terça-feira, 16 de maio de 2017

O Mundo dos Elementos, por Helena Avelar e Luis Ribeiro

Agora que temos uma visão geral do universo astrológico, vamos debruçar-nos sobre os elementos — as forças sobre as quais os planetas actuam na Terra.

As qualidades primitivas

Os elementos, os "blocos construtores" do Universo, são por sua vez constituídos por quatro princípios fundamentais — as qualidades primitivas. São elas: o Quente, o Frio, o Seco e o Húmido. Estas qualidades representam a dinâmica base de todo o comportamento das substâncias: energia, densidade, resistência e maleabilidade. Elas explicam a essência dos elementos e, por consequência, da matéria e do mundo material.

Ao combinarem-se entre si, as qualidades primitivas definem os quatro elementos. As qualidades constituem também a essência dos diversos factores astrológicos, nomeadamente dos planetas e dos signos.



O Quente e o Frio imprimem a dinâmica a todo o sistema, sendo por isso denominadas "qualidades activas". Estão associadas ao conceito de energia: o Quente representa as coisas activas, enérgicas, irradiantes, centrífugas, luminosas, leves e subtis. O Frio representa as coisas estáticas, absorventes, centrípetas, escuras, pesadas e densas. A qualidade Quente corresponde ao masculino, que é expansivo e dinâmico; o Frio corresponde ao feminino, que é contractivo e estático.



O princípio masculino representa a actividade, dinamismo, exteriorização e expansão, enquanto o feminino corresponde à receptividade, contemplação, interioriza-cão e contracção.

Todo o Universo está sujeito a estas forças opostas, que se manifestam em contrastes como luz-escuridão, calor-frio, expansão-contracção, movimento-imobilidade, actividade-passividade, etc.

A interacção entre Quente e Frio gera dois novos pólos: Húmido e Seco.

A qualidade Húmido corresponde a uma interacção fluida. E gerado pela qualidade Frio, pois o arrefecimento tem por consequência a humidificação (por exemplo, o frio da noite leva à condensação do orvalho). Representa a adaptabilidade, a maleabilidade, a plasticidade, a suavidade e, por consequência, as coisas moldáveis, escorregadias, macias e suaves. Não tem forma própria e representa o princípio de coesão e moldagem.



Por sua vez, a qualidade Seco corresponde a uma interacção tensa. É gerado pela qualidade Quente, pois o aumento de calor tem como consequência a secura (como se pode verificar em qualquer material posto a secar ao sol). Representa a resistência, a dureza, a rigidez e, portanto, as coisas abrasivas, quebradiças e friáveis. Tem como propriedade principal a manutenção da forma, contendo, dando estrutura e cristalizando.

Por serem geradas pelas qualidades activas, o Húmido e o Seco são denominadas "qualidades passivas". Estão ligadas ao conceito de forma (por exemplo, a argila é maleável enquanto está húmida, mas deixa de o ser quando seca por meio da cozedura).

A formação dos elementos

Cada elemento é constituído por duas qualidades primitivas, uma principal ou activa e outra secundária ou passiva.




Da união entre o Quente e o Seco resulta o elemento Fogo, que se caracteriza por uma acção expansiva, irradiante (quente) que se impõe naturalmente, sem se moldar ao ambiente exterior (seco).


Da combinação entre o Quente e Húmido surge o Ar, igualmente dinâmico (quente) mas adaptável (húmido), que se caracteriza por uma actividade volúvel, adaptativa e dispersa.

Por partilharem a qualidade Quente, o Fogo e o Ar são ambos masculinos, dinâmicos e extrovertidos; caracterizam-se por um forte impulso centrífugo (exteriorizaste).

Da combinação entre o Frio e o Húmido surge a Água, que se caracteriza pela receptividade e pela densidade (frio) mas que é extremamente moldável (húmido).


Por serem frios, a Terra e a Agua são elementos femininos, reflexivos e introvertidos; têm um movimento receptivo e centrípeto.

Também podemos agrupar os elementos segundo as suas qualidades secundárias ou passivas.

