domingo, 19 de junho de 2016

Intuições e Símbolos, por Dane Rudhyar

O novo tipo de astrologia que discutimos neste livro fundamenta-se nessa concepção positiva de tempo. E portanto envolve o uso de uma faculdade que não ocorria em mentes oprimidas pelo conceito negativo de tempo, pelo seu determinismo e seus medos. De acordo com o conceito negativo de tempo, a cada momento, cada todo está morrendo em suas partes. Assim, a única coisa que o todo pode fazer é tentar freneticamente conseguir novas partes e, assim, dominar as leis causais de relacionamento entre as partes, de tal modo que, pela habilidade técnica, a desintegração fatal possa ser tão desacelerada quanto possível e a estrutura-espaço preservada. Como na guerra o ataque é o melhor meio de defesa, assim a autopreservação é mais bem conseguida por meio do auto-engrandecimento. O que leva ao imperialismo e à insaciabilidade, com um constante pano de fundo de medo. Em última análise, temos o símbolo do "mago negro", que se alimenta da morte de todas as coisas, que no medo absoluto preserva sua perfeição formal pela destruição de todas as coisas e sugando seu poder vital. Essa é a manifestação suprema do tempo negativo. Ela envolve o uso de um intelecto poderoso, que reduz todas as coisas a elementos para poder assimilá-los, o que é absolutamente não-criativo por estar absolutamente divorciado do poder holístico do verdadeiro tempo.

Talvez isso seja apenas um símbolo, mas indica a consumação do processo, que exalta exclusivamente a lógica intelectual e a atitude mental analítica, causal. Em oposição a isso, vemos o desenvolvimento da faculdade da intuição, que é o poder de identificar a si mesmo com o poder de fazer todos que o tempo tem. A intuição começa com o instinto biológico. Este apreende cada situação e confrontação nova como um todo, e reage a ela também como um todo, instantaneamente. Há, portanto, um ajuste perfeito do todo com o todo e completação perfeita tanto dos relacionamentos envolvidos na confrontação quanto do momento em si.

A intuição é a mesma capacidade no nível psicomental. C. G. Jung fala da intuição como segue:

Intuição é um tipo de apreensão instintiva, independente da natureza de seu conteúdo. ...Através da intuição, qualquer conteúdo é apresentado como um todo completo. ...A cognição intuitiva possui lona natureza intrínseca de certeza e convicção, que possibilitou a Spinoza defender a scientia intuitiva corno a mais alta forma de cognição.

A melhor definição para nós seria: intuição é percepção holística. Também pode ser definida como consciência de si mesmo. É uma faculdade que nos possibilita ter consciência do self (a totalidade) de qualquer todo. Fica portanto oposta às sensações, que são sempre fragmentárias, e por causa disso precisam da lógica causal do intelecto (ou da capacidade biológica de associação de sensações equivalente) para coordená-las. A intuição não se baseia na lógica causal, e sim naquela à qual nos referimos como "lógica holística". A certeza derivada de compreensões intuitivas não é do mesmo tipo daquela que deriva de proposições matemáticas simples; no entanto, a compreensão intuitiva é, a seu próprio modo, um tipo de tautologia.

Tautologia foi definida por Bertrand Russell como uma proposição que mostra "que certos conjuntos diferentes de símbolos são maneiras diferentes de dizer a mesma coisa". Em outras palavras, o processo é o de identificação de duas representações simbólicas. A compreensão intuitiva é semelhante a isso porque através dela um todo (seja ele um indivíduo ou uma situação) é identificado com uma qualidade. Sabe-se intuitivamente que uma pessoa é honesta, por exemplo. Isto significa que de um modo peculiar a pessoa e a honestidade foram compreendidas como idênticas. A qualidade, honestidade, se sobrepôs ao conceito de pessoa e tornou-se una com ele. Acreditamos que todas as intuições podem ser explicadas como identificações súbitas de todos específicos com qualidades mantidas, por assim dizer, no inconsciente. Quando uma pessoa (ou toda uma situação) se torna o sujeito de uma compreensão intuitiva, uma ou várias dessas qualidades básicas são subitamente extraídas do inconsciente e tão unificadas com a imagem mental da pessoa (ou da situação), que esta se torna completamente significativa em termos dessas qualidades.

