sexta-feira, 10 de junho de 2016

As Casas Terrestres, por Catherine Aubier

São chamadas também de "setores terrestres", enquanto os signos do zodíaco são os "setores celestes': Trata-se de uma divisão em doze partes, cortando a esfera a partir dos polos, como uma laranja recortada em gomos. O cálculo da posição das casas leva o nome de domificação. Existem vários sistemas: alguns (o sistema de Koch, por exemplo) dividem a esfera em doze setores iguais de 30°. Outros, levando em conta a latitude do lugar, dividem-na em casas desiguais, a partir do MC. Na latitude do equador, lugar do globo em que a duração dos dias e das noites é perfeitamente igual, as casas seguem o movimento; mas, quanto mais nos afastamos em direção aos polos, mais a diferença em graus que as separa torna-se evidente, algumas casas podendo atingir 60° ... ou somente 15°, em nossas latitudes.

O sistema mais utilizado, tanto atualmente como na Antiguidade, é o das tábuas de casas de Placidus.

Casa I (Ascendente)
Em analogia com Marte e Aries.
O corpo da pessoa, sua vitalidade, sua aparência, seu comportamento. Seu modo de se afirmar e de se exteriorizar, seus meios de fazê-lo.

Casa II
Em analogia com Vênus e Touro.
As aquisições materiais. O dinheiro, os bens, a fortuna. Tudo o que se obtém graças a um esforço pessoal. Os bancos, as moedas e metais preciosos, os interesses. O comportamento diante do dinheiro.

Casa III
Em analogia com Mercúrio e Gêmeos.
Os irmãos e irmãs, o ambiente próximo. Os contatos impostos. Os estudos. As pequenas viagens, as trocas, os escritos, o correio. A imprensa, as transmissões.

Casa IV (Fundo do Céu)
Em analogia com a Lua e Câncer.
As influências. hereditárias. O lar, a casa, as posses imobiliárias. A vida familiar. O ambiente no começo e no fim da vida. O que está debaixo da terra: poços, minas, tesouros escondidos... As raízes da pessoa.

Casa V
Em analogia com o Sol e Leão.
As criações do homem: filhos, arte, amores, prazeres. As distrações: jogos, modas, sorte. Os sentimentos espontâneos. O magistério. As materializações do desejo.

Casa VI
Em analogia com Mercúrio e Virgem.
O trabalho cotidiano e obrigatório. Tudo o que é menor: subalternos, empregados, pequenos animais. A noção de serviço. Tudo aquilo que obriga a uma disciplina. A higiene, os cuidados com o corpo, a medicina e seus anexos. As pequenas doenças, a saúde.

Casa VII (Descendente)
Em analogia com Vênus e Libra.
O outro. Os outros. O casamento, as associações, os contratos. Os inimigos declarados. Os processos. Os contatos escolhidos ou complementares. As relações com os outros.

Casa VIII
Em analogia com Plutão e Escorpião.
A morte e as transformações. O oculto, o que está além do real. As paixões e a sexualidade. A renúncia aos bens materiais (oposto da casa II). Os testamentos e as heranças.

Casa IX
Em analogia com Júpiter e Sagitário.
O ideal. A evasão. As grandes viagens do corpo ou do espírito. Os estudos superiores. O estrangeiro e os estrangeiros. Tudo o que faz o homem elevar-se: a religião, leis, filosofia.

Casa X (Meio do Céu)
Em analogia com Saturno e Capricórnio.
A situação social, a vida pública. O objetivo. A ambição, as honras. A recusa das influências hereditárias (oposto da casa IV). O destino. A conquista, o sucesso.

Casa XI
Em analogia com Urano e Aquário.
Os amigos escolhidos, as proteções, as ajudas. As esperanças, os projetos. A clientela. Em oposição à casa V, os sentimentos pensados, dominados, o platonismo.

Casa XII
Em analogia com Netuno e Peixes.
Em oposição à casa VI: o maior. Provações, doenças graves. Os lugares de sofrimento ou reclusão: hospitais, prisões... ou monastérios. O devotamento, o sacrifício, a solidão. Tudo o que se opõe ao cotidiano: o sublime, o desprendimento.

