quinta-feira, 16 de junho de 2016

Astrologia e Lógica Holística, por Dane Rudhyar

O todo também é "a fonte e o princípio de explicação" da verdadeira astrologia. Como a entendemos, e como talvez tenha sido sempre entendida por aqueles que provaram seu significado mais essencial, a verdadeira astrologia é a matemática da totalidade. É a "lógica holística" em oposição à "lógica intelectual" desta presente civilização ocidental. Ela lida com totalidades. Estuda a harmonia estrutural, o crescimento, o desenvolvimento e a desintegração ou transfiguração de totalidades — sejam estas os organismos biológicos usuais ou totalidades mentais e espirituais mais transcendentes.

A lógica intelectual lida com "partes"; a lógica holística com "todos". Como Bertrand Russell diz, todas as proposições intelectualmente lógicas são essencialmente tautologias. Elas equacionam julgamentos concernentes ao domínio de "partes". Elas veem que partes se ajustam causalmente, umas com as outras. São proposições estritamente analíticas e estão perfeitamente adaptadas à concepção mecanicista do mundo — que permanecerá sempre um fator essencial no conhecimento humano. Este conceito, tão fortemente (quase exclusivamente) desenvolvido na civilização europeia (e seus protótipos gregos), é um instrumento maravilhoso de conhecimento. Mas apenas um instrumento. Não nos faz entender a realidade. Apenas estabelece uma base de "honestidade intelectual" para nossa abordagem da realidade. Ajuda a remover os tumores do emocionalismo subjetivo, que tão facilmente corrompem qualquer tipo de conhecimento vital. Filtra as águas do conhecimento, por assim dizer, ou, num outro sentido, é um andaime que eleva o conhecimento a um plano verdadeiramente humano. A lógica intelectual e a ideia de causação estrita (seu resultado) são ferramentas maravilhosas para o treinamento de uma mente cristalina, honesta e não-emocional ou não-devocional. Servem para desenraizar a ilusão do miraculoso; os enganos da mente religiosa, tribal. São grandes catárquicos. Mas, embora se possa adivinhar a forma de um edifício pelo estudo do andaime usado em sua construção — o andaime não é o edifício.

O andaime representa a visão exterior do mundo, uma visão que lida com partes como se não fossem componentes integrais e, pelo menos num certo sentido, produtos de um todo. Mas, no momento em que o todo se torna uma unidade operante, as partes deixam de ser meras partes e passam a ser órgãos funcionais do todo orgânico. Geralmente, restringimos o uso de termos como organismo, órgãos, funções àquilo que agora é conhecido na ciência como todos biológicos. Mas, na concepção holística do universo, estendemos o uso desses termos, ao menos potencialmente, a todos os tipos de totalidade. O fato de haver um todo implica a existência de partes que são mais do que aquilo que se conhece, do ponto de vista mecanicista, como meras partes. Voltamos a fazer uma distinção entre partes analisadas mecanicistas e intelectualmente, e partes holísticas, sendo estas, em todas as instâncias, órgãos, células ou grupos de células, e agentes do todo.

Em outro trabalho, falamos extensivamente da filosofia da Totalidade Operativa (The Glass Hive, Hamsa, série de artigos sob esse título; 1929 a 1934). Sentimos que estas duas palavras totalidade operativa, que usamos anos antes de conhecer o trabalho do general Smuts ou aqueles de outros filósofos ingleses, são muito significativas. No mínimo, elas dão o tom fundamental de uma filosofia da astrologia. Pois a astrologia verdadeira trata, exclusiva e integralmente, de totalidades operativas. Lida com elas exatamente no momento preciso em que emergem para a condição de totalidade; quando se tornam capazes de manter a operação independente como totalidades em seu próprio nível de existência; capazes também, ao menos potencialmente, de se reproduzir por meio de algum tipo de processo emanador ou multiplicativo.

Confrontamo-nos aqui com dois fatores definidos: um fator espaço — a estrutura do todo, sua morfologia e a soma total de seus caracteres específicos; e um fator tempo — o momento de integração, de "holização", quando o que era apenas um grupo de elementos começa a operar como uma totalidade independente. O fator espaço deve ser conhecido independentemente da astrologia. Pertence àquelas ciências que tratam da disposição ou estrutura espacial — como física, fisiologia e psicologia. Uma carta astrológica nunca dirá, por si, se a totalidade que ela carateriza é um homem, um cachorro, uma semente de trigo ou uma ideia. Quando se sabe que a carta deve se referir a uma entidade da espécie honro sapiens, e, mais que isso, a uma determinada raça dentro daquela espécie (branca, amarela, negra, vermelha), então será possível ter uma grande dose de conhecimento inferencial quanto à variação individual do tipo que a carta representa, nada mais.

Esta é uma das razões pelas quais comparamos a astrologia à matemática pura, pois a matemática não dá qualquer informação quanto à coisa a que suas equações se referem. Primeiro, você precisa ter conhecimento perceptivo, só então pode usar a matemática para dar uma nova qualidade àquele conhecimento. Do mesmo modo, para usar a astrologia inteligentemente, primeiro você precisa saber que tipo de todo a carta simboliza. É um ser humano? É um homem ou uma mulher? E, ao menos até certo ponto, de que tipo racial e cultural de homem ou mulher se trata? Conhecendo estas coisas, a astrologia pode então ser usada para acrescentar uma nova qualidade àquele conhecimento. Essa qualidade depende quase que unicamente de valores que se referem à essência do tempo — um fator quase totalmente desconhecido na ciência. A astrologia tem suas raízes no mistério do tempo.

Permitam-nos apresentar de novo nosso paralelismo entre lógica e astrologia. A lógica é um método de testar a pureza do princípio causal em qualquer conceito. O princípio causal, por sua vez, é o fundamento da teoria mecanicista, que se refere, como vimos acima, a um ponto de vista externo a partir do qual o universo aparece como um agrupamento de elementos relacionados causalmente numa matriz abstrata, agora chamada espaço-tempo, ou o continuum. Numa teoria assim, a essência do espaço absorve completamente a realidade do tempo, que se torna meramente uma quarta dimensão do espaço. Como Bergson ressaltou em seu grande trabalho Creative Evolution, o tempo da ciência é puramente matemático e não tem valor vital intrínseco algum Ele então tentou abordar a realidade do tempo, que expressou por meio do termo duração.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar. 

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