terça-feira, 24 de maio de 2016

A NONA CASA, por Howard Sasportas



A humanidade é considerada o meio termo entre os deuses e as bestas.
Plotino


A 8ª Casa implica invariavelmente em certo grau de dores, crises e sofrimentos. Felizmente, ao sobreviver a estes tempos difíceis, emergimos renovados, depurados e mais conhecedores de nós mesmos e da vida em geral.

Tendo descido às profundezas e tentado encontrar uma maneira de sair novamente, ganhamos uma visão mais ampla que nos permite conceber a vida como sendo uma jornada e um processo de desdobramento. A fogosa 9ª Casa, naturalmente associada a Júpiter e Sagitário, se segue às águas turbulentas da 8ª e nos oferece uma ampla perspectiva de tudo que ocorreu até agora. Muita experiência foi acumulada para tentarmos formular algumas conclusões a respeito do significado e do propósito de nossa passagem por aqui.

A 9ª Casa é a parte do mapa mais diretamente ligada à filosofia e à religião — questões a respeito de "porquês e para quês" da nossa existência. É nesta posição que procuramos a Verdade,  empenhando-nos em profundidade para compreender as regras existentes e as leis básicas que governam a vida. Em certo sentido, o sofrimento que ocorreu na 8ª Casa nos compele nesta direção pois a dor é mais facilmente suportada quando se nos apresenta algum resultado positivo por tê-la aguentado. E tem mais, se este sofrimento está de alguma maneira ligado a um insucesso na vida de acordo com as leis ou as realidades da existência, aí então descobrir e aderir a estas linhas de conduta pode aumentar o volume de dor que precisamos atrair sobre nós.

Seres humanos parecem ter necessidade de um significado. Aparentemente, precisamos de ideais absolutos e firmes aos quais possamos aspirar, e preceitos que sirvam para conduzir nossas vidas. Sem significado, é comum a sensação de não termos nenhum objetivo para viver, nenhuma esperança, nenhuma razão para lutar pelo que quer que seja, nem tampouco nenhuma diretriz na vida. Um grande número de psicólogos acredita que muitas neuroses comuns nos dias de hoje estão relacionadas com a falta de significado ou propósito na vida. Sem considerar se isso é verdade ou não, somos confrontados pela crença de que há algo maior "lá fora"; que existe um modelo coerente e que cada um de nós tem algum papel específico a desempenhar neste traçado. Em última instância, quer seja nosso dever criar nosso próprio significado de vida ou nossa tarefa em descobrir o plano e a intenção de Deus, a procura de linhas de conduta, finalidades e um propósito formam o enigma da 9ª Casa.

A 9ª Casa significa tudo o que é conhecido como "mente superior" — a parte da mente ligada à faculdade de abstração e ao processo intuitivo — em comparação com a mente concreta mostrada pela 3ª Casa. Mercúrio, o regente natural da 3ª e 6ª Casas é um acumulador de fatos, enquanto Júpiter, o regente natural da 9ª Casa, demonstra a capacidade de criar símbolos da psique e a tendência de impregnar determinado evento ou acontecimento com algum significado ou sentido. Os fatos são coletados na 3ª Casa, mas na 9ª Casa tiram-se conclusões a partir deles; fatos isolados são organizados dentro de um quadro mais amplo do esquema ou vistos como o produto inevitável de princípios organizadores mais elevados.

Enquanto a 3ª e a 6ª Casas são análogas à divisão mental e analítica do cérebro esquerdo, o processo associado à 9ª Casa (e à 12ª) se refere à atividade do cérebro direito. O cérebro direito pode identificar uma forma sugerida com apenas alguns traços. Os pontos são mentalmente trançados para formar um modelo (padrão). Sintético e holístico, o cérebro direito pensa em imagens, vê o todo e detecta os modelos (padrões). Como diz Marilyn Ferguson, "o cérebro esquerdo vê por flashes, o direito assiste a filmes".

