sábado, 13 de maio de 2017

Breve História da Astrologia, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

Apresentar uma história completa da Astrologia e do seu desenvolvimento ultrapassa largamente o âmbito deste manual. O que aqui apresentamos é uma versão muito resumida, que menciona os principais momentos, mas que deixa de lado muitas referências importantes. O objectivo é dar ao estudante uma noção geral da história deste conhecimento.

A Astrologia é uma das mais antigas formas de conhecimento. A sua origem perde-se nos tempos e remonta ao nascimento das civilizações humanas.

A observação e estudo dos movimentos dos astros surgem numa época em que a vida dos seres humanos estava intimamente ligada aos ciclos da Natureza. A percepção das estações do ano e das fases da Lua é decerto muito antiga, e a regularidade destes ciclos foi desde sempre um marco orientador para os seres humanos. A importância desta percepção é tal que desde logo lhe foi atribuído um valor simbólico e transcendente.

A vertente interpretativa, simbólica e metafísica destes conhecimentos constituiu as bases da Astrologia, enquanto o aspecto matemático veio mais tarde dar origem à Astronomia. Até ao século XVII estas duas vertentes do conhecimento foram indissociáveis.

A origem da Astrologia

Os vestígios mais antigos de observação astrológica/astronómica remontam à época pré-histórica, cerca de 15.000 a.C. No entanto, a Astrologia, tal como a entendemos hoje, só começou a desenvolver-se quando o Homem se sedentarizou, estando intimamente associada ao aparecimento da agricultura (Neolítico Médio, cerca do 6° milénio a.C.).

A necessidade de compreender os ciclos naturais tornou-se vital para as colheitas. Surgiu assim uma civilização baseada na adoração dos céus e dos astros, que construiu as estruturas megalíticas alinhadas com eixos astronómicos.

Período mesopotâmico

A Astrologia que conhecemos actualmente aparece por volta de 4.000 a.C., com o desenvolvimento das civilizações mesopotâmicas e egípcia, na zona do Crescente Fértil.

As observações mais arcaicas incluíam não apenas as estrelas e planetas mas também muitos outros factores "celestes", como os arco-íris, o voo dos pássaros ou as nuvens. Nesta altura, a Astrologia surge associada a outros métodos divinatórios e é expressa sob a forma de presságios. Os mapas astrológicos, tal como os conhecemos hoje, ainda não existiam.

Os planetas são os factores mais antigos em uso na Astrologia. As suas características e funções já estavam praticamente determinadas por esta altura, não diferindo muito das actuais. No entanto, as Casas e os aspectos não existiam, pelo que tanto os cálculos como as interpretações seguiam regras diferentes. Começam nesta altura a desenvolver-se os métodos de observação e cálculo astronómico. A sua evolução leva ao conceito de Zodíaco e com ele nasce a atribuição das regências dos signos aos planetas.

Um dos registos mais extensos desta época data do 2° milénio a.C. é denominado Enuma Anu Enlil, uma compilação de conhecimentos astrológicos e presságios.

Nesta fase, todo o panorama religioso é favorável ao desenvolvimento da Astrologia. Aliás, esta é praticada por sacerdotes, enfatizando o seu lado mágico, religioso e sagrado.

A Astrologia é sobretudo utilizada para o estudo e previsão de eventos colectivos. As previsões individuais são relativamente raras e, regra geral, feitas apenas para os reis ou outras figuras importantes.

O desenvolvimento astrológico atinge o seu auge durante a dominação persa (meados do século VI a.C.). Durante toda esta época aperfeiçoam-se os calendários e compilam-se registos sobre eclipses e outros fenómenos astronómicos. Também a arquitectura leva em conta os fenómenos celestes: os templos e palácios orientam-se por alinhamentos com as estrelas e as grandes construções só começam em momentos celestes considerados favoráveis.

Período grego ou helenístico

Por volta de 700 a.C., a expansão das rotas de comércio e o incremento do contacto entre os povos mediterrânicos leva à difusão do conhecimento filosófico e religioso.

A Astrologia capta o interesse da civilização grega, que dará grande impulso ao seu desenvolvimento, transformando-a num estudo organizado e com estatuto escolástico.

Figuras muito importantes, como Pitágoras (571 a.C. — 497 a.C.), vão trazer do Médio Oriente todo um manancial de conhecimento que será apurado ao longo de séculos. Surgem nesta altura as teorias geométricas e as grandes bases filosóficas que sustentam a Astrologia Ocidental. Grandes pensadores gregos, como Platão (428 a.C. — 347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.) vão desenvolver a Astronomia e a Astrologia com a criação de modelos físicos e metafísicos do Universo.

Datam de cerca de 200 a.C. os primeiros registos de cálculo do Ascendente, inovação que permite o cálculo preciso das casas astrológicas. Esta crescente precisão matemática leva à implementação de novos conceitos. Desenvolve-se nesta altura o mapa astrológico com todas as suas componentes. Em paralelo, a Astrologia Natal desenvolve-se e os horóscopos individuais tornam-se gradualmente mais frequentes.

Nos primeiros séculos da Era Cristã surgem novos pensadores e astrólogos de relevo. Escrevem-se muitos tratados e manuais. Destes estudiosos destaca-se Claudius Ptolomeu (c.100 — c.178), que compilou grande parte do conhecimento astrológico da época na sua obra Tetrabiblos. Este livro vai tornar-se mais tarde uma das grandes bases da Astrologia Medieval (árabe e europeia).

Com a lenta desagregação do Império Romano e a adopção do Cristianismo como religião oficial (em 313, por édito do imperador Constantino) a prática da Astrologia sofre um primeiro declínio. A religião cristã gera uma forte corrente de antipaganismo e a Astrologia passa a ser menos tolerada. A hostilidade por parte da religião cristã em relação à Astrologia (e a outras disciplinas como a Matemática, a Filosofia e a Medicina) reduz grandemente o seu ensino. O processo é agravado pelas convulsões sociais e políticas que varreram o Império Romano durante os 100 anos seguintes, culminando com a sua queda, em meados do século VI d.C. A Europa entra na denominada "Idade das Trevas".

Período medieval

A partir de 632 d.C. os árabes vão tornar-se uma das grandes potências do mundo, ocupando todo o Médio Oriente, Norte de Africa e Sul da Europa (Península Ibérica).

Dotados de enorme interesse pelo conhecimento, os árabes procuraram reunir o conhecimento grego, babilónico e persa, preservando e desenvolvendo a Arquitectura, a Medicina, a Filosofia e também a Astrologia/Astronomia. E graças aos autores deste período que muito do conhecimento da Astrologia Ocidental é preservado. Por volta 700 d.C. começam a surgir no mundo árabe grandes pensadores, cujas obras de Astrologia vão influenciar e modelar o pensamento astrológico ocidental. A Península Ibérica (em especial o Al-Andalus) é nesta altura um dos grandes centros escolásticos do mundo.

Os astrólogos árabes vão dar continuidade à Astrologia Grega, aprofundando a sua precisão matemática e incrementando alguns ramos, nomeadamente a Astrologia Horária.

Com a reconquista cristã e as Cruzadas, no século XI, inicia-se uma fase de troca de conhecimento que vai permitir o desenvolvimento e a renovação da Astrologia no mundo cristão. .A. medida que muitas obras árabes e gregas vão sendo traduzidas, o conhecimento da Tradição Ocidental ganha novo valor.

Nesta época, os astrólogos alcançam um papel importante na sociedade, actuando como conselheiros junto dos reis e nobres. No entanto, os atritos com a Igreja continuam, fazendo com que a prática da Astrologia seja sempre uma profissão de risco. A Astrologia é principalmente usada como método de diagnóstico para problemas médicos, se bem que também assuma um papel importante no aconselhamento político.

A Renascença

Os séculos XV e XVI trazem consigo uma importante mudança de mentalidades: o Renascimento. Há um crescimento da noção individual e começa-se a percepcionar o mundo de forma diferente. A ciência e as artes ganham um novo ânimo e a Astrologia sofre algumas transformações. Questionam-se as técnicas clássicas e ajustam-se alguns dos princípios fundamentais. O crescente descontentamento político em relação aos árabes (representados pelo Império Otomano) e o ressurgir dos ideais gregos leva à adopção da obra de Ptolomeu como a principal fonte da Tradição Ocidental. Acontece que Ptolomeu não menciona vários factores tradicionais e apresenta uma Astrologia muito divergente dos restantes autores da sua época. Assim, muitos elementos tradicionais são tidos como "invenções arábicas" e progressivamente descartados do sistema astrológico. Esta modificação vai criar uma clivagem entre os autores medievais e os renascentistas, gerando alguma instabilidade na prática astrológica.

Nesta época o antagonismo entre a Astrologia e a Igreja Cristã atinge o seu auge. A Igreja condena os juízos astrológicos (a chamada Astrologia Judiciária) devido às suas implicações políticas e ao poder que confere aos astrólogos. Não obstante, os próprios religiosos tinham muitas vezes conhecimentos de Astrologia. A prática astrológica "oficial" nos reinos cristãos fica limitada às questões menos polémicas, nomeadamente a Medicina e a previsão meteorológica. Nos países protestantes a Astrologia é mais tolerada, tornando-se notório o seu florescimento no Norte da Europa a partir do século XV.

O declínio da Astrologia

No fim do século XVI, o desenvolvimento da "Idade da Razão" e a chamada "abordagem científica" provocam uma crise irremediável na Astrologia. O "pensamento científico" da época cataloga a Astrologia como uma superstição e considera-a obsoleta.

A separação final entre a Astrologia e a Astronomia dá-se em 1650. A prática astrológica ainda atinge alguma projecção no século XVII, mas entra rapidamente em declínio, tendo praticamente desaparecido no início do século XVIII. Em 1770 deixa de ser ensinada na Universidade de Salamanca e afasta-se definitivamente do meio académico.

No contexto da época, o desaparecimento do suporte "académico" foi o desabar da única defesa que impedia a prática astrológica de cair na superstição e na mediocridade.

Na tentativa de manter viva a prática astrológica, alguns astrólogos procuraram ajustar o conhecimento simbólico e metafísico da Astrologia à visão mecanicista do racionalismo científico, mas os seus esforços trouxeram mais problemas que benefícios. Na esperança de obter aceitação da mentalidade vigente, simplificam demasiado o sistema, empobrecendo-o em qualidade e em funcionalidade. A tentativa de explicar a Astrologia "cientificamente" levou à deturpação dos seus princípios fundamentais.

A Astrologia torna-se uma brincadeira popular, beirando o passatempo fútil, e é cada vez mais ridicularizada nos almanaques do final do século XVIII. Sem suporte nem prática adequados, a milenar tradição astrológica cai no esquecimento.

O ressurgimento

Na segunda metade do século XIX ocorre um revivalismo da espiritualidade no Ocidente. Muitos conceitos e ramos de conhecimento esotérico começam a ser estudados e recuperados. Entre estes encontra-se a Astrologia.

Os autores desta época pretenderam ser não só restauradores, mas também reformadores da tradição astrológica. Não obstante as boas intenções, o seu trabalho deixou algo a desejar, pois tentou reconstruir a Astrologia a partir de um modelo incompleto e desprovido de conhecimentos profundos da Tradição. Foi sobre esta base frágil e deficitária que se desenvolveu a Astrologia contemporânea. Centra-se quase unicamente na Astrologia Natal e desvaloriza a vertente preditiva; além disso, carece de estrutura filosófica e apresenta uma simplificação empobrecedora das técnicas interpretativas.

Esta situação deficitária gerou vários problemas. Por um lado, permitiu que as opiniões pessoais (mesmo as mais fúteis e desinformadas) assumissem tons de autoridade; em consequência desta proliferação, a Astrologia desmultiplicou-se em incontáveis correntes e abordagens, muitas delas desprovidas de conteúdo. Por outro lado, levou alguns praticantes sérios a dedicar-se a outras áreas do conhecimento, na tentativa de colmatar as falhas da sua prática astrológica, gerando ainda mais confusão.

