terça-feira, 6 de setembro de 2016

As Casas Cadentes, por Howard Sasportas



As casas cadentes (3ª, 6ª, 9ª e 12ª) são associadas com os signos mutáveis de Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes. Enquanto as casas angulares geram energia e as casas sucedentes concentram a energia, as casas cadentes distribuem e reorganizam a energia. Em cada casa cadente, nos reconsideramos, reajustamos ou reorientamos com base naquilo que vivenciamos anteriormente na casa sucedente anterior. Na 3ª Casa cadente, aprendemos mais sobre quem somos comparando e contrastando-nos com aqueles que nos cercam. À medida que as capacidades mentais se desenvolvem, entramos num mundo além dos sentidos corporais e das necessidades biológicas (2ª Casa). A 6ª Casa cadente reflete o bom ou mau uso da emanação da energia da 5ª e se ajusta de acordo com ela. As explorações interpessoais e as lutas da 8ª conduzem a reflexões da 9ª Casa em leis mais profundas e processos que governam a existência e as regras que nos emaranham. A perspectiva do ego individual já mexido pela experiência da 11ª Casa de fazer parte de um grupo ou de um sistema maior, finalmente na 12ª cadente tomba de sua posição como rei da montanha.

As casas cadentes muitas vezes têm sido descritas como fracas ou insubstanciais, mas a pesquisa feita pelo casal Gauquelin sugere que posicionamentos nestas casas são mais fortes do que se acreditava antigamente. Michel Gauquelin e sua mulher Françoise, ambos psicólogos e estatísticos, estudaram a distribuição diurna dos planetas em milhares de mapas natais com hora exata. Analisaram em particular a posição dos planetas nas casas, nos mapas de determinadas profissões como atores, artistas, médicos, executivos, políticos, cientistas, soldados, campeões esportivos, escritores e outros. O resultado dessa pesquisa mostrou que os planetas naturalmente associados com cada uma destas profissões (tal como Marte para os esportistas, Saturno para os cientistas etc.) apareciam mais frequentemente nas casas cadentes do que nas casas angulares como esperaria a astrologia tradicional. Por exemplo, Marte no mapa de esportistas famosos aparecia com mais freqüência na 12ª e na 9ª casa: isto é, imediatamente após o nascimento e a culminação superior do planeta, em vez de imediatamente antes na 1ª ou na 10ª casa. A segunda posição mais frequente de casas de Marte entre os esportistas analisados, foi na 6ª e na 3ª Casa. Mais uma vez, elas estão imediatamente após o ocaso e a culminação inferior do planeta em vez de antes na 7ª ou na 4ª casa. A conclusão tirada do seu exame é que as casas cadentes são fatores mais importantes na determinação de caráter e de carreira do que se suspeitava.

Recapitulando em poucas palavras, eles encontraram as seguintes correlações:

1. Marte apareceu com mais frequência em casas cadentes nos mapas de médicos, líderes militares, campeões esportivos e altos executivos.

2. Júpiter apareceu com mais frequência em casas cadentes nos mapas de atores, teatrólogos, políticos, líderes militares, altos executivos e jornalistas.

3. Saturno apareceu com mais frequência em casas cadentes em mapas de cientistas e médicos.

4. A Lua apareceu com mais frequência em casas cadentes nos mapas de escritores e políticos.

Na discussão da 12a Casa expus a razão pela qual não achei estes resultados tão surpreendentes. Um raciocínio semelhante pode ser aplicado às outras casas cadentes. A 9a é onde procuramos a verdade e os princípios que guiarão nossas vidas. Por isso vamos ser altamente motivados a desenvolver e a dar expressão aos planetas que aí se encontram, como uma maneira de outorgar maior significado à nossa existência. Tanto a 6a quanto a 3a Casa descrevem nossos esforços para discernir nossa diferença dos outros. Por isso, desenvolver os planetas nessas casas é fundamental se queremos nos diferenciar inteiramente e nos definir como indivíduos separados. A ânsia de nos ligar a algo maior que o self (como foi mostrado pela 12a e pela 9a) e a ânsia de estabelecer e caracterizar nossas próprias identidades específicas (como foi mostrado pela 3a e pela 6a) são os dois princípios complementares que formam a cruz do dilema humano. Vistos por esse ângulo, os planetas nestas casas assumem grande importância.