A 9ª Casa muitas vezes leva a acreditar que os acontecimentos têm uma mensagem contida neles. Júpiter ou Vênus na 9ª Casa, por exemplo, podem dar a impressão de que afinal tudo que acontece é positivo e ninguém precisa tirar vantagem, como se houvesse uma Inteligência Maior benigna trabalhando para guiar o nosso desenvolvimento. Saturno ou Capricórnio na 9ª Casa poderiam ter maior dificuldade em perceber um significado num acontecimento ou talvez interpretar seu significado de maneira negativa. Albert Camus, o filósofo e escritor existencialista francês, tinha Saturno em Gêmeos nesta casa; ele acreditava que os acontecimentos não têm um sentido mais elevado ou diferente do que aquele que os seres humanos lhes atribuem.

Os posicionamentos da 9ª Casa descrevem algo a respeito da maneira como seguimos uma filosofia ou uma religião, bem como sugerem o tipo de Deus que reverenciamos ou a natureza de filosofia que formulamos na vida. Por exemplo, Mercúrio ou Gêmeos nesta posição pode levar a um exame e a uma compreensão intelectual de Deus, enquanto Netuno ou Peixes predispõem a pessoa a aceitar a deidade com sincera devoção, entregando-se. Marte sugere uma aproximação dogmática e fanática na busca religiosa comparada com uma maior tolerância e flexibilidade mostrada por Vênus nestes assuntos. A imagem de Deus também é mostrada por planetas e signos nesta posição. Saturno ou Capricórnio podem conceber um Deus austero, punitivo, crítico e paternalista que deve ser obedecido a qualquer preço. Netuno ou Peixes na 9ª Casa, por outro lado, consideram Deus compassivo e afetuoso, inclinado à brandura e ao perdão.

A 3ª Casa rege o ambiente próximo e aquilo que é descoberto explorando-se tudo o que fica à mão. A 9ª Casa descreve a perspectiva que ganhamos quando nos afastamos para trás e olhamos a vida de uma certa distância. Deste modo, a 9ª Casa está ligada a viagens e longas jornadas. Viajar pode ser traduzido literalmente por jornadas a outras terras e culturas, ou pode ser compreendido simbolicamente como jornadas do espírito ou da mente — a ampliação de horizontes adquirida através de muita leitura, ou a introspecção desenvolvida através da meditação e da reflexão cósmica. Entendido mais literalmente, viajar e se misturar a pessoas que cresceram com tradições diferentes das nossas amplia nossa perspectiva de vida. O gosto e a expressão de certas culturas pode chamar nossa atenção mais que outras; mesmo assim algumas facetas das miríades de possibilidades de vida possíveis são vislumbradas e comparadas com a nossa própria. Viajar nos possibilita ver o mundo por uma perspectiva diferente. Eu posso estar envolvido num relacionamento complicado em Londres a respeito do qual me sinto confuso e incerto. No entanto, quando viajo para San Francisco e reflito sobre este relacionamento, de alguma maneira as 6.000 milhas de distância me ajudam a entender mais claramente do que quando o relacionamento está bem na minha frente. O resumo da experiência da 9ª Casa pode ser a vista do mundo fornecida pelo astronauta reentrando na atmosfera terrestre. Ali, num relance está o quadro todo — nosso planeta visto como um ente em relação ao espaço ilimitado. Nossa vidinha mundana de todos os dias assume uma proporção diferente após tal experiência. John Glenn, o primeiro americano a contornar a Terra fora da atmosfera tinha ambos, Netuno e Júpiter na 9ª Casa.

Os posicionamentos da 9ª Casa mostram os princípios arquetipais que encontramos em nossas viagens e que podem mesmo revelar algo sobre a natureza da cultura ou culturas para as quais somos atraídos. Por exemplo, um Saturno nesta posição, pode ter dificuldades ou atrasos em viagens ou viajar especificamente com um propósito prático, como a serviço ou para estudos.

Henry Kissinger, o embaixador americano para assuntos estrangeiros do governo Nixon tem Capricórnio na cúspide da 9ª Casa e Saturno, seu regente, em Libra, no signo da diplomacia. Se Plutão ou Escorpião estão na 9ª Casa, podemos atrair experiências em outros países que nos transformam profundamente, ou então somos compelidos a ir a um país que tenha Plutão ou Escorpião muito fortes em sua carta nacional. O Almirante Richard Byrd, o primeiro homem a voar para o Polo Norte, tinha o inovador Urano nesta casa.

