mesmo que dizer que o ponto vernal entra sucessivamente em contato com cada meridiano.)

Temos assim três ciclos, cada um dos quais representa uma plenitude de experiência zodiacal, cada um dos quais pode ser simbolicamente considerado igual ou análogo aos demais: o dia sideral, o ano solar e o Grande Ciclo Polar. Eles se referem respectivamente ao fator individual, coletivo e planetário. Mas, vimos antes que, quando falamos do fator planetário, referimo-nos à vida do "Indivíduo Planetário" cuja experiência "eu sou" é simbolizada pelo eixo de rotação da Terra: o eixo polar. Assim, um Grande Ciclo Polar é o ciclo de completação do fator individual no Ser Planetário, que podemos chamar Logos Planetário ou Deus. E aqui nos confrontamos com uma situação muito interessante, mas um tanto confusa. Se o leitor consultar nosso estudo sobre o Grande Ciclo Polar (pág. 145), verá que produzimos duas alternativas de subdivisão para esse ciclo. Se o dividirmos de acordo com os períodos vibratórios chamados nutação, teremos a divisão do ciclo todo em, digamos, 70 períodos de 370 anos solares (20 ciclos dos nodos lunares). Mas se seguirmos aquilo que H. P. Blavatsky afirma ser o "cálculo esotérico" (presumivelmente mantido por ser uma citação da Cabala), teremos uma divisão em 370 períodos de 70 anos.

Isto é muito interessante com relação ao nosso problema atual, pois aqui temos dois valores (370 e 70) que podem ser tomados como medidas arquetípicas do ciclo da personalidade humana. Ambos são verdadeiros; apenas referem-se a coisas diferentes. Setenta anos (três vintenas mais dez) constituem o período cármico da manifestação individual na personalidade (isto é, o ciclo de nosso relacionamento individual com o Indivíduo Planetário). Trezentos e setenta anos constituem o período de manifestação da personalidade arquetípica: personalidade como um organismo espiritual, como uma estrutura permanente, aperfeiçoada, pronta para tornar-se uma célula do Ser Planetário.

O assunto não pode ser discutido satisfatoriamente aqui, mas era preciso abordá-lo à medida que nos leva ao reconhecimento desse ciclo "esotérico" de 370 anos, o verdadeiro ciclo de completação da personalidade. Obviamente nenhuma personalidade comum (desde o tempo dos patriarcas) alcança tal extensão de manifestação no corpo, mas esta é a própria razão pela qual nenhuma personalidade comum, neste estágio da evolução planetária, atinge completação como uma personalidade.

E é justamente para isto que as progressões astrológicas apontam, pois por seu equacionamento tradicional de "um dia após o nascimento, ou quatro minutos após o nascimento, para um ano de processo vital" vê-se imediatamente que nenhum ciclo de progressões ou direções jamais se completa. Em outras palavras, o fator individual no homem não experimenta o zodíaco todo, mas, digamos, apenas 70 de seus graus medidos no ciclo da rotação da Terra. O fator coletivo, igualmente, experimenta 70° do zodíaco — medidos sobre o círculo da revolução orbital da Terra. E a personalidade pode "manter corpo e alma unidos"' por apenas 70 anos — de um ciclo de completação total de 370 anos.

Em outras palavras, temos três ciclos de completação: o dia sideral, o ano solar e o ciclo de completação da personalidade, de 370 anos. Em termos de completação, estes podem ser considerados analógicos (ou "iguais"). Uma unidade em um ciclo corresponde a uma unidade nos outros ciclos. A unidade do dia sideral (rotação) e um período de quatro minutos aurante o qual o meridiano percorre o espaço de um grau zodiacal. A unidade do ano solar (revolução orbital) é o dia solar, durante o qual o Sol parece deslocasse para frente uma média de 59° 8'. E estas duas unidades são ditas correspondentes a um ano da vida da personalidade.

O cálculo "um dia igual a um ano" baseia-se no fato , já muitas vezes mencionado, de que para o "eixo polar" — que simboliza o "EU SOU" planetário — um ano é igual a um dia (seis meses de dia e seis meses de escuridão, teoricamente). Assim, se quatro minutos são análogos a um dia, e um dia é igual a um ano, então quatro minutos também correspondem a um ano — como é entendido nas "direções primárias".

Os pontos principais para entender um problema tão complexo são: 1) que "direções primárias" se referem ao ciclo de rotação da Terra e ao fator individual no homem; 2) que "progressões secundárias" se referem ao ciclo de revolução orbital e ao fator coletivo no homem; 3) que ambas são expressões correlatas do fato de o nascimento não significar completação da personalidade, e que, portanto, nascimento é um processo continuo, que prossegue em três níveis: individual, coletivo e orgânico (personalidade); 4) que cada um desses três níveis, ou fatores de existência, tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, que o relaciona respectivamente com um ciclo de completação. Assim, as fases de desenvolvimento do fator individual podem ser determinadas a partir de posições planetárias, após o nascimento, ao longo do ciclo de rotação axial. As fases de desenvolvimento do fator coletivo podem ser determinadas a partir de posições planetárias ao longo do ciclo de revolução orbital. E as fases de desenvolvimento da personalidade, à medida que este é determinável pelo ambiente social e planetário, podem ser computadas a partir das posições dos corpos celestes ano após ano — ou seja, ao longo do ciclo de completação de 370 anos. Tais posições são os chamados trânsitos.

Isto então nos dá três métodos básicos de determinação das fases do processo vital que continua, prolonga-se e leva à correspondente completação relativa do ser humano, cujo padrão estrutural é mostrado em sua carta de nascimento: direções primárias, progressões secundárias e trânsitos.

O mesmo procedimento é adotado nestes três casos, em termos gerais: as posições planetárias são calculadas para qualquer período de tempo desejado, e as novas posições assim obtidas (por progressão, direção ou trânsito) são comparadas com as posições radicais ou de nascimento, ou, em alguns casos, são consideradas em seus novos inter-relacionamentos. Assim, são determinados "aspectos", que definem ou caracterizam o processo vital ou as condições de vida gerais num dado ano, mês ou dia de vida. Em cada caso, novos fatores planetários são gerados pelo uso destes métodos, que, ou superam ou, mais geralmente, modificam o significado dos 24 fatores originais que constituem a carta de nascimento; enquanto no método estudado anteriormente, de "análise de tempo da carta de nascimento", os únicos fatores utilizados são os 24 fatores primários, ou então, fatores secundários produzidos pela combinação dos fatores primários.

Do que foi dito ao longo deste capitulo, presumivelmente adquiriu-se uma compreensão mais ou menos definida do valor e do significado relativo dos métodos básicos usados na astrologia para expressar o fator tempo e o fator devir. No entanto, deveremos retornar a esta questão complexa ao resumirmos nossa discussão referente ao uso e à interpretação de carta de nascimento e progressões (em geral) em relação à grande meta de completação da personalidade. Mas, antes de chegarmos a esse ponto, parece necessário darmos um pouco mais de atenção à técnica de progressões, direções e trânsitos, de forma que o leitor possa familiarizar-se mais com elas e com sua importância e significado correspondentes.

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Análise do Tempo na Carta de Nascimento, por Dane Rudhyar


O processo é simples. Tomemos a carta de Mussolini. A Lua está localizada a 8° 50' de Gêmeos, Júpiter a 18° 33' de Cancer. Portanto a distância (ou "arco") entre eles é de 39° 43'. Traduzamos um arco de um grau para um ano do processo vital. Neste caso o relacionamento Lua-Júpiter em vez de ser expresso por um arco de 39° 43' (um valor espacial) será descrito como um relacionamento de 39 anos e menos de 9 meses. O que isto significa é que o rapport entre Lua (referindo-se ao relacionamento com o público, ao passado ancestral, aos sentimentos etc.) e Júpiter (referindo-se ao ponto de emergência do self, a autoridade, poder etc.), que existe, potencialmente e arquetipicamente na carta de nascimento, virá a ser realizado num tempo da vida que postulamos como 39 anos e 9 meses após o nascimento. A marcha dos fascistas sobre Roma, que deu poder ditatorial a Mussolini, ocorreu quando ele tinha 39 anos e 3 meses. Outros aspectos fizeram com que ocorresse antes do tempo acima calculado.

O relacionamento Marte/Sol na carta pode ser expresso de modo semelhante, dizendo-se ou que é uma relação de 52° 51' de arco ou uma relação de um período de 52 anos e cerca de 10 meses. Em termos de aspecto, o relacionamento se equilibra entre uma semiquadratura mais 8 graus e um sextil menos 7 graus. Isto significa que "o destino está na balança", para Mussolini, em junho de 1936? Outras indicações poderiam corroborar a possibilidade de aquele ser um mês de expansão (Sol na nona casa) e viagens envolvendo agressividade e perigo. Mas como Marte e Sol são os dois assim chamados regentes da carta (um assunto cujo significado discutiremos logo adiante), há chance de o relacionamento se realizar sob forma de um extremo aumento de poder, apesar de ser indubitavelmente uma chance perigosa, considerando o fato de um eclipse ter caído sobre o Sol em 29 de julho de 1935, uma indicação de "trânsito". De qualquer modo, marcará um ponto de mutação no destino de Mussolini.

