domingo, 10 de julho de 2016

O que é na Verdade o Zodíaco? por Dane Rudhyar





Poderíamos facilmente prosseguir com nosso estudo do significado atribuído aos signos do zodíaco, isoladamente e em seus agrupamentos tradicionais, mas fazer isso seria tomar as coisas por certas e fugir, na verdade, do enfrentamento de sérios problemas relacionados com o zodíaco e o lugar que ele ocupa em qualquer sistema coerente e holisticamente lógico de interpretação astrológica. Por isso precisamos voltar aos fundamentos e tentar aprofundar o que são os fatos realmente envolvidos com o estabelecimento de um zodíaco.

O zodíaco ptolomaico já foi descrito como um cinturão de fogo criativo envolvendo a Terra e focalizado sobre a Terra principalmente pelo Sol e secundariamente pelos planetas. O centro desse cinturão de fogo é a eclíptica, o caminho visível do Sol. Os signos do zodíaco são identificados com as constelações (ao menos na astrologia pré-ptolomaica), bem como com hierarquias celestes de "construtores cósmicos". Estas hierarquias constituem coletivamente a Mente Universal, a energia operacional criativa do macrocosmo. O zodíaco como um todo é uma enorme lente cósmica que focaliza sobre a Terra os poderes combinados das hierarquias, com isso fazendo da Terra como um todo, ou do Homem total, um microcosmo.

A medida que o Sol passa, por ordem, pela frente das doze constelações zodiacais, os processos operacionais de vida na Terra são iniciados e levados à completação. Primavera e outono são pontos de partida lógicos, já que na zona temperada eles marcam mudanças definitivas de estação e alteram a fisionomia da superfície da Terra através do efeito das estações sobre a vegetação. Este fato óbvio fica mais preciso pela medida das mudanças de localização do nascente e do poente. O Sol se põe em seu ponto mais próximo ao sul no solstício de inverno; então ele se "move para o norte" (e também mais para perto do zênite) até alcançar seu ponto mais próximo ao norte no solstício de verão. Assim o ano solar normalmente se divide em duas metades: "quando o Sol se move para o norte" e "quando o Sol se move para o sul". A primeira metade é espiritual, a segunda material — na maioria dos sistemas oculto-mitológicos. Os pontos equinociais, por outro lado, representam pontos de equilíbrio, sendo o tempo em que o Sol parece estar parado.

Nestes sistemas antigos, o ano inteiro é visto como um grande drama sinfônico de integração, sob a regência suprema do Sol e com trabalho secundário executado pelos solistas celestes: os planetas. Este é um drama de integração coletiva, afetando a raça como um todo, o planeta como um todo. Não há verdadeira integração individual astrológica, Integração' individual fica então reservada à iniciação secreta; e, num certo sentido, não é "integração" individual, mas sim o assumir de um corpo terreno por uma entidade supraterrena — uma estrela. E assim a iniciação se relaciona com ciclos estelares, como se pode ver do estudo do que restou do processo egípcio de iniciação, que se dava na pirâmide, com orifícios telescópicos apontando para certas estrelas ligadas ao processo iniciático.

Nessa época não existe astrologia do indivíduo e nenhum conhecimento público do fato da rotação axial da Terra. A descoberta pública definida da rotação da Terra corresponde ao começo da era do individualismo, a Renascença — mais uma "prova" da exatidão de nosso simbolismo! Os pitagóricos na Grécia sabiam da rotação da Terra, mas para eles este era um assunto mais ou menos sagrado e secreto — assim como o era o processo de individuação, na época uma questão puramente de iniciação secreta.

Agora este fato da descoberta pública da rotação da Terra ao redor do eixo polar e de sua revolução ao redor do Sol transformou completamente a base do simbolismo astrológico. No mínimo provocou uma cisão entre a astronomia, que surgia, e a astrologia tradicional. O que os astrólogos não viam, e mesmo agora ainda não viram totalmente, é que a forma esférica da Terra e o fato de sua rotação introduziram um sentido intrinsecamente novo de espaço, que tornou necessária uma reavaliação do zodíaco. Na astrologia ptolomaica, não existia nenhuma diferença fundamental entre o movimento de revolução da esfera de estrelas fixas e dos vários céus planetários. Mas agora que a Terra gira em torno de seu eixo, torna-se óbvio um dualismo de movimento: o dualismo da rotação axial que, como vimos, dá origem a todos os fatores individuais, e da revolução orbital da qual todos os planetas participam.