A astrologia se baseia numa dessas compreensões intuitivas identificando "ordem" e "os movimentos celestes dos astros". A qualidade conceitual de "ordem" estava latente no inconsciente. Era o resultado psicológico de uma ânsia de encontrar uma compensação para o aparente caos da existência cotidiana. Mais do que isso, o homem observou que havia uma regularidade notável nos movimentos do Sol, da Lua, das estrelas. Então o fator psicológico interno e a percepção externa apareceram de algum modo como idênticos. Um tornou-se símbolo da outra. Todas as intuições são baseadas em símbolos.

Que são símbolos? Eles são representações de qualidades que pertencem a totalidades. Em contraposição a símbolos, as enumerações e as categorias pertencem a partes. Partes existem numa condição de simultaneidade coextensiva — isto é, no espaço. Elas são vistas em justaposição, e nos impressionam basicamente em virtude de suas diferenças: ocupam lugares diferentes, têm orientações diferentes, comportamento diferente. Elas têm características distintivas graças às quais a mente é capaz de defini-las analiticamente contra o pano de fundo de um espaço homogêneo, ou umas contra as outras por contraste. Por isso, as partes podem ser enumeradas, podem-se dar a elas valores quantitativos e associações causais, elas podem ser classificadas em categorias, compartimentos etc. Mas quando tratamos de totalidades (seja como entidades inteiras, ou como situações inteiras), defrontamo-nos com individualidades verdadeiramente indivisíveis, que precisam ser entendidas e vividas como totalidades. Para fazer isso, precisamos estabelecer uma corrente de "simpatia" entre nós (como um todo) e elas. Nossa totalidade se encontra com suas totalidades e as unifica. O resultado é um estado psíquico, em nós. Este estado é puramente qualitativo, pois, como Bergson demonstra em seu livro, Les données immédiates de la conscience, os estados psicológicos em si são puramente qualitativos, e duração pura é uma "sucessão de mudanças qualitativas".

Portanto, abreviando e evitando longas argumentações metafísicas podemos dizer que cada todo, tal como é experimentado por nós em qualquer momento determinado, é permeado por uma qualidade que representa o "caráter" desse todo, o caráter da situação como um todo: seu significado, sua "alma". Como pode essa alma ou significado ser comunicado? Não pela mera enumeração das partes que constituem o todo, mas por um "símbolo", que, como um "signo", revela o significado do todo.

Valores-tempo, valores-alma, valores-todo — termos similares — não podem ser comunicados diretamente. A análise intelectual e as operações mentais com ela relacionadas não têm utilidade alguma para transmitir a totalidade de um todo, o caráter de uma situação toda, de um momento todo. Somente a intuição, baseada na identificação e simpatia perfeita (ou sintonia perfeita), pode nos dar a compreensão daquela totalidade ou caráter.

Mas como podemos fazer surgir esse estado de identificação? Apenas pela formulação de uma situação ou imagem que, de um modo dramático ativo, exteriorizará a qualidade do todo — e, mais que isso, tenderá a fazer surgir a experiência daquela qualidade em outros. Suponhamos que um homem esteja vivendo numa selva fechada, tão densa que ele nunca tenha visto um céu noturno cheio de estrelas. Na selva, ele experimenta, constantemente, o medo e sofre ataques de coisas vivas hostis. A vida na selva lhe parece um caos assustador de instintos brutais. Então vem até ele um ser superior que o leva até o pico de uma montanha, de onde pode ver a abóbada ordenada das estrelas. Ensina-lhe os rudimentos da astronomia e as leis ordenadas das movimentações celestes. Pela primeira vez, sua totalidade se encontra com a totalidade do universo, e ele experimenta a realidade de ordem e harmonia. Mesmo a vida da selva, o homem percebe agora, é regida por alguma grande harmonia misteriosa.