O panorama actual

Já no século XX, com o surgimento da Psicologia e o crescente interesse no desenvolvimento pessoal nascem a Astrologia Psicológica e a Astrologia Humanista, centrada exclusivamente no ser humano.

Este "casamento" da Astrologia com a Psicologia e as Ciências Sociais leva ao surgimento de movimentos ideológicos que apelam para o seu uso como "ferramenta de autoconhecimento". Adapta-se então a linguagem psicológica à Astrologia e surge o conceito de "Astrologia como auxiliar do aconselhamento psicológico", mais centrada numa espécie de psicanálise simplificada baseada em símbolos astrológicos, do que na interpretação astrológica em si.

Esta perspectiva vai influenciar todas as linhas de desenvolvimento da Astrologia no século XX. A Astrologia Natal, que estuda o horóscopo individual, torna-se a forma mais praticada, relegando os outros ramos, como a Mundana e a Horária, para uma quase inexistência.

Em paralelo, separa-se a Astrologia do embaraçoso legado da previsão, de forma que a capacidade preditiva, núcleo essencial da Astrologia, se torna um tema tabu sendo substituída por "previsões" generalistas.

Como facilmente se compreende, o aumento da popularidade da Astrologia leva ao aparecimento de versões simplificadas. O "signo solar" e os "horóscopos de revista" são tristes consequências da mediocrização a que a Astrologia está sujeita.

Nas décadas de 60 e 70 floresce uma cultura pró-espiritual, consequência da "importação" de filosofias orientais para a Europa e Américas. E nesta fase que se popularizam temas como reencarnação, karma, meditação, etc.

Na Astrologia, este influxo de novas ideias traduz-se em abordagens "kármicas", espirituais e esotéricas de qualidade muito variável — estudos mais sérios ou simples colagem de crenças pessoais ao sistema astrológico. Entretanto, as bases espirituais e metafísicas da Astrologia continuam ignoradas pela maioria dos praticantes.

Em termos técnicos, o século XX trouxe à Astrologia a facilidade de cálculo provida pelos computadores. Embora esta facilidade seja uma bênção para o praticante sério da arte, também acarreta alguns inconvenientes, pois permite que pessoas sem quaisquer conhecimentos de Astrologia calculem mapas astrais. Confunde-se assim capacidade de cálculo com capacidade de interpretação, esquecendo que o computador é um mero instrumento e que não habilita ninguém a fazer interpretações astrológicas.

Actualmente também se testemunha o aparecimento de inúmeras técnicas astrológicas, muitas delas meras derivações matemáticas com pouco (ou mesmo nenhum) uso prático. Transmite-se a ideia que "o novo é bom", sendo inventadas novas "técnicas" e "abordagens" todos os anos. Observa-se, para além da inclusão dos planetas trans-saturninos (Urano, Neptuno e Plutão), o uso indiscriminado de inúmeros asteróides e planetóides, levando a interpretações e simbolismos cada vez mais intrincados e desnecessários.

Como resposta à subjectividade com que a Astrologia moderna se depara, na década de 90 surgiu um movimento de tendência mais clássica e tradicionalista, que é estimulado pela tradução e publicação de livros antigos. A comparação entre a prática tradicional milenar e a actual traz consigo a compreensão de quão incompleta (e mesmo errada) está a Astrologia moderna. Este redescobrir da Tradição provoca um ressurgimento dos esquecidos ramos de Astrologia Horária e Mundana.

Actualmente a Astrologia inicia um lento retorno às origens, de onde se espera que volte a emergir como um corpo de conhecimento novamente coeso, sólido e funcional. Cabe aos estudantes e praticantes actuais dar continuidade a este processo de restauração e dignificação da Astrologia.


Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 22-8.

Os vários sistemas de Divisão de Casas, por Clélia Romano

Tendo como base o que foi explicado vou descrever alguns sistemas mais usados de divisão do circulo.

O primeiro sistema de casas que existiu foi whole signs, isto é signos completos. Conhecendo-se o grau do Ascendente fazia-se ao signo a primeira casa, que ia de zero a 30° do mesmo signo. A segunda casa seria o segundo signo e assim por diante até chegar a Casa 12. Isto ocorreu na época helenística, em torno do ano zero de nossa era.

Existem dezenas de divisões de casas, mas algumas não têm validade astronômica e outras não têm validade astrológica.

Um sistema muito antigo e que levou o nome de Porfirius talvez tenha sido o primeiro sistema após o sistema de signos completos. Tratava-se de, encontrando o ASC e o MC, dividir o semicírculo em 3, que seriam as cúspides das casas. O mesmo seria feito entre o MC e o Descendente.

Não é encontrado em Ptolomeu nada que nos indique que ele usou uma divisão de casas ou outra. Mas Placidus de Tito (século XVII) diz ter se baseado no sistema de Ptolomeu quando criou ou recriou o popular sistema denominado Placidus.

É verdade que Ptolomeu fazia prognósticos baseados no tempo ascensional dos signos para saber quando um planeta significador iria chegar a um promissor. Portanto seguia um método baseado no tempo de ascensão dos signos e provavelmente fazia uma correspondência deles sobre a eclíptica. E esta é justamente a base que caracteriza o sistema de Placidus: descoberto o Ascendente e o Meio Céu, as casas entre um e outro são divididas de acordo com o tempo levado pelo ponto do Ascendente para chegar ao Meio Céu. Tendo em mãos o fator tempo, ele é transformado em graus eclípticos, isto é, zodiacais.

Da mesma forma é calculado o tempo que leva para que o ponto no MC atinja a Casa 7, e tal quantidade é então dividida e projetada em graus sobre a eclíptica.

Sendo um sistema de quadrantes, a 5ª e 6ª casas são opostas e caem no mesmo grau que a 12ª e a 11ª. Da mesma forma, a 2ª e a 3ª Casas se contrapõem com exatidão à 8ª e à 9ª Casas.

AlQãbisi, Alchabitius ou Alcabitius, o famoso astrólogo árabe, adotava um método semelhante, no século XII. Não se sabe se AlQãbisi foi um predecessor ou precursor de Placidus de Tito.

Outros sistemas de divisão rejeitam dividir as casas pelo Zodíaco ou eclíptica. Dão importância aos planetas que estão para levantar ou ascender e a outros que estão escondidos ou se pondo no local de nascimento. Johannes Campanus foi um matemático proeminente do século XIII que popularizou este método que leva seu nome. No entanto, ele foi usado por Al Biruni que o chamava sistema de Hermes, no século XI.

Tal método rejeita a divisão da eclíptica em favor do Primeiro Vertical, o grande círculo que corta os pontos Leste e Oeste do horizonte e passa pelo zênite e nadir, fazendo ângulo com o meridiano do observador. Isto era dividido em 12 setores iguais que correspondiam à interseção com a eclíptica, fornecendo as cúspides.

Muitos dizem que Campanus, abandonando a eclíptica que é o caminho do Sol, desvirtuou o sentido astrológico, mas parece que o maior inconveniente do método é aceitar distorções absurdas em altas latitudes, tais como o MC vir a cair abaixo da Terra.

Johan Muller of Konigsberg, matemático do século XV (também conhecido como Regiomontanus), lançou um método parecido ao de Campanus: também utiliza o grande circulo e não a eclíptica como referência. No entanto, diferentemente de Campanus, baseia-se na divisão igual do Equador Celeste, que é uma projeção do Equador terrestre, e não no Primeiro Vertical.

Na verdade, qualquer sistema de casas é inadequado para regiões de extrema latitude, como as regiões polares, e as distorções são enormes.

Bem, diante disso tudo, qual sistema usar?

A astrologia Helenística trabalhava com o sistema de casas/signos completos. Se acompanharmos os inúmeros exemplos de delineação dados por Vettius Valens em sua já citada Antologia, com conclusões e explicações coerentes partindo de pontos que consideraríamos aproximados, vemos que o excesso de cálculo nem sempre é o mais importante.

Muitos astrólogos tradicionais modernos estão usando signos completos, sendo as cúspides consideradas apenas como o local de mais força dentro do signo, exatamente corno faziam os helenísticos. Isto significa que as cúspides dão o peso quantitativo (força), mas a delineação é feita pelo signo completo, ou whole sign.

No entanto, por mais que se defenda o uso de signos completos, algumas delineações só fazem sentido se usarmos a divisão de casas. Tenho tido sucesso usando Alchabitius, não muito diferente de Plácidus.

As cartas analisadas neste livro seguem a divisão através do método de Alchabitius.


Clélia Romano, in Fundamentos da Astrologia Tradicional, Edição do Autor, 2011, p. 81-4. http://www.astrologiahumana.com/

Divisão de Casas, por Clélia Romano


Há muita discordância quanto ao sistema de casas a ser usado: há prós e contras em cada um deles.

Alguns tipos de divisão levam em consideração a representação visual do céu onde nasce o indivíduo, enquanto outros levam mais em conta o zodíaco, isto é o caminho do Sol trazendo o dia, o meio-dia, o poente.

O que parece ser adjacente a toda a polêmica sobre a divisão de casas talvez tenha como resposta o fato de que o signo tem uma origem diferente das casas. Os signos advieram das constelações, algo mais objetivo e visual, já as casas não.

Inicialmente, há cerca de 4000 anos na Babilônia, o homem levava em consideração apenas os pontos cardeais: ele observava os astros que culminavam e que ascendiam ou que descendiam, assim como qualquer coisa diferente que vissem nos céus. A demarcação da posição dos astros possivelmente tinha algum significado, se nos lembrarmos dos "augúrios" feitos através de vísceras de animais ou do vôo dos pássaros para uma direção ou outra, interpretados corno boa ou má sorte. Deduz-se que a relativa posição de planetas na abóbada celeste teria tido um significado também.

O importante a levar em consideração é que as Casas partiram de uma perspectiva diferente dos céus do que os signos. Digamos que a experiência humana em relação ao movimento primário, isto é, o caminho do Sol criando o dia e a noite, era muito mais sensível e perceptível que a longitude dos astros caminhando pelo zodíaco.

A sistemática para demarcar as Casas é um assunto controverso. Vamos rever através de gráficos a posição da Terra e da eclíptica, para que possamos explanar a respeito dos diversos métodos de divisão.

A figura a seguir dá uma ideia da inclinação da Terra, do passo do dia, a eclíptica e a diferença de perspectiva em relação ao horizonte.


Pois bem, no hemisfério Norte, se olharmos em direção ao Sul notamos que as estrelas se erguem a Leste, culminam no meridiano Sul e se põem a Oeste.

O observador não pode ver o que está abaixo da linha da eclíptica, portanto ele não vê o Leste verdadeiro, ele vê um ponto em direção a Leste por onde o Sol se ergue no horizonte. A esse ponto deu-se o nome Ascendente (observe a figura). O meridiano Sul é o ponto onde a eclíptica corta o Meridiano, correspondendo ao MC, a seguir o Descendente ou ponto Oeste e o Nadir, o ponto mais ao Norte e invisível.

No Hemisfério Sul o fenômeno é idêntico, porém o observador olha para Norte e observará que o meridiano corta a eclíptica a Norte, onde é o MC.

Repare que a 0° de Aries e a 0° de Libra a linha da eclíptica e a linha do paralelo do Equador se superpõe: neste momento há urna coincidência do Ascendente com o leste verdadeiro.


Clélia Romano, in Fundamentos da Astrologia Tradicional, Edição do Autor, 2011, p. 80-1. http://www.astrologiahumana.com/

A divisão dos Céus de acordo com o Movimento Primário, por Clélia Romano

As Casas terrestres dão significado especial aos signos e planetas relacionando-os com uma área da vida do nativo. Além disso, são responsáveis por conferir ao planeta a dignidade acidental, um aspecto muito importante e paralelo à dignidade essencial já estudada acima.

Chamamos Casas à divisão da carta de acordo com pontos por onde passam os céus, planetas e luminares durante as 24 horas do dia.