Em outras palavras, a unidade do zodíaco é rompida: aquilo que era o símbolo da simples operação da vida na construção de formas, corpos e almas se torna um sistema complexo de movimentos, com no mínimo dois tipos básicos de significado. E nós precisamos reconhecer este fato. Precisamos ou nos agarrar a um mundo ptolomaico e dizer que estamos lidando puramente com um sistema de simbolismo de vida baseado em movimento visível e nos dados concretos fornecidos por nossos sentidos, ou então precisamos produzir novas evidências e novas teorias para explicar o zodíaco de um modo intelectual, científico. A diferença entre o sistema ptolomaico e o sistema moderno é a mesma entre percepção sensorial direta e conhecimento intelectual. A astrologia precisa escolher qual deles quer seguir.

Nossa opinião é que, se adotamos a visão astronômica moderna, precisamos deixar de considerar o zodíaco ptolomaico o fator básico na astrologia; em vez disso precisamos enfatizar o círculo, ou o mostrador de casas. Pois com este estamos fazendo, a nosso novo modo, o que os antigos faziam quando falavam do zodíaco como o drama anual de integração, coletivo e planetário.

Conforme escrevemos há pouco, não havia nenhuma concepção de um tipo real de integração individual exceto à medida que se referisse ao processo secreto de iniciação. Integração individual é aquilo que C. G. Jung chama individuação. E o que deveríamos compreender é que este processo de individuação a seu tempo tomará o lugar do processo de iniciação. Não é mais o Sol que gira, focalizando sobre a Terra coletiva os espaços estelares de vida sem fronteiras. Mas a Terra agora gira, e sua rotação tem significado individual para o homem individual. Num sentido mais amplo, ela se transforma no símbolo do processo de individuação.

Na verdade, estudamos este processo quando lidamos com os três ciclos de 28 anos da vida humana — medido ao longo do mostrador de casas. Assim esse mostrador de casas pode ser agora considerado como o fator básico, em lugar do zodíaco solar; como um padrão de integração ou de realização de vida. O indivíduo pode experimentar os seus próprios ciclos de consciência através de tais ciclos simbólicos de rotação terrestre, pois ele agora está centrado, ao menos potencialmente, em sua própria estrela polar — e não é mais uma criatura do Sol, com um plexo solar aberto através do qual fluem as energias formadoras da vida.

E claro que o zodíaco continua sendo o padrão de desenvolvimento coletivo e do funcionamento vital universal; mas, quando enfatizamos o processo psicológico de individuação, precisamos também enfatizar as casas, como um conjunto de pontos de referência, como determinante dos ciclos básicos dos estados de self. Mas a beleza do simbolismo é mostrada por isto: na verdade nada mudou, exceto o ponto de vista. Esclarecemos isto imediatamente, na sequência.

"O ano é o dia do Senhor". Mas quem é o Senhor, astrologicamente? E o polo norte, o fim integrador ou a cabeça do "eu sou" planetário (eixo polar). E todos sabemos que, ao menos teoricamente, no polo norte o ano é dividido num dia de seis meses e uma noite de seis meses! Na verdade o ano do polo norte é um "dia", e descobrimos assim que aqui nosso mostrador de casas se aplica de um modo diferente: seis meses o Sol está abaixo do horizonte, seis meses acima do horizonte: um ciclo planetário de dia e noite, e portanto a possibilidade de um mostrador de casas medindo o processo de doze partes da consciência durante esse "dia" do Senhor!

Isto é extremamente lógico se compreendermos que o ano solar originalmente é um registro das mudanças de estação. Mas estas mudanças de estação se devem à inclinação do eixo da Terra, que também é a causa de um dia de seis meses e uma noite de seis meses experimentados (novamente em termos relativos) nos polos. Isto mostra que o que é um ciclo anual (coletivo) com relação às zonas temperadas é um ciclo diário (individual) com relação aos polos. Podemos interpretar isto dizendo que o que é coletivo para as células no organismo inteiro é individual com referência ao organismo como um todo. Individual e coletivo são termos relativos. Relativos a quê? Ao ponto de vista adotado.