O arco entre Saturno e Júpiter tem 41°. A idade de 41 anos foi uma época crítica para Mussolini, como resultado do assassinato Matteotti, em que havia fascistas importantes envolvidos. Mas ele atravessou a tempestade levantada pela oposição, talvez porque, no nascimento, Saturno estivesse em sextil com o Sol, assim, o que poderia ter sido sua desgraça, fortaleceu sua posição.

Estando os planetas de Mussolini concentrados mais ou menos na mesma região do mapa, isso possibilita seu inter-relacionamento mútuo por esse método de "análise de tempo". Isto indica que o todo da natureza será atraído para fora sob forma de operação real e positiva. Em vez de calcular os arcos que separam os planetas, poderia ser calculado o arco que separa um planeta do ponto de aspecto de oposição a outro planeta. O tempo revelado dessa maneira mostraria uma ligação dos dois planetas, não em termos de atividade (aspecto de conjunção) como anteriormente, mas em termos de consciência (aspecto de oposição). Na carta de Mussolini isto provavelmente poderia ocorrer somente entre Netuno e Urano aos 60 anos. Isto marcaria — se ele atingir essa idade — um momento de grande realização do significado fundamental e espiritual de sua missão e destino — não em termos de algo a ser feito, mas do sentido de algo que foi feito.

Também se pode tentar a ligação através de quadraturas, trígonos, sextis. Por exemplo: Sol e Mercúrio de Mussolini estão a 32° 51' e 33° 20' de uma quadratura com a Lua (a 8° 50' de Virgem). Isto resulta em valores de tempo de cerca de 33 anos e 33 anos e meio. Ele foi seriamente ferido na guerra aos 33 anos e 6 meses.

Exemplos suficientes para dar uma ideia do processo seguido. Falta no entanto explicarmos por que a operação de tradução dos valores de espaço em valores de tempo foi baseada na equivalência de graus de arcos zodiacais e anos de vida. Esta questão tão discutida será abordada de um outro ângulo quando estudarmos a teoria das progressões e direções; mas agora podemos dizer que o grau é o ponto de partida mais conveniente para essa tradução de valores de espaço em valores de tempo pois, afinal, ele é a unidade de medida zodiacal e toda a trama do simbolismo astrológico repousa mais ou menos sobre o grau.

Como já dissemos, o grau é, por assim dizer, uma tradução do valor de tempo em valor de espaço, pois ele teoricamente é o espaço orbital que a Terra cobre durante o período de tempo que leva para perfazer um giro completo sobre seu eixo, isto é, um dia (sideral). Assim, o grau é um dia, em termos de medida espacial ao longo da órbita terrestre. Do dia, passamos agora para um ano dizendo: um dia é igual a um ano — e assim um grau é igual a um ano. Marc Jones coloca este assunto com muita habilidade em seu curso Directional Astrology, que citamos:

A teoria ... é que movimento sobre um circulo de movimentação celeste tem afinidade com o movimento em qualquer outro círculo correlato do mesmo esquema, e que a expressão deste relacionamento em qualquer um dos círculos cria naquele círculo uma entidade que corresponde ao círculo todo em termos de unidades. Assim, como há dois círculos celestes usados para a medida da movimentação dos planetas ... os círculos em que são medidos os movimentos diário e anual da Terra, diz-se, de princípio, que um dia corresponde a um ano; e isto é uma correspondência familiar ao simbolismo de qualquer tipo (como um ano tornar-se um dia aos olhos de Deus). Isto significa que um grau do círculo num caso corresponde d totalidade do outro ... e a partir deste fato, por extensão, os graus sobre qualquer um dos círculos correspondem a um ano de vida.

O que complica as coisas no que se refere a progressões e direções é o fato de haver "mais dias que graus" e que na verdade um dia não corresponde a um grau e sim a 59' 8". Discutimos este assunto no capítulo a respeito dos graus do zodíaco e afirmamos que o grau, considerado símbolo de uma liberação fundamental de significado criativo, é um valor arquetípico, e que a discrepância entre os 365 ou 366 dias e os 360 graus é uma expressão do "coeficiente de indeterminância" fundamental que domina, de um modo ou de outro, qualquer tentativa de traduzir fatores que pertençam a um nível ou esfera de vida em fatores que pertençam a outro nível ou esfera.

Ao lidar com fatos fenomênicos e eventos concretos — como o faz o astrólogo comum, que usa direções ou progressões —, há uma justificativa real para o uso do mutável valor de espaço coberto pelo Sol em um dia (ele varia de 0° 57' a 1° 1') porque, como veremos, a ideia por trás destes métodos é que nascimento é um evento progressivo. Mas, no caso da "análise de tempo de tuna carta natal" o fato do nascimento (ou melhor, do início da existência independente com a primeira respiração) é tido como totalmente suficiente e definido. A carta de nascimento é a "forma seminal" da existência como self individual. Por isso é considerada estritamente um padrão arquetípico, que é imutável e totalmente contido em si mesmo. Refere-se ao "ser", não ao "vir-a-ser". Portanto, todos os seus valores e todas as operações analíticas com ela relacionadas deveriam ser considerados a partir do nível arquetípico. Então, o grau deve ser usado para análise do tempo, porque é um valor arquetípico permanente, e não o fator instável do deslocamento diário do Sol — ou qualquer valor desse tipo —, que pertencem ao mundo dos fenômenos.

Agora o leitor pode perguntar: se a carta de nascimento não se refere ao "vir-a-ser", qual é então o significado da análise-tempo? Aqui nos defrontamos mais uma vez com um problema um tanto metafísico. No entanto ele pode ser esclarecido remetendo-nos mais uma vez à ilustração da construção de um templo. A carta de nascimento é o "projeto" que dá a forma seminal do templo. Qualquer arquiteto, olhando para este projeto, saberá sem nenhuma dúvida que, se o templo realmente for construído, as fundações primeiro precisarão ser escavadas, uma certa classe de operários precisará ser contratada primeiro, depois outra; que um certo tipo de material deverá ser fornecido logo no início das operações, outro mais tarde. Se ele conhece a condição exata do mundo dos negócios, será até mesmo capaz de dar uma data aproximada para a completação do edifício.

Ele conhecerá todas essas coisas simplesmente por analisar os projetos e estudar os pré-requisitos para a implantação da estrutura, que ele vê como potencialidade. Ele pode não conhecer essas coisas com grande exatidão, é claro, pois muito dependerá da habilidade dos materiais humanos empregados (engenheiros, mestres, operários) e das condições sociais gerais, que podem afetar seriamente as operações de construção. Mas saberá o suficiente para obter um quadro bastante preciso dos vários estágios de operações e do tempo de duração de cada estágio.

Isso é exatamente o que queremos dizer com "análise do tempo" da carta de nascimento. Ela não trata do "real vir-a-ser" (ou daquilo que Bergson chama duração), porque meramente espalha as potencialidades-semente numa escala de trabalho, o que faz com que o processo possa ser relacionado com "tempo matemático", mas não com "duração criativa". Na realidade, uma "duração criativa" desse tipo é essencialmente imprevisível. Cada momento é novo e brota de um oceano de potencialidades infinitas, sob forma de realidades que não podem ser preditas.

Então, o que o astrólogo deve fazer? Tudo que ele pode fazer é lidar com probabilidades e médias estatísticas, no que se refere a prognósticos. Ele observa o processo futuro desconhecido a partir de tantos ângulos, que sobrará muito pouco espaço para o incognoscível criativo. Mas somar todas essas observações prováveis será uma tarefa prodigiosa, e mesmo que os eventos reais sejam prognosticados corretamente, sempre permanecerá um valor misterioso imprevisível: o valor de significado. Supondo que alguém conheça cada passo do destino futuro de um indivíduo, que significado o indivíduo terá extraído de sua vida inteira ao se aproximar da morte? Ninguém pode dizer. Nem mesmo Deus pode saber. Pois Deus é feito de tais "somatórias de significado". Este é o vir-a-ser de Deus — duração pura e criativa: o Mistério insondável que é a Vida em si.

Tudo que a nossa análise de tempo pode fazer é ver as marcas da estrada que leva à completação da personalidade. Em alguns casos de grande importância no destino do indivíduo — como o caso da marcha sobre Roma na vida de Mussolini —, as marcas mostram uma ocorrência definida, que por si, objetivamente, é um ponto crucial de mutação. Mas estes casos não são muitos, e por que deveriam ser? Em outros casos, outros tipos de fatores, que servem para determinar o "processo vital" todo, podem ser mais potentes para precipitar eventos reais. Os fatores produzidos pela análise do tempo da carta natal (e esta análise é susceptível de desenvolvimentos muito mais complexos que os que foram indicados neste breve espaço) referem-se ao Destino arquetípico, àquilo que- é self individual em operação: o todo em ação. Eles lidam com a manifestação auto-inerente de existência potencial. Estes fatores são os mais abstratos, mas os mais poderosos numa vida dominada pela forma-seminal do self individual.