O céu inteiro é arrastado de Leste para Oeste sobre nossas cabeças devido ao chamado movimento primário, a rotação da Terra. Desta forma, a cada momento do dia diferentes constelações aparecem a Leste.

As casas são doze, como os signos. São numeradas em sentido contrário aos ponteiros do relógio, e tal numeração representa a ordem em que cada uma vai ascender.

Nem sempre a carta foi dividida em doze casas: em épocas muito antigas as casas mundanas eram divididas em Oito, o chamado sistema oktotopos. De acordo com Antiochus e Thrasyllus tal sistema foi atribuído a Nechepso, um rei egípcio. Manilius e Firmicus Mathernus, falam dos Oito locais ou Casas e sua descrição em Mathernus é praticamente uma condensação do atual significado. A Casa 1 tinha o mesmo sentido que tem hoje e a Casa 8 significava a morte, sendo que as casas intermediárias agrupavam dois dos sentidos atuais.

A divisão do círculo em 12 casas é atribuída a Hermes.

Inicialmente houve uma mistura dos dois sistemas, mas o sistema de 12 casas acabou predominando.

Clélia Romano, in Fundamentos da Astrologia Tradicional, Edição do Autor, 2011, p. 79. http://www.astrologiahumana.com/

Vênus, por Marcos Monteiro

É o único astro que permite a leitura em noites sem Lua.

É de um brilho claro, bonito, cativante. Só aparece no começo ou no fim da noite, porque também nunca se afasta muito do Sol, fazendo o mesmo movimento que Mercúrio, mas de forma mais lenta (e se afastando mais, pouco mais que um signo e meio: 48 graus). Assim, ela não só se afasta mais do Sol, como também está, normalmente, mais lenta que Mercúrio. No fim das contas, no entanto, também percorre o Zodíaco em um ano.

Seu brilho doce, sua dependência do Sol, sua força no céu, o fato de ser a luz mais resistente ao dia além da Lua (ela permanece visível no começo do dia, ou aparece ainda antes do fim da tarde), o fato de estar sempre presente no encontro do dia e da noite, tudo isso concorre para a sua significação como o planeta do amor, da concórdia, da união, em sentido amplo — as forças que comandavam os átomos, para os gregos, eram o amor (que os une) e o ódio (que os separa): Eros e Tânatos (nesse contexto, Vênus e Marte, se a mitologia me permitir essa licença poética). É esse o amor de Vênus; o amor romântico é só uma particularização desse princípio geral.

E um planeta noturno e feminino, frio e úmido (ela é fleumática).

Os alimentos associados a Vênus são os de sabor doce e cheiro agradável, os alimentos belos e arrumados.

Vênus também significa a mulher, mas a ênfase é na mulher enquanto sexo feminino, não enquanto mãe. É a esposa, a concubina, a amante, a cortesã, a prostituta, a musa, a modelo, a beleza, o amor romântico, o desejo sexual, o desejo de união.

As doenças venéreas ("venéreo' quer dizer "de Vênus"), o açúcar, a diversão, os jogos, os restaurantes (bares, como locais onde se ingerem líquidos, estão mais associados à Lua), essas coisas são todas relacionadas a Vênus.

As plantas relacionadas a Vênus são as bonitas, com flores grandes e de cheiro bom, claras, agradáveis, com flores brancas, rosas, amarelas. O lírio, a rosa, a violeta, a macieira.

Os animais relacionados a Vênus são os belos e mansos, como o coelho, a pomba, o pavão, o boto, o cisne, o golfinho, ou que têm o canto bonito, como o rouxinol.

O metal relacionado a Vênus é o cobre, o metal dos ornamentos e da decoração. Era usado em objetos de arte e, pela sua sonoridade, na fabricação de instrumentos. Até sua ferrugem (verde, uma cor associada a Vênus) é bonita.

Está ligada à retórica, a arte de convencer, de ganhar as simpatias, nas sete artes liberais. A caridade é a virtude associada a ela; a luxúria é o pecado capital correspondente.

Marcos Monteiro, in Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013, p. 111-2.

Mercúrio, por Marcos Monteiro

Mercúrio completa sua volta pelo Zodíaco em mais ou menos um ano, assim como o Sol, mas de forma diferente. Ele nunca se afasta mais de um signo do astro-rei (seu afastamento máximo é de 28 graus); antes de chegar a esta distância, ele diminui sua velocidade, pára e reverte o movimento, acelerando até se afastar em mais ou menos a mesma distância no sentido contrário e fazer a mesma coisa.

Por causa disso, é um dos planetas mais difíceis de perceber, o Sol o ofusca grande parte do tempo. Seu brilho é claro.

Ele é fugaz; aparece logo antes do Sol e desaparece quando o dia nasce, ou aparece um pouco depois que o Sol se pôs, para se pôr em seguida. Ele é faiscante, como se estivesse sempre em movimento; só aparece perto do horizonte e no crepúsculo. Tudo isso o fez ser identificado à dualidade, à multiplicidade, à comunicação, à articulação.

Depois da Lua, é o planeta que mais passa pelo Sol. Ao contrário dela, no entanto, ele não vai diminuindo, até sumir de um lado e aparecer do outro. Ele faísca de um lado, some, brilha do outro. Ele foi associado aos deuses e entidades que fazem a comunicação entre este mundo e o outro mundo, como Hermes e seu correspondente romano, Mercúrio. Não como mediador entre os outros planetas e a terra, como a Lua, mas como ponte entre a matéria e o espírito, entre o Sol e o não-Sol. Entre o Céu e a Terra é o planeta do horizonte.

Mercúrio simboliza a razão, aquele movimento faiscante e rápido que classifica as coisas, mas não consegue, por si só, guiar a ação — coisa feita pelo Intelecto, pelo Sol. Ele simboliza também a comunicação, a troca de informações básicas, o comércio.

Ao contrário do que se poderia pensar à primeira vista, ele é frio e seco. Mercúrio não se conecta de verdade, não tem umidade nenhuma. Ele troca, compra e vende, pergunta e responde. Pense no mordomo, figura mercurial por excelência — ele parece não se mover, mas faz tudo acontecer e cair no lugar certo.

O metal associado ao Mercúrio é, logicamente, o mercúrio, o único metal liquido à temperatura ambiente. É o metal que "lava" os outros, se misturando, mas sem se unir.

Animais relacionados a Mercúrio são os que lembram de alguma forma o ser humano, seja "falando" ou "rindo" (hiena, papagaio, melro), seja construindo coisas (joão-de-barro, castor, aranha).

Os alimentos relacionados a mercúrio são os que vêm em grande quantidade, como grãos, que tenham muitos sabores (pizza, comidas agridoce, tutti-fruti, etc) ou que pareçam com o cérebro (nozes).

Plantas relacionadas a Mercúrio, além das anteriores, são todas as plantas multicoloridas, as relacionadas com rituais religiosos, com o cérebro, as de folhas pequenas com várias cores.

Como ele é o planeta da comunicação, ele é melancólico (frio e seco) por natureza, mas sanguíneo por analogia.

Ele está sempre ligado à dualidade, a multiplicidade, e, portanto, não é nem masculino, nem feminino, nem diurno, nem noturno, nem maléfico, nem benéfico. É estéril — inconsequente demais para a fecundação e nutrição.

Ele significa os servos (por sua utilidade), os palhaços, os bobos-da-corte, os porta-vozes, os substitutos, os dublês. Está associado à inconsequência da juventude. Hermes era o deus dos ladrões, de quem não tem firmeza moral para evitar a tentação de pegar o que está à mão: Mercúrio é amoral como a razão.

Ele significa mudanças no tempo em geral, ventos, que são um tipo de mudança no tempo, gases (ventos dentro da barriga) e terremotos (ventos no ventre da terra).

Ele está associado à arte liberal da lógica, à virtude da fé (a virtude mais próxima do Sol, que aparece subitamente, mas que também é a mais fugaz, some fácil) e ao pecado da inveja. Da mesma forma que a preguiça é a falha do planeta mais rápido, a inveja — que é um erro de avaliação — é o pecado do planeta das classificações.

Marcos Monteiro, in Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013, p. 109-10.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

"Tipos" de Astrologia, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

É muito importante fazer a distinção entre os ramos e os "tipos" de Astrologia. Como foi descrito acima, os ramos distinguem o objecto de estudo enquanto os "tipos" resultam da adição de uma filosofia ou uma crença à prática astrológica.

Assim, em vez de uma Astrologia, proliferam actualmente múltiplas variantes, algumas mais coerentes e válidas que outras. Temos então astrologias psicológicas, humanistas, holísticas, transpessoais, kármicas, esotéricas, vivenciais, etc.

Na maior parte dos casos, as diferenças são mais aparentes que reais. Na prática, apesar das designações sonantes, estas variantes acabam por ser muito idênticas, divergindo apenas no nome e na crença pessoal de cada astrólogo. As técnicas e a metodologia mantêm-se sempre as mesmas; além disso, a maioria destas abordagens limita-se à Astrologia Natal, com poucas incursões nos restantes ramos.

Muitas destas variantes apelam a uma suposta compreensão esotérica/espiritual do mapa natal, alegando que a Astrologia Tradicional é "meramente materialista". Trata-se de um absurdo, como facilmente compreenderá quem estudar a Tradição. A Astrologia assenta em princípios metafísicos que englobam qualquer faceta da vida do ser humano incluindo, naturalmente, a espiritualidade.

Numa outra perspectiva, existem abordagens que podemos ainda considerar de teor astrológico, mas que em termos técnicos divergem consideravelmente do núcleo tradicional da Astrologia. Contam-se entre elas a Cosmopsicologia, desenvolvida pelo astrólogo alemão Reinhold Ebertin (1901-1988), cujos princípios técnicos são muito diferentes dos da Astrologia Tradicional, tomando por base de interpretação as relações matemáticas entre os planetas (proporções de distância, etc.). São também de assinalar a Astrologia Uraniana, criada pelo alemão Alfred Witte (1878-1941), que usa oito planetas hipotéticos (sem existência real), e o Método Huber, criado pelo casal suíço Louise (n. 1924) e Bruno Huber (1930-1999), mais semelhante à prática tradicional, mas que recorre a uma técnica interpretativa própria (figuras geométricas, cores, etc.).

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 21-2.

Os ramos da Astrologia, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

O conhecimento Astrológico especializa-se em vários ramos, de acordo com o seu objeto de estudo. Existem quatro ramos principais: Astrologia Mundana, Astrologia Natal, Astrologia Horária e Eleições Astrológicas (por vezes designada Astrologia Eletiva).

A Astrologia Mundana estuda, como o nome indica, o mundo. Este ramo aborda temas como as civilizações, as movimentações humanas, a política, a economia, as guerras, as alterações sociais, etc., englobando assim todos os fenômenos do coletivo humano.

Por outro lado, estuda também todos os fenômenos naturais: terremotos, tempestades, secas, etc., sendo esta vertente conhecida como Astrologia Natural.

Este ramo da Astrologia interpreta os mapas dos ingressos anuais (o início das quatro estações do ano), dos eclipses e outros fenômenos celestes relevantes (por exemplo, os cometas), assim como os mapas de países e seus governantes.

A Astrologia Natal trata das natividades, ou seja, os nascimentos. O seu objeto de estudo é o ser humano, o seu comportamento, capacidades e dificuldades, os seus relacionamentos sociais e o seu destino.

A ferramenta principal da Astrologia Natal é a natividade, isto é, o mapa astrológico do nascimento do indivíduo em estudo.

A Astrologia Horária é o mais "divinatório" de todos os ramos, pois visa dar respostas a perguntas específicas, através da interpretação do mapa do momento exato em que a pergunta foi formulada. Por dar uma importância crucial ao momento, ou seja, à hora da pergunta, é denominada horária. Trata de questões de todo o tipo: obtenção de cargos e promoções, compra e venda de bens e propriedades, futuro de relações, questões legais, procura de objetos ou animais perdidos, etc. A sua ferramenta é o mapa do momento em que a questão foi colocada ao astrólogo, ao qual se aplica técnicas interpretativas específicas para cada questão.