Como diz a Bíblia e todos os livros de ocultismo, os seres humanos são células no corpo do Senhor. A astrologia polar lida com o indivíduo planetário (o "Senhor"), e seu ciclo de individuação é o ano. Ele funciona unicamente por meio do eixo polar, e os fatos que se referem a este eixo polar (inclinação, giro etc.) são as bases do simbolismo de uma astrologia planetária-polar. O fato da inclinação axial, combinado com o da revolução do planeta todo ao redor do Sol, constitui a base para o "dia" polar — tal como o fato da rotação da superfície do globo ao redor de seu eixo causa o "dia" para nós, seres humanos ... células do corpo planetário.

No entanto, como células nos relacionamos umas com as outras constantemente — e é esta relação, esse intercâmbio coletivo, que está representado simbolicamente no zodíaco. Nesse caso podemos considerar a Terra como um imenso corpo no qual as células-homem "se movem e têm sua existência". Se o zodíaco é uma representação dos movimentos e das relações dessas células-homem dentro do corpo da Terra, segue-se logicamente que os signos do zodíaco representam divisões anatõmicas do corpo que é a Terra. No entanto não é o planeta material que deve ser considerado, mas o planeta como um campo de relações. Este campo na verdade é criado pela rotação da Terra e pelas correntes magnéticas geradas pelos polos. Ele também está ligado à ionosfera (acima da estratosfera), influenciada pelos raios ultravioleta do Sol. Em resumo, o zodíaco é o que cientistas-astrólogos chamam campo magnético da Terra, o que os ocultistas chamam aura da Terra, ou o ovo áurico do Ser planetário.

Abstratamente, é o domínio em que todos os relacionamentos entre todos o seres vivos na Terra estão interligados. E a grande matriz do coletivo, energizado e misturado ritmicamente pelas radiações solares e presumivelmente também por raios cósmicos e similares. E um campo magnético — mas ele pode ser representado, menos cientificamente, como um invólucro de fogo ou eletricidade dentro do qual a Terra gira, mas que permanece constantemente polarizado na mesma direção: em direção ao polo da eclíptica.

Esta linha dos polos da eclíptica é o eixo ideal da Terra ao redor do qual o eixo real gira em 25.868 anos. Assim o zodíaco pode ser concebido como a Terra ideal, o corpo arquetípico do Todo planetário no qual os homens vivem como células e grupos de células.

E provável que esta afirmação venha a parecer conflitante com as anteriores, indicando que o zodíaco era o resultado da revolução orbital da Terra ao redor do Sol e um fundo para os movimentos orbitais de todos os planetas. Mas precisamos também lembrar que acrescentamos: sempre com relação à Terra!

Lembrando disso, podemos dizer que o zodíaco é o sistema solar em relação com a Terra. Um passo adiante: ele é o todo do relacionamento planetário-solar projetado sobre o invólucro solar, ou espiritual, da Terra. Ou ainda: é a zona ao redor da Terra em que as emanações coletivas da Terra se integram com as emanações coletivas do Sol e dos planetas. E pode muito bem ser que essa zona na verdade corresponda, nas regiões que circundam a Terra, ao cinturão equatorial na superfície do globo. Na verdade, não importa, a partir de nossa concepção, qual definição ou formulação se adote.

O zodíaco, como usado pela astrologia ocidental, é tanto uma ideia quanto um fato. Corno uma ideia, é uma expressão dos movimentos combinados e das relações entre Sol, Lua, planetas e a Terra. É uma expressão do ser coletivo e do relacionamento entre partes ou órgãos que juntos constituem um todo orgânico. É a expressão da totalidade orgânica. Como tudo precisa estar relacionado ao observador na Terra, podemos projetar esta "expressão" ao redor da Terra e chamá-la avo áurico ou Terra ideal, ou seja o que for que indique a totalidade da vida em operação dinâmica. Podemos até projetar a ideia do zodíaco na superfície da Terra e assim determinar que localidade pertence a qual signo do zodíaco — como Johndro e Counsil o fizeram, cada um partindo de uma "base mundial" particular para essa projeção. Em cada caso, o que está sendo feito é uma representação de elementos coletivos e de intercâmbio orgânico.

Isto se torna ainda mais evidente pela tradicional projeção do zodíaco sobre o corpo humano — ou., o que é menos usual mas melhor, sobre a "aura" ou ovo áurico da humanidade. Aqui vemos um certo signo do zodíaco associado a cada parte do corpo. Então o zodíaco é realmente um padrão de intercâmbio orgânico, uma representação esquemática dos circuitos de força vital (Sol) à medida que dá energia às várias partes e órgãos da coletividade integrada de células — que chamamos de um corpo. Assim o zodíaco é visto como o padrão ideal e o molde estruturador de todos os "corpos".

Como um fato de aplicação prática astrológica, o zodíaco como é utilizado hoje no mundo ocidental, precisa ser considerado como o "campo magnético" da Terra, sendo este o único modo de justificar nossas medidas astrológicas à luz de um sistema solar heliocêntrico científico. Isto está explicado da maneira mais lúcida no livro Casting the Horoscope de Alan Leo, do qual citaremos o seguinte:

O zodíaco que nós usamos na verdade é a Aura da Terra. É uma esfera ou ovoide, cujos polos coincidem com os polos da eclíptica e cujo meio ou plano equatorial é a eclíptica. .. Por alguma razão, até agora inexplicada, esta esfera está polarizada numa direção, isto quer dizer, ela permanece sempre na mesma posição qualquer que seja o lugar de sua órbita em que a Terra esteja, sendo neste aspecto comparável com uma bússola de marinheiro, cujo mostrador circular sempre flutua com seu polo

norte apontando numa direção. Esta esfera está dividida em doze partes como os gomos de uma laranja, e são estas seções que constituem os "signos" do zodíaco. No entanto, estamos principalmente ocupados com o que se refere ao plano equatorial, pois é este que medimos em signos ou graus e que determina a posição zodiacal de um planeta.

Agora, é claro que, tuna vez que esta esfera ou aura permanece constantemente "flutuando" numa posição enquanto a Terra caminha ao redor do Sol, os raios do Sol passarão sucessivamente através de cada um desses signos. Se você coloca uma lâmpada no meio de uma mesa e anda ao redor dela sempre voltado para o mesmo canto da sala, os raios da luz terão incidido sobre cada uma das partes da cabeça pela ordem — o nariz, a face esquerda, atrás da cabeça, face direita e assim por diante ...

Quase nem é preciso dizer que essa "aura" não gira a cada dia com a rotação da Terra em torno de seu eixo, mas que a Terra gira dentro dela, como a roda de um giroscópio.

Em outras palavras, tal "aura" representa a coletividade de todo o sistema solar em relação com a Terra. A Terra gira dentro dela, como qualquer indivíduo se move dentro de seu próprio meio ambiente, ambiente que, para o indivíduo, representa o coletivo, isto é, a soma total de relações que este indivíduo pode experimentar. O zodíaco é o ambiente coletivo da Terra e, assim, da humanidade como um todo. Todas as relações cósmicas em que a Terra possa entrar, todas as radiações externas que venham a penetrar a atmosfera terrestre, e com isso os pulmões e o sangue de todos os organismos que respiram sobre a Terra — tudo precisa passar através do zodíaco. Num outro sentido, então, o zodíaco é a placenta do embrião do corpo da Terra. Todas as energias construtivas que produzem o crescimento do embrião precisam passar pela placenta. A placenta é a área formadora, a área na qual e da qual as energias construtivas e substâncias do macrocosmo vitalizam o microcosmo tal como as energias da mãe vitalizam o embrião.

Quando os raios solares e planetários passam sucessivamente através de cada um dos signos zodiacais, o microcosmo em crescimento recebe "alimento" ou estímulo correspondente — até que atinja o estado de desenvolvimento perfeito. A Terra não está perfeitamente desenvolvida, e a espécie humana também não está. Assim, ano após ano a Terra, a espécie humana e todas as outras espécies de vida sobre este globo recebem mais "substância cósmica", mais "comida macrocósmica" — a própria substância das hierarquias celestes, no simbolismo oculto, o pão e as 'águas celestiais da Vida universal.

O leitor que tenha compreendido o que foi dito antes verá prontamente que pouco importa se se diz que a Terra gira em torno do Sol ou que o Sol gira ao redor da Terra. Aquilo com que lidamos em astrologia são três fatores: o microcosmo, o macrocosmo e a relação entre eles. Em outras palavras, isto significa: o particular, o universal e a soma total de agentes através dos quais o universal se evidencia como um todo orgânico particular. A soma total desses agentes constitui o zodíaco. E no que se refere à humanidade, o universo todo gira em torno de nós, tal como a vida da mãe gira em torno da criança. Egoísmo? De modo algum, apenas bom senso. A ciência moderna, ao tentar ser impessoal e objetiva, não compreende que, quando tudo foi dito e feito, é impessoal e objetiva apenas à medida que se refira a seres humanos individuais. Tudo que a ciência faz é nos dar um conhecimento válido para todos os homens nesta Terra. Em termos filosóficos, mais ainda, até mesmo práticos, o conhecimento científico está intrinsecamente condicionado e limitado pelas fronteiras da Terra. A Terra é como um embrião dentro da placenta. O embrião só pode conhecer diretamente o que ocorre com ele e ao redor dele, e isto em termos de vida intra-uterina. E assim o zodíaco é na verdade aquilo que os teósofos chamam de "círculo-limite" da Terra.



Em terminologia científica, a opinião e conhecimento de todos os habitantes da Terra são absolutamente limitados ao que ocorre dentro do campo magnético da Terra. Eles podem conhecer o lado de fora apenas através de distúrbios em seu campo magnético. Sabemos do Sol, de planetas, estrelas, apenas através de seus efeitos sobre o campo magnético da Terra. Não temos absolutamente nenhum modo de saber se os raios das estrelas não são regularmente defletidos pelo campo magnético da Terra. Tudo o que podemos fazer é medir corretamente os distúrbios neste campo magnético ou "aura da Terra". Não existe nenhuma possibilidade filosófica e teórica de jamais sabermos diretamente o que existe de verdade além dos limites deste campo. Podemos saber apenas "por inferência". Em outras palavras, para usar os termos que a nova escola de idealistas popularizou, especialmente entre os físicos ingleses, nosso conhecimento é válido apenas em termos da "estrutura intelectual" que adotamos. Esta "estrutura", que talvez seja a maior criação objetiva do homem, está relacionada com o homem. A ciência moderna reconhece o fato de ter como centro o ser humano — de ser uma interpretação de fatos experimentados coletivamente, válidos coletivamente para a humanidade na Terra.

O zodíaco simboliza a estrutura à qual todo fenômeno astrológico precisa ser remetido; tem como centro o ser humano e a Terra. Ele é uma abstração e um símbolo, tal como a Cidade Sagrada com seus doze portais — na alegoria bíblica — é uma abstração, um. símbolo. O zodíaco é a parede que separa todos os habitantes da superfície da Terra do universo. Simbolicamente, esta parede tem doze portais, doze signos do zodíaco, doze canais através dos quais flui a energia universal. Falamos da "parede" de um átomo, mas queremos dizer com isso apenas os limites de um campo magnético, e agora nós bombardeamos partículas altamente energéticas através dessa parede, e assim libertamos um ou mais fótons da "cidade sagrada" do átomo.

Por que falamos de "portais" numa "parede"? Por que não um campo aberto? Talvez porque: 1) os limites de um campo magnético diferenciem de modo suficientemente claro o interno do externo a ponto de parecerem uma parede — tal como a superfície de uma mesa parece ser sólida como uma parede, apesar de não ser nada além de um campo magnético; 2) a energia, vindo de fora para dentro e indo de dentro para fora, só possa entrar ou sair em partículas que a física moderna chama quanta E pode ser que o modo como esses quanta se comportam possa ser expressado de modo correto, mas, é claro, apenas simbolicamente, pelo conceito de "portais" — que se abrem e fecham ritmicamente corno as válvulas do coração.

Como quer que isto seja, o fato é que o zodíaco que usamos na astrologia moderna deve ser considerado como circundando a Terra, e não uma criação da Terra como um globo em rotação. Ele é a expressão da relação Terra/Universo e, mais particularmente, da relação Terra/Sol. Isto se torna evidente pelo fato de essa esfera simbólica ou postulada ao redor da Terra estar orientada para a eclíptica e para o polo da eclíptica. Ela não participa da rotação da Terra, ou da inclinação do eixo da Terra. Portanto é, sob todos os aspectos, igual ao zodíaco ptolomaico! — visto apenas através das lentes da astronomia moderna. E a "esfera celeste" dos astrônomos, mas limitada às vizinhanças da Terra — usando o termo vizinhança como na física moderna.

Muitos astrólogos, no entanto, frequentemente por uma questão de simplicidade, ainda mais frequentemente porque não consideram com atenção os fundamentos lógicos do sistema que usam, referem-se ao zodíaco como uma vasta esfera centrada no Sol e envolvendo todo o sistema solar. Então há alguns que deliberadamente falam do zodíaco como o "campo magnético do Sol". E claro que não há nada de errado com essa última ideia, ela apenas não corresponde à realidade factual, prática, nem à ideia filosófica do zodíaco, do modo como aplicamos o termo zodíaco hoje.

A ilustração mais simples disso está contida no seguinte fato: se os signos do zodíaco são uma segmentação em doze do espaço ao redor do Sol, e a Terra passa através de um desses segmentos a cada mês ao circular em torno do Sol, então, por exemplo, em abril, ela fica no signo de Libra (e o Sol então parece estar em Aries). Mas, se for assim, a Lua em revolução próxima à Terra permanece no signo de Libra tanto quanto a Terra, ou seja, um mês inteiro! Em outras palavras, todo o material da astrologia como usamos hoje cai por terra. Precisamos pensar num zodíaco terrestre através do qual a Lua se move (talvez o zodíaco lunar do passado?); precisamos descartar a ideia de planetas retrógrados. Em outras palavras, precisamos de todo um quadro de referências astrológico inteiramente diferente. Não obstante, a ideia é atraente para o astrólogo de tipo científico. Na nossa opinião, ela não combina com os princípios básicos do simbolismo astrológico. Pois implica a ideia de que podemos legitimamente nos imaginar no Sol e que podemos interpretar a vida e as relações planetárias a partir dali. Como dissemos, estamos lidando na astrologia com a interpretação de fatos de experiência. Assim, enquanto experimentamos as coisas em e através de corpos nascidos na Terra e a ela condicionados, não podemos presumir a opinião imaginária de um ser com um corpo real nascido no Sol e a ele condicionado. Na verdade, nada sabemos a respeito do Sol exceto como um centro de radiações que nos afeta. Chamamos esse centro de Sol E simbólica e teoricamente tudo funciona como se o Sol fosse aquilo que o fazemos parecer. Mas não experimentamos o Sol do ponto de vista do Sol. Nós o experimentamos apenas do ponto de vista da Terra. E, como já foi dito, a astrologia, ou qualquer tipo de interpretação da vida lida com fatos experimentais aos quais se atribuem significados.

Com isto não estamos contradizendo afirmações anteriores Podemos muito bem aceitar a interpretação da ciência moderna dos movimentos relativos do Sol e dos planetas, e adotar a atitude acima definida. O conceito astronômico do sistema solar é o de um sistema de interpretação de fatos observados — um sistema muito conveniente e intelectualmente maravilhoso. Mas o que conta para nós são os fatos. Com base nesses fatos, a astronomia estabelece um modelo do sistema solar. Com base nesses mesmos fatos, a astrologia estabelece um simbolismo de interpretação de vida. Ambos são igualmente lógicos. E se o anterior parece funcionar mais precisamente que este último, isto provavelmente se dá porque este lida com uma área de ser que é mais exata em termos de significado que em termos de eventos, uma área em que o "princípio da indeterminância" opera fortemente.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

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