segunda-feira, 15 de maio de 2017

As Esferas Celestes - Modelos e perspectivas, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

Para compreender a Astrologia há que conhecer primeiro o modelo cosmogónico no qual ela assenta. Sem este conhecimento não é possível alcançar um verdadeiro entendimento das bases, das dinâmicas e da própria metafísica da Astrologia.

O principal aspecto a ter em conta é o facto de este modelo descrever o Universo segundo parâmetros astrológicos, pelo que difere substancialmente dos modelos científicos correntes.


Quando actualmente se fala em estrelas e planetas, a imagem que mais frequentemente se forma na mente é a do Sistema Solar, com o Sol no centro e os oito planetas conhecidos (incluindo a própria Terra) orbitando em seu redor. Esta perspectiva mostra-nos o Sistema Solar como se estivéssemos fora dele, num ponto de observação situado no espaço exterior. Desta forma, é fácil esquecer que estamos dentro do próprio sistema e que é a partir de dentro que vemos os planetas e as estrelas.

Esta representação expressa a realidade objectiva do Sistema Solar e enfatiza a natureza concreta e física dos planetas. Apesar de correcta, esta perspectiva não expressa um ponto de vista adequado ao estudo da Astrologia.

A realidade astrológica

Em Astrologia, a base de observação é a própria Terra. Todo o conhecimento astrológico está construído em função da realidade observável a partir do nosso planeta. Assim, os planetas são representados tal como são vistos por um observador terrestre. Para este, os astros parecem movimentar-se ao redor da Terra e não ao redor do Sol. Compreende-se assim que, no que diz respeito a simbolismo e interpretação, a Astrologia tome como ponto central a Terra (perspectiva geocêntrica) e não o Sol (perspectiva heliocêntrica).

Não se trata aqui de escolher um dos modelos em detrimento do outro, mas de compreender que ambos representam a mesma realidade, mas a partir de perspectivas diferentes — o modelo heliocêntrico mostra o Sistema Solar no seu todo e o modelo geocêntrico mostra o céu tal como é visto a partir da Terra. A questão é escolher o modelo adequado ao objectivo que se tem em vista. Quando o objectivo é estudar Astrologia, que observa os astros a partir do ponto de vista terrestre, há que adoptar o modelo geocêntrico.

O modelo das esferas celestes

O universo astrológico está admiravelmente retratado no modelo ptolemaico (também designado modelo das esferas celestes), de onde foram retirados a maior parte dos significados e "comportamentos" astrológicos dos planetas.

Neste modelo a Terra está situada no centro do Universo; é o ponto de maior materialidade. Ao seu redor agrupam-se de forma concêntrica as sete esferas dos planetas (incluindo o Sol e a Lua), bem como a esfera das estrelas fixas e a do Zodíaco. Para além das esferas, diz a Tradição, situam-se os reinos divinos, que transcendem a própria Astrologia, constituindo-se como tema de estudo da Teologia.


A nona esfera, a que está mais distante da Terra, tem a designação de Primum Mobile. É assim chamada porque é nela que se gera o movimento primário, a rotação aparente dos céus de Este para Oeste, ao longo de 24 horas. O movimento primário é o mais poderoso e importante de todos os movimentos celestes: movimenta as estrelas, o Sol, a Lua e os planetas ao redor da Terra; marca desta forma a passagem dos dias e confere aos planetas o seu poder de actuação, pois estabelece quando se erguem, culminam e põem. É também nesta esfera que está representado o Zodíaco — a base da interpretação astrológica.


Logo abaixo temos a oitava esfera, a das Estrelas Fixas, que constitui o pano-de-fundo de estrelas que se observa no céu nocturno. Esta esfera, também denominada firmamento, representa o céu "imutável" das estrelas e constelações, com todo o seu poder e simbolismo.


Seguem-se as sete esferas planetárias, que contêm os sete planetas visíveis a olho nu. A sequência está organizada de acordo com a velocidade aparente de cada planeta. Assim, Saturno, o astro mais lento, ocupa a sétima esfera planetária, a mais distante (também designada "sétimo céu"). Segue-se a esfera de Júpiter, a de Marte, a do próprio Sol (que ocupa o centro da sequência), depois a de Vénus, a de Mercúrio, e por fim a Lua, o mais rápido dos astros visíveis.


No centro, envolvida por todas as outras esferas, está a Terra, diferenciada em quatro camadas, correspondentes aos quatro elementos: Fogo, Terra, Ar e Agua. Ao elemento Terra, o mais pesado, corresponde a parte sólida do planeta — as ilhas, os continentes, as montanhas, etc. A Água corresponde obviamente aos oceanos, rios e lagos. Sobre a Terra e a Água paira o Ar, que corresponde à atmosfera e aos ventos. Segundo a Tradição, estes elementos seriam envolvidos por uma esfera de Fogo, onde se originariam fenómenos como estrelas cadentes, cometas e auroras boreais (hoje podemos estabelecer um paralelo entre a zona do Fogo e a camada superior da atmosfera terrestre, onde se observam os fenómenos de fricção e onde incidem as radiações cósmicas).


De acordo com a Tradição, as esferas celestes são constituídas por matéria "espiritual", logo perfeitas e imutáveis. Apenas a esfera dos elementos, também denominada mundo sublunar (por ficar abaixo da esfera da Lua), estava sujeita a mudanças, devido à sua natureza "material".

Sabemos hoje que o céu não é imutável nem perfeito, e que, além disso, é constituído pelos mesmos componentes que a Terra. No entanto, para o observador terrestre, é assim que a esfera celeste é percepcionada: perfeita, imutável e grandiosa.

Do ponto de vista astrológico estas premissas mantêm-se: tudo o que é terrestre está sujeito à mudança, e eventualmente conhecerá a corrupção e o decaimento. Estas mudanças, contudo, não ocorrem de forma aleatória, mas segundo um ritmo ditado pelo movimento dos planetas nos céus. Ao movimentarem-se, os planetas agem sobre os quatro elementos da Terra, alterando-os de diferentes formas — e por consequência provocando a mudança na Terra e em tudo o que esta contém, incluindo os seres humanos.

Este é o princípio básico da Astrologia: existe uma correlação entre os movimentos celestes e os eventos na Terra que permite interpretar e antever as mudanças.

Assim, para compreender como os planetas e as estrelas se relacionam com as mudanças na Terra é necessário conhecer as correlações de cada planeta, signo e estrela com os quatro elementos, ou seja, com o mundo terrestre. Esta é a base do estudo astrológico.


Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 31-6.

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