sexta-feira, 4 de agosto de 2017

As Direções Primárias, por Clélia Romano

As Direções Primárias eram chamadas na antiguidade de "os grandes cálculos". Hoje em dia, após o programa Placidus de Ruman Kolev e outros que se seguiram como o Morinus de Martin Gansten, as Direções Primárias passaram a ser testadas pelos astrólogos atuais, mesmo aqueles que não tem talento ou habilidades matemáticas e espaciais, ou facilidade para lidar com cálculos, grupo no qual me incluo, apesar de as ter estudado desde 1986.

Minha primeira reação foi de desilusão, pois simplesmente as datas não conferiam, havendo mais de ano de diferença, ou então, o significado dos planetas não conferiam com os fatos.

Encontro muita precisão nas Firdárias, Profecções, Revoluções Solares e Trânsitos, quando corretamente usados. Quanto às direções calculadas, se apontarem no mesmo sentido que as técnicas anteriores, são um dado valioso e tornam o evento praticamente inevitável. Mas nem sempre isso ocorre e, o fator tempo é pouco preciso nessa técnica.

História

Desde o primeiro século antes de Cristo, Dorotheus de Sidon descreve as Direções Primárias em seu terceiro livro de poemas, o "Carmen Astrologicum". Ele dá exemplos detalhados do calculo e interpretação das Direções Primárias zodiacais ao Ascendente.

Um século mais tarde, no Livro II, Capítulos XIV-XV do Tetrabiblos, Ptolomeu descreve as direções zodiacais in mundo aos ângulos assim como as conjunções interplanetárias e os paralelos in mundo. Seu método de direção é praticamente igual ao que chamamos hoje em dia de método Placidiano.

Astrólogos que seguiram este método foram Alchabitius , Lucas Gauricus, Placidus, Alan Leo e outros. Regiomontanus (1436-1461) formulou as leis da trigonometria esférica e inventou uma divisão da casa e um sistema de direções primárias que levam seu nome. Seguiram-se uma série de astrólogos dirigindo de acordo com o sistema Regiomontanus. Entre eles : Argolus, Maginus (1555-1617), Manginus, Zobulus, Leovitius (1529-1574), Naibod (1527-1593), Morin de Villefranche (1587-1656), William Lilly (1602-1681) e Henry Coley.

Cardanus (1501-1576) foi outro astrólogo famoso e que dirigiu de uma maneira diferente, que se aproxima do método de Ptolomeu e Placidus.

Placidus de Titti (1603-1668), astrólogo italiano do século XVII permaneceu na história da astrologia como o primeiro astrólogo que sistematizou e explicou claramente quase todos os tipos de direções principais. Mesmo agora, seu brilhante tratado "Primum Mobile" continua a ser um clássico. Ele também foi o inventor do sistema de casa que leva seu nome.

Placidus redescobriu os métodos de divisão de casas de Ptolomeu e também seu método de direções primarias .

O que são Direções Primárias?

Se as Direções Secundárias são o resultado do movimento da Terra ao longo do ano: os astros se movem no Zodíaco, as Direções Primárias são o resultado do movimento da Terra em torno de si mesma: os astros se movem nas Casas.

Por alguns considerada a elite de todas as predições, nas Direções Primárias temos dois pontos para trabalhar: o promissor e o significador.

O Significador permanece fixo na esfera celeste, como o era no momento do nascimento. Ele pode ser um planeta, uma estrela, o horizonte, o meridiano ou um lugar geométrico como uma casa terrestre.

Mas, geralmente, utiliza-se como Promissor apenas o Ascendente, o Meio do Céu, o Sol, a Lua e a Fortuna.

O Promissor é o outro ponto, na maioria das vezes um planeta ou um ponto do Zodíaco, que se move diretamente ou contrariamente à rotação da esfera celeste. O primeiro caso é mais moderno e seguiria a direção dos signos, designado como direções conversas e o segundo caso, que segue o movimento de rotação da terra, é chamado de direções diretas.