As Eleições Astrológicas escolhem, ou elegem, o momento astrologicamente mais adequado para levar a cabo uma ação. Permitem escolher o momento certo para as mais variadas atividades, desde a fundação de um edifício à abertura de um negócio, passando pelo envio de uma mensagem, a marcação de um casamento, etc.

Enquanto nos outros ramos a figura mundana, natal ou horária é interpretada para se compreender a condição de uma nação, indivíduo ou questão, na eletiva procura-se "construir" a carta adequada para o resultado pretendido.


Existem ainda especializações da Astrologia que juntam instrumentos dos vários ramos.

Com o objetivo de compreender, diagnosticar e curar as doenças, a Astrologia Médica é a mais destacada destas especializações. Esta vertente da Astrologia utiliza a Horária e a Natal para diagnóstico do paciente, a Eletiva para determinar o melhor momento para um tratamento ou administração de remédios e, mais pontualmente, a Mundana para compreender a origem e o contexto geral do aparecimento da doença.

As regras astrológicas são comuns a todos os ramos. A diferença de interpretação advém do contexto a que as significações naturais dos planetas, signos e casas são aplicadas. Cada ramo comporta além disso um conjunto de técnicas adicionais que lhe são particulares.


Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 19-21.

A previsão, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

O desenvolvimento natural deste sistema é o conceito de previsão: se é possível interpretar os movimentos celestes para descrever a realidade presente, então também é possível antever os movimentos dos astros e, a partir deles, descrever a realidade futura; da mesma forma, é igualmente possível conhecer os movimentos anteriores dos astros e, por consequência, conhecer a realidade passada.

Assim, a Astrologia descreve a realidade presente, passada e futura, através dos movimentos dos corpos celestes e da sua relação com a Terra.

Aplicada primeiro aos fenómenos naturais e mais tarde aos de carácter político e individual, a previsão constituiu desde sempre o propósito central da Astrologia.


Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 18-9.

Os céus em movimento, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

O Sol, a Lua e os planetas são os únicos que vemos mover-se nos céus. O seu movimento modifica a aparência do céu a cada noite. Todos dias o Sol nasce e põe-se num ponto ligeiramente diferente do dia anterior; todas as noites a Lua cresce ou mingua e os planetas deslocam-se ligeiramente.

Devido à sua mobilidade, que contrasta com a aparente imobilidade das estrelas, estes astros são o grande referencial de mudança. São estas "peças móveis" que dinamizam o sistema astrológico. Este foi, aliás, concebido para prever e interpretar os seus movimentos.

Para além de se deslocarem em relação às estrelas, os planetas também participam na grande rotação diurna que "arrasta" o firmamento, com todos os seus astros, de nascente a poente, para voltar a erguer-se de novo a nascente, no espaço de um dia.

Para estudar o movimento em relação às estrelas, utiliza-se um sistema de coordenadas celestes: o Zodíaco, e as suas doze divisões, os signos. O movimento em relação ao horizonte é medido através de um sistema de coordenadas terrestres: as Casas astrológicas, que dividem o céu em segmentos a partir do horizonte.

Os movimentos dos astros são então medidos e qualificados de acordo com o seu posicionamento nestes sistemas de coordenadas. Por outras palavras: mede-se a posição dos astros nos signos e nas casas. Cada signo e cada casa têm o seu significado específico, que é combinado com o significado do astro, gerando a base da interpretação astrológica. Estes significados podem ser aplicados na descrição de todo o tipo de eventos — pessoais ou colectivos.

Desta forma, a Astrologia constitui-se como um sistema que descreve a realidade na Terra através dos movimentos celestes.

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 18.

A Astrologia, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

O mundo está em constante mudança.

Algumas mudanças são naturais e esperadas, pois tudo na Terra nasce, cresce, amadurece e morre. Outras mudanças são súbitas e inesperadas, recordando-nos que vivemos num mundo imperfeito, onde o caos e a angústia podem surgir a qualquer momento.

Só os céus, na sua imensidão, se mantêm imutáveis a nossos olhos; são por isso símbolos perenes de perfeição.

Contudo, mesmo na imutabilidade dos céus é possível perceber movimentos — o nascer e pôr-do-Sol, as fases da Lua, a deslocação dos planetas. "Como o Grande é medida do Pequeno", os movimentos do céu produzem efeitos na Terra — as marés, a sucessão das estações, as alterações do clima.

Entender os movimentos dos céus e suas implicações nos eventos da Terra foi, desde sempre, objectivo do Homem. Durante eras, observadores empenhados perscrutaram os céus, em busca de padrões e ciclos. Noite após noite, olhos atentos estudaram as subtilezas do movimento dos planetas. Igual atenção foi dada aos eventos da Terra, na tentativa de encontrar uma correlação.

A seu tempo, este esforço deu frutos, permitindo deduzir as leis que ligam o movimento dos astros aos eventos do mundo. O Homem encontrara a chave da Astrologia.

Muitas horas de estudo foram dedicadas a compreender e catalogar estas leis; muitos sábios dedicaram as suas vidas ao estudo deste conhecimento; muitas civilizações contribuíram para o seu desenvolvimento. Este estudo foi sempre tingido por um profundo sentimento de reverência face à grandiosidade da ordem celeste. E assim, durante milénios, o conhecimento astrológico constituiu o núcleo da explicação do Universo e do seu sentido.

O conhecimento cresceu e aprofundou-se, gerando um conjunto de leis coeso e estruturado, de grande precisão e eficácia. Tornou-se o sistema astrológico que chegou até nós através da Tradição.

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 17-8.

Sobre as Familiaridades entre os Países e as Triplicidades e Estrelas, por Ptolomeu

Das quatro formações triangulares reconhecidas no zodíaco, como demonstramos acima, a que consiste de Aries, Leão e Sagitário é do Noroeste, e dominada principalmente por Júpiter devido ao vento norte, mas Marte se junta a esta regência por causa do vento sudoeste. Aquela que é composta de Touro, Virgem e Capricórnio é do Sudeste, e, novamente, é governada primariamente por Vénus devido ao vento sul, mas em conjunto com Saturno por causa do vento leste. A que consiste em Gêmeos, Libra e Aquário é do Nordeste e é governada primariamente por Saturno, por causa do vento leste, e conjuntamente com Júpiter por causa do vento norte. O triângulo de Câncer, Escorpião e Peixes é do Sudoeste e é governado primariamente, devido ao vento sudoeste, por Marte, que rege conjuntamente com Vénus devido ao vento sul.

Já que as coisas são assim, e uma vez que nosso mundo habitado é divido em quatro quadrantes, igual em número aos triângulos, e é dividido latitudinalmente por nosso Mar, dos Estreitos de Hércules até o Golfo de Isso e os cumes montanhosos adjacentes no Leste, e devido a estes suas porções ao norte e ao sul são separadas; e na longitude pelo Golfo Arábico, o Mar Egeu, o Ponto e o Lago Maeotis, pelos quais as porções ao leste e ao oeste estão separadas, surgem quatro quadrantes, e estes concordam em sua posição com os triângulos. O primeiro quadrante está localizado inteiramente no noroeste do mundo habitado; ele abrange a Gália Celta e damos a ele o nome geral de Europa. Oposto a esta região está o quadrante sudeste, que inclui a Etiópia do leste, que seria denominada a parte sul da Ásia Maior. Mais ainda, o quadrante nordeste do mundo habitado é o que contém a Cítia, que da mesma forma é a parte norte da Ásia Maior; e o quadrante oposto a este e na direção do vento sudeste, o quadrante da Etiópia do oeste, é o que chamamos pelo termo geral de Líbia.

Novamente, de cada um dos quadrantes mencionados acima, suas partes que estão localizadas mais próximas do centro do mundo habitado são dispostas de uma forma contrária em relação aos quadrantes que as circundam, da mesma forma que estes últimos estão em comparação com o mundo inteiro; e, uma vez que o quadrante europeu está todo no noroeste do mundo, as suas partes perto do centro, que estão alinhadas ao ângulo oposto, obviamente estão situadas na região sudeste do quadrante. O mesmo é verdade para todos os outros quadrantes, de forma que cada um deles está relacionado a dois triângulos situados em oposição a eles, pois, enquanto as outras partes estão em harmonia com a inclinação geral do quadrante, as porções no centro do mundo têm familiaridade com a inclinação oposta, e, mais ainda, sobre as estrelas que governam em seus próprios triângulos, em todos os outros domicílios elas governam sozinhas, mas nas partes próximas ao centro, da mesma forma estão com o grupo, e além disso, Mercúrio, porque ele está no meio do caminho entre os dois séquitos e é comum a ambos.

Sob este arranjo, o restante do primeiro quadrante, ou seja, o quadrante europeu, situado no noroeste do mundo habitado, é similar ao triângulo noroeste, Áries, Leão e Sagitário, e é governado, como se deveria esperar, pelos senhores do triângulo, Júpiter e Marte, ocidentais. Em termos de nações inteiras, estas partes consistem da Bretanha, da Gália Transalpina, Alemanha, Bastárnia,ltália, Gália Cisalpina, Apúlia, Sicília, Tirrênia, Céltica e Espanha. Como se poderia esperar, é a característica geral destas nações, em razão da predominância dos triângulos e das estrelas que se juntam em seu governo, serem independentes, amantes da liberdade, com apreço pelas armas, industriosos, muito guerreiros, com qualidades de liderança, higiênicos e magnânimos. No entanto, por causa do aspecto ocidental de Júpiter e Marte, e além disso, porque as primeiras partes do triângulo mencionado acima são masculinas e as últimas femininas, eles não têm paixão por mulheres e desprezam os prazeres do amor, mas estão mais satisfeitos com e possuem maior desejo em relação a homens. E eles não consideram o ato como uma desgraça para a honra, nem, na verdade, se tornam afeminados ou moles por causa desta tendência, porque sua disposição não é pervertida, mas eles retêm em suas almas a hombridade, a utilidade, boa fé, amor do companheirismo e benevolência. Destes mesmos países, a Bretanha, a Gália Transalpina, a Alemanha e a Bastárnia são mais familiares com Áries e Marte. Assim, na maior parte dos casos, seus habitantes são mais ferozes, mais teimosos e bestiais. No entanto, a Itália, Apúlia, a Gália Cisalpina e a Sicília são mais familiares com Leão e com o Sol; portanto, estes povos são mais destros, soberanos, benevolentes e cooperativos. A Tirrênia, a Céltica e a Espanha são sujeitas a Sagitário e Júpiter, de onde vêm sua independência, simplicidade e amor por limpeza. As partes deste quadrante que estão situadas ao redor do centro do mundo habitado, Trácia, Macedõnia, Ilíria, Hélade, Acaia, Creta, e da mesma forma as Cíclades, e as regiões da costa da Ásia Menor e Chipre, que estão na porção sudeste do quadrante inteiro, têm, além do explicado acima, familiaridade com o triângulo do sudeste, Touro, Virgem e Capricórnio, e seus co-regentes, Vênus, Saturno e Mercúrio. Em consequência, os habitantes destes países são de um modo conforme com estes planetas no corpo e na alma e são de uma constituição mais combinada. Eles também possuem qualidades de liderança e são nobres e independentes, por causa de Marte; eles são amantes da liberdade e se auto-governam, são democráticos e feitores de leis, devido a Júpiter; amantes de música e do estudo, com apreço pelas competições e higiene, devido a Vênus; sociais, amigáveis em contato com o estrangeiro, amantes da justiça, com apreço pelas letras e muito eficientes na eloquência, por causa de Mercúrio, e são particularmente viciados em demonstrações de mistérios, por causa do aspecto ocidental de Vênus. Mais uma vez, parte a parte, os deste grupo que vivem nas Cíclades e nas costas da Ásia Menor e do Chipre são mais estreitamente familiares a Touro e Vênus; por estas razões eles são, no geral, luxuriosos, limpos e atentos ao próprio corpo. Os habitantes da Hélade, da Acaia e de Creta, no entanto, têm familiaridade com Virgem e Mercúrio, e são, portanto, melhores no raciocínio e amigos do estudo, e exercitam a alma, preferentemente ao corpo. Os macedônios, trácios e ilirianos têm familiaridade com Capricórnio e Saturno, de modo que embora eles sejam perdulários, não têm uma natureza mole, nem são sociáveis em suas instituições.