Antes de passarmos a investigar as progressões e direções propriamente ditas, é preciso salientar mais um ponto. Esta questão nos vem à mente pelo fato de alguns astrólogos ingleses estarem usando este método de análise-tempo, de várias maneiras, sob o nome de direções "simbólicas". Esta qualificação simbólica leva à má compreensão, pois tende a nos fazer acreditar que as progressões e direções usuais não são simbólicas. Este é um erro grave. Todas as progressões e direções são puramente simbólicas, e este fato deveria ser bem entendido, pois é por ele que a teoria das influências planetárias se quebra totalmente — quando o termo influência é usado com o significado de emanação de raios ou ondas que atuam física ou psicologicamente sobre um determinado indivíduo.

Cada palavra desta última sentença deveria ser considerada cuidadosamente, e não devemos chegar a nenhuma conclusão errada ou prematura. Todas as direções e progressões são simbólicas porque a equivalência de um ano a um dia ou a um período de quatro minutos (nas direções primárias) é puramente simbólica. E difícil entender por que alguém deixaria de reconhecer a verdade dessa asserção. É verdade que podemos dizer que o homem individual (o microcosmos) é uma imagem ou correspondência do sistema solar (o macrocosmos), e que os ciclos de movimentação em um causam respostas análogas no outro. Mas se é que uma afirmação como esta tem algum significado, este é que o sistema solar é visto como um símbolo do homem individual, e que as movimentações cíclicas dos corpos celestes ao redor da Terra correspondem a processos cíclicos da força vital em qualquer organismo vivo na Terra. Obviamente não há diferença entre dizer "correspondem a" ou "são símbolos de". Se alguém vê alguma diferença entre essas duas frases, isso é prova de que ou ele não entendeu a realidade vital dos símbolos — especialmente de símbolos coletivamente válidos, como as "imagens primordiais" ou "arquétipos" de que fala Jung —, ou usa o termo.correspondência sem entender o verdadeiro significado desse termo, tantas vezes utilizado tão superficialmente por estudantes de filosofia oculta.

Todas as progressões e direções são simbólicas, e é por isto que qualquer sistema "funciona" tão bem para o astrólogo que se identifica com ele (que acredita plenamente nele), e não tão bem para aquele que não está habituado com a "sensação' do sistema que usa. Na prática da medicina, igualmente, um remédio cura muito mais rapidamente um paciente que tem "fé" nele do que alguém que o toma com reservas e com "fé" quero dizer não uma mera convicção consciente de que o remédio curará, porém, mais exatamente, um anseio inconsciente de ser curado que se liga à medicação como a um símbolo de salvação. O mesmo é válido com relação à cura espiritual, conversão religiosa e todos os casos de "metamorfose de vida" profunda. Elas ocorrem porque os poderes profundos da vida interior (chame-a inconsciente ou do que quiser!) se concentraram em tomo de um "símbolo", uma imagem de salvação ou de auto-renovação. Não uma ideia abstrata, entendamos bem, mas uma imagem sensorial evidente, concreta, visualizável. Daí a validade da ideia do "Deus pessoal", ou do guru ou de "professores espirituais" — todas imagens e símbolos de totalidade operativa, isto é, de cura e salvação.

Problemas surgem quando o símbolo é tomado por uma realidade material, porque então a pessoa começa a acreditar que uma entidade exterior a está influenciando a partir de alguma base externa tangível. "Saturno está me crucificando!", clama o devoto da astrologia. "Um mago negro está me perseguindo!", soluça o suposto ocultista apavorado. E o medo se instala e desintegra a personalidade. Nem Saturno nem o mago negro têm qualquer significado para qualquer pessoa, exceto como um símbolo de uma fase de processo de vida, através da qual todo ser humano precisa passar, neste ou naquele nível de existência.

Em outras palavras, a assustadora "quadratura de Saturno e Sol" ou o assustador "mago negro" são acontecimentos que têm realidade dentro da esfera da personalidade. É por isto que os bons livros de ocultismo dizem que o "senhor negro" não está encarnado, mas funciona no plano mental. Isto é um modo de dizer — de acordo com a terminologia peculiar da filosofia oculta — que um Poder nefasto como este é um símbolo (ou arquétipo) que, em certos períodos do processo de individuação, é ativado na psique. De modo semelhante, num certo período da vida de uma lagarta sua pele externa se endurece e, dentro daquilo que se tornou um casulo, ocorre um processo de total desintegração orgânica, até que o casulo seja apenas uma pele dura recheada de uma substância gelatinosa. Mas, a partir dessa gelatina evidentemente rudimentar, a borboleta logo formará asas gloriosas.

Esta é a história simbólica da alma, conhecida por milênios de tentativas humanas em direção ao estado espiritual. A lagarta poderia muito bem dizer: "Oh, destino cruel! Saturno está em conjunção com meu Sol, e veja como minha pele macia se endurece!". E pouco depois poderia gritar em completa angústia: "Me ajudem! Meu Sol progredido está•chegando a Netuno, e, vejam, tudo em mim está se dissolvendo numa gelatina!" E verdade que Saturno e Netuno seriam "figuras de linguagem" adequadas, símbolos válidos do que está acontecendo. Símbolos químicos poderiam ser igualmente eficazes para descrever esta ocorrência, ou uma sequência sinfônica em que a estrutura tonal normal cederia lugar a uma evolução atonal e dissonante. Todos são símbolos — símbolos do ritmo do processo vital que traz períodos de transformação calculáveis tanto para galáxias quanto para lagartas ou para psiques humanas. Progressões ou direções astrológicas são meios simbólicos de calcular o momento da ocorrência e a duração desses períodos, e como tais são extremamente válidas para o homem que deseja viver em termos de significado consciente. Elas não têm qualquer valor intrínseco ou espiritual para qualquer outro propósito. Nada devemos fazer com elas ou a seu respeito, exceto entender e ter mais consciência. Tudo mais é ilusão.

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Passos na Interpretação de uma Carta de Nascimento, por Dane Rudhyar


Uma carta de nascimento (ou carta natal) pode (e deveria) ser considerada uma fórmula geométrica complexa, que estabelece as relações entre uma série de pontos determinados por observações astronômicas. Fundamentalmente há dez "planetas" (incluindo Sol e Lua), doze cúspides e os nodos lunares, ou seja, 24 fatores. Uma carta natal é portanto uma fórmula que relaciona estes 24 fatores primários em termos de suas longitudes zodiacais (à qual muitas vezes se soma a declinação — distancia norte ou sul do equador celeste — para determinar o que se chamam paralelos de declinação). Interpretar uma carta de nascimento é extrair desses 24 fatores todos os significados que contêm, ou melhor, que o astrólogo é capaz de perceber. Esta extração de significado é feita por meio de uma série de análises, sendo cada uma teoricamente completa em si na medida que cobre todo um campo de existência, mas constituindo todas essas análises apenas as matérias-primas das quais será construída a síntese final.

Como já dissemos, a astrologia depende em sua maior parte, no que se refere à interpretação de vida, de "percepção holística" sintética. Mas este é um fator puramente individual, e ao escrever a respeito de interpretação de cartas de nascimento é preciso enfatizar os processos analíticos, necessários como um: 1) treinamento para o desenvolvimento de conhecimento básico; 2) meio de conferir os resultados da "percepção holística", isto é, de uma percepção direta dos inter-relacionamentos totais que ligam os 24 elementos primários da carta natal e quaisquer outros fatores secundários que possam deles derivar.

Estas várias análises a que a carta é submetida podem ser feitas numa ordem variável, sendo esta ordem um assunto puramente individual. Indicaremos o que elas são dando-lhes uma seqüência derivada da lógica da situação, como a estudamos neste livro. Mas tenhamos sempre em mente que nossa primeira tarefa é estudar os 24 fatores primários acima mencionados (planetas, cúspides, nodos lunares). Estes fatores são significativos em termos de sua posição:

1) de signo;

2) de casa (isto não se aplica a cúspides);

3) do grau (símbolos do grau; também a relação com os nodos planetários).

Este primeiro estágio de interpretação é uma análise da posição em que cada fator é considerado independentemente de qualquer outro, e é seguida de unia análise de relacionamentos entre estes fatores, portanto:

4) o padrão planetário como um todo;

5) os aspectos entre cada dois fatores isolados.

Segue-se um outro tipo de análise, que pode ou não ser utilizado. Dois fatores são relacionados com um terceiro fator, que em geral (mas não necessariamente) é a linha do horizonte ou do meridiano. Este é um grau mais elevado de análise de relacionamento, e revela um tipo complexo de significado — tal como o que se relaciona com a natureza social do ser humano e ao processo através do qual sua própria sociedade de células e nervos se integra cada vez mais em direção à formação de um "corpo espiritual". Isto refere-se às rodas.