O objetivo é trazer o Promissor para a mesma posição em relação ao horizonte e ao meridiano (isto e a mesma posição in Mundo) que tinha o Significador no momento do nascimento .

Dependendo da definição da posição in Mundo, que depende do sistema de casas empregado, podemos fazer isso através de diferentes algoritmos.

Até o momento, há três definições da posição in mundo: a placidiana, a regiomontana e a campânica (baseada em Campanus). Assim, podemos ter três tipos de direções principais. (Podemos adicionar o topocêntrica, também, mas não iremos nos especializar muito neste tópico).

As direções que são mais fáceis de explicar e imaginar são as direções in Mundo dos planetas aos ângulos (ASC, MC, DESC, IC).

Aqui, nós estamos olhando para a quantidade de tempo antes ou depois do momento do nascimento que um planeta (o Promissor ) sobe, culmina , se põe ou atinge a sua menor culminação, o Fundo do Céu. Imagine-se o leitor fora da terra olhando os dois pontos até chegarem a uma conjunção ou aspecto e terá uma ideia melhor do que é a Direção in mundo.

A base das direções primárias é a aparente rotação de 24 horas da abóboda celeste em volta da terra.

Nas direções primarias autênticas observamos a posição natal relativa ao ASC, isto é o horizonte, e ao meridiano, isto é o MC.

Então observamos quanto tempo é preciso para que este ponto, transportado com o movimento da esfera celeste, atinja uma nova posição. Esta segunda posição deve satisfazer certas condições dependendo do tipo de direção que estivermos calculando.

Em se falando de Direções Primárias a maior diferença é que podem ser calculadas in mundo ou zodiacalmente.

As direções in mundo são calculadas com o corpo dos planetas ou com seus aspectos vistos de fora da terra. Os aspectos in mundo são pontos no passo diurno do planeta que está a certo numero de casas distante de um objeto. Isto é calculado fora da eclíptica, como se fossemos um observador vendo o mundo de fora.

Já as direções zodiacais são calculadas com os aspectos zodiacais dos planetas, isto é levam em conta a eclíptica, que é o cinturão visível de determinada latitude.

As direções in mundo são mais fortes, segundo Roman Kolev.

Mas, em minha opinião pessoal, as direções zodiacais são fortes também e muito mais precisas na questão tempo. Esta era também a opinião de Placidus.

Se computarmos as direções in mundo de planetas ao horizonte e ao meridiano então temos que ver quantos minutos e segundos depois do nascimento os planetas vão aparecer no horizonte, culminar, se pôr e atingir o grau mais baixo de culminação.

Empregando Direções Primárias podemos esperar resultados espetaculares, mas tal não sucede sempre, mesmo que a hora de nascimento esteja correta.

Direções Diretas e Conversas

Se girarmos a esfera celeste em seu próprio movimento, na ordem oposta dos signos temos as direções diretas. Essas tem o verdadeiro espírito de Direções Primárias. Imaginar que a frente e trás são polos da mesma matéria, assim como passado e futuro fazem parte do presente, é um belo argumento filosófico, e no meu entender faz sentido, mas se pensamos que a terra gira na direção contrária à dos signos e que a Direções Primárias se basearam nisso, é um contra-senso usar as chamadas direções conversas.

Platão chamou o movimento de rotação da terra de "movimento do Mesmo", enquanto que o movimento de translação ele o chamou de "o movimento do Outro".

A maioria dos antigos astrólogos dirigiam somente de forma direta.

No entanto Manginus, Morin e H.Coley levantaram a questão de dirigir conversamente. No século XIX e XX muitos astrólogos começaram a considerar direções conversas.

As direções in mundo podem ser:

1- Planetas aos ângulos (ASC, MC, DESC, IC).

Aqui, dirigimos o corpo dos planetas ao horizonte ou ao meridiano. Estas são as mais poderosas direções.