Então ele retorna à sua selva, seu ser todo preenchido pela experiência. Tenta comunicar o significado de ordem para seus companheiros de selva — sem sucesso, é claro, pois não há experiência sensorial deles que lhes possa dar o "símbolo" de ordem. Finalmente, ele os leva ao topo de árvores altas, e eles contemplam o céu noturno. Veem, noite após noite, a abóbada de estrelas. Podem sentir a realidade da ordem universal, pois agora viram um "signo" dela. E sempre que, mais tarde, se incapazes de subir nas árvores mais altas e oprimidos pelo caos escuro da selva, eles se sentem perdidos nesse caos, outro homem pode lhes dizer: "Lembrem-se das estrelas. Há ordem no mundo." E os homens em desespero podem novamente experimentar a realidade da ordem através do poder do simbolismo das estrelas.

De modo semelhante, um tigre se torna um símbolo de medo; uma casa bem construída, um símbolo de proteção. Em outras palavras, uma situação de vida que, na experiência mais ou menos universal da humanidade, é espontaneamente identificável com a qualidade de um determinado estado psicológico, torna-se o símbolo daquele estado. É aquele estado exteriorizado como uma imagem simbólica, sendo a imagem ainda mais abstraída, num estágio posterior de evolução, numa palavra, ou numa sentença ou numa obra de arte.

O que torna uma imagem ou ação dramática um símbolo adequado é, antes de mais nada, o fato de ela constituir uma situação total. Precisa ser experimentada como um "todo de ação', de outro modo não despertaria em outra pessoa um estado psicológico inteiramente caracterizado. Precisa então estar relacionada com a experiência passada daquela pessoa, direta ou ao menos indiretamente. Nenhum símbolo é realmente significativo para qualquer um que não tenha experimentado o "todo de ação" que ele representa. Um tigre não é um símbolo de medo para alguém que nunca tenha vivido a experiência de encontrar um tigre, diretamente, ou indiretamente por participar da experiência de outras pessoas. Quanto mais indireta e remota a experiência, menos significativo o símbolo — pois menor é o poder que ele tem de evocar o estado psicológico que deve identificar.

Dissemos que todas as intuições se baseiam em símbolos. Mas os instintos, de uma maneira diferente, também são assim. Um animal se depara com uma situação e reage a ela instintivamente. Se, no passado, nenhuma situação idêntica tivesse sido experimentada por sua espécie como um todo, não haveria essa reação — certamente não como um comportamento tão perfeito. O fato de a situação ter sido experimentada muitas vezes antes fez da configuração de elementos que a constituem um símbolo. Tornou-se o sinal de um estado psicológico-biológico que compeliu à adaptação imediata. A reação instintiva não é apenas imediata, mas uma adaptação perfeita do experimentador à situação. Isto é assim porque o símbolo tem significado absoluto, e portanto compele absolutamente, sem nenhuma reserva ou perversão, o próprio comportamento vital ou biológico.

Num ser humano moderno, ao contrário, dificilmente uma situação de vida é dotada de significado absoluto como um símbolo, por que o homem moderno usa sua mente analítica a ponto de não mais poder perceber uma situação (ou a si mesmo) como um todo. Ele não é inteiro em suas reações — ao menos sob o esforço de alguns poucos sentimentos biológicos todo-compulsivos. O homem não vê pessoas ou situações como totalidades. Por isso elas não são por ele identificadas imediatamente com "qualidades", das quais se tornem símbolos. Por não serem percebidas como símbolos de qualidades, completa e inteiramente experimentadas no passado, precisam ser analisadas, parte por parte. No melhor dos casos, o resultado é uma reação retardada, ou uma reação errada. Nem o instinto nem a intuição analisa um homem ou uma situação parte por parte, mas apreendem o todo de uma só vez. Eles os veem inteiros e como idênticos a uma ou várias qualidades, o que determina uma reação correta.

O índio americano, mesmo hoje, geralmente reage de imediato a uma pessoa que nunca tenha encontrado antes. A voz dessa pessoa ou a qualidade de seu silêncio ou alguma coisa indescritível torna-se, para o índio, um símbolo claro do verdadeiro self (ou seja, totalidade) da pessoa. E ele age de acordo com o julgamento verdadeiro — a partir de sua intuição. O homem branco, ao contrário, não encontra um estranho como um todo encontrando um todo, intuitivamente, mas começa a analisar esta e aquela aparência ou característica. E vendo partes mais ou menos sem relação em vez de um todo simbólico de qualidades, ele frequentemente reage ao estranho de modo errado.