Sobre o segundo quadrante, que abrange a Índia, a Ariana, a Gedrósia, a Párcia, a Média, a Pérsia, a Babilônia, a Mesopotãmia e a Assíria, que estão situadas no sudeste do mundo habitado, são, como poderíamos supor, familiares ao triângulo sudeste, Touro, Virgem e Capricórnio, e são governadas por Vênus e Saturno em aspectos orientais. Portanto, veremos que as naturezas de seus habitantes estão em conformidade com os temperamentos governados por estes regentes; pois eles reverenciam a estrela de Vênus sob o nome de Isis, e a de Saturno pelo nome de Mithras Helios. A maior parte deles, também, prediz eventos futuros, e entre eles existe a prática de consagrar os órgãos genitais, por causa do aspecto das estrelas acima mencionadas, que por natureza é generativo. Além disso, eles são ardentes, concupiscentes e inclinados aos prazeres do amor; através da influência de Vênus eles são dançarinos, saltadores e amantes do adorno, e através da influência de Saturno, amantes da vida luxuosa. Eles realizam suas relações com as mulheres de forma aberta e não em segredo, por causa do aspecto oriental de Vênus, mas consideram detestável este tipo de relação com machos. Por estas razões muitos deles geram crianças com suas próprias mães, e eles fazem o que o peito lhes manda, em virtude do nascer matinal dos planetas e por causa da primazia do coração, que é próximo do poder do Sol. Em relação ao resto, são geralmente luxuosos e efeminados no modo de se vestir, de se adornar e em todos os hábitos relativos ao corpo, por causa de Vênus. Em suas almas e por sua predileção eles são magnânimos, nobres e afeitos à guerra, devido às familiaridades com Saturno oriental. Parte por parte, mais uma vez, Párcia, Média e Pérsia são mais estreitamente familiares com Touro e Vênus, portanto seus habitantes utilizam roupas bordadas, que cobrem todo o corpo exceto o peito e são de uma maneira geral luxuosos e limpos. Babilônia, Mesopotâmia e Assíria são familiares a Virgem e Mercúrio, e, portanto, o estudo da matemática e a observação dos cinco planetas são traços especiais destes povos. Índia, Ariana e Gedrósia possuem familiaridade com Capricórnio e Saturno; portanto, os habitantes destes países são feios, sujos e bestiais. As partes restantes do quadrante, situadas próximas do centro do mundo habitado, Idumeia, Síria Coelê, Judeia, Fenícia, Caldeia, Orquínia e Arábia Feliz, que estão situadas para o noroeste do quadrante inteiro, têm uma familiaridade adicional com o triângulo do noroeste, Aries, Leão e Sagitário e, além disso, possuem como co-regentes Júpiter, Marte e Mercúrio. Portanto, estes povos são, em comparação com os outros, mais hábeis no comércio e nas trocas; eles são mais inescrupulosos, covardes desprezíveis, traidores, servis e em geral inconstantes, devido ao aspecto das estrelas mencionadas. Destes, novamente os habitantes da Síria Coelê, da Idumeia e da Judeia são mais estreitamente familiares com Aries e Marte, e portanto estes povos são em geral ousados, sem Deus e armadores de esquemas. Os fenícios, caldeus e orquínios têm familiaridade com Leão e o Sol, de modo que eles são mais simples, mais afáveis, viciados em astrologia e acima de todos os outros homens adoradores do Sol. Os habitantes da Arábia Félix são familiares a Sagitário e Júpiter; isso explica a fertilidade do país, de acordo com seu nome, e sua variedade de temperos, e a graça de seus habitantes e seu livre espírito na vida diária, no comércio e nos negócios.

Sobre o terceiro quadrante, que inclui a parte norte da Ásia menor, as outras partes, incluindo a Hircânia, a Armênia, a Matiana, a Bactriana, a Caspéria, a Sérica, a Seuromática, a Oxiana, a Sogdiana e as regiões no nordeste do mundo habitado, são familiares com o triângulo nordeste, Gêmeos, Libra e Aquário, e são, como poderia se esperar, governadas por Saturno e Júpiter err aspecto oriental. Portanto, os habitantes destas terras adoram a Júpiter e Saturno, possuem muitas riquezas e ouro e são limpos e decentes em seu viver, educados e adeptos dos assuntos de religião, justos e liberais em suas maneiras, magnânimos e nobres de alma, odiadores do mal, passionais e prontos para morrer por seus amigos por uma causa santa e justa. Eles são dignos e puros em suas relações sexuais, pródigos no vestir, graciosos e magnânimos; estas coisas em geral são causadas por Saturno e Júpiter em aspectos do leste. Dessas nações, novamente, Hircânia, Armênia e Matiana são mais estreitamente familiares com Gêmeos e Mercúrio; e, portanto, são mais facilmente movidos e inclinados à trapaça. Bactriana, Casperia e Sérica são mais afins a Libra e Vênus, de modo que seus povos são ricos e seguidores das Musas, e mais luxuosos. As regiões de Sauromática, Oxiana e Sogdiana são familiares a Aquário e Saturno; estas nações são, portanto, menos gentis, estéreis e bestiais. As regiões remanescentes deste quadrante, que se localizam perto do centro do mundo habitado, Bitínia, Frigia, Cólquica, Síria, Comagenê, Capadócia, Lídia, Lícia, Cilicia e Panfília, uma vez que estão situadas no sudeste do quadrante, têm, além disso, familiaridade com o quadrante sudoeste, Câncer, Escorpião e Peixes, e seus co-regentes são Marte, Vênus e Mercúrio; portanto, aqueles que vivem nesses países geralmente adoram Vênus, como mãe dos deuses, a chamando por vários nomes, e Marte e Adônis, para quem eles também dão outros nomes, e eles celebram em sua honra certos mistérios acompanhados por lamentações. Eles são em alto grau depravados, servis, trabalhadores trapaceiros, podem ser encontrados em expedições mercenárias, pilhando e fazendo cativos, escravizando seu próprio povo e realizando guerras destrutivas. Devido à junção de Marte e Vênus no oriente, uma vez que Marte está exaltado em Capricórnio, um signo do triângulo de Vênus, e Vênus em Peixes, um signo do triângulo de Marte, surge que suas mulheres demonstram completa boa vontade em relação a seus maridos; elas são apaixonadas, cuidam da casa, diligentes, prestativas e em todos os aspectos trabalhadoras e obedientes. Destes povos, novamente, aqueles que vivem em Bitínia, Frigia e Cólquica são mais estreitamente familiares a Câncer e à Lua; portanto, os homens são geralmente cuidadosos e obedientes, e a maior parte das mulheres, devido à influência do aspecto oriental e masculino da Lua, são viris, comandantes e afeitas à guerra, como as Amazonas, que desprezam o comércio com os homens, amam as armas e desde a infância tornam masculinas todas as suas características femininas, ao cortar seus seios direitos por necessidades militares e deixando estas partes nuas na linha de batalha, para mostrarem a ausência de feminilidade em suas naturezas. Os povos da Síria, Comagenê e Capadócia são familiares a Escorpião e Marte; portanto, muita ousadia, engodo, traição e labor são encontrados entre eles. Os povos da Lídia, Cilicia e Panfília são familiares com Peixes e Júpiter, e portanto são mais saudáveis, comerciais, livres socialmente e confiáveis em seu acordos.

Sobre o quadrante restante, que inclui o que é chamado pelo nome comum de Líbia, as outras regiões, incluindo a Numídia, Cartago, África, Fazânia, Nasamonite, Garamântica, Mauritânia, Getúlia, Metagonite e as regiões situadas no sudeste do mundo habitado estão relacionadas, devido à sua familiaridade, com o triângulo sudoeste, Câncer, Escorpião e Peixes, e são, portanto, regidos por Marte e Vênus em seu aspecto ocidental. Por esta razão, a maior parte de seus habitantes, por causa da junção mencionada acima destes planetas, é governada por um homem e sua esposa, que são irmão e irmã, o homem governante dos homens e a mulher das mulheres, e uma sucessão desta forma é mantida. Eles são extremamente ardentes e dispostos ao comércio com mulheres, de forma que mesmo seus casamentos são feitos através de abduções violentas, e frequentemente seus reis aproveitam o jus primae noctis [direito da primeira noite] com as noivas, e entre alguns deles as mulheres são comuns a todos os homens. Eles são afeitos a se embelezarem, e se adornarem com adereços femininos, devido à influência de Vênus; pela influência de Marte, no entanto, eles são viris de espírito, trapaceiros, mágicos, impostores, enganadores e despreocupados. Desses povos, novamente, os habitantes da Numídia, de Cartago e da África são mais estreitamente familiares a Câncer e à Lua. Eles são, portanto, sociais, comerciantes e vivem em grande abundância. Os que habitam Metagonite, Mauritânia e Getúlia são familiares a Escorpião e Marte; eles são, portanto, mais agressivos e amantes da guerra, comedores de carne, muito descuidados e despreocupados com a vida a tal grau que não poupam nem uns aos outros. Aqueles que vivem na Fazânia, em Nasamonite e em Garamântica são familiares a Peixes e Júpiter, e, portanto, são livres e simples em suas características, com vontade de trabalhar, inteligentes, limpos e independentes, de uma forma geral, e são adoradores de Júpiter pelo nome de Amon. As partes restantes do quadrante, que estão situadas perto do centro do mundo habitado, Cirenaica, Marmárica, Egito, Tebas, o Oásis, Troglodítica, Arábia e a Etiópia Meridiana, que se voltam para o nordeste do quadrante inteiro, têm uma familiaridade adicional com o triângulo nordeste, Gêmeos, Libra e Aquário, e, portanto, possuem como co-regentes Saturno e Júpiter e, além desses, Mercúrio. Portanto, aqueles que vivem nestes países, porque todos eles em comum, por assim dizer, estão sujeitos à regência ocidental dos cinco planetas, são
adoradores dos deuses, supersticiosos, dados a cerimônias religiosas e afeitos à lamentação; eles enterram seus mortos, os pondo fora do alcance da visão, por causa do aspecto ocidental dos planetas; e eles praticam todos os tipos de usos, costumes e ritos a serviço de todos os tipos de deuses. Quando comandados eles são humildes, tímidos, penosos e suportam longos sofrimentos; quando lideram, são corajosos e magnânimos; são, no entanto, polígamos e poliândricos e dados à luxúria, casando-se até mesmo com suas próprias irmãs, e os homens são potentes na geração, as mulheres, na concepção, e até sua terra é fértil. Além disso, muitos dos homens são doentes e afeminados de alma, e mesmo alguns desprezam os órgãos de geração, devido à influência do aspecto dos planetas malignos em combinação com Vênus ocidental. Destes povos, os habitantes de Cirenaica e Marmárica, e particularmente do Baixo Egito, são mais estreitamente relacionados com Gêmeos e Mercúrio; por causa disto eles são ponderados, inteligentes e têm facilidades em todas as coisas, especialmente na busca da sabedoria e na religião; eles são mágicos, realizam ritos de mistérios secretos e são em geral versados em matemática. Aqueles que vivem em Tebas, no Oásis e na Troglodítica, são familiares a Libra e Vênus, portanto são mais ardentes e vivazes de natureza e vivem na abundância. Os povos da Arábia, Azãnia e Etiópia Meridional são familiares a Aquário e Saturno, e por essa razão são comedores de carne, de peixe e nômades, vivendo uma vida dura e bestial.