Assim, o Fogo e a Terra partilham a qualidade Seco, que lhes confere uma expressão tensa, resistente e não-moldável. O Fogo resiste impondo a sua irradiação; consome e queima aquilo que toca, mas também ilumina e energiza, transmitindo a tudo o seu calor. Por seu turno, a Terra resiste pela persistência, pela permanência; possui uma espécie de inamovibilidade que cria obstáculos e bloqueia, mas que também estrutura, dá coesão e estabilidade.


O Ar e a Agua partilham o Húmido, sendo por isso maleáveis, volúveis e adaptativos. Enquanto o Ar expressa esta maleabilidade de forma activa, expandindo-se livremente em qualquer direcção, a Agua expressa-a de forma mais retraída: molda-se, absorve influências, infiltra-se e dissolve estruturas.


Os quatro elementos

Os Quatro Elementos estão escalonados por esferas segundo a sua subtileza e densidade.

A Terra é o elemento mais denso, pelo que ocupa o centro dos mundos sublunares, constituindo os continentes. Pela sua gravidade (peso), representa tudo o que tende a permanecer estático, por exemplo, uma rocha. Mantém as formas fixas e estruturadas, torna a substâncias cristalinas e duras conferindo-lhes permanência, durabilidade e estabilidade.


Coisas caracterizadas pela Terra são escuras, de cores baças e texturas ásperas, duras, pesadas e muito sólidas.

A Água ocupa a esfera seguinte pois é menos densa que a Terra. Representa os oceanos e todas as massas de água do planeta. Apesar de ser um elemento denso (Frio), a qualidade Húmido confere à Agua uma grande plasticidade e adaptabilidade. A Agua torna moldáveis as matérias mais densas e tem propriedades adesivas, pelo que serve de elemento agregador, impedindo os objectos de secar e ficar quebradiços.

Coisas caracterizadas pela Agua são tendencialmente de cor escura, podem ter capacidade reflectora ou apresentar jogos de cor (como a própria água), têm flexibilidade limitada e são mais leves que as representadas pelo elemento Terra.

O Ar corresponde à terceira esfera sublunar, representando a atmosfera terrestre. Tem como características a leveza e a penetração, associada a uma grande mobilidade e plasticidade. Tal como a Agua tem um papel unificador, mas de forma mais subtil, pelo que lhe é associada a propriedade de transporte: por exemplo, o som e os cheiros são propagados através do Ar.

Coisas caracterizadas pelo Ar são cintilantes, claras, suaves e leves, apresentando grande agilidade e flexibilidade.

O Fogo, o elemento mais subtil, ocupa a esfera exterior dos mundos sublunares. E extremamente rarefeito, pelo que a sua presença é detectada principalmente através das suas qualidades de luminosidade, calor e "electricidade". Este elemento permite as trocas energéticas entre as várias formas. Actua na matéria provocando a criação e transformação das várias substâncias e, nos seres vivos, conferindo a vitalidade e promovendo o crescimento.

Coisas caracterizadas pelo Fogo são luminosas, brilhantes, de cores irradiantes e muito vivas. São também leves, mas apresentam alguma dureza e resistência.

Tudo o que existe na Terra está associado a um dos elementos ou a uma mistura de elementos (em rigor, podemos afirmar que o Fogo, a Terra, o Ar e a Agua estão presentes em tudo, embora em diferentes proporções).

Por outro lado, cada signo e cada planeta está associado a um elemento em particular. Os movimentos e configurações celestes podem, por isso, ser interpretados na perspectiva da movimentação e da combinação de elementos. Compreendemos assim que os elementos são a ponte entre os acontecimentos terrestres e a realidade celeste. A sua dinâmica, manifestada através dos movimentos dos planetas e signos, confere-nos a compreensão dos eventos terrestres (por exemplo, os acontecimentos mundanos, o clima, os comportamentos humanos, as doenças, etc.).


Helena Avelar e Luis Ribeiro, in Tratado das Esferas - um guia prático da tradição astrológica. Editora Pergaminho. Cascais, Portugal, 2007, pp. 36-41.

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