Neste último tipo de análise, já não lidamos apenas com a personalidade humana como é arquetipicamente ou em "projeto". Mas lidamos com o uso que pode ser feito dessa personalidade ou qualquer grupo de fatores da personalidade total. Agora consideramos não apenas "ser" e sua estrutura, mas também "propósito" e seus eixos de cristalização.
Um passo adiante, e estaremos estudando não apenas os eixos de cristalização (ou nexos sensitivos de relacionamento), mas poderemos visualizar o potencial de cristalização do relacionamento em ocorrências de personalidade reais. Como faremos isso? Considerando estes mesmos relacionamentos angulares entre os 24 fatores — e, mais simplesmente, os arcos (distâncias) que os separam, mas considerando-os em termos de fases de maturação. Em outras palavras, deveremos simplesmente converter valores de espaço em valores de tempo. Mas faremos isto sem poder recorrer a nada além dos nossos 24 fatores, simplesmente por meio de um aprimoramento da análise, tal como introduzindo um valor quadridimensional de tempo matemático ali onde antes tínhamos apenas relacionamento espacial tridimensional.

Simplificando, devemos interpretar nossa carta de nascimento de um modo tal que, transpondo nossa concepção de análise, possamos obter valores de tempo (fases do processo vital) onde antes havíamos considerado valores de espaço.

Para obtermos esse resultado, precisamos deixar de considerar os 360 graus do zodíaco índices do relacionamento estrutural do ser e começar a considerá-los como símbolos de fases de desdobramento da vida. Precisamos transpor nossa análise do plano das medidas geométricas para o das medidas de tempo. Ao fazer isto, evidentemente estamos entrando no campo das progressões e mais particularmente das "direções". Mas existe uma grande diferença entre as progressões ou direções comuns e o procedimento agora descrito — mesmo que superficialmente a diferença pareça ser mais teórica do que prática.

Devemos ser capazes de avaliar essa diferença mais precisamente, já que agora estamos estudando o fundamento sobre o qual esta rede complexa de progressões, direções e trânsitos é construída. Mas precisamos dar um passo de cada vez, para que não fiquemos irremediavelmente embaraçados em conceitos que cresceram no campo do pensamento astrológico moderno mais como flores silvestres do que como cultivadas. Nosso próximo passo será estudar sucintamente o que poderia ser chamado análise do tempo da carta de nascimento.


_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Existência do Self e Destino, por Dane Rudhyar




Diz-se que no portal do templo de Delfos, na Grécia antiga, podiam-se ver inscritas as seguintes palavras: CONHEÇA-SE A SI MESMO. Realmente estas palavras eram a verdadeira nota fundamental de uma era e uma civilização que, pela primeira vez na história humana, procurou elevar o foco da consciência do homem ao nível intelectual. O grande problema vital para a civilização grega — e para a maior parte da cultura europeia que se desdobrou a partir da semente plantada pelos gregos — foi a questão do conhecimento: a natureza, as limitações e a extensão do conhecimento. Isto levou a um estudo do processo de desenvolvimento da esfera consciente e racional do ego; então, por reação complementar, com o cristianismo, levou ao desenvolvimento de um sistema de ética devocional — que por sua vez modificou-se para um sistema de ética racional.

Afirmamos que um novo problema vital, básico, está desafiando o "Novo Mundo" do Ocidente — com o que queremos aludir não apenas às raças que vivem no continente americano, mas a todos os homens dispostos a emergir dos padrões típicos do europeísmo clássico para um novo campo de existência. Acreditamos que o continente americano seta o símbolo desse novo domínio de existência, mas não o habitat exclusivo dos homens que nele nasçam. O novo problema vital para tais pessoas — individualmente — e para o continente americano — num sentido planetário — é o problema da cornpletação. E assim presenteamos os futuros construtores do templo dos "mistérios" americano com uma palavra-chave, que não é nova em si, é claro, mas nova como ponto focal para a consciência coletiva: COMPLETE-SE A SI MESMO.

Conhecimento e completação: duas palavras de tremenda importância, quando usadas como termos focais para civilizações inteiras! Num sentido, ao menos, elas podem ser vistas como correspondendo respectivamente a duas outras palavras poderosas: espaço e tempo. Conhecimento é espacial em sua essência, porque deriva do estabelecimento de relações de extensão contraste. Conhecimento intelectual baseia-se em análise e objetividade, no isolamento de fatores e elementos estudados, separados do todo a que pertencem e do qual tiveram de ser removidos por questões analíticas, experimentais ou até mesmo estéticas.

Por outro lado, a completação é cíclica e temporal — holística — em sua essência. E um processo que se desdobra no próprio núcleo do tempo e é condicionado pelas leis gerais da evolução cíclica. Não é analítica ou ética, nem mesmo racional ou predominantemente consciente. Não pode ser esquematizada por fórmulas exatas. Não pode ser definida corretamente para adaptar-se a todos os casos particulares ou individuais, mesmo seguindo um ritmo bem definível, com clímaces e fases de mutação computáveis. Além disso, esse processo de completação não lida com as partes de um organismo ou com os elementos de uma situação como fatores que possam ser separados. Não pode haver completação isolada de uma parte. Isto só pode ser uma consumação relativa ou ilusória.

Mas como cada parte é um todo, tal como cada todo pode ser considerado um parte de algum todo maior, existem momentos relativos de completação: "transições de vida" durante as quais a totalidade opera no interior de qualquer todo completado. Depois que isso acontece, esse todo percebe-se a si mesmo como parte de um todo maior — e o tempo e seus ciclos de completação continuam, sempre e cada vez mais. Mas cada completação, apesar de podermos analisá-la espacial e intelectualmente como puramente relativa — em termos de algum todo maior —, é, apesar de tudo, um absoluto. É absoluta à medida que a totalidade está operando absolutamente através do todo completado, pequeno ou grande. De fato, pequenez ou grandeza são valorações espaciais, de "conhecimento". Em termos de completação, cada todo completado na verdade é Deus real e absolutamente. Esta é a percepção muitas vezes simbolizada pelo termo agora eterno. Podemos chamá-la de percepção mística. O nome que receba importa pouco. Uma completação experimentada não tem necessidade de definição intelectual. Trata-se de uma experiência subjetiva totalizante, e ela é "um-com" o momento dentro do qual ocorre. Um momento como este é o que antes chamamos de momento-seminal — que o teósofo moderno expressa (e materializa) num sentido planetário como Manu-Seminal.

Já colocamos estas ideias nos capítulos "Astrologia ante o pensamento moderno" e "O individual, o coletivo e o criativo" etc. Mas foi necessário reformulá-las de um modo um tanto diferente, pois este dualismo fundamental de conhecimento e completação, de espaço e tempo, é a chave para a distinção mais importante que encontramos quando consideramos a aplicabilidade e a utilidade da astrologia. Por um lado, temos aquilo que é chamado de carta natal radical, que nos dá o padrão simbólico, ou hieróglifo, do ser como indivíduo — uma figura espacial. Por outro lado, temos as chamadas progressões ou direções, que visam determinar o desdobramento do ser individual durante o momento de sua vida terrena — um elemento temporal.

O estado confuso em que se encontra a teoria, e daí a prática astrológica de hoje, deve-se em grande parte à frequente falta de entendimento do relacionamento entre esses dois campos de determinação astrológica: espacial e temporal. Além disso, sistema após sistema de progressões ou direções é proposto — cada um obviamente mais satisfatório em muitos casos, muito insatisfatório em tantos outros. Muito dificilmente se faz uma tentativa de dar uma interpretação coerente, filosófica, do que "progressões" de fato significam e por que elas funcionam — quando funcionam. Este capítulo e o seguinte estarão devotados à sugestão de urna interpretação desse tipo, na esperança de ao menos elucidar vários pontos básicos e oferecer soluções para problemas que causam confusão.

A carta de nascimento (ou carta natal) de um indivíduo, indicando o padrão formado por corpos celestes circundando a Terra, com referência a horizonte e meridiano e em termos de longitudes zodiacais, é também chamada de mapa radical, sendo considerado como o fator raiz em toda interpretação astrológica. O termo raiz é um tanto incorreto, e semente seria uma palavra muito melhor, pois é na semente e não na raiz que está focalizada a "forma arquetípica" da futura planta. Mas essa distinção é puramente filosófica, sem nenhum peso prático nos assuntos que estamos considerando agora.

Uma carta de nascimento é a representação macrocósmica simbólica da plenitude potencial do microcosmo aperfeiçoado. Ela é a "planta" do homem realizado. Portanto, não passa de uma série de potencialidades, e delimita, por extensão, tudo o que poderia ser encontrado em potencial no homem aperfeiçoado. Por referir-se apenas à potencialidade, é inteiramente abstrata. Por ser uma representação formada por fatores macrocósmicos (planetas, horizonte etc.), é puramente simbólica. Não indica nada factual, nada concreto, nada rigorosamente "destinado". Delineia aquilo que seria se a personalidade amadurecesse à semelhança total do arquétipo, se a realidade condissesse corretamente com a potencialidade. Não há um único evento preciso na vida de um homem a ser encontrado como tal em sua carta de nascimento. O que se pode procurar são tipos mais ou menos delimitados de finalidades potenciais, com graus variáveis de "atualizabilidade" em certas épocas mais, ou menos, precisas da sua vida.