Portanto, a intuição é o poder de ler cada todo como um símbolo de uma qualidade básica de vida. Isto na verdade significa ver a alma em cada coisa, a totalidade (qualidade) em cada todo. Através de seus instintos, o animal vive num mundo de símbolos apreendidos inconscientemente, que compelem suas funções biológicas a reagir em padrões de comportamento perfeitos. O homem totalmente intuitivo vive num mundo de símbolos percebidos conscientemente, num mundo de almas, cheio de significado. A combinação de todos esses símbolos a cada momento constitui um outro símbolo, o símbolo-semente do momento. Este símbolo-semente revela a qualidade significativa da alma daquele homem como se vê revelada na realização do momento.

Falando de um ponto de vista cósmico, cada momento do universo pode então ser percebido como um símbolo cósmico revelando a qualidade do momento e a alma do Cosmos — chame isso de Deus, se desejar. Cada momento assim realizado, no entanto, é aquele momento em relação com o observador na Terra, e, em última instância, com relação a toda a humanidade.

Como vimos que cada momento é o nascimento de inúmeros todos, segue-se que, pela lei da hereditariedade cósmica, a qualidade daquele momento determina a qualidade básica dos todos que dele provêm. E como a revolução ordenada dos corpos celestes é o grande símbolo de ordem natural e cósmica, segue-se que o padrão formado por esses corpos celestes em qualquer momento pode ser tomado como o símbolo-semente da totalidade (identidade e destino) de cada todo nascido naquele momento. A qualidade revelada por aquele símbolo-semente é a qualidade desses todos. Mas o símbolo-semente (a carta natal astrológica) precisa ser considerado como um todo, e através da faculdade da intuição. Pois o intelecto analítico não é de nenhuma utilidade para a compreensão de símbolos holísticos; e, se a carta natal significa qualquer coisa de vital e real, só o pode ser como símbolo — portanto, como uma configuração total, como um todo. A totalidade do padrão celestial no nascimento e a totalidade da identidade e destino do nativo são idênticas, e ambas são expressões da totalidade do momento Na lógica intelectual, temos a fórmula: se A = B, e B = C, então A = C. A lógica holística, no entanto, dá um significado diferente do da lógica intelectual ao símbolo =, um significado genético, por assim dizer.

Agora precisamos acrescentar que os ciclos do Sol, dos planetas e das estrelas não são o único material a ser usado como símbolo para unia revelação intuitiva da alma do momento. Teoricamente, tudo pode servir de base para o simbolismo, desde que: 1) o intérprete seja capaz de encarar qualquer situação simbólica como um todo com a totalidade de si mesmo e, portanto, com uma intuição plenamente desenvolvida; 2) essa intuição, se for para ser comunicada, opere de acordo com os princípios da "lógica holística", princípios que podem ser sucintamente descritos como de coerência funcional.

Este é o ponto em que o intelecto encontra seu lugar apropriado. No comportamento instintivo, a "coerência funcional" é inconsciente e biológica. Por exemplo: certos movimentos e atitudes dos animais quando "fazem a corte" na época do cio são símbolos da urgência biológica que leva ao acasalamento. Mas o animal não pode deixar de interpretar corretamente, ou seja, com lógica holística, o significado desses movimentos e atitudes. Seu instinto sabe com certeza o que a dança do macho ou o vôo da fêmea significam em termos da função biológica de propagação. Sua interpretação inconsciente, infalível, é "funcionalmente coerente", porque a "mente" que faz a interpretação é totalmente unificada com o princípio vital, com a totalidade do momento. A primavera, como momento de acasalamento, compele de modo absoluto a interpretação que o animal faz da dança de acasalamento. O animal realiza o momento perfeitamente. A alma do momento e a alma do animal são idênticas em significado. Portanto, a interpretação, inconsciente e instintiva, não pode ser falsa.