Essa foi a nossa exposição breve das familiaridades dos planetas e dos signos do zodíaco com as diversas nações e das características gerais desses últimos. Também exporemos, para uso imediato, uma lista das diversas nações que estão em familiaridade, em cada signo, de acordo com o que já foi dito acima sobre eles. Assim:

Aries: Bretanha, Gália, Germânia, Bastárnia; no centro, Síria Coelê, Palestina, Idumeia, Judeia.

Touro: Párcia, Média, Pérsia; no centro, as Cíclades, Chipre, a região costal da Ásia Menor.

Gêmeos: Hircânia, Armênia, Matiana; no centro, Cirenaica, Marmárica, Egito Menor.

Câncer: Numídia, Cartago, África; no centro, Bitínia, Frigia, Cólquica.

Leão: Itália, Gália Cisalpina, Sicília, Apúlia; no centro, Fenícia, Caldeia, Orquênia.

Virgem: Mesopotãmia, Babilônia, Assíria; no centro, Hélas, Acaia, Creta.

Libra: Bactriana, Caspéria, Sérica; no centro, Tebas, Oásis, Troglodítica.

Escorpião: Metagonite, Mauritânia, Getúlia; no centro, Síria, Comagenê, Capadócia.

Sagitário: Tirrênia, Céltica, Espanha; no centro, Arábia Félix.

Capricórnio: Índia, Ariana, Gedrósia; no centro, Trácia, Macedõnia, Ilíria.

Aquário: Sauromática, Oxiana, Sogdiana; no centro, Arábia, Azãnia, Etiópia Meridional

Peixes: Fazânia, Nasamonite, Garamântica; no centro, Lídia, Cilicia, Panfília.

Agora que o assunto estudado foi apresentado, é razoável adicionar a esta seção esta consideração posterior — que cada uma das estrelas fixas tem familiaridade com os países com os quais as partes do zodíaco que têm a mesma inclinação que elas (com relação ao círculo feito através de seus polos) exercem simpatia. Além disso, no caso de cidades metropolitanas, as regiões do zodíaco que são as mais simpáticas são as através das quais o Sol ou a Lua passaram (para os centros, especialmente o horóscopo), em sua fundação, como em uma natividade. No entanto, em casos em que o momento exato da fundação não pode ser descoberto, as regiões simpáticas são as que caem no meio do céu das natividades daqueles que tinham o poder ou eram os reis daquela época.


do Tetrabiblos, Ptolomeu.

Sobre as Características dos Habitantes dos Climas Gerais, por Ptolomeu

A demarcação de características nacionais é estabelecida, em parte, por paralelos e ângulos inteiros, através de sua posição relativa à eclíptica e ao Sol, pois, enquanto a região na qual habitamos é uma das regiões do norte, as pessoas que vivem sob os paralelos mais ao sul, ou seja, aqueles que vivem entre o equador e o trópico de verão, uma vez que eles têm o Sol sobre suas cabeças e são queimados por ele, possuem pele negra e cabelos grossos e como a lã, são contraídos na forma e encolhidos na estatura, de natureza sanguínea, e, quanto aos hábitos, são em sua maior parte selvagens, porque seus lares são continuamente oprimidos pelo calor; nós os chamamos pelo nome geral de Etíopes. Não apenas eles estão nesta condição, mas observamos também que o seu clima e os animais e plantas da sua região claramente fornecem evidência deste cozimento pelo Sol.

Aqueles que vivem sob os paralelos mais ao norte, aqueles, quero dizer, que tem as Ursas sobre suas cabeças, uma vez que estão muito afastados do zodíaco e do calor do Sol, são portanto resfriados; no entanto, porque eles possuem uma quantidade maior de umidade, que é mais nutritiva e não está, neste lugar, exaurida pelo calor, eles possuem a compleição branca, com os cabelos lisos, são altos e bem-nutridos, e de certa forma frios por natureza; eles também são selvagens em seus hábitos, porque seus locais de morada são continuamente frios. A característica invernal de seu clima, o tamanho de suas plantas, e a ferocidade de seus animais estão de acordo com essas qualidades. Nós os chamamos, também, por um nome geral, Citas.

Os habitantes da região entre o trópico de verão e as Ursas, no entanto, uma vez que o Sol não está nem diretamente sobre suas cabeças nem muito distante em seus trânsitos diurnos, partilham da temperatura moderada do ar, que varia, com certeza, mas não apresenta mudanças violentas do calor para o frio. Eles estão, portanto, em posição mediana na cor, possuem estatura moderada, são moderados por natureza, vivem bastante unidos, e são civilizados nos seus hábitos. Os mais ao sul entre eles são mais astutos e inventivos, e melhores versados nas coisas divinas porque seu zênite está mais perto do zodíaco e dos planetas que se movem sobre ele. Através desta afinidade os homens mesmos são caracterizados por uma atividade da alma que é sagaz, investigativa, e em conformidade com a investigação das ciências especificamente chamadas de matemáticas. Ainda a respeito deles, o grupo oriental é mais masculino, vigoroso e franco em todas as coisas, porque se poderia presumir razoavelmente que o oriente partilha da natureza do Sol. Esta região, portanto, é diurna, masculina, e destra, mesmo quando observamos que entre os animais também suas partes destras são mais conformes à força e ao vigor. Aqueles ao oeste são mais femininos, de alma mais mole, e dados a segredos, porque esta região, mais uma vez, é lunar porque é sempre no oeste que a Lua emerge e faz sua aparição após a conjunção. Por esta razão, o clima parece noturno, feminino, e, em contraste com o oriente, canhoto.

Agora, em cada uma destas regiões gerais, certas condições especiais de caráter e costumes naturalmente aparecem, assim como, no caso do clima, mesmo dentro de regiões que são consideradas quentes, frias, ou temperadas, algumas localidades e países possuem peculiaridades especiais de excesso ou deficiência em razão de sua situação, altitude, localização baixa ou proximidade. Desta forma, assim como alguns povos são mais inclinados à criação de cavalos porque seu país é constituído de planícies, ou às atividades marinhas porque vivem perto do mar, ou à civilização por causa da riqueza de seu solo, do mesmo modo se descobriria traços especiais surgindo da familiaridade natural dos seus climas particulares com as estrelas nos signos do zodíaco. Esses traços, também, seriam encontrados de forma geral, mas não em todos os indivíduos. Devemos, então, tratar brevemente do assunto, na medida em que seja útil para o propósito das investigações particulares.

do Tetrabiblos, Ptolomeu.

Lua, por Marcos Monteiro

Não é preciso descrevê-la, mesmo para os leitores que vivem em cidades grandes. Se você consegue ler isso, já viu a Lua e provavelmente já leu algum romance, conto ou poema que a mencione.

Sua cor prata/branca é conhecida. Ela é um dos dois únicos planetas astrológicos cuja imagem tem extensão. Seu ciclo ao redor do Zodíaco dura aproximadamente 28 dias, sendo o corpo mais rápido do céu.

Ela também é o único astro que tem fases contínuas. Da conjunção com o Sol (Lua nova), na qual ela some no céu, a Lua vai lentamente retomando seu formato até formar um disco perfeito (Lua cheia), na oposição ao Sol; isso não dura, no entanto, porque assim que ela atinge o ponto máximo, volta a diminuir até sumir de novo, no fim do ciclo.

A Lua nunca fica retrógrada — ou seja, ela nunca parece se mover no sentido contrário ao do céu, mas varia bastante de velocidade.

Sua "dança" com o Sol é bastante óbvia. Ela muda de forma de acordo com a sua posição com relação a ele; o ciclo do Sol marca o ano, o da Lua os meses (que são doze; o Sol passa por um signo enquanto a Lua passa pelo Zodíaco); assim, ela é considerada a consorte do Sol. Ou seja, sempre que o contexto permitir, ela significa a esposa do que o Sol significar (a mulher, a mãe, a rainha). A prata é associada à Lua — além da coloração igual, a Lua tem associação com os lagos e espelhos d'água, enquanto a prata era o metal feito para fabricar espelhos.

A associação da Lua à mulher e ao ciclo menstrual é clara, como também à água e ao ciclo das chuvas e às marés — a Lua é o único planeta fluido, que se esvazia e enche continuamente.

A Lua também (por ser o planeta que "nasce" todo mês) é associada aos bebês. Também significa nutrição (por ser o planeta que cresce) e, assim, a mãe. Bebês e mães: lar, família, nutrição, carinho, aconchego, proteção.

Ela é fria e úmida (fleumática), como a água. É um planeta noturno e feminino.

Os alimentos associados à Lua são os com sabor fraco (aguados) e suculentos (pepinos, tomates, sopas em geral), com muita água, ou que vieram da água (ostras, caranguejos), ou aqueles cujo formato é "lunar" (abóboras e repolhos).

Animais lunares são os aquáticos, relacionados à água, ou redondos.

As plantas lunares são as redondas, suculentas, ou as plantas aquáticas.

A Lua é o planeta mais próximo da Terra, então ela é considerada a "ligação" entre os demais planetas e o nosso mundo. Ela é considerada o "fluxo dos eventos" e é normalmente o co-significador da pessoa que faz a pergunta em astrologia horária.

Como ela é a esposa do Sol, é o significador natural da mente (como a esposa, ou o espelho, do Sol, o Espírito, a Luz divina), da poesia (como expressão das verdades do Sol).

Das sete artes liberais, ela está ligada à gramática, à arte da oração, da expressão. Das virtudes, é dela a esperança, a virtude que sempre se renova. Dos pecados, o associado com o planeta mais rápido é a preguiça.

Marcos Monteiro, in Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013, p. 107-8.

Planetas - Os Agentes Cósmicos, por Marcos Monteiro

Os signos são as possibilidades máximas de manifestação no mundo; são as direções do espaço, os esquemas de possibilidades.

Num sentido, são a parte mais real do céu, porque são a parte imutável, incorpórea, perfeita.

No entanto, vistos aqui de baixo, eles são o pano de fundo, o cenário, os lugares ou as qualidades do céu. São passivos, inativos, desde a nossa perspectiva.

Os agentes astrológicos, que se movem e se influenciam, são os planetas.

Eles são, por assim dizer, cristalizações, ou versões concretas, dos signos num outro plano, mais próximo de nós.

Isso vai ficar claro mais tarde, mas podemos dizer que os planetas são os signos realizados, ou corporificados.

É mais fácil de entender isso se recorrermos mais uma vez ao simbolismo numérico. O número doze está associado às tribos de Israel (as possibilidades de manifestação do homem, da vida humana), aos trabalhos de Hércules (o herói solar que atualiza todas as possibilidades do homem para ascender ao céu), os doze apóstolos (para anunciar a Boa-Nova a toda a terra, a todos os tipos de gente).

O número associado a coisas inteiras, a conjuntos reais completos, no entanto, é o sete. Ele está associado a divisões internas da mente ou da alma. As sete notas musicais, as sete artes liberais, os sete pecados capitais, as sete virtudes, etc.

Sete é a soma de três e quatro (enquanto doze é a sua multiplicação), porque não se trata de mostrar o panorama completo da criação, mas mostrar as coisas criadas, tais como existem. São os aglomerados de faculdades, ou de partes, que encontramos no mundo: as pessoas, os animais, as coisas, etc.

Eu dou uma lista abaixo com os sete, descrevendo suas qualidades mais evidentes, seus significados mais comuns e algumas associações mais óbvias.

Antes disso, vamos lembrar de algumas coisas.

Os planetas em astrologia são: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.

Astronomicamente, a Lua é um satélite da Terra e o Sol é a estrela central do sistema solar. Isso não invalida o que eu disse acima. Os dois são em vários sentidos mais importantes que os outro cinco, mas, astrologicamente, também são planetas.

Eu menciono primeiro as qualidades visíveis, porque é a partir delas que as associações são feitas, como expliquei nos capítulos anteriores. Este é um dos problemas com corpos (como planetas astronômicos) que não sio visíveis a olho nu, asteroides e outros corpos reais e fictícios. Eu falo um pouco deles mais tarde, mas desde já fica claro: eles não precisam ser ignorados, seu uso não é impossível, mas astrologicamente não são planetas.