Em outras palavras, a carta de nascimento é urna série de fatores espaciais que determinam a estrutura arquetípica, ou forma, do homem todo — se ele vier a ser inteiro. Nada pode indicar absolutamente se um homem virá a se tornar inteiro ou se permanecerá, é o caso da maioria, como um esboço vago, com contornos mal definidos, absorvido em sua maior parte pela origem racial coletiva. No entanto, da carta como um todo muitas vezes surge um significado imponderável, que fornece aos astrólogos de percepção holística (ou com dons "psíquicos" herdados) uma chave quanto à posição última do nativo no final de sua vida; em outras palavras, quanto de sua vida será um sucesso e quanto será um fracasso. Mas fracasso e sucesso significam apenas isto: se o desempenho real de vida foi fiel ao "núcleo" da existência do self individual e do destino, ou se, em termos de filosofia hindu, o homem completou seu darnra ou não.

Self e destino. Estes dois termos podem se referir respectivamente à carta radical e às progressões que dela derivam, também podem se referir a espaço e tempo, conhecimento e completação. O self deve ser conhecido, o destino deve ser completado. Abstratamente, ambos são idênticos em forma. Mas a vida de um homem pode ser mera caricatura do seu destino, ou mero esboço com contornos imprecisos. Destino, do modo como entendemos o termo, não leva nenhum significado de determinismo absoluto e factual. E uma escala de desdobramento com o propósito de manifestar concretamente a planta que a condição de self representa. Já enfatizamos este ponto, mas ele precisa se reenfatizado. Existência individual como self é uma série de potencialidades; no máximo um pequeno modelo que o arquiteto faz do edifício acabado. Mas enquanto o arquiteto desenha o projeto e determina a escala de operações e fornecimento dos materiais da construção, não pode prever se um terremoto, uma guerra, uma greve ou qualquer fator coletivo desse tipo, que transcende tanto o arquiteto como o plano, virá a perturbar a escala. Mas se o edifício é concluído, ele deverá ser uma incorporação real dos planos — a não ser que ocorra uma tragédia espiritual, tal como a morte do arquiteto.

O self é um fator espacial. Abstratamente refere-se ao espaço interno de existência pura, um fator de relacionamento puro contendo tantas "dimensões de espaço" quantos os elementos relacionados. Concretamente refere-se à estrutura externa do corpo — quer dizer, essencialmente, ao esqueleto (o fator Saturno) e à aparência individual (o Ascendente). Sendo um fator-espaço, o self é suscetível de ser conhecido através da análise da forma e de uma síntese que libere significado. É o fator-seminal do ser manifestado. A mónada — a unidade de energia, ou vida — é o poder raiz. Destino é a escala de crescimento da planta É o processo através do qual o self é manifestado. Portanto ele é condicionado primeiramente pela forma do self (forma-semente, a carta natal), mas também, secundariamente, pela natureza do ambiente social e cósmico no qual se dá o crescimento.

Em outras palavras, enquanto o destino é essencialmente a escala individual de crescimento, também está sujeito a modificações não determinadas pelo indivíduo (sua forma ou seu passado), mas que são os resultados do destino do todo maior (raça, planeta, cosmos) do qual o indivíduo é parte. O relacionamento interno básico deste todo maior com o indivíduo é indicado por vários fatores na carta de nascimento do indivíduo, mas a pressão externa transitória da coletividade sobre o indivíduo é um outro fator pertencente à evolução (não ao ser) do todo maior. Isto é visto naquilo que a astrologia chama trânsitos.

O destino é a existência como self no devir. A completação é o conhecimento demonstrado e operacionalizado através da totalidade do organismo fisiológico e psicológico de quem conhece. Portanto, a completação depende do conhecimento. A plenitude da completação está em função da profundidade e da extensão do conhecimento. Portanto, o conhecimento representa simbolicamente o Leste; a completação representa o Oeste. Todo o conhecimento vem do Leste, mas a completação ocorre no Oeste. Isto é assim não só em termos simbólicos e astrológicos, mas também concretamente. Em toda unidade de civilização, o conhecimento surge no Leste e a completação é alcançada no Oeste. A Índia foi a fonte do conhecimento, que foi completado no mundo a Leste do Mediterrâneo. O conhecimento grego, por sua vez, foi completado na integração francesa. O conhecimento europeu está sendo completado na América. O conhecimento do Atlântico atinge a completação no Pacífico. Tudo o que é necessário para formar este quadro é acrescentar que o poder espiritual e regenerador vem do Norte e toma forma como religião no Sul, como fica demonstrado no fato de todas as civilizações enfraquecidas até agora terem sido superadas e regeneradas pelas invasões dos "bárbaros" (homens regeneradores que constituem uma força genuína, sem consciência formada) do Norte — na Índia, na Europa, no México. Além disso, as religiões mais estabilizadas encontram seu centro permanente no Sul e se propagam para o Norte: veja o budismo espalhando-se da Índia para a China e o Japão; o catolicismo estabelecendo-se em Roma; o islamismo movendo-se da Arábia para a Pérsia, o Norte da Índia, a Espanha etc.

Logo, o que foi dito acima pode explicar a razão pela qual consideramos as cartas natais como o símbolo de conhecimento e poder (self do indivíduo, enquanto as progressões se referem à completação, à re-ligião (etimologicamente, aquilo que re-liga) da sua vida. Interpretar a carta natal é relativamente (muito relativamente!) simples, porque nela estamos lidando com uma estrutura contida em si mesma. Certos fatores da carta referem-se verdadeiramente ao mundo exterior, à herança e ao ambiente coletivos, mas essa referência sempre deve ser considerada em termos da pessoa individual. O que se mostra não é o estado do ambiente coletivo (como nos trânsitos e revoluções solares) pressionando a pessoa individual, mas o conhecimento e poder de adaptação desse indivíduo ao coletivo presente em seu ser total.

Em outras palavras, tudo que se encontra no mapa natal ou radical se refere ao ser total do indivíduo, isto é, à soma total das potencialidades que seu ser contém. E podemos aqui acrescentar que essas potencialidades, enquanto delimitadas quanto d sua estrutura, são praticamente infinitas quanto d profundidade de suas conexões. Equivale dizer: a forma de meu ser — meu self individual — é básica; e aqui mudança ou desenvolvimento significa apenas uma aproximação cada vez maior do "corpo" (ou dos corpos) externo à forma-seminal arquetípica, que é imutável durante todo um ciclo planetário. Mas os conteúdos de meu ser — a soma das conexões que estabeleci com o universo, -o total de minhas assimilações — são relativamente ilimitados. Os limites são traçados apenas pelo fato de a pessoa humana, sendo parte do todo maior que chamamos Indivíduo planetário, ser condicionada pelo desenvolvimento harmonioso desse Indivíduo planetário. Isto refere-se ao que o ocultista chama de "círculo-limite".

Em termos científicos, poderíamos dizer que, como o número de células cerebrais e nervosas não é infinito, a soma total de suas conexões e correlações possíveis não é infinita. Mas o homem comum de hoje opera relativamente tão poucas dessas conexões possíveis, que as possibilidades de expansão dos conteúdos de seu ser são praticamente ilimitadas — apesar de a forma de seu self individual permanecer um fator constante. De modo semelhante, o esqueleto é um fator quase constante na raça humana, aproximando-se cada vez mais, por progressão muito lenta e cíclica (que inclui períodos de retrocesso), daquilo que chamaríamos de Forma Arquetfpica do Homem. Mas o homem pode mudar os conteúdos do seu corpo comendo um ou outro tipo de comida (dentro dos limites daquilo que a Terra produz), comendo demais ou de menos etc.

Por outro lado, em "progressões", estamos lidando com uma proposicão muito complexa, porque lidamos com o processo da vida em si. E isso significa mudança perpétua e, portanto, ao menos teoricamente, imprevisibilidade. O processo vital é o fluxo constante do nascimento, da completação e da quebra do relacionamento, e nunca pode ser absoluta e precisamente esquematizado. Ele contém, necessária e inevitavelmente, um coeficiente de indeterminância, que em simbolismo numérico é o valor fração pelo qual Pi (3,14159 ...) é maior do que 3, e no simbolismo terrestre astrológico o valor da fração 365 (ou 366 1/4) dividido por 360.

Self e relacionamento são duas polaridades de ser, correspondendo, no simbolismo astrológico, aos horizontes Leste e Oeste. O primeiro constitui a forma de ser; o segundo refere-se aos conteúdos do "corpo" manifestado do ser — em todos os níveis. O self per se é imutável (durante um ciclo do Todo maior no qual ele ocorre). .O relacionamento está num estado constante de fluxo, e é fundamentalmente imprevisível à luz do self, que é um dos múltiplos fatores que constituem essa torrente de relações. O mundo oriental enfatizou o elemento da existência do self; o mundo ocidental, o do relacionamento — duas concepções opostas, que nunca poderão conciliar-se racionalmente, apesar de poderem ser integradas no comportamento criativo da personalidade.

Este fato constitui o princípio geral de indeterminância, que amplia o princípio especial de indeterminância de Heisenberg, afirmando que nunca se pode determinar precisamente, ao mesmo tempo, a localização e a velocidade de uma partícula subatômica. Localização, aqui, simboliza o self; velocidade significa o processo: espaço e tempo, mais uma vez. Em astrologia, também precisamos nos concentrar ou na determinação do self ou em prognósticos. Cada fator requer um tipo especial de ênfase e um tipo especial de astrólogo.

