sexta-feira, 1 de julho de 2016

A Fórmula Chinesa, por Dane Rudhyar




É claro que este sistema é fundamentalmente diferente do sistema chinês, que coloca ênfase na realidade do "processo" e no dualismo que ele envolve. O yang e o yin, as duas polaridades cósmicas, são vistas em sua inter-relação cíclica, O tempo já não é mais a fatalidade que força o espírito à reencarnação, mas é a realidade básica de todo o processo de mutação. Toda a vida é um ritual de mutação, um drama mostrando as atividades correlatas de yang e yin, e apresentando suas transmutações sucessivas. Estas mutações são simbolizadas geometricamente, primeiro num sistema triplo de manifestação arquetípica (pois cada relação entre dois elementos envolve ação, reação e interação), depois num domínio sêxtuplo de atividade, que é o domínio do drama verdadeiro ou do desempenho externo. Formam-se assim 64 hexagramas, representando todas as fases possíveis de interação entre os dois princípios no domínio da atividade. Esses hexagramas então são distribuídos em um círculo, tal como os signos do zodíaco na astrologia moderna.

O que esta série cíclica de hexagramas representa é o drama universal da vida, o padrão cósmico de toda atividade e de toda reação a atividade (a que chamamos conhecimento). Mais especificamente, representa o gráfico das mudanças de relação entre Sol e Lua durante o ciclo do ano. Mas essa relação, que se curva ao longo do caminho da órbita da Terra, na verdade é a própria origem do princípio vital em tudo. A vida não vem do Sol. Vida é o resultado da relação entre Sol e Terra, entre energia e substância, entre Luz e Escuridão.

No solstício de verão, domina o yang, no solstício de inverno, o yin; nos equinócios eles estão num estado de equilíbrio dinâmico. Mas no outono, o yin aumenta, enquanto, na primavera, o yang aumenta e o yin diminui em intensidade. Portanto, quatro pontos cruciais, a Cruz da atividade, os quatro Atos do drama — que um Quinto Ato pode, ou não, sintetizar. Este Quinto Ato é a "Quintessência" do ensinamento alquímico. E o Quinto Ramo — a casa do Criativo, seja acima ou abaixo. É o lugar sagrado onde reside Tao, o Grande Significado, o ápice da pirâmide baseada nos quatro pontos cruciais do ano, o Símbolo de todos os símbolos. Tao é a solução de todos os conflitos, e por isso não é uma coisa nem mesmo uma essência, mas um processo. E o Processo na Cabeça, o caminhar do Iniciado ao subir os degraus que levam ao topo da pirâmide — um topo plano, originalmente, pois o ápice em si somente poderia ser o Fogo místico se elevando do altar exaltado, o altar em que os Quatro Erros (que na verdade são concepções limitadas) são queimados e dissolvidos, transformados, integrados no Significado Uno.

Este Significado Uno, resolvendo todos os conflitos pelo equilíbrio e transcendência, é incorporado pelo imperador chinês. Ele é o ponto neutro em que todas as energias cósmicas estão equilibradas, o Grande Vazio, o eixo da roda. Isto, no âmbito do Estado. Mas para o místico existia potencialmente um "palácio imperial" em cada pessoa. Lá, dentro da cabeça, Tao atingia completação como processo, o processo de "circulação da Luz", e o "Corpo Diamantino" nascia — o Imperador: o Deus-do-fun, a Semente-de-Luz.

A palavra Tao pode ser analisada simbolicamente de modo que cada uma das três letras corresponda a uma das partes do ciclo. A refere-se a Um-que-é-no-começo, a mônada; O implica a consumação final, que no homem significa a Personalidade integrada centrada ao redor do self (e não apenas o ego meramente consciente) e, num estágio mais avançado de abstração, a quintessência do Ser self; e o T representa o processo mundano de mutação — no homem, aquele estado de ser que é um fluxo contínuo de pensamentos, sentimentos, intuições e sensações, o estado da personalidade em evolução e permanente mutação. A letra T veio primeiro, nesta palavra sagrada da China, porque a civilização chinesa enfatizou o elemento do "processo", e a letra T, na simbologia universal, significa o poder vital que flui através do processo do vir-a-ser, o poder nascido da "crucificação" do Um no domínio da dualidade. No entanto esse poder vital, quando controlado pelo ser humano em equilíbrio de ação, transforma-se na energia que leva para o interior ao longo do "Caminho Consciente", que é Tao.

Assim, a meta do Sábio era harmonizar em si mesmo as polaridades opostas para alcançar um ponto de equilíbrio a partir do qual todos os conflitos poderiam ser resolvidos, simbolicamente, sendo então objetivados e transcendidos. Era, também, encontrar no centro criativo de sua identidade última, a quintessência de todo o processo de mutação, e com ela construir o veículo espiritual para um tipo correspondente de imortalidade individual como um dos verdadeiros "celestiais" — isto é, com a manifestação espiritual de um dos Princípios arquetípicos no domínio dos Universais.


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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar.

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