Marcos Monteiro, in Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013, p. 104-6.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Do planeta Saturno e os seus significados, por William Lilly

Nomes — É geralmente chamado Saturno, mas em alguns autores Chronos, Phaenon, Falcifer.

Cor — É o mais supremo ou mais elevado de todos os planetas; está colocado entre Júpiter e o firmamento, não é muito brilhante ou magnífico, nem bruxuleia, sendo de uma cor pálida, branca ou cinza chumbo, lento de movimento, completando o seu percurso através dos doze signos do zodíaco em 29 anos, 157 dias ou perto disso;

Movimento — o seu movimento médio é de dois minutos e um segundo; o seu movimento diurno é por vezes de três, quatro, cinco ou seis minutos, raramente mais;

Latitude — a sua maior latitude Norte da eclíptica é dois graus e 48 minutos; a sua latitude Sul da eclíptica é de dois graus e 49 minutos; e não os ultrapassa.

Domicílios — No zodíaco, tem dois dos doze signos como seus domicílios, viz. Capricórnio o seu domicílio noturno, e Aquário o seu domicílio diurno; tem exaltação em Libra e sofre a sua queda em Áries; rejubila no signo de Aquário.

Triplicidade — Governa a triplicidade do ar durante o dia, que é composta pelos signos de Gêmeos, Libra e Aquário;

Termos - nos doze signos foram atribuídos por Ptolomeu estes graus aos seus Termos (veja figura).


O seu significado é que, em qualquer pergunta, se Saturno estiver em qualquer destes graus em que tem um termo, não poderá ser considerado peregrino, ou vazio de dignidades essenciais;

Decanato - ou se estiver em qualquer dos graus que são atribuídos à sua face ou decanato, tampouco poderá ser então considerado peregrino; entenda-se isto para todos os outros planetas.


Permanece retrógrado durante 140 dias.

Está cinco dias na sua primeira estação antes da retrogradação, e outros tantos na sua segunda estação antes da direção.

Natureza — É um planeta diurno, frio e seco (visto estar tão longe do calor do Sol) e de vapores úmidos, melancólico, terreno, masculino, a grande infortuna, autor da solidão, malévolo, etc.

Modos e atos, quando bem dignificado - É então profundo na imaginação, severo nos seus atos, reservado nas palavras, muito parco no falar e no dar, paciente no trabalho, grave na argumentação e na disputa, estudioso e solícito na obtenção dos bens desta vida, austero em todo o tipo de atos.

Quando mal dignificado — É então invejoso, ambicioso, ciumento e desconfiado, medroso, sórdido, superficial, dissimulado, preguiçoso, suspeitoso, teimoso, desdenhoso das mulheres, mentiroso, maldoso, maledicente, nunca contente, sempre queixoso.

Corpo físico — Na maioria das vezes o seu corpo é frio e seco, de estatura média; a sua tez é pálida, escura ou lamacenta, os seus olhos pequenos e pretos, olhando para baixo, uma testa ampla, cabelo preto ou escuro, áspero ou grosseiro, grandes orelhas, sobrancelhas baixas e descaídas, lábios e nariz grossos, uma barba esparsa ou rala, um rosto pesado, desagradável, caminhando com a cabeça para a frente ou encurvando-a, os seus ombros são largos e grandes, e muitas vezes curvos, a sua barriga um tanto curta e flácida, as suas coxas secas, magras e curtas; os seus joelhos e pés indecentes, muitas  vezes arrastando-se ou batendo um contra o outro, etc.

Saturno Oriental — Deve-se observar se Saturno está oriental do Sol, a estatura sendo então mais baixa, mas decente e bem composta.

Ocidental — A pessoa é mais escura e magra, e tem menos pelos; e mais uma vez, se lhe falta latitude, o corpo é mais magro, se tem grande latitude, o corpo é mais gordo ou carnudo; se a latitude for meridional ou Sul, mais carnudo, mas rápido de movimentos.

Se a latitude for Norte, cabeludo e muito carnudo.

Saturno na sua primeira estação, um pouco gordo.

Na sua segunda estação, gordo, corpos com mau aspecto e fracos; e isto deve ser observado constantemente com todos os outros planetas.

Qualidade dos homens — Em geral significa lavradores, rústicos, pedintes, jornaleiros, velhos, pais, avôs, monges, jesuítas, fanáticos.

Profissão — Curtidores de couros, coletores noturnos, mineiros subterrâneos, latoeiros, oleiros, varredores, canalizadores, fabricantes de tijolos, fabricantes de malte, limpa-chaminés, acólitos das igrejas, carregadores dos mortos, trabalhadores do lixo, estalajadeiros, carvoeiros, carroceiros, jardineiros, cavadores de trincheiras, merceeiros, tintureiros de panos pretos, guardadores de gado, pastores ou vaqueiros.

Doenças — Todos os impedimentos do ouvido direito, dentes, todas as sezões quartãs resultantes de indisposições frias, secas e melancólicas, lepras, reumas, tísicas pulmonares, icterícias negras, paralisia, tremores, medos vãos, fantasias, hidropisia, gota da mão e do pé, apoplexias, excesso de fluxo das hemorróidas, hérnias se estiver em Escorpião ou Leão, em qualquer mau aspecto com Vênus.

Sabores — Ácidos, amargos, agrestes; no corpo humano, rege principalmente o baço.

Ervas — "Bearsfoot", "starwort", acônito (variedade de arnica), conio, feto, heléboro branco e negro, meimendro, ceterach, bardana, cenoura branca, serpentária, pulsatilla, verbena, mandrágora, papoila, musgo, soloano (erva moira), angélica, salva, buxo, atriplex, espinafres, bolsa de pastor, cuminhos, equisetum, fumaria officinalis.

Plantas e Árvores — Tamargueira, juniperus sabina, cassia, alcaparras, arruda, polipódio, salgueiro, teixo, cipreste, cânhamo, pinheiro.

Animais, etc. — O burro, gato, lebre, rato, toupeira, elefante, urso, cão, lobo, basilisco, crocodilo, escorpião, sapo, serpente, víbora, porco, todo o tipo de criaturas rastejantes que se alimentam da putrefação, seja da terra, da água ou das ruínas das casas.

Peixes — A enguia, tartaruga, crustáceos.

Pássaros — O morcego, corvo, coruja, mosquito, garça, pavão, gafanhoto, tordo, melro, avestruz, cuco.

Lugares — Deleita-se nos desertos, florestas, vales obscuros, cavernas, esconderijos, buracos, montanhas, ou onde os homens foram enterrados, cemitérios, etc. Edifícios em ruínas, minas de carvão, lugares lamacentos ou malcheirosos, poços, etc. Minerais — Rege o chumbo, magnetite, restos de todos os metais, assim como o pó e o desperdício de todas as coisas.

Pedras — Safira, lápis-lazúli, todas as pedras do campo pretas e feias que não se podem polir e que têm uma cor triste, cinzenta ou escura.

Tempo — Produz um ar enevoado, escuro e obscuro, frio e incomodativo, nuvens espessas e escuras; mas direi mais sobre isto em particular num tratado só sobre o assunto.

Ventos — Delicia-se no quadrante Leste do céu e provoca ventos de Leste; à hora de apanhar qualquer planta a ele pertencente, os antigos costumavam virar os seus rostos para Leste na sua hora, estando ele, se possível, num ângulo, no ascendente, ou na dez, ou na onze, a Lua aplicando-se-lhe com um trígono ou sextil.

Orbe — A sua orbe é de nove graus antes e depois; ou seja, a sua influência começa a funcionar quando ele se aplica, ou qualquer planeta se aplica a ele, e está dentro de nove graus do seu aspecto, e continua em força até que se encontre a nove graus de separação desse aspecto. Na gestação, rege o primeiro e o oitavo mês depois da concepção.

Anos — Os anos máximos por ele significados são 465. Os maiores, 57. Os médios, 43 e meio. Os mínimos, 30.

O significado disto é o seguinte: Admitamos que levantamos um novo edifício, erigimos uma vila ou cidade, ou uma família, ou principado tem início quando Saturno está essencialmente ou acidentalmente forte, o astrólogo pode provavelmente conjecturar que a família, principado, etc., poderão gozar de honra durante 465 anos, etc., sem qualquer alteração sensível; assim também, se na natividade de alguém Saturno estiver bem dignificado e for senhor da genitura, então de acordo com a natureza, poderá viver 57 anos; se estiver medianamente dignificado, então o nativo viverá apenas 43; se ele for senhor da natividade, mas fraco, a criança poderá viver 30 anos, não mais; pois a natureza do Saturno é fria e seca, e essas qualidades são destrutivas para o homem, etc. Quanto à idade, diz respeito a velhos decrépitos, pais, avôs, o mesmo no respeitante a plantas, árvores e a todas as criaturas vivas.

Países — Autores falecidos dizem que ele rege a Bavária, Saxônia, Stíria, Romandiola, Ravenna, Constância, Ingolstad.

Anjo — É Cassiel, ou Captiel.

Os seus amigos são Júpiter, Sol e Mercúrio, os seus inimigos Marte e Vênus. Dizemos que Sábado é o seu dia porque é então que ele começa a reger ao nascer do Sol, regendo a primeira e a oitava horas do dia.


William Lilly, in Astrologia Cristã, p.57-61.

Aprender Astrologia. por Helena Avelar e Luis Ribeiro

Para os que se propõem aprender Astrologia, é fundamental que os primeiros passos sejam firmes, pois serão eles que traçarão o rumo de estudos futuros. Por isso mesmo, o estudante deve ter uma ideia bem clara da natureza e especificidade do conhecimento que se propôs estudar; deve conhecer a sua História, a sua Filosofia e os seus Princípios.

E por isso fundamental clarificar desde a primeira hora alguns pontos importantes.

Antes do mais, há que reiterar aquilo que deveria ser óbvio: a Astrologia estuda-se. Tem leis, regras e postulados, que a definem enquanto corpo de conhecimento coeso e funcional. Estas regras têm de ser aprendidas pelo estudante, tanto no aspecto teórico como na sua aplicação prática. É um corpo de conhecimentos vasto, rico e sólido, que requer dedicação e tempo para ser devidamente assimilado.

Igualmente importante é saber reconhecer a Astrologia como um campo específico do conhecimento. O seu objecto de estudo é a correlação entre os movimentos celestes e os eventos terrestres. Para alcançar este objectivo dispõe de regras próprias (como já mencionámos), bem como de técnicas e instrumentos que lhe são específicos. E da correcta aplicação destas regras, leis e conceitos que nasce a interpretação astrológica.

O estudante deve conhecer bem estas regras e estas técnicas para saber distinguir o que é e o que não é Astrologia.

Outro conceito a ter em mente é que a Astrologia é autónoma. Não precisa de recorrer a outras áreas, nem para se definir nem para demonstrar funcionalidade. E um conhecimento coeso e auto-suficiente.

Finalmente, importa compreender que a Astrologia tem aplicações práticas. E certo que contém uma estrutura metafísica e filosófica de grande riqueza e profundidade, mas esta não a limita ao campo teórico nem ao domínio exclusivo do simbolismo. É um conhecimento vivo, passível de ser aplicado e testado. Na sua acepção mais vasta, a Astrologia é uma linguagem, uma descrição da realidade. Gera descrições objectivas, aplicáveis às mais diversas áreas de vida e capazes de abarcar todo o tipo de temas, dos mais mundanos aos mais transcendentes.

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 16.

A Astrologia Hoje (Continuação do Prefácio de "Tratado das Esferas", por Susan Ward

A recuperação da Tradição reveste-se de grande importância no momento actual, uma vez que a Astrologia se tornou um fenómeno de moda, amplamente integrado na cultura popular. Consultar um astrólogo ou estudar Astrologia é já hoje quase prática comum, que ninguém estranha. Esta integração tem contribuído para "desempoeirar" o tema, antes olhado com suspeita e medo, mas tem também acarretado alguns inconvenientes graves, entre eles a vulgarização, que leva à diminuição da qualidade e ao nivelamento por um padrão mediano.