Mapa de nascimento e progressões relativamente não-mapeáveis. Ao menos em certa medida precisamos escolher nossa polarização e a categoria à qual pertencemos. A pessoa altamente individualizada normalmente terá mais facilidade para a caracterização do self através do simbolismo natal, enquanto a pessoa muito influenciada por fatores coletivos e raciais, sendo deles uma expressão, sentir-se-á naturalmente mais atraída por prognósticos e terá mais sucesso com eles, com a "astrologia horária" e a previsão do futuro. É claro que esses dois pontos de vista podem ser integrados numa personalidade altamente dotada, mas sempre será definida uma ênfase num ou no outro. Com relação a isso, a situação é parecida com o que se refere à extroversão e à introversão psicológica. Sempre há urna tônica num modo ou noutro, mas a delimitação da natureza dessa tônica às vezes é dificultada porque "em cada tipo enfatizado existe uma tendência especifica em direção d compensação para a unilateralidade de seu tipo", uma tendência biologicamente eficiente, já que é um esforço constante para a manutenção do equilíbrio psíquico.

O mesmo é verdadeiro quanto à precisão da resposta real de uma pessoa às indicações contidas em seu mapa natal ou no cálculo de progressões e trânsitos. Algumas vidas serão mapeadas com muita precisão, pelas implicações encontradas na carta de nascimento naquelas "direções", que apenas espalham a estrutura da carta natal no tempo. Outras parecerão precisamente governadas por trânsitos, "progressões' secundárias", revoluções solares, e parecerão não se "encaixar" muito adequadamente com a interpretação de um mapa natal.

A conclusão natural seria que pessoas introvertidas e altamente individualizadas vivem fiéis a seus mapas de nascimento e não tanto às suas progressões; enquanto o oposto se aplica a pessoas extrovertidas e coletivamente influenciadas. Mas isso não é sempre assim. Pois uma pessoa fortemente introvertida, em virtude de sua falta de facilidade de viver em sociedade, pode estar à mercê da sociedade — irremediavelmente condicionada externamente pelas solicitações feitas por outros, quanto mais ele, ou ela, se recolhe e tenta ser estritamente um "indivíduo". Por outro lado, um extrovertido típico pode ser inconscientemente puxado em direção a assuntos "espirituais", para compensar sua extroversão, e ele, ou ela, pode ser totalmente impotente e compelido por tudo que ocorre em seu self interno e em suas tentativas de ser "individual" e "diferente". Por isso, os trânsitos muitas vezes são cruéis para os introvertidos e as direções "primárias" ou "radicais", terríveis para os extrovertidos. O problema é tão complexo quanto o é a vida. Não ver por que isto deva ser assim e depreciar a astrologia porque isto é assim, são sintomas de um julgamento pobre e de uma falta total de compreensão da natureza e do funcionamento da astrologia.

Para compreender completamente a maneira pela qual a interpretação astrológica pode ser construída a partir dos vários elementos fornecidos pelo mecanismo do simbolismo astrológico, precisaremos seguir um percurso que a princípio não é facilmente seguido, mas parece ser a única maneira de levar os fatores conflitantes de posições radicais, progressões, direções e trânsitos a algum tipo de quadro integrado. Portanto, se o leitor suportar e nos seguir no labirinto de conceitos geralmente não relacionados, poderemos ser capazes de apresentar à sua mente uma visão do mecanismo total de uma carta de nascimento de suas consequências, em espaço e tempo — uma visão que indubitavelmente não é fácil de manter em mente, mas que, se consultada consistente e constantemente, colocará ordem e significado onde, presumivelmente, antes havia apenas caos ou coisas vagas.

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.




domingo, 7 de agosto de 2016

A Forma e o Padrão dos Aspectos Planetários — Forma Objetiva — O padrão planetário como um todo, por Dane Rudhyar


Aqui não tratamos apenas do relacionamento elementar entre dois planetas, mas com relacionamentos que envolvem toda a personalidade, que focalizam o significado de toda a personalidade. Quando encontra uma pessoa pela primeira vez, o indivíduo intuitivo capta de uma só vez uma "sensação" genérica, sintética, a partir desse encontro. Sua totalidade reage à totalidade da outra pessoa. Isto é o que anteriormente chamamos percepção holfstica. Se essa percepção é muito aguda, muitas vezes destacará uma ou duas características básicas, que, por assim dizer, focalizam a "sensação" despertada pela pessoa. Alguns dos traços da personalidade total da pessoa serão relevados como centros de significado. O significado se organizará a partir desses centros. Através deles, a pessoa será classificada em um ou alguns tipos gerais, e tal classificação centralizará e esclarecerá a "sensação" geral.

A determinação de centros de significado, daquilo que Marc Jones chama determinadores focais, é o primeiro e o mais importante fator na interpretação de uma carta natal, se o objetivo desta interpretação for revelar verdadeiramente a totalidade, o estar vivo, da personalidade — e não ser meramente uma informação fragmentária reunindo pedaços sobre o comportamento de uma pessoa. Não apenas é o fator mais importante, mas também o mais difícil. Cada intérprete individual precisa, mais ou menos, desenvolver sua própria técnica de "determinação focal" — de acordo com o caráter que seu próprio mapa poderá revelar. Além do mais, só aquele que é (relativamente) inteiro pode ter percepções holísticas corretas, e para determinar centros de significado é preciso necessariamente ser também um centro de significado.

No entanto há alguns princípios gerais de "determinação focal" que podem ser formulados, pois são apenas extensões de fatores astrológicos bem conhecidos, nos quais se fundamenta o próprio simbolismo de zodíaco, casas e aspectos. Entendê-los é entender a "forma", ou gestalt - em termos de psicologia moderna; é entender o caráter de "agrupamentos" e de "padrões de comportamento". Tal como a criança não é mais ensinada a soletrar letra após letra, de acordo com novos métodos de aprender a ler, mas em vez disso a reconhecer grupos de letras e estruturas de palavras de uma vez, assim também o astrólogo que procura aprender a sondar a vitalidade da personalidade simbolizada no mapa deveria treinar-se no reconhecimento instantâneo de estruturas planetárias e zodiacais básicas. Tabulação de fatores é útil para conferir resultados e chegar a um grau mais refinado de análise. Mas percepção holística atrai o todo e suas partes para um centro de significado e de vitalidade. Ela revela a "alma" da situação, o poder que anima o todo — a totalidade do todo, a energia espiritual na forma.
A primeira e mais simples determinação do significado total do padrão planetário é feita quando os planetas estão distribuídos de modos específicos pelos quatro quadrantes do mapa, isto é, em relação aos "eixos do self' horizonte e meridiano. Por razões de simplicidade e brevidade enunciaremos, um após o outro, o significado geral (muito geral!) a ser atribuído às configurações básicas que podem ser encontradas.

Todos os planetas acima do horizonte: "O nativo necessariamente vive a vida na vida" ou "encontra o foco de sua própria consciência interna totalmente em eventos externos" (Marc Jones). Uma tendência à extroversão e a adotar uni ponto de vista objetivo — muitas vezes materialista (vide o mapa de Mussolini).



Todos os planetas abaixo do horizonte: "O nativo vive dentro de si mesmo ou em domínios mais subjetivos", ou "encontra o foco de sua própria consciência interna em reações internas" (Marc Jones). Uma tendência para introversão. Um tipo intuitivo.

Todos os planetas a Leste ou a Oeste do meridiano: "O meridiano do zênite divide o universo (toda a experiência) em regiões de elevar (Leste) e assentar (Oeste) coisas. Se todos os planetas estão a leste, o nativo é chamado a fazer sua própria escolha em qualquer assunto, e a criar o assunto à vontade, enquanto no oeste ele precisa aceitar as escolhas e assuntos da vida do modo como lhe são apresentados" (Marc Jones). Este é o quadrante da "volição externa". Geralmente, um domínio exclusivo no leste indica uma tônica do pensar — pois pensamento é o elemento de livre-arbítrio (relativo), enquanto um predomínio exclusivo no oeste indica uma ênfase em sentimentos, pois sentimentos são quase puramente determinados pelo condicionamento externo da relação entre sujeito e sujeito, ou sujeito e objeto.

Além disso, todos os planetas podem ser encontrados num dos quatro quadrantes. Isto é raro, mas produz uma ênfase ainda mais absoluta em uma das quatro funções do self individual; intuição (quadrante norte-leste), sentimento (quadrante norte-oeste), sensação ou relacionamento (quadrante sul-oeste), pensamento (quadrante sul-leste).

Ao considerar tais assuntos é preciso ter em mente duas ideias importantes. A primeira é que não se podem extrair conclusões definidas do fato de não haver planetas numa casa. A ausência de tônica não significa ênfase negativa. A totalidade sempre deve ser entendida como a base de qualquer ser orgânico, portanto está sempre implícita na ausência de qualquer ênfase específica. Esta ausência de ênfase pode significar a realização prévia da qualidade representada pela casa ou pelo signo não enfatizado, ou pode significar um estado virgem de não-diferenciação. Refere-se sempre a um estado inconsciente, mais que a um estado consciente. Mas a saúde é inconsciente até que seja experimentada, pela pessoa doente, como ausência de doença. De modo parecido, a inconsciência pode ser o fator mais evidente da saúde psicológica. Permitam-nos repetir mais uma vez que se pode dizer que Deus, ou Ser Universal, está além de todas as tônicas planetárias, porque cada "grau" da totalidade de ser universal está igualmente acentuado. O homem só tem "planetas" porque é um ser particular. Deus não tem nenhum — é claro que em termos figurativos.