Mas com a tentativa humana de obter uma compreensão intuitiva de sua identidade individual e de seu destino a cada momento, o problema é mais complexo, porque essa compreensão precisa encontrar seu fundamento na mente consciente. E a mente consciente (ou a função pensante) a princípio não opera sobre totalidades mas sobre partes. O pensamento se desenvolve a partir de sensações, que são descontínuas e separativas. Ele racionaliza sensações ou associações de sensações, e a menos que uma nova faculdade reenergize a mente, ela lida antes de tudo com valores-espaço e valores-forma mais do que com valores-tempo positivos e princípios holísticos. Lidar com eles requer a colaboração dos sentimentos, que, como veremos num capítulo posterior, reagem naturalmente a situações inteiras.

A união das reações-todo dos sentimentos com a lógica do pensamento leva a mente a uma nova atitude ou polarização. Ela começa então a funcionar em termos de todos mais do que de partes, em termos de avaliações psicológicas em vez de em termos de conceitos físicos intelectuais. Ela se torna holística em vez de mecanicista. Deixa de ficar presa aos objetos materiais e à tarefa de enumerá-los e classificá-los por suas características espaciais. Ela se volta para dentro, depois de ter conquistado essa liberação, e começa a "sentir" o poder vivo do momento. Então a totalidade do momento começa a falar, e o que pronuncia são símbolos.

Não importa se esses símbolos são sonhos ou visões místicas ou presságios ou "assinaturas" ocultas ou qualquer uma das formas de interpretação de vida e mesmo de adivinhação que têm sido usadas por milênios. O importante é que todos os encontros vitais se tornam investidos de significado. O homem transforma-se assim em Intérprete e Vidente. Ele vive num mundo de almas, num mundo de todos significativos, porque a totalidade, ou holismo, opera através de sua consciência. No animal, a totalidade opera através do organismo fisiológico. No homem com a mente repolarizada, a totalidade opera no nível psico mental — portanto conscientemente. Quando a operação se torna perfeita, há, na interpretação intuitiva dos símbolos do momento, a mesma certeza que existe nos instintos biológicos, uma certeza que o intelecto só pode conhecer na lógica e na matemática pura — a certeza de uma tautologia, uma certeza que advém da identidade evidente. O animal interpreta a dança de acasalamento com certeza, pois tornou-se identificado com a urgência de acasalamento dentro do momento. Ele apenas não sabe disso. A intuição perfeita também é o resultado de uma identificação (de "simpatia" absoluta, como escreveu Bergson) entre o todo individual que percebe e a situação total que é percebida. Esta identificação ocorre dentro do momento, para cuja energia-de-fazer-todos o indivíduo agora está totalmente aberto. •

Para um homem perfeitamente intuitivo como esse, nenhum sistema específico de símbolos é necessário, e para ele a astrologia não tem valor especial. Mas ele não pode comunicar suas intuições aos outros. A comunicação precisa de um sistema de interpretação, um conjunto de símbolos que possam servir de "pontes" espacial-mentais entre a totalidade do momento e todos os observadores. Portanto, precisa de urna linguagem. A astrologia é uma linguagem assim, tal como a série de hexagramas do I Ching chinês é uma linguagem assim. E é na formação e no uso de uma linguagem desse tipo que entram em operação o que chamamos lógica holística e o princípio de coerência funcional.

O verdadeiro fundamento da astrologia é uma lógica holística desse tipo, e, como já foi dito, não urna compilação de dados ou estatísticas, apesar de que essas possam ter grande valor como ajuda para tornar interpretações abstratas mais concretas e precisas. Para o homem verdadeiramente intuitivo, a lógica holística, baseada na percepção da totalidade do material usado como elemento simbólico e em sua coerência funcional, é tão lógica quanto a lógica intelectual. Mas não é, pelo menos aparentemente, tão rígida e estabelecida, porque é criativa. Trata-se de uma função da vida em evolução. Tal como a lógica dos instintos, ela se adapta a situações novas e a novos níveis de vida. Ela é multiforme — no entanto, de modo misterioso, imutável em sua essência, é inerente a todas as variedades de formulação.

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Extraído do livro Astrologia da Personalidade, de Dane Rudhyar. 

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