Em consequência, qualquer um pode hoje opinar livremente sobre Astrologia, por mais ignorante ou disparatada que seja a sua opinião, pois poucos têm conhecimentos suficientes para detectar (e muito menos para contrapor) as incoerências. A Astrologia tornou-se uma "zona franca" para todo o tipo de oportunismos e especulações. Na verdade, muito do que hoje toma o nome de "astrologia" — e é aceite como tal pela grande maioria dos estudantes — não passa de uma mistura atabalhoada de ideias desconexas, vagamente suportadas pela simbologia astrológica.

A desinformação é tão generalizada que muitos dos praticantes julgam, de boa fé, estar a fazer um trabalho válido, sem terem a noção de que a "astrologia" que lhes ensinaram é confusa, incompleta e medíocre em fundamentos sólidos.

De facto, muitos dos actuais "sistemas astrológicos" apostam extensamente em abordagens "terapêuticas" e "psicológicas" (por vezes com assustador amadorismo e irresponsabilidade), relegando para segundo ou terceiro planos a Astrologia propriamente dita.

Hoje, em plena Era da Informação, é quase impossível obter informações fidedignas sobre Astrologia. O excesso de informação gera uma massa indefinida de abordagens e práticas, onde a "astrologia" surge como mero suporte, e cada vez mais rarefeita. Em suma, cada vez há mais "astrólogos" e cada vez menos Astrologia.

A prática astrológica comum tornou-se demasiado simplificada do ponto de vista técnico e demasiado complicada ao nível dos conceitos: enquanto as regras e fundamentos astrológicos se reduzem cada vez mais à "receita" generalista, as "interpretações" vão-se envolvendo numa nuvem cada vez mais confusa de espiritualidades, psicologias e sistemas metafísicos avulsos.

É essencial que a Astrologia preserve a sua coesão e profundidade. Deixar que o conhecimento astrológico se desvirtue é mutilar o nosso legado cultural. Pela nossa parte, não consentiremos essa perda nem aceitaremos passivamente essa mutilação.

Este livro é parte do nosso contributo para a dignificação e preservação da Astrologia. Impunha-se um trabalho pedagógico, organizado e abrangente, que oferecesse aos estudantes um bom método de aprendizagem. Este é um passo essencial, pois só quem aprende correctamente pode mais tarde praticar correctamente.

Este é, portanto, um trabalho dedicado aos que honram a Astrologia, praticando-a de forma correcta, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista ético. E através deles que é preservado o legado cultural da Astrologia, permanecendo vivo, tanto para a geração presente como para as vindouras.

A Astrologia será no futuro o que dela fizermos hoje.

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 14-5.

Prefácio de "Tratado das Esferas - Um guia prático da tradição astrológica", por Susan Ward

Tendo em conta o vasto manancial de obras de temática astrológica actualmente disponível, poderá parecer ao observador casual completamente supérflua a edição de ainda mais um título. Eu estaria certamente de acordo, não fosse o caso de se ter passado muito tempo desde que uma obra desta importância tenha sido publicada — seja em que língua for.

Um crescente número de edições tem vindo, nos últimos anos, a concentrar a sua atenção sobre o Sistema Astrológico que abrange o que é usualmente denominado de "a Tradição". Desconheço, no entanto, qualquer autor, ou autores, que tenham empenhado tamanhos recursos pessoais necessários à elaboração de uma obra com esta abrangência e profundidade. Este tipo de dedicação é apenas encontrada em quem ama verdadeiramente esta Arte, amor esse, por sua vez, apenas encontrado naqueles que descobriram, através de um aturado e árduo trabalho, a radiosa beleza da Astrologia. E que uma vez presenciada não permite retorno: temos necessidade de mais — de ver mais, de entender mais — necessidade essa que é, na minha opinião, a força motriz desta obra.

A Astrologia é, a meu ver, uma Arte Divina, um dom a ser enobrecido pelo praticante. A gratidão por esta dádiva expressa-se através do que o Artista nos dá de si próprio, e que deve sempre igualar, no mínimo, o que lhe foi dado. Utilizando esta bitola torna-se transparente, a partir do que nos é dado pelos autores nesta obra, o muito que receberam da Astrologia. E com o tanto que obtiveram, partilham-no com quem seja que se debruce atentamente sobre este seu trabalho.

E que grande sorte a vossa, caros leitores, pois eu bem sei quanto custa produzir uma obra desta envergadura académica. Não se trata de uma mera cópia, nem de nenhuma simples tradução de alguma obra em Latim ou Inglês. Estamos antes perante uma cabal exposição desse Sistema e seus métodos, que tanto estudo assíduo e cuidadoso tem exigido aos seus autores, e apenas alcançável a partir de um profundo conhecimento e grande respeito pela bem-amada Arte.

Raramente encontro razões válidas para recomendar obras contemporâneas de Astrologia, a maioria oferecendo escassa substância e dúbia veracidade. No entanto, aconselho-vos, neste caso particular, a guarblicação do livro Astrologia Cristã, do inglês William Lilly (1602-1681), e a tradução de várias obras da época helenística e medieval.

Estes livros trouxeram aos estudantes e praticantes contemporâneos a noção de que a prática astrológica antiga era muito mais complexa e rica que a actual. Esta descoberta motivou uma vaga de estudos e traduções de obras antigas que, aos poucos, revelaram a prática da Astrologia em todo o seu esplendor: uma disciplina académica de grande riqueza e profundidade, capaz de gerar interpretações de inigualável precisão, em qualquer área da experiência humana.

Os que prosseguiram estes estudos empregaram a expressão "Astrologia Tradicional" para distingui-la da astrologia contemporânea (reconstruída sobre bases incompletas em finais do século XIX e que entretanto já dera origem a uma miríade de abordagens divergentes).

Como a Astrologia Tradicional surgiu neste cenário de múltiplas linhas, houve quem a confundisse com mais uma abordagem, entre as muitas que já existiam. Contudo, o termo "Astrologia Tradicional" refere-se não a mais um "tipo de astrologia", mas sim à própria Astrologia. Vem reatar a prática astrológica segundo a Tradição, devolvendo-lhe a sua grandeza e dignidade.

Este retomar da Tradição permite ao estudante contemporâneo contactar as fontes da sua arte e fundamentar a sua prática sobre bases sólidas e perenes; oferece-lhe a possibilidade de partilhar da experiência que incontáveis praticantes da arte nos legaram.

No nosso percurso estudámos e praticámos as versões modernas da Astrologia, nas suas vertentes psicológica, esotérica e outras. No entanto, foi na Tradição que encontrámos um sistema completo e eficaz, que nos permitiu alcançar aquilo que sempre procurámos: a essência da Astrologia.

Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 13-4.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Sobre Signos e Elementos, por Marcos Monteiro

Quando falamos no quaternário, temos quatro elementos e quatro triplicidades (quatro "trincas" de signos com o mesmo elemento).

Os signos de fogo são quentes e secos. São signos masculinos, ativos, diurnos. No clima, significam tempo quente e seco, Sol, calor. Não são férteis (variam entre estéreis — Leão — e pouco férteis — Sagitário e Áries). O fogo não se mistura, não conecta — os signos de fogo não significam conexão, comunicação, nem compensação.

Áries é o signo de fogo infantil, ou jovem. Leão é fogo adulto ou maduro. Sagitário é o fogo velho.

Os signos de Terra são femininos, noturnos, frios e secos. Significam frio mas sem chuva. Também não são férteis (Virgem é um dos três signo; completamente estéreis do Zodíaco, junto com Leão e Virgem); a "terra' não é a terra preta adubada, o elemento terra é frio e seco, não é propício para coisas crescerem — é mais fácil pensar em uma pedra. Significam recolhimento, separação, quebra de conexões, repouso.

Touro é o signo fixo da Terra, é a terra jovem, porque é na juventude que gozamos a vida sem preocupações, que fruímos a vida. Virgem é o signo adulto ou maduro da terra, porque esse repouso, esse debruçar-se sobre uma ideia para extrair tudo dela, é típico da maturidade. Capricórnio é a terra velha. É hora de recolher as coisas, de entrar em casa e manter-se aquecido. É o signo que traz a "novidade" final — a velhice, o repouso do fim da vida, suportando as dificuldades.

Os signos do ar são masculinos, diurnos, ativos, quentes e úmidos. No clima, significam vento — são úmidos, mas dificilmente significam água. São signos vocais — Aquário é de voz fraca, Libra e Gêmeos, de voz alta (Virgem também, apesar de não ser signo de ar, é de voz alta, pela influência de Mercúrio). São signos humanos (mais uma vez, junto com Virgem). São signos de conexão, socialização, atividades humanas — uma imagem (simplificada) seria: Gêmeos é uma escola infantil, Libra uma reunião diplomática, Aquário uma reunião de cúpula.

Gêmeos é o signo infantil do ar. Libra é o ar adulto; chama a atenção para si mesmo — as idéias, impressões e experiências aprendidas em Gêmeos são articuladas num discurso coerente. Aquário é o ar velho. Signo fixo, da influência do pensamento no mundo. Aqui, tudo já foi aprendido, confrontado, pesado e medido: o plano está pronto.

Essa é, no fundo, a ideia da "Era de Aquário". Embora a noção de "eras" seja uma coisa estranha (se baseia na precessão dos equinócios, é um negócio muito mal definido), a era de Aquário até combina com a nossa época — a era das ideologias, da desinformação, do excesso de informações inúteis, dos governantes inacessíveis, etc.

Os signos de água são frios e úmidos, femininos, noturnos e férteis. Significam chuva, umidade, tempo frio e úmido. A água, aqui, não é a das garrafas na geladeira, mas a do oceano — frio, úmido, inconstante, incontrolável: o desejo humano, as emoções. Os três são signos férteis e mudos.

Câncer é a água jovem. É quando a água chama a atenção para si — o choro da criança, a visão de uma mulher grávida. Escorpião é a influência da água sobre o mundo, a água adulta: o adulto já tem discernimento sobre seus desejos e sabe o que quer. É o signo oposto a Touro, porque Touro é fruição, repouso, enquanto Escorpião é êxtase e tensão. Touro quer permanecer em si, Escorpião quer sair de si. Peixes é a água velha — é o signo que fecha o ano (astrológico); depois que as emoções nasceram, foram testadas no confronto com o mundo, Peixes é o signo no qual elas são lembradas, saboreadas e realizadas. É o signo oposto a Virgem, aqui ninguém ensaia e pratica a mesma coisa até à exaustão, até a perfeição.

Existem outras divisões dos signos (entre os signos que não são nem estéreis nem férteis, há uma graduação entre moderadamente férteis e moderadamente estéreis; Aries, Touro, Leão e Peixes são chamados de mutilados ou aleijados, Aries, Touro, Leão, Sagitário e Capricórnio são bestiais, etc), que não são tão básicas. O fundamento da maior parte dessas outras divisões são, no fundo, o que expliquei acima.

A caracterização dos signos é extremamente importante para se entender o resto do modelo astrológico — os aspectos, os planetas, etc.

O mais importante, por outro lado, é entender o que são os signos. É imprescindível ter em mente que a atribuição de personalidades aos signos é, no melhor caso, um exagero didático. Leão não é vaidoso, Touro não é tranqüilo, Gêmeos não é falante — signos não são pessoas, nem seres animados de qualquer forma.

Os signos têm relações — chamadas de dignidades e debilidades — com os planetas, que serão explicadas quando eu tratar destes astros.

Vamos ver, antes, um tipo de relações que os signos têm entre si que se refletem nas relações que os planetas podem ter entre si: os aspectos.

Marcos Monteiro, in Introdução à Astrologia Ocidental, Edição do Autor, 2013, p. 97-9.