O segundo ponto refere-se ao que Marc Jones chama equilíbrio de peso, um tema que se adapta perfeitamente aos princípios da psicologia da Gestalt, Se nove planetas são encontrados num hemisfério e o décimo no outro, este décimo se destaca poderosamente, à luz da forma. Constitui um padrão em que um planeta, por causa de sua posição, é visto equilibrando nove outros. Ele se torna um fator absolutamente "proeminente", e abala, consideravelmente, a valoração de todos os outros fatores planetários no outro hemisfério. Marc Jones compara este planeta formalmente "isolado" a um dente dolorido que domina toda a consciência. É um tipo de tônica "irracional", que tende a destruir o sentido de totalidade da personalidade. É um fator autocrático ditando sua vontade isolada ao resto do organismo, que por contraste parece rudimentar.

Como ilustração interessante temos o mapa de Mussolini, que mostra um tipo dual de ênfase-forma. Todos os seus planetas estão acima do horizonte. Além disso, Urano está isolado no hemisfério leste — mais precisamente no quadrante sul-leste. A ênfase maciça está no segmento do mapa que trata do relacionamento humano e revela autorrealização por meio de contatos humanos e existência objetiva. Ele é visto aceitando as escolhas e questões da vida como lhe são apresentadas: um homem regido por seu destino objetivo. Mas, enquanto isto é verdade num sentido fundamental, Urano, acentuado como "isolado por posição de casa", indica que há uma liberação poderosa e insistente de fatores inconscientes operando como volição subjetiva (hemisfério leste) e, além disso, que a operação se dá através de um mecanismo de pensar súbito (quadrante sul-leste). Este último fato é corroborado por: 1) uma concentração planetária em signos zodiacais de pensamento concreto (Gêmeos e Virgem) ou de poder de geração vívida de imagens (conjunção Vênus-Júpiter em Câncer, na casa da "visão"); 2) o fato de o Nodo norte da Lua estar na Casa 12, o que implica poder liberado através de meditação ou introspecção subjetiva.

Este último fato e o poder de fatores raciais inconscientes na vida de Mussolini são ainda enfatizados pelo agrupamento de todos os planetas em um trígono exato entre Urano e Netuno (planetas do inconsciente). A configuração total está por assim dizer equilibrada a cada lado da conjunção Júpiter-Vênus, que está em sextil tanto com Urano quanto com Netuno. Entretanto isto pertence a um outro tipo de ênfase da qual trataremos. Agora, ainda precisamos enfatizar a localização de todos os planetas no hemisfério sul. Isto é, a tônica básica de fatores coletivos ou objetivos de forma que, por mais que Urano possa sugerir o trabalho de uma vontade ou de um poder interior autocondicionado, esta vontade é vista em operação apenas em termos de fatores coletivos. Mesmo sua "roda da imaginação" (a liberação de seu caráter) estando localizada abaixo do horizonte, está na segunda casa, referindo-se a herança racial e posses atávicas — um fator coletivo, apesar de se encontrar no âmbito do individual.

Um outro tipo de ênfase se produz pela localização de todos os planetas nos quadrantes básicos do zodíaco.

Todos os planetas entre Aries e Libra (pela ordem dos signos): isto indica que a "responsabilidade principal da vida é espiritual" (Marc Jones) — ou, preferiríamos dizer, refere-se à projeção de ideias e arquétipos na manifestação objetiva. Mussolini é um exemplo surpreendentemente forte deste tipo de ênfase — goste-se ou não do tipo de ideias que ele projetou.

Todos os planetas entre Libra e Aries: isto indica que "a principal responsabilidade da vida é material" (Marc Jones) — ou melhor, refere-se ao desenvolvimento de faculdades que são o resultado de atividade espiritual prévia e a matriz de manifestações futuras.

Todos os planetas em signos de ascensão longa (de Câncer a Capricórnio): "A vida interior é vivida para tornar-se manifesta na vida exterior" (Marc Jones). Este é o período em que o Sol se move para o sul. O que foi ganho durante a outra metade do ano é manifestado objetivamente. A alma torna-se manifestada.

Todos os planetas em signos de ascensão curta (de Capricórnio a Câncer): "A vida interior é vivida para tornar a vida exterior manifesta para si mesma" (Marc Jones). Este é o período em que o Sol se move para o norte, tradicionalmente um período de crescimento espiritual e realizações internas. Os frutos da experiência objetiva são acumulados, e há um processo de maturação interna, o crescimento de significado.

Aqui também se poderia aplicar o princípio da ênfase de um planeta isolado, um planeta numa seção do zodíaco equilibrando todos os outros na seção oposta. Além disso deveríamos acrescentar que, trocando as palavras "todos os planetas" por "maioria dos planetas", ainda se chegaria a um domínio de valores menos forte, mas notável.

Seja considerando o círculo de casas ou de signos zodiacais, o que se faz na verdade é dividi-lo em quadrantes estabelecendo dois eixos perpendiculares. Esta operação está relacionada com a determinação de aspectos de quadratura. Lida com o estabelecimento de uma estrutura de manifestação, o protótipo da qual, é claro, são "as quatro estações do ano". Poder-se-ia tentar a mesma coisa com qualquer dos eixos dados pelo simbolismo astrológico — especialmente com os eixos nodais dos planetas. Vimos previamente que o eixo nodal da Lua poderia ser considerado como o que estabelece uma "linha de destino" entre o passado e o futuro (o carma e o darma) de um indivíduo. Assim o hemisfério contado a partir do Nodo Norte (no sentido anti-horário) refere-se ao poder de desenvolvimento de novas faculdades espirituais, enquanto o hemisfério contado a partir do Nodo Sul se refere à elaboração de tendências passadas.

No mapa de Mussolini, todos os planetas estão no hemisfério contado a partir do Nodo Sul, estabelecendo uma confirmação impressionante — que poderia surpreender a muitos. O ditador italiano é mostrado como fazendo nesta vida o que presumivelmente fez em várias vidas precedentes — ou, em outras palavras, como sendo a última de uma longa linhagem ancestral de figurus semelhantes. Neste sentido, pode-se dizer que ele seja uma réplica da imagem de César, uma reafirmação de uma antiga fórmula racial, que portanto não acrescenta nada de novo, mas é uma culminação de carma racial — de carena individual, também, de acordo com a teoria da reencarnação.

O mesmo procedimento poderia ser adotado considerando todos os eixos nodais dos planetas, mas os resultados requerem uma interpretação sutil demais para ter importância prática. O mapa de Mussolini mais uma vez apresenta possibilidades interessantes de interpretação na linha da análise dos nodos planetários, pois pelo menos cinco de seus planetas estão situados sobre os nodos norte de outros planetas. Isto tenderia a demonstrar que sua personalidade é um padrão desenhado de acordo com um plano interior suprapessoal. Poderíamos chamá-lo um avatar racial, com tremendas forças raciais psíquicas por detrás dele. Isto é sugerido pelo símbolo do grau do Sol.

Um outro tipo de ênfase zodiacal é dado pela distribuição desigual de planetas: 1) em signos de fogo, ar, água e terra; 2) em signos cardinais, fixos e mutáveis. Este é um tipo de ênfase encontrada com muita freqüência na prática astrológica moderna. No entanto parece ter pouco significado, a não ser que a desigualdade de distribuição seja muito grande. Um predomínio muito definido de planetas num tipo de signo zodiacal é necessário para que se possa chegar a conclusões significativas. Precisamos remeter o leitor a nossa análise do significado das categorias zodiacais. Uma ênfase planetária em qualquer categoria demonstrará o significado e o poder daquela categoria na vida do nativo.

Até agora estudamos estruturas planetárias que são determinadas com relação: 1) ao circulo de casas; 2) ao circulo de signos zodiacais. O primeiro refere-se basicamente ao caráter e ao destino do indivíduo; o segundo aos fatores coletivos de seu ser. Considerando o "padrão de aspectos" formado pelos planetas, temos um outro tipo de caracterização de forma, que se refere em grande parte à personalidade em si. Aquilo com que estamos lidando agora é uma extensão do princípio de "aspecto". O que se segue são aspectos que envolvem diversos planetas, em outras palavras, agrupamentos planetários. Seguem-se seus nomes e descrições sucintas:

Stellium. É uma conjunção múltipla; uma tônica complexa, que envolve mais de dois planetas localizados numa área pequena. Existe o stellium de casa, quando muitos planetas (no mínimo quatro ou cinco) se encontram em uma casa; stellium de signo, quando o mesmo número de planetas está localizado num signo, ou na metade de um signo. Aqui, tal como na conjunção simples, muito dependerá de quais são os planetas e a que distância estão um do outro. O resultado frequentemente é confusão e envolvimento pessoal com as qualidades representadas pela casa ou pelo signo. As tônicas planetárias se mesclam umas 'As outras. O que se destaca é a qualidade representada pela casa ou signo, mais que a atividade simbolizada pelos diversos planetas.