A posição das casas intervém em várias oportunidades na interpretação de um Tema astral. Elas representam, de fato, o campo de expressão e de manifestação das tendências indicadas pelos planetas e os signos. Uma "casa vazia", sem nenhum planeta, implica uma área que não será determinante na vida da pessoa. Em compensação, uma casa muito ocupada (por exemplo, por um stellium) adquire uma importância particular, que pode ajudar consideravelmente, por exemplo, no diagnóstico de orientação profissional.

Outros elementos importantes: a posição das casas nos signos e a dos regentes das casas.

Diz-se que uma casa está em um signo quando sua cúspide, ou ponta, cai em um signo, mesmo no fim. Por exemplo: a ponta da casa I, ou grau Ascendente, está em Touro. Diremos, indiferentemente, "Ascendente Touro" ou "casa I em Touro", mesmo se o Ascendente em questão está a 25° de Touro, o que implica uma boa parte da casa I em Gêmeos.

Não daremos aqui a descrição dessa posição das casas nos signos, pois é de importância secundária na interpretação. Em compensação, você encontrará numerosos exemplos sobre isso nesta obra: o MC nos signos ao analisarmos a orientação profissional, por exemplo. A posição dos regentes das casas, em compensação, merece ser estudada. De que se trata? Tomemos um exemplo: o Sr. X tem a cúspide da casa II em Câncer. Qual é o planeta que rege Câncer? A Lua. Para simplificar, diremos que a Lua do Sr. X é regente da II. Em seguida, olharemos em que casa e em que signo se encontra a Lua. Imaginemos que esteja em Capricórnio e na casa VIII. A expressão consagrada será "regente da II na VIII" ou "regente da II em Capricórnio".

Trata-se de um jargão astrológico a que é preferível adaptar-se rapidamente! Você encontrará em Regências exemplos do que é mais importante para a interpretação: a posição dos regentes das casas, nas casas e nos signos.

Fornecemos aqui as significações clássicas das casas, as que figuram em todos os manuais. Entretanto, não se deve omitir a teoria particularmente interessante de Dane Rudhyar e de Alexander Ruperti para a astrologia humanista.

Sem diferir fundamentalmente da interpretação tradicional, esses autores propõem para o assunto um esclarecimento diferente que permite compreender melhor a respeito do simbolismo das casas e do ciclo evolutivo que representam.

AS CASAS EM ASTROLOGIA HUMANISTA

Na visão de Dane Rudhyar e Alexander Ruperti, os setores se relacionam às circunstâncias concretas através das quais o indivíduo se exprime, se exterioriza e se realiza: trata-se dos "campos de experiência" que o destino propõe a cada um de nós em vista de nossa realização específica. Neste enfoque (muito próximo da visão não dualista), o Tema natal liga-se ao que os hindus chamam de dharma, isto é, o conjunto dos meios particulares, dos ritmos e das regras internas que cada indivíduo deve assumir, a fim de se adaptar, de se harmonizar aos limites e às possibilidades inerentes a suas condições psicológicas, familiares, sociais, históricas, etc. Cada casa simboliza um aspecto específico, um tipo fundamental de experiência humana.

A consciência opera no nível do eixo horizontal, enquanto o poder se relaciona ao eixo vertical. O ponto leste do Tema (Ascendente) representa a consciência de si (o eu intrínseco); o ponto oeste (Descendente) liga-se à consciência de relacionamento — as relações com os outros. O zênite, ou Meio do Céu, exprime o poder de integração no nível social; o nadir, ou Fundo do Céu, traduz o poder de integração no nível mais íntimo, mais subjetivo, no próprio centro da personalidade. Segundo Rudhyar, as doze casas articulam-se em torno de uma dialética trinitária que determina três grupos, incluindo cada um três casas:

— as casas angulares ligadas aos quatro pontos cardeais (a casa I ou Ascendente, a IV ou Fundo do Céu, a VII ou Descendente, a X ou Meio do Céu). A palavra-chave destes quatro setores é ser.