2. Outros corpos celestes, como planetas e estrelas, aos ângulos (ASC, MC, DESC, IC).

Aqui, computamos quando o promissor vai ficar a certo numero de casas distante do significador formando um aspecto. Tecnicamente um planeta natal é o promissor e o aspecto mundano de outro planeta natal que permanece fixo é o significador.

Há certa confusão entre os termos promissor e significador, mas a ideia é que, se o leitor quer saber quanto tempo o anareta demora para atingir o afeta, isto é o significador da vida, a posição do ultimo não se move e o que é calculada é a trajetória do primeiro. Em termos longitudinais isso não faria diferença, mas em termos de direções primárias, pelo tipo de calculo trigonométrico usado pode haver boa diferença.

Planetas in mundo em cúspides de casas também podem ser dirigidos a aspectos com o MC e o Ascendente.

Pode-se também dirigir planetas para seus próprios aspectos in mundo, mantendo fixa sua posição original. Isto é, calcular o momento em que Saturno dirigido fará quadratura a Saturno natal.

Pode-se também dirigir planetas in mundo aos seus paralelos.

Já as direções zodiacais podem ser:

1. Planetas zodiacais dirigidos para os ângulos ( ASC,MC, DESC, IC).

Aqui dirigimos por projeção eclíptica os planetas ao horizonte e ao meridiano.

2. Podemos dirigir pontos zodiacais aos ângulos. (ASC, MC, DESC, IC).

Podemos dirigir pontos zodiacais ao paralelos dos ângulos (ASC, MC, DESC, IC).

Podemos também dirigir outros pontos zodiacais (estrelas, termos) aos ângulos (ASC, MC, DESC, IC).

E podemos realizar direções aspectuais zodiacais interplanetárias.

Em suma: As Direções Primárias são formadas pelos movimentos que os corpos celestes fazem em relação ao plano do horizonte e ao meridiano do lugar em consequência da rotação da terra em torno de seu eixo.

Estudam-se todos os deslocamentos possíveis em aproximadamente seis horas antes e depois do nascimento, supondo um indivíduo que viva noventa anos (devido ao fato de que em Direções Primárias quatro minutos de tempo, equivalem a 1 ano de vida).

O conceito é impressionante e funciona, mas não tem a importância que lhe foi atribuída como o mais perfeito método preditivo.

Como os outros métodos, deve ser usado sempre após cuidadosa delineação para que sejam dirigidos os significadores e promissores corretos.

Além disso, os resultados ganham em valor quando várias técnicas apontam para a mesma direção.

Mais tarde falaremos das direções ascensionais, mais antigas e , segundo minha experiência, mais precisas. Ptolomeu teria usado esse tipo de direção.



Capítulo 4
Clélia Romano, in Técnicas Astrológicas Preditivas, Edição do Autor, 2015.

O livro pode ser adquirido aqui: http://www.astrologiahumana.com/  


Um comentário:

  1. Desde que me envolvi com a astrologia já há 50 anos e lendo em livros sobre as “direções” nunca à aprovei. Inclusive, em vários livros sempre diziam a mesma coisa, ou seja, que as “direções” são 60% de positivo (eficiência) e 40% de negativo (ineficiência). Em seu livro, Manual Practico de Astrologia (pág. 269), o astrólogo Georges Antarès escreve o seguinte sobre as “direções” e outros “métodos” para se fazer previsões: “Hasta el día de hoy no se ha descuberto ningún método único e infalibre para determinar los acontecimentos de la vida com exactitud, y no vemos obligados a usar varios sistemas que, tomados por separado, dan resultados apreciables pero insuficientes, tal y como lo ha probado una encuesta realizada en la revista Demain.” Também na Internet atualmente das várias matérias que li – boas por sinal como esta que a colega escreveu –, também terminam com o mesmo impasse: 60%+ e 40-. Portanto, não vale tanto trabalho para resultados apenas “apreciáveis”, mas “insuficientes”, como escreveu Georges Antarès.

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