Haste de leque. Este tipo de oposição ampliada acontece quando um planeta isolado se opõe a um stellium, isto é, quando um planeta, sozinho num hemisfério, faz oposição a todos os outros planetas no hemisfério oposto. De acordo com Marc Jones, "o planeta isolado contribui com o stellium e devolve a ênfase ao hemisfério que contém os outros planetas. A tônica do stellium se torna uma carga interna ou psicológica de manifestação. Indica uma alma com um problema-mais-que-físico", O significado do signo enfatizado (mais que a casa) torna-se o fator preponderante. O século XX começou com um stellium dos mais característicos, opondo Netuno a todos os demais planetas (então conhecidos). Para ampliar o significado dessa configuração, ela se equilibrava exatamente no eixo dos nodos lunares. Colocar Plutão no mapa diminui o unidirecionamento da configuração, pois este planeta estava perto de Netuno. Mas como Netuno e Plutão se referem a fatores universalistas e como a configuração é bastante impressionante, ainda pode ser considerada com proveito um leque, de haste dupla!

Grande trígono. Neste e nos aspectos múltiplos seguintes somos confrontados com a manifestação perfeita de aspectos isolados. Vimos que o trígono era produzido pela inscrição de um triângulo equilátero na circunferência; uma quadratura, pela inscrição de um quadrado etc. Agora consideramos configurações nas quais um planeta (ou vários planetas) se encontra localizado em cada um dos ângulos do polígono inscrito.

Assim, um grande trígono é uma figura em que três planetas estão relacionados por ângulos de 120°. Alguns astrólogos consideraram uma configuração deste tipo muito favorável, outros desfavorável. Que ela devesse ser condenada como desfavorável, quando o trígono é sempre tomado pelo mais harmonioso dos aspectos, não parece muito lógico. Mas existe alguma verdade nesta afirmação quando somos confrontados com uma formação triangular exata, pois, quando algumas das atividades mais importantes da personalidade se relacionam simbolicamente desse modo, estão tão bem equilibradas ou "estruturadas", que há muito pouco incentivo para expressão externa ou criação. Portanto, o Grande Trígono, especialmente quando numa formação muito exata, é um símbolo de inércia espiritual, ao menos relativa. Se, no entanto, um dos planetas (ou grupo de planetas) que participa dessa configuração forma quadratura com um outro planeta, então esta quadratura atua como um "canal de liberação" das energias presas no Grande Trígono.

Em geral o Grande Trígono produz ênfase numa das quatro qualidades zodiacais (fogo, ar, água, terra), pois normalmente une três signos que se referem à mesma qualidade. Mas isto não precisa ser assim, se os planetas estiverem próximos das cúspides. Por isso não se pode afirmar que o Grande Trígono tenha qualquer significado particular por causa disto. Se ele une, digamos, três signos de fogo, então fica implícito que a qualidade "fogo" ("movimento em direção à expressão objetiva" ou "emanação') está completamente estruturado dentro do ser do nativo.

Grande Cruz (ou Cruz Cósmica). Esta configuração é estabelecida por quatro planetas (ou grupos de planetas) em relacionamentos mútuos de 90°. Ela deve ser considerada como estabelecendo o "cubo perfeito" ou "pedra perfeita" do conhecimento maçônico. Simboliza a incorporação total da ideia, ou propósito, ou self, em outras palavras, realização na existência concreta e objetiva. Num sentido negativo, o que significa é cristalização e escravidão espiritual à matéria.

O modo mais comum em que a múltipla quadratura é encontrada é a configuração T. O quadrado não está completo. Em vez de uma cruz de quatro braços, ternos um Tau egípcio, ou, por extensão, uma cruz incompleta — que, é claro, é o hieróglifo de um ser humano com os braços abertos horizontalmente. Numa carta de nascimento que tenha essa configuração, há uma casa (signo) vazia ali onde deveria estar a cabeça do homem. O que isto indica é o máximo de liberação de espírito ou propósito em direção à existência material. Esta é uma configuração altamente dinâmica. Os três braços da cruz colocam ênfase dinâmica na casa vazia, que muitas vezes está, por assim dizer, ocupada por um redemoinho. Na fase de existência individual e destino, representada pela casa vazia, o nativo geralmente se vê indefeso, torturado por conflitos tempestuosos. Só o ego muito forte e consciente é capaz de dominar uma liberação de poder tão dissonante. Se ele o fizer, então uma quantidade incrível de energia criativa será sua.

A perfeição de formações poligonais mais complexas, como o quintilho e o sextil, é um fenômeno raro. Mas às vezes três planetas estão inter-relacionados por aspectos de quintilho — ou melhor, três deles constituem dois quintilhos, e os dois externos se relacionam por aspecto de triquintilho (216°) — uma ligação muito criativa entre os três tipos de atividade simbolizados pelos planetas. Esta ligação sugere que o que está sendo criado é uma faculdade espiritual, que muito provavelmente pode não estar evidente na vida externa.

Uma formação hexagonal completa (grande sextil) é ainda mais rara, mas muitas vezes três planetas estão relacionados por sextil — os mais externos constituindo um trígono dividido igualmente pelo planeta do meio. Isto é o que se vê tão claramente no mapa de Mussolini, com a ênfase acentuada pelo fato de todos os planetas estarem localizados dentro do trígono de Urano e Netuno (dividido pela conjunção Vênus-Júpiter). Esta configuração em especial tende a mostrar que a personalidade inteira é uma "formação do inconsciente da raça", governada pelo consciente. A conjunção Vênus-Júpiter no centro da configuração indica o ponto de emergência do poder formativo do inconsciente coletivo em termos de consciência. Estando na nona casa, este poder não só é estruturante como expansivo. A conjunção Júpiter-Vênus mostra que este poder é de ordem idealista. Estando em Câncer, o ideal projetar-se-á em esboços claramente imaginados. Júpiter está situado num grau (19° de Câncer) que simboliza "o equilíbrio interno de valores pelos processos inconscientes da natureza, tomando o melhor do antigo para inspiração do novo" (Marc Jones).

Uma configuração hexagonal completa ocorreu em 15 de junho de 1935, com Urano em Touro; Mercúrio, Sol e Plutão em Câncer; Vênus e Netuno em Virgem; Júpiter em Escorpião; Lua em Capricórnio e Saturno em Peixes — ligando todos os signos "femininos" do zodíaco. Esta foi uma configuração altamente produtiva para o trabalho e especialmente para o planejamento detalhado, em termos de atividade prática sustentada. Crianças nascidas nesta época deveriam mostrar habilidade em organizar — especialmente porque a quadratura entre Sol e Marte ao mesmo tempo está liberando o poder, que, de outro modo, poderia ter ficado numa condição estática de autossatisfação e autoindulgência estética.

Uma configuração do mesmo tipo é aquela em que quatro planetas constituem alternadamente sextis e trígonos. Forma-se um retângulo, cujas proporções geométricas sugerem um significado místico. No mapa da época de um dos maiores pintores vivos, Urano em 8° de Virgem, Lua em 6° de Escorpião, Júpiter em 4° de Peixes e Netuno em 12° de Touro constituem uma configuração desse tipo. Urano está em sextil com a Lua e em trígono com Netuno, que está em sextil com Júpiter e em trígono com a Lua. Esta é uma combinação interessante de trígonos, sextis — e, é claro, duas oposições. Um bom símbolo de "misticismo prático". Esta pessoa foi uma força de sustentação notável para seu marido, tanto de modo interno como também externo, combinando consciência espiritual, produtividade externa e planejamento intencional.

Em todos esses padrões planetários definidos, podemos sempre suspeitar da existência de problemas igualmente definidos na esfera da personalidade. Ou estes problemas são a manifestação de complexos psicológicos que tendem a tornar a personalidade "diferente" e muitas vezes socialmente inadaptada, ou então a personalidade carrega um fardo de responsabilidade suprapessoal (planetária) exigindo uma focalização estrita e uma particularização de ponto de vista. O mapa de Mussolini é o mais típico deste último caso que encontramos. É um mapa superfocalizado. O homem está vivo apenas para servir a um propósito racial e morrerá por esse propósito.

Por outro lado, um mapa que não tenha nenhum destaque evidente pode significar ou uma personalidade fragmentada ou um ser cujo destino é o de ligar, harmonizar e ser um símbolo da totalidade de ser. Esta, é claro, é a marca do verdadeiro indivíduo — um que se aproxima da igualdade ao Indivíduo perfeito que é Deus, o Ser todo-tonificado por igual. Um Mussolini não é um indivíduo, mas um propósito racial transformado em personalidade. É um ser muito, particularizado ou especializado: o homem de um trabalho coletivo. Isto fica claro em todos os fatores possíveis de sua carta, mesmo quanto à posição do Nodo Sul (ponto do carma) na sexta casa (de serviço, trabalho e submissão a ideais ou personalidade), e num grau de "capitalização real sobre tradição e valores estabelecidos" (A mulher de Samaria vem pegar água na fonte de Jacó).

_______________________________________________________________
Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.