— as casas sucessivas (II, V, VIII e XI), cuja palavra-chave é utilizar.

— as casas cadentes (III, VI, IX, XII), cuja palavra-chave é compreender.

Casa I (angular). O indivíduo descobrindo-se em si mesmo, no sabor específico e inimitável de seu próprio eu. É a experiência de existir enquanto indivíduo único e insubstituível. Este dado essencial aproxima-se da intuição no sentido junguiano do termo, a "consciência que toma consciência de si mesma agindo".

Casa II (sucedente). O indivíduo utiliza suas faculdades instintivas, descobre seus territórios, a extensão e os limites de suas posses, ao mesmo tempo materiais, emocionais e mentais. Através de suas experiências e suas capacidades inatas, explora os elementos necessários a sua exteriorização.

Casa III (cadente). Para adaptar-se a seu ambiente, deve compreender as regras e as estruturas do meio em que evolui, discriminar o subjetivo e o objetivo, avaliar o alcance de seus meios de ação.

Casa IV (angular). O eu retorna às origens e aos fundamentos da personalidade, características e à construção do ponto de sustentação (o arquétipo junguiano do inconsciente coletivo). Trata-se igualmente dos valores fundamentais, religiosos, morais, psicológicos etc., na raiz de toda ação.

Casa V (sucedente). Este campo de experiência é o da exteriorização das experiências emocionais e da criatividade, implicando uma transformação e um alargamento da consciência — daí a correspondência com os amores, os filhos e o jogo.

Casa VI (cadente). Após o crescimento e as metamorfoses do setor precedente, o indivíduo atravessa um estado de crise e de questionamento. Daí a necessidade de uma contínua readaptação. (Jesus disse: "Se você soubesse como sofrer, teria tido o poder de não sofrer". Evangelho.)

Casa VII (angular). Eis o "ser" das relações, do encontro com os outros, da participação no mundo das trocas. E a imagem de si mesmo espelhada no outro. "A relação é a resposta criadora ou destruidora ao fato existencial de que tudo está ligado" (Dane Rudhyar).

Casa VIII (sucedente). As experiências de relacionamento do setor precedente desencadeiam um processo de autotransformação. A intervenção e as experiências do outro são utilizadas ao longo desta etapa, que pode determinar, assim, rupturas e aniquilamentos decisivos, com uma valorização pelo homem de sua parte feminina e pela mulher de sua parte masculina (animus e anima de Jung).

Casa IX (cadente). A consciência aqui está em plena expansão: é o setor da filosofia, da religião, da abordagem simbólica e mitológica. A palavra-chave é "compreensão", no sentido de um alargamento ilimitado do campo de percepção e de atividade, incluindo a exploração dos mais longínquos horizontes — interiores e exteriores. Um exemplo esclarece a significação desta casa: Newton, como qualquer um, "sabia que as maçãs maduras caem da macieira; mas sua real compreensão do fenômeno implicava poder ligá-lo à lei universal da gravidade'.

Casa X (angular). É o setor da conclusão. O indivíduo é confrontado com as experiências resultantes de seu sucesso ou de seu fracasso. Esta casa diz respeito à maneira como o eu se realiza, o lugar que ocupa no mundo, seu ponto culminante, seu papel e sua situação no jogo social.

Casa XI (sucedente). É a nova semente saída do resultado das experiências precedentes. A criação se realiza através do indivíduo, enquanto intermediário, e não mais por ou para o indivíduo, como no caso da casa V. Daí um turbilhão de ideais universalistas, atrás dos quais o eu tende a se apagar.

Casa XII (cadente). O renascimento e a realização do ciclo futuro necessitam de uma crise maior, uma etapa capital que se parece a uma verdadeira morte. Este campo de experiência é o das provações e das dissoluções. Nessa suprema confrontação do indivíduo consigo mesmo, a libertação é obtida pela interiorização espiritual e pelo acesso à sabedoria — morte simbólica do "velho homem", passagem para um estado superior. Na falta de saber explorar esta possibilidade, o eu se isola, se confina, corta toda relação e toda troca, se fecha em um complexo de fracasso e numa incurável melancolia.

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