Voltando para mais perto da casa, os posicionamentos da 9ª Casa indicam os relacionamentos com os parentes do parceiro. Do mesmo modo que a 3ª Casa do Ascendente descreve nossos próprios parentes, a 3ª Casa do Descendente (a 9ª) descreve os parentes de nossos companheiros. Se tal relacionamento será cordial ou tempestuoso vai ser mostrado aí. Um parente do outro pode estar refletido num planeta da 9ª Casa ou receber a projeção deste princípio. Algumas pessoas com Júpiter na 9ª vêem o universo num grão de areia enquanto outros o percebem em sua sogra.

Viagens mentais são descritas na 9ª Casa, também conhecida como a casa da educação superior. O campo de estudo escolhido ou o tipo de colégio ou universidade a serem vividos são em geral mostrados pelos posicionamentos aqui.

Por exemplo, Netuno na 9ª poderia indicar confusão ou vacilação na escolha de uma matéria de estudo, ou um desapontamento, ou uma desilusão, durante a estada na universidade. Urano pode se rebelar contra os sistemas tradicionais de ensino superior, ou seguir os estudos num campo de conhecimento completamente inédito, ou então ser a primeira pessoa a conseguir se classificar em Oxford aos sete anos de idade.

A 1ª Casa é o "Eu sou", enquanto a casa oposta, a 7ª, é o "Nós somos". A 2ª é "Eu tenho" enquanto a casa oposta, a 8ª é "Nós temos". Na mesma correspondência, a 3ª é o "Eu penso" e a 9ª o "Nós pensamos". A 9ª mostra-se através de estruturas codificadas em nível coletivo. Isso inclui não só os sistemas educacionais religiosos e filosóficos, como já dissemos anteriormente, mas também os sistemas legais e o conjunto de leis. A 7ª Casa representa a divisão em casas inferior ao horizonte, mas a 9ª representa a divisão superior — a suprema lei do país que governa as ações do indivíduo no contexto social mais amplo. Na 3ª, aprendemos a respeito de nós mesmos em relação àqueles que nos cercam de perto, mas na 9ª um sentido de nosso relacionamento ao coletivo como um todo é despertado. A 9ª Casa também é associada com a profissão voltada para publicações, na qual as ideias são disseminadas em larga escala.

Tradicionalmente, os planetas na 10ª Casa são associados com a carreira e a profissão. A pesquisa feita por M. e F. Gauquelin, no entanto, estabeleceu uma relação entre certos posicionamentos planetários da 9ª Casa e pessoas que alcançaram sucesso em campos relacionados com a natureza desses planetas.

Na 3ª Casa examinamos aquilo que está imediata e diretamente à nossa frente; na 9ª, não só vislumbramos o que está mais longe mas também aquilo que acontece e está para acontecer. Planetas fortes nesta casa propiciam um inusitado grau de intuição e previsão — a habilidade de sentir a direção que alguém ou alguma coisa estão tomando. A 9ª Casa "sintoniza" a vibração de uma situação, rapidamente registrando tendências e correntes no ar. Júlio Verne, o escritor de ficção científica, tinha um enorme dom de antecipar futuras descobertas; ele nasceu com Urano na 9ª Casa. Por um lado, a 9ª Casa dá o profeta e o visionário e por outro mostra a pessoa de relações públicas ou o promotor de novas aberturas para os outros. As energias da 9ª Casa podem ser expressas através de um agente de turismo que "escolhe para você as férias ideais"; o financista que lhe indica a melhor opção na Bolsa; o comerciante que lhe oferece a última descoberta psico tecnológica que promete iluminação instantânea num fim de semana; o técnico que eleva o moral de seu time antes de uma decisão importante; o apostador apontando o cavalo vencedor; ou o empresário artístico, literário ou teatral descobrindo o próximo grande talento.

Na 8ª afundamos no passado e dragamos o remanescente de nossa natureza primordial e instintiva. Na 9ª olhamos para o futuro e para o que ainda está por vir. Dependendo dos planetas e dos signos nesta posição e de seus aspectos, poderemos ver um futuro cheio de esperança e novas promessas ou então uma assombração que nos aguarda em cada esquina se formos loucos o suficiente para atravessarmos seu caminho. Em qualquer dos casos é de bom alvitre refletir sobre uma frase de Santa Catarina que diz que "todos os caminhos para o paraíso são o paraíso".

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