Como no caso das quatro casas angulares e das quatro sucedentes, as quatro casas cadentes figuradamente se quadram ou se opõem. Cada uma representa uma visão de vida contrastante e um método diferente de adquirir e processar informações.

A oposição 3ª-9ª

A 3a Casa descreve a natureza da mente analítica e concreta, enquanto a 9a mostra um processo de pensamento mais abstrato e intuitivo. A 3a Casa vê as partes, a 9a olha primeiro para o todo. Quando os planetas se acham em oposição entre estas duas casas, isso poderia significar um bom equilíbrio e integração entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro. No entanto, em certos casos, a oposição pode mostrar uma pessoa que reúne fatos (3a) e depois tira deles as conclusões erradas (9a). Montanhas são feitas de morrinhos, ou uma pessoa pode aderir a alguma crença ou verdade (9a) e depois interpretar tudo à sua volta (3a) somente à luz desses princípios. Em outras palavras, os fatos são distorcidos para provar algo. A 3a Casa pode trabalhar durante muitas semanas preparando uma conferência, assegurando que cada palavra transmita o significado preciso. O conferencista da 9a Casa pode preferir esperar para ver quem está no auditório, confiando em que ele intuitivamente saberá o que dizer no devido tempo. Algumas vezes, com a oposição da 3a à 9a casas, existe um sentimento persistente de que o pasto do vizinho é mais verde.

A oposição 6ª-12ª

A 6a Casa examina as milhares de formas de existência relativa pesquisando em detalhes como uma coisa difere de outra. A 12a Casa, no entanto, abarca a essência da coisa - não quanto ela pesa ou mede, mas como ela é "sentida". A 6a mostra-se discriminativa e seletiva, definindo limites cuidadosamente. A 12a é simpática, inclui tudo e dissolve fronteiras. A 6a Casa é pragmática, lógica e se preocupa com as realidades do dia-a-dia da vida; a 12a aspira transcender tudo o que é mundano, e está ciente das ilusórias, desconhecidas e misteriosas nuanças da existência. A 6a Casa planeja a vida; a 12a flui com ela.

As oposições entre essas duas casas realçam essas maneiras contrastantes de ver a vida, mas permitem uma maior chance de realização da síntese dos vários modos de vida. Eu tenho visto oposições da 6a à 12a Casa, por exemplo, em mapas de pessoas espiritualizadas que também têm os pés firmemente no chão. Uma era um dentista com Lua em Capricórnio na 6a, oposição Júpiter em Câncer na 12a e devoto seguidor de um guru indiano. Outra era um carpinteiro que ofereceu seus serviços voluntários para treinar pessoas em países do Terceiro Mundo na sua profissão. Ele tinha três planetas na 6a em oposição a Urano na 12a.

As oposições entre a 6a e a 12a casas às vezes se manifestam em indisposições físicas de origem psicológica. Os reencarnacionistas acreditam que certos problemas de saúde (6a) podem ser conseqüência de comportamentos em vidas passadas (12a). Por exemplo, se um homem numa vida passada comeu e bebeu demais, nesta vida ele pode nascer com alergia a certos alimentos que o forçam a prestar mais atenção aquilo que põe para dentro de seu corpo. Ou, então, uma pessoa que habitualmente olhava de cima para baixo para outras pessoas numa vida passada, pode se achar anormalmente alta nesta vida, ou talvez nasceria extremamente pequena para saber como se sente uma pessoa para a qual se olha de cima para baixo. Em qualquer caso, com oposições da 6a à 12a casas, as origens de algumas doenças podem ser diagnosticadas com dificuldade, provindo de alguma origem nada fácil de ser detectada.

A quadratura de 3ª-6ª

Temos aqui, ligadas, duas casas diretamente relacionadas com o processo lógico e racional do lado esquerdo do cérebro. A tendência da mente é trabalhar demais. A 3a Casa gosta de saber um pouco de tudo, enquanto a 6a Casa quer saber o máximo possível a respeito de poucas coisas. Ponha as duas juntas e teremos alguém que quer saber o máximo a respeito de tudo. Com planetas nessas duas casas, é possível analisar alguma coisa a partir do que existe. Levado a extremos, poderia tratar-se de uma pessoa que insiste que a única diferença real entre as peças Otelo e Hamlet são as letras do alfabeto que estão colocadas de maneira diferente em cada peça.

Tomada mais positivamente, existe em geral a busca de informações (3a) para uso prático (6a). Pode haver muita disputa sobre detalhes e muita discussão sobre a maneira certa e apropriada de fazer algo. Consequentemente, aqueles que têm a combinação da 3a à 6a Casa não deixam os outros escapar sendo demasiado abstratos, caprichosos ou vagos. Se me aparece alguém com esses posicionamentos para uma consulta com leitura de mapa, eu lhe dou meia hora a mais para perguntas no final. (O que você quer dizer exatamente com ...?)

Com quadraturas entre essas casas, é possível que a saúde (6a) seja afetada na mobilidade física bem como no bom funcionamento da mente (3a). Algumas vezes conflitos não resolvidos com enteados (3a) reaparecem como problemas com colegas de trabalho (6a).

A quadratura de 6ª-9ª

A combinação da expansiva 9a Casa, sempre preocupada em buscar a verdade, com a mundana e prática 6a Casa pode produzir uma alma sem descanso que vai de uma preocupação a outra numa constante procura de algo que a preencha totalmente. A vantagem é que tais pessoas costumam julgar que aquilo sobre o qual estavam depositadas todas as esperanças de algum modo se desfaz antes de alcançado. Quando isso falha, outra coisa qualquer é perseguida fervorosamente com a habitual convicção de que tal coisa deveria propiciar "tudo". Em vez de olhar para algo como sendo a verdade total, essas pessoas deveriam se aproximar com a atitude de que isso poderia ser alguma versão ou ângulo da verdade. Explicando melhor, elas criam a impressão de alguma coisa como sendo o todo. Aí então encontram outra coisa para dar um pouco de verdade e outros tipos de realização. Desta maneira não se abrem a um desapontamento se um dos focos de atenção não entrega todo o alimento que almejam.

A quadratura entre a 6a e a 9a Casa pode ser vista historicamente no conflito entre maneiras indutivas de investigação científica (6a) e a espécie de conhecimento que aflora da fé e das crenças religiosas (9a). A tensão entre as Casas 6a e 9a também se manifesta nos tipos de disputas teológicas preocupadas com o número exato de anjos que conseguem dançar na cabeça de um alfinete. As Escrituras (9a) podem ser interpretadas de maneira fundamental: as leis e os rituais devem ser seguidos exatamente para assegurar que mesmo a mais humilde e comum expressão de existência (6a) faça parte do sagrado ou seja executado de acordo com uma lei maior (9a). Há também a habilidade de perceber o significado cósmico (9a) nos menores detalhes da vida (6a). Em outro nível, problemas de saúde (6a) podem acontecer em viagens (9a). É possível que haja diferenças de opinião sobre leis internas (9a) e sobre a administração de assuntos diários (6a).

A quadratura de 9ª-12ª

Neste caso, temos duas casas de natureza expansiva relacionadas uma com a outra. Nenhuma destas esferas gosta de fronteiras e limitações, e aqueles que têm planetas nestas casas não se sentem muito bem dentro das restrições de uma existência mundana. Normalmente predomina um interesse em matéria filosófica ou religiosa: em casos extremos eles vivem num mundo de símbolos, sonhos e imagens, passando por uma grande experiência após outra, muitas vezes esquecendo-se completamente de ir ao dentista. Eles podem ter uma fonte interminável de inspiração transpessoal mas nenhum veículo capaz de expressar ou relacionar sua visão à vida do dia a dia. Nada inclinados ao pensamento analítico, conseguem engolir qualquer crença e vivê-la fervorosamente até que ela seja cuspida fora e algo novo seja encontrado e engolido. Alguns se desviam tanto achando-se Napoleão ou Cristo que acabam internados em instituições para doentes mentais (12a). Falando mais positivamente, pessoas com forte ênfase de 9a a 12a servem para abrir os olhos de outras para realidades além do alcance da vista de um pensador típico de 3a e de 6a Casa.

Existem diferenças de abordagem a "entendimentos maiores" entre a 9a e a 12a Casa. A 9a Casa acredita que os modelos e princípios básicos que governam a vida podem ser conhecidos e compreendidos. A 12a Casa sente algo que é muitas vezes insondável e desconhecido. A 9a Casa se preocupa principalmente em escalar novas alturas. A 12a encontra inspiração não só nas alturas mas também nas profundezas — êxtase e dor, bem-aventurança e sofrimento estão intimamente ligados. Em nível mais mundano, pode haver estranhas e inexplicáveis ansiedades para viajar para diversos países e o perigo de prisão (12a) em país estrangeiro (9a).

A quadratura de 3ª-12ª

Falando claramente, a 12a Casa é a mente inconsciente e a 3a, a mente consciente. A 12a Casa é o domínio do que está escondido e invisível, enquanto a 3a percebe aquilo que é imediato e está disponível no ambiente. Uma ação ou exposição pode ser apreciada pelo seu valor nominal (3a) ou pode ser sentida como ocultando sentimentos ou motivações (12a). Em psicologia, isso é conhecido como meta-significado. A 3a Casa observa as ações e faz o sentido das palavras, mas a 12a "prende" e é sensível a outros níveis do que está sendo dito ou feito. A combinação 3a-12a percebe muitos níveis de realidade ao mesmo tempo. Isso confere ou um fantástico insight das pessoas e situações, ou uma grande confusão mental. Devem elas acreditar naquilo que ouvem ou veem, ou naquilo que sentem ou percebem?

Esse tipo de mensagens cruzadas não é anormal com meio-irmãos (3a). Em geral, meio-irmãos mais velhos se acham ambivalentes diante de irmãos mais novos. Eles sabem que devem amar o novo bebê, mas o ciúme e o lado destrutivo também estão presentes. O mais novo percebe que o mais velho age carinhosamente em relação a ele, mas também sente algo menos agradável se passando entre eles. Qual nível deve ser tomado como certo? Para o caso em questão, conheci uma mulher com Saturno e Plutão na 12a Casa em quadratura com a Lua em Escorpião na 3a. Sua irmã mais velha era excepcionalmente simpática com ela, mas por dentro se ressentia da intromissão da irmã mais nova. Mais tarde, a irmã mais nova tornou-se uma mulher com enormes dificuldades em acreditar no que os outros lhe diziam. Tudo o que se dizia ou fazia era interpretado de maneira negativa como uma ameaça intencional a ela. Misteriosamente, ela ficou surda de um ouvido e viveu uma vida solitária e isolada.

Problemas passados não resolvidos (12ª) com meio-irmãos (3ª) impediram-na de se relacionar naturalmente com as pessoas à sua volta. Com quadraturas entre a 12ª e a 3ª, a capacidade de tomar decisões ou a habilidade de perceber perfeitamente a vida pode ser distorcida por complexos inconscientes muito arraigados. Estes precisam ser examinados e trabalhados através de uma análise consciente (3ª) de imagens e fantasias ocultas abaixo do nível superficial da psique (12ª).



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Extraído do livro As Doze Casas, de Howard